sexta-feira, 19 de abril de 2013

Imagens em cacos

Marina Silva, FSP, 19-abril-2013

Cômicas e tristes são as cenas na internet que pude ver ao vivo da reação dos deputados à "invasão indígena" no plenário da Câmara. Às vésperas do Dia do Índio, eles protestavam contra o projeto que põe a demarcação de suas terras sob controle do Congresso. Um direito ancestral vira objeto de negociação política. Na correria, alguns parlamentares tinham mais medo de suas consciências que dos manifestantes "armados" com penas e maracás.

Havia ali uma palavra antiga, calada por séculos de violência, tentando novamente fazer-se ouvir. Reconheço essa palavra desde a infância na Amazônia, de onde vim. E fiquei ao lado dos poucos deputados dispostos a ouvi-la no lugar onde a voz do povo deve ser sempre respeitada. Ali estávamos defendendo o direito de dizer uma palavra nova no espaço da política, no debate das ideias, dos rumos do Brasil e da civilização. Essa nova palavra, que vem de tribos antigas e jovens, nas florestas e nas cidades, também está sendo abafada e impedida. No sistema político dominante e dominado, só se permitem palavras de conformismo e assentimento.

Alguns dos partidos que outrora elevaram suas vozes pela democracia, agora a controlam e silenciam. Os que detêm volumosos e nem sempre lícitos recursos do financiamento privado recusam-se a democratizar o acesso ao financiamento público. Os que têm largo tempo para dizer o que já é conhecido negam o acesso à mídia aos que querem anunciar o devir. Os avaros donos da hora regateiam segundos.

Qual o motivo dessa regressão? Repetem-se o ocultamento e a transferência, como diante dos índios. Muitos políticos têm medo de sua própria origem. O pragmatismo estagnado teme o sonho renovador.
Para controlar, alega-se que novos partidos podem ser siglas de aluguel e vender seu tempo de propaganda. A pergunta é inevitável: quem aluga siglas e quem compra o tempo? A reforma política, que deveria ser um aperfeiçoamento da democracia, reduz-se a uma reserva de mercado: restringe a oferta dos possíveis vendedores sem tocar no poder de demanda dos compradores.

As novas palavras não estão à venda, elas brotam de uma vontade profunda e legítima. Na raiz da crise de nossa civilização está uma dificuldade de ouvir a voz da natureza. Os desafios que enfrentamos só podem ser superados por uma democracia plena.

Os colonizadores usaram espelhos para atrair os índios e vencer sua resistência. Recebamos os fragmentos que eles agora devolvem. Muitos deputados não se enxergaram nos cacos. Talvez no Senado, onde a experiência proporciona mais consciência da autoimagem, os defensores da democracia possam refletir o zelo que por ela tiveram um dia.

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Lembrando Machado de Assis,


The real hopeless victims of mental illness are to be found among those who appear to be most normal...

They are normal not in what may be called the absolute sense of the word; they are normal only in relation to a profoundly abnormal society.

Their perfect adjustment to that abnormal society is a measure of their mental sickness.

These millions of abnormally normal people, living withouth fuss in a society to which, if they were fully human beings, they ought not to be adjusted.

Aldous Huxley

sexta-feira, 12 de abril de 2013

Tres pensadores, uma mensagem:

Charles Darwin

"De qualquer forma, eu não posso estar satisfeito ao ver este maravilhoso universo, e especialmente a natureza do homem, e concluir que tudo é resultado de força bruta. Estou inclinado a olhar para tudo como resultado de leis criadas, com os detalhes, sejam bons ou maus, deixados para a elaboração do que chamamos de acaso. Não que essa noção me satisfaça completamente. Sinto o mais profundamente que todo este assunto é demasiadamente profundo para o intelecto humano. Um cão pode da mesma forma especular sobre a mente de Newton. Deixe cada homem ter esperança e acreditar no que ele possa."


[original em ingles "I cannot anyhow be contented to view this wonderful universe, and especially the nature of man, and to conclude that everything is the result of brute force. I am inclined to look at everything as resulting from designed laws, with the details, whether good or bad, left to the working out of what we call chance. Not that this notion at all satisfies me. I feel most deeply that the whole subject is too profound for the human intellect. A dog might as well speculate on the mind of Newton. Let each man hope and believe what he can." Charles Darwin Letter to Asa Gray (22 May 1860). In Charles Darwin and Francis Darwin (ed.), Charles Darwin: His Life Told in an Autobiographical Chapter, and in a Selected Series of His Published Letters (1892), 236]


Albert Einstein

"Nao sou ateu e nao penso que posso chamar-me um panteista. Estamos na posição de uma criança entrando em uma grande biblioteca cheia de livros em diversos idiomas. A criança sabe que alguém deve ter escrito aqueles livros. Ela não sabe como. A criança suspeita vagamente existir uma ordem misteriosa na organização dos livros, mas não sabe o que é. Essa, me parece, é a atitude até mesmo do ser humano mais inteligente em direção a Deus."

[original em ingles: "I'm not an atheist and I don't think I can call myself a pantheist. We are in the position of a little child entering a huge library filled with books in many different languages. The child knows someone must have written those books. It does not know how. The child dimly suspects a mysterious order in the arrangement of the books but doesn't know what it is. That, it seems to me, is the attitude of even the most intelligent human being toward God."]

Vaclav Havel [ex presidente da Republica Checa, poeta e autor teatral]


"devemos absorver nossos referenciais do mundo natural, honrando com a humildade do sábio os seus limites e o mistério que se oculta para além, admitindo que haja algo na ordem do ser que evidentemente excede toda nossa competência."
[original em ingles: “we must draw our standards from our natural world... We must honor with the humility of the wise the bounds of that natural world and the mystery which lies beyond them, admitting that there is something in the order of being which evidently exceeds all our competence.”]

quinta-feira, 11 de abril de 2013

15 diferenças fundamentais entre Diálogo e Debate

1) O diálogo é colaborativo: dois ou mais lados trabalham em conjunto para o entendimento comum.
            
O debate é de oposição: dois lados se opõem e tentam provar um ao outro errado.

 2)
No diálogo, encontrar um terreno comum é o objetivo.
            No
debate, a vitória é o objetivo.

3)
No diálogo, escuta-se o outro lado(s) a fim de entender, encontrar significado e encontrar um acordo.
            No
debate, escuta-se o outro lado a fim de localizar falhas e contrariar os seus argumentos.

4) O diálogo a
mplia e, possivelmente, muda os pontos de vista de um participante.
           
O debate reafirma o próprio ponto de vista de um participante.

5) O d
iálogo revela suposições, para reavaliação.
           
O debate defende suposições como verdade.

6) 
O diálogo provoca introspecção sobre a sua própria posição.
           
O debate faz crítica à outra posição.
7) 
O diálogo abre a possibilidade de alcançar uma solução melhor do que qualquer uma das soluções originais.
           
O debate defende a posição própria como a melhor solução e exclui outras soluções.

8) 
O diálogo cria uma atitude de mente aberta: uma abertura para estar errado e uma abertura à mudança.
           
O debate cria uma atitude de mente fechada, uma determinação de estar certo.

 
9) 
No diálogo, submete-se os melhores pensamentos, sabendo que as reflexões das outras pessoas vai ajudar a melhora-los, em vez de destruí-los.
            No
debate, submete-se o melhor pensamento, defendendo-o contra desafios para mostrar que  está certo.

10)
O diálogo pede pela suspensão temporária das crenças de cada um.
           
O debate clama pelo investimento apaixonado nas próprias crenças.

11)
No diálogo, busca-se por acordos básicos.
            No
debate, busca-se por diferenças gritantes.

12)
No diálogo procura-se por pontos fortes na outra posição.
            No
debate procura-se por falhas e fraquezas na outra posição.

13) O
diálogo envolve uma preocupação real para com a outra pessoa e procura não alienar ou ofender.
           
O debate envolve a contraposição da outra posição sem focar em sentimentos ou relacionamento, e muitas vezes menospreza ou desprecia a outra pessoa.

 
14)
O diálogo assume que muitas pessoas têm partes da resposta e que juntas elas podem colocá-las em uma solução viável.
           
O debate assume que há uma resposta certa e que alguém a tem.

15)
O diálogo permanece aberto.
           
O debate implica uma conclusão.

    
Adaptado de um documento elaborado por Shelley Berman, que foi baseado em discussões do Grupo de Diálogo do Capítulo Boston de Educadores para a Responsabilidade Social (ESR).


Original em ingles: Dialogue vs. debate

Avanço na Ciência...


“Uma importante inovação científica raramente abre caminho conquistando e convertendo gradualmente seus opositores: raramente acontece de Saulo se tornar Paulo. 

O que realmente acontece é que seus opositores gradualmente desaparecem e a nova geração se familiariza com aquelas idéias iniciais”.
 

Max Planck

(source: dedicatória na tese de mestrado de Elisangela Broedel)