Sáb, 05/Jun/2010 00:00 Agroecologia
Por João Pedro Stedile
Todos os dias a grande imprensa faz apologia ao agronegócio. Seriam eles que abastecem nossa população de alimentos, salvam a balança comercial, dão emprego aos pobres do campo e até sustentam a economia brasileira nas costas. Quanta mentira junta!
Os grandes proprietários de terra são também capitalistas na cidade, e muitos deles têm ações e vínculos com as empresas da mídia. A associação brasileira de agronegócio tem apenas 50 sócios, transnacionais, grandes cooperativas capitalistas e, pasmem, também a Rede Globo e o grupo O Estado de S. Paulo!
Mas, infelizmente, a realidade do agronegócio é outra.
O agronegócio se baseia na produção em grande escala, em lavouras de monocultivo – de uma só planta. Usam muita máquina e, portanto, desempregam, além de muito veneno, para matar todos os outros seres vivos que existam naquele espaço, sejam vegetais ou animais. Somente sobrevive o produto que eles plantam.
Cerca de 80% das terras utilizadas pelo agronegócio se destinam a apenas quatro produtos: soja, milho, cana e pecuária bovina. E grande parte dessa produção vai para exportação.No entanto, quem controla as exportações são transnacionais. Por exemplo, o Brasil é o maior exportador mundial de soja. Exportamos 40 milhões de toneladas em grãos, ainda como matéria-prima. E quem ganha com essas exportações? Cinco transnacionais: Bunge, Cargill, ADM, Dreyfuss, Monsanto.
O Brasil se transformou no maior consumidor mundial de venenos agrícolas. São 720 milhões de litros de venenos. Matam os demais seres vivos, afetam a fertilidade do solo, contaminam as águas do lençol freático e ficam resíduos nos alimentos que você consome.
E quem produz? Bayer, Basf, Syngenta, Monsanto, Shell Química. Nenhuma empresa brasileira. Pior, a Anvisa já confiscou e incinerou milhares de litros adulterados pelas empresas Bayer, Basf e Syngenta. Uma delas chegou a adicionar um perfume para deixar o veneno mais aceitável.
Já foram registrados pelas universidades casos de chuva com veneno agrícola, em cidades do Mato Grosso. Na região de Ribeirão Preto (SP), a água potável já aparece com incidência dos venenos da cana.
Dos 17 milhões de trabalhadores da agricultura brasileira, apenas 1,6 milhão estão no agronegócio; os demais, na agricultura familiar.
Todos os anos, os bancos públicos disponibilizam 90 bilhões de reais, da poupança nacional, para que o agronegócio plante. Para a agricultura familiar são menos de 8 bilhões. Pior, o Tesouro Nacional, o dinheiro de nossos impostos, precisa repor aos bancos a diferença entre o juro pago pelos fazendeiros e o juro de mercado. E isso custa por ano um bilhão de reais. Muito mais do que os recursos para reforma agrária.
A Polícia Federal tem encontrado trabalho escravo, em média em uma fazenda por mês. Mas dorme na Câmara um projeto que determina a desapropriação das fazendas com trabalho escravo. Os parlamentares ruralistas não aceitam.
João Pedro Stedile é membro da coordenação nacional do MST e da Via Campesina Brasil.