sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Código florestal: águas ameaçadas

Agricultura de várzea não justifica redução de matas ciliares

Antonio Donato Nobre, Ricardo R. Rodrigues
Valor Econômico - 24/08/2012
No país dos superlativos, o gigantismo do nosso sistema hidrológico também entra no rol de maior do mundo: são mais de 9 milhões de quilômetros de rios. Enfileirados dariam 220 voltas na Terra, ou cobririam 22 vezes a distância à Lua. Da estabilidade, vigor e saúde desses rios dependem o suprimento das cidades, a segurança hidrológica, a geração de eletricidade, a irrigação na agricultura e a sobrevivência de preciosa biodiversidade. As bacias hidrográficas adequadamente florestadas, como ainda vemos em parte da Amazônia, mantém rios ricos e saudáveis. No contraponto, as terras agrícolas degradadas e os efluentes urbanos e industriais tem péssimas consequências.

A destruição indiscriminada dos ecossistemas resulta sempre em elevados prejuízos. Com a degradação das terras, das águas, do clima e da biodiversidade surgem múltiplos impactos na saúde e também consequências econômicas, nem sempre devidamente reconhecidas ou contabilizadas. A complacência com a destruição é herança da mentalidade colonial europeia e da revolução industrial, dois aríetes históricos que deixaram um rastro de destruição mundo afora. Mas a consciência sobre a necessidade de preservação das florestas não é recente nem é um luxo urbano. Em 1537 o governador desta colônia portuguesa, Duarte Coelho, determinou: "E assim mando que todo povo se sirva e logre dos ditos matos,..., tirando fazer roça que não farão,... e... árvores maiores... não cortarão sem minha licença..., porque tais árvores são para outras coisas de maior substância..., e assim resguardarão todas as madeiras e matos que estão ao redor dos ribeiros e fontes." Em meados do século XIX, D. Pedro II, premido pela degradação da água que abastecia o Rio de Janeiro, desapropriou fazendas no maciço da Tijuca e mandou reflorestar a mata Atlântica. Hoje, como no tempo do descobrimento, fluem cristalinas as águas alí.

Como resposta a séculos de abuso, o primeiro código florestal de 1934 já veio tarde. O desrespeito generalizado ao "resguardo das madeiras e matos ao redor de ribeiros e fontes" comprometeu águas por toda parte. E para azar dos rios, o despejo crescente de esgotos e todo tipo de contaminantes somou-se à centenária erosão das terras desnudas. O código florestal evoluiu no interesse do bem comum, peitando a arraigada mentalidade desmatadora, oferecendo assim um mínimo de proteção para as florestas, e com elas para as águas e para os rios. Apesar disso, para muitos a lei era regra de papel, e as florestas continuaram a tombar. Acumulou-se extenso passivo de ilegalidade nas propriedades, situação colocada em evidencia pelo eficiente cerco de fiscalização e punição dos anos recentes. A reação no setor rural foi curiosa: se a obediência é inescapável, então desconstrua-se a lei. Suportados por uma azeitada máquina política no Congresso e investindo pesado em retórica, lideranças deste setor vem tentando justificar o afrouxamento na lei.


Não há argumento científico ou de interesse agrícola para não recompor as matas ciliares


Com recurso à ciência, analisemos apenas a alegação de que restaurar matas de galeria, os indispensáveis cílios ecológicos de proteção aos corpos d"água, reduzirá a área disponível para a produção de alimentos. Estudos feitos pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), cobrindo milhões de hectares em várias partes do país, encontraram que a superfície que era destinada à proteção de matas ciliares em propriedades privadas, seguindo as estipulações do revogado Código Florestal de 1965, ocupava apenas de 7 a 9% da área total; para proteger todas nascentes acrescentavam-se ínfimos 0,2%. Superando duas vezes essa área de proteção, a superfície ocupada por terrenos úmidos foi estimada em 17%. Ora, os terrenos úmidos, com lençol freático exposto, são impróprios para a maioria das práticas agrícolas.

O arroz irrigado, uma das poucas culturas aptas a crescer em terrenos úmidos, foi usado repetidamente como exemplo de área agrícola consolidada, na tentativa de justificar a redução generalizada das áreas de proteção no entorno de rios. Contudo, com aproximadamente 1,3 milhões de hectares, essa cultura ocupa menos de 1% dos 144 milhões de hectares de terrenos úmidos e representa menos de 0,5% da ocupação agropecuária do país. Já os arroios, riachos e igarapés dos altos cursos - aqueles com menos de 10 metros de largura - representam 86% da extensão dos rios e não tem interferência significativa com a produção de arroz, cultivado em várzeas amplas de rios maiores. Sobre esse vasto sistema hidrológico capilar se abaterá massiva e adversamente as consequências do afrouxamento na lei. A pequena ocupação da cultura de arroz irrigado, ou ocupação ainda menor das culturas de vazante na Amazônia, não podem justificar a redução da proteção no atacado como fora feito.

Não há, portanto, argumento científico ou do interesse agrícola, mesmo em relação a pequenas e médias propriedades, para não recompor integralmente as matas ciliares, permitindo que desempenhem seu vital papel no condicionamento das águas e proteção dos rios. Ademais, surge no horizonte valorização econômica significativa para os chamados serviços ambientais das matas naturais. Um estudo feito para o Estado da Geórgia, nos EUA, estimou em US$ 37 bilhões o valor anual dos serviços ambientais prestados por florestas preservadas em propriedades rurais naquele Estado, que é do tamanho do Acre. A lógica econômica é simples: tornar potável águas contaminadas chega a custar cem vezes mais do que aquelas servidas, cristalinas, pelas florestas naturais.

Antonio Donato Nobre, agrônomo e PhD em Ciências da Terra, é pesquisador sênior do INPA e coordenador do Grupo de Modelagem de Terrenos no Centro de Ciências do Sistema Terrestre do INPE
Ricardo Ribeiro Rodrigues doutor em Biologia Vegetal, é professor titular e coordenador do Laboratório de Ecologia e Restauração Florestal da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz/ USP.
Os dois autores atuaram como relatores no estudo feito pela SBPC e ABC sobre o Código Florestal

O PODER DO SILÊNCIO

Índios não tem medo do Silêncio 
Nós os índios, conhecemos o silêncio, não temos medo dele.
Na verdade, para nós ele é mais poderoso do que as palavras.


Nossos ancestrais foram educados nas maneiras do silêncio e eles nos transmitiram esse conhecimento.

"Observa, escuta, e logo atua", nos diziam.

Esta é a maneira correta de viver.

Observa os animais para ver como cuidam se seus filhotes; observa os anciões
para ver como se comportam;

observa o homem branco para ver o que querem.

Sempre observa primeiro, com o coração e a mente quietos, e então aprenderás. Quando tiveres observado o suficiente, então poderás atuar.

Com vocês, brancos e pretos, é o contrário. Vocês aprendem falando.
Dão prêmios às crianças que falam mais na escola, em suas festas, todos tratam de falar.
No trabalho estão sempre tendo reuniões nas quais todos interrompem a todos, e todos falam cinco, dez, cem vezes e chamam isso de "resolver um problema".

Quando estão numa habitação e há silêncio, ficam nervosos. Precisam preencher o espaço com sons.
 Então, falam compulsivamente, mesmo antes de saber o que vão dizer.

Vocês gostam de discutir, nem sequer permitem que o outro termine uma frase.
Sempre interrompem.

Para nós isso é muito desrespeitoso e muito estúpido.
Se começas a falar, eu não vou te interromper.
Te escutarei, mas talvez deixe de escutá-lo se não gostar do que estás dizendo, mas não vou interromper-te.
 
Quando terminares, tomarei minha decisão sobre o que disseste, mas não te direi se não estou de acordo, a menos que seja importante.
Do contrário, simplesmente ficarei calado e me afastarei.
Terás dito o que preciso saber.

Não há mais nada a dizer.

Mas isso não é suficiente para a maioria de vocês.
Deveriam pensar nas suas palavras como se fossem sementes.
Deveriam plantá-las, e permiti-las crescer em silêncio.
Nossos ancestrais nos ensinaram que a terra está sempre nos falando, e que devemos ficar em silêncio para escutá-la.

Existem muitas vozes além das nossas, muitas vozes.
Só vamos escutá-las em silêncio.

( De Filosofia nativa )

gentilmente encaminhado por Grasiela Rodrigues

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Biocombustíveis num planeta ameaçado: o instável protagonismo brasileiro

06.08.2010 14:59

Diálogos Capitais 
"Brasil e a energia do amanhã"

Enquanto o mundo desenvolvido move-se a passos de tartaruga, resistindo e empurrando para o futuro distante as necessárias mudanças em seus portfólios de emissões, o Brasil tem um trunfo significativo: é o primeiro e único Pais do mundo que terá mais de 50% de sua frota de veículos queimando combustíveis renováveis já no inicio do novo período do acordo climático (a partir 2012 quando termina Kyoto). Sabemos que este protagonismo verde não surgiu de preocupações climáticas, não obstante ele nos coloca agora em posição menos desconfortável. Sorte do acaso ou motivo para ufanismo? Os motores flex são certamente uma solução criativa e barata que permitiu a consolidação do etanol como combustível viável apesar da natureza oscilante da sua produção em safras. E a indisputável eficiência na produção Brasileira de etanol de cana soma-se como argumento tentador para nos vermos seguros no pódio dos vencedores. Mas será que este ciclo vai durar e consolidar o Brasil como uma Arábia Saudita verde dos combustíveis renováveis?

Analisemos o prodígio da bioenergia brasileira sob a luz fria da grave realidade climática. O primeiro problema é uma aritmética de volumes e áreas que não fecha. Enquanto for somente a frota brasileira, parece que teremos terra suficiente para continuar queimando etanol e biodiesel sem ameaçar a Amazônia nem o cultivo de alimentos. Mas para catapultar os biocombustíveis no combate às emissões em escala mundial (que é a única escala que conta quando se fala de mitigar as mudanças climáticas) seria necessária a substituição do petróleo, uma possibilidade que demandaria mais terra para cultivo do que existem solos aráveis em toda a Terra. Por conta desta constatação muitas vozes se levantaram contra os biocombustíveis. Entretanto, as criticas se concentram na produção e olvidam as tecnologias na ponta do consumo. Os motores de combustão interna a pistão foram inventados há mais de 100 anos, permanecendo inalterados em sua concepção geral. Apesar dos numerosos componentes sofisticados num motor moderno, a eficiência na conversão ainda é abissal: mais de 80% da energia liberada na combustão termina obscenamente dissipada como calor na atmosfera. Compare-se essa eficiência com a de um veiculo elétrico: mais de 90% da energia acumulada nas baterias transforma-se silenciosamente em energia cinética de movimento.

Apesar da dominância no mundo dos “beberrões”, dezenas de protótipos alternativos de motores eficientes e mais simples foram demonstrados ao longo dos anos (motores cerâmicos sem arrefecimento, motores radiais com pistões rotativos, motores de 6 tempos com injeção alternada de água, turbinas, etc.). Além destes, surgiram mais recentemente sistemas híbridos que combinam a tração elétrica (com baterias) a um gerador com pequeno motor a combustão que permite grandes autonomias (um protótipo do Mini roda 1500 km com um tanque de gasolina). Isso sem falar na solução maior em termos de eficiência: células de combustível que possam extrair o hidrogênio diretamente do etanol (ou gasolina), sem qualquer combustão, e produzir eletricidade para alimentar motores elétricos. O pano de fundo é que se toda a energia química contida no biocombustível fosse eficientemente aproveitada isso equivaleria a reduzir a área requerida de cultivo para um quarto ou menos da área hoje necessária. Já sabemos que os biocombustíveis somente poderão ser considerados seriamente na arena climática quando seu cultivo não ameaçar os biomas e seus serviços ambientais, também vitais para o clima, nem a produção de alimentos. Novos motores e soluções eficientes são, portanto, partes inseparáveis da equação dos bicombustíveis no contexto das mudanças climáticas. Percebendo esta inevitabilidade climática, parece que não existe uma montadora grande no mundo que não esteja ofegante na corrida para a construção dos novos veículos híbridos ou elétricos puros que possam salvar o clima e também seus próprios negócios. O que será dos biocombustíveis neste contexto instável e de rápida transformação tecnológica? Se permanecermos apegados as tecnologias velhas pode ocorrer o mesmo que passou com o disco de vinil e a fita de videocassete depois do CD e do DVD. Como na ficção que se torna realidade, quem se importará com o etanol se tiver um carro movido a energia nuclear parado na garagem?

Outra tecnologia velha que tem seus dias contados é a produção de etanol apenas da sacarose, sem aproveitar os carboidratos abundantes presos em cadeias maiores como na celulose do bagaço e da palhada. E este tópico é motivo para outra corrida tecnológica em curso no mundo, com centenas de grupos nas melhores universidades, institutos de pesquisa e laboratórios privados buscando desenvolver patentes sobre a quebra enzimática da celulose. Um cofre (celulose) pode ser aberto de duas formas, com explosivos (digestão ácida) ou com o segredo (quebra enzimática, aquilo que todos os organismos herbívoros, xilófagos e decompositores sabem fazer com maestria e incrível eficiência). Enquanto lá fora já registram muitas patentes na segunda modalidade, no Brasil engatinha-se. Será que o líder tecnológico na produção de etanol de cana se verá em poucos anos reduzido a condição de pagador de royalties? E quando a celulose dos resíduos agrícolas locais gerarem biocombustíveis a preços competitivos, como continuar no páreo mundial considerando os custos de transporte?

A mensagem aqui, portanto, é clara: o etanol produzido a partir de açúcares da cana (uma tecnologia que em essência não mudou muito desde as capitanias hereditárias) para motores a pistão (cuja tecnologia tampouco mudou muito desde o século 19) tem um espaço precioso como auxiliar na transição energética do mundo. Mas numa época de brutal quebra de paradigmas não devemos esperar que esse etanol de hoje torne-se o salvador do clima nem da lavoura amanhã. O Brasil mostrou ser o melhor neste negócio, com as aperfeiçoadas e sofisticadas tecnologias de ontem. Estará preparado para ser também um vencedor nos próximos negócios que virão, quando o terremoto climático em curso acelerar a produção em série de descobertas e implementações tecnológicas revolucionárias?

Para evitar que o bonde da historia nos pegue de calças curtas na condição de obsolescência e inadequação para um novo mercado ultra verde que vem por aí, manda a boa providencia que nos antecipemos. Pelo lado de quem produz, o etanol de celulose é só o começo. Métodos novos de conversão química ou bioquímica da biomassa devem levar a combustíveis de maior densidade energética. Quanto mais litros por hectare e mais energia por litro tanto menor a área plantada, menor o impacto nos biomas, maior o efeito benéfico para o clima e por conseqüência mais populares se tornarão os biocombustíveis. Pelo lado da aplicação, produzir motores de combustão interna mais eficientes, mais simples e mais baratos que os atuais é o mínimo ético para começar, dada as muitas soluções tecnológicas existentes, todas completamente ao alcance das montadoras que tiverem juízo. Mas o pulo do gato será qualificar tecnologicamente os biocombustíveis para se tornarem alternativas viáveis, seguras e vantajosas às baterias nas diversas variantes de veículos elétricos ou mesmo contribuírem como fonte de energia complementar nos novos veículos híbridos. Se soubermos inovar, e enquanto não chegarem os carros da famíliaJetson movidos a flúons, o futuro dos biocombustíveis tem tudo para ser brilhante.

Artigo por Antonio Donato Nobre (antonio.nobre@inpe.br) na Revista Opiniões, out-dez 2009 (www.revista.opinioes.com.br), numero especial sobre o etanol, a bioeletricidade e a mitigação das mudanças climáticas.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Contentamento


“Contentamento é um dos maiores poderes espirituais. Com contentamento fico livre de estar sempre precisando ou querendo algo. Fico livre da insatisfação. Quando estou contente internamente, o que acontece fora já não me abala mais. Fico mais estável diante dos dramas da vida. Quando tenho esse poder posso ajudar os outros a passarem facilmente pelos desafios da vida. Hoje vou praticar o contentamento e dizer para mim mesmo: Eu já tenho tudo que preciso! Eu sou pleno!

 Brahma Kumaris

gentilmente encaminhado por M.Paulette ao grupo yougue

domingo, 12 de agosto de 2012

Análise: Agora, tudo tem de dar muito certo para ficar apenas ruim

Nota do Blog: A materia abaixo é uma resposta da "realidade" para a maldade criminosa dos ceticos do clima, e atinge de forma especial o ruralismo, que tem se comportado como se a Natureza pudesse ser comprada, depois de ter sido impiedosamente abusada por 500 anos no Brasil (e no mundo herdeiro do expansionismo colonial europeu).  Hoje temos uma safra recorde aqui e perdas recorde nos USA. Mas se alguem tem alguma duvida de que o quadro pode se inverter ou mesmo ficar ruim para todos, podem se descabelar. Segundo a analise cientifica da realidade climatica, e segundo as previsoes mais benignas, as oscilações climaticas que estão quebrando safras em toda parte somente tendem a piorar. Quando estiver tudo mto ruim mesmo, chamem os ceticos do clima e os lideres ruralistas, Aldo Rebelo incluso, para nos salvar...


12/08/2012 - 06h00
MAURO ZAFALON
COLUNISTA DA FOLHA
 
Daqui para a frente, tudo tem de dar muito certo para ficar apenas ruim. Isso mesmo! Se a produção global de grãos não tiver um clima perfeito a partir de agora, o que resultaria numa "safra cheia", como dizem no setor, a oferta de alimentos será um caos.

Seca severa afeta 90% das plantações de milho nos EUA
 
Após uma quebra de safra nos EUA no ano passado, outra na América do Sul no começo deste ano e mais uma agora nos EUA, qualquer clima ruim na nova safra da América do Sul, que começará a ser semeada, provocará brutal redução nos estoques mundiais de alimentos.

Voltarão à tona as discussões sobre crise alimentar e eventuais políticas de segurança alimentar a serem adotadas por países dependentes da importação de grãos.

Os números são impressionantes. Apenas nesse período mencionado (nas safras do ano passado e deste), os EUA deixaram de colher 132 milhões de toneladas de milho. Algumas regiões da América do Sul, como o Sul do Brasil, também tiveram fortes perdas.

A redução na oferta de soja foi de 38 milhões de toneladas, quando comparadas as estimativas iniciais com a safra colhida nos Estados Unidos e na América do Sul.

O relatório de oferta e demanda mundiais divulgado anteontem pelo Usda (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) aponta o cenário ruim do momento, registrando queda de 102 milhões de toneladas na produção de milho do país, comparando a meta inicial da safra com a produção efetiva que os norte-americanos terão.

O Usda tenta minimizar os efeitos da redução de safra provocada pela seca refazendo os números de consumo. No caso do milho, por exemplo, a estimativa de consumo total dos EUA para a safra 2012/13 --o número inclui as exportações-- é de apenas 285 milhões de toneladas. É um número irreal, uma vez que as exigências do mercado norte-americano já superam 320 milhões de toneladas por ano. Só a produção de etanol consumiu 127 milhões de toneladas no ano passado. O Usda prevê uso menor de milho na produção desse combustível neste ano, mas essa queda tem um limite. O país tem um patamar de produção de etanol fixado por lei. Para que os estoques mundiais sejam refeitos, o Usda aposta em safras maiores de milho e de soja no Brasil e na Argentina. Esses países ganhariam também fatia maior nas exportações mundiais. Os dados da semana passada do governo norte-americano apontaram que o Brasil exportará o recorde de 14 milhões de toneladas de milho e 38 milhões de toneladas de soja. Preços internacionais elevados e dólar mais favorável permitem essas exportações. O problema é a logística para a saída desses produtos. A escassez de grãos força a alta nos preços. Isso é bom para toda a cadeia agrícola, que passa a ter margem maior na comercialização. Na outra ponta, no entanto, estão as indústrias processadoras de alimentos, que pagam mais pela matéria-prima e vão repassar os aumentos de custos para os consumidores.

Os dados de inflação divulgados na semana passada pela Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) indicam que o consumidor paulistano está pagando 2% mais pelos óleos de soja e de milho nos últimos 30 dias. Esse deve ser apenas o início dos reajustes, uma vez que a alta de preços no campo demora várias semanas para chegar ao varejo. Nos últimos 30 dias, a inflação média teve elevação de 0,16% em São Paulo, aponta a Fipe.

sábado, 11 de agosto de 2012

O Momento em que Vivemos: "desequilíbrio"

Entrevista – John P. Milton

O guru dos gurus
Por Cristina Tavelin
 

Se fosse escolher apenas uma palavra para descrever o momento em que vivemos, o americano John P. Milton não teria dúvidas: desequilíbrio. Os reflexos do termo ele enxerga no desgaste dos sistemas de suporte da natureza, no crescimento excessivo das cidades se sobrepondo ao meio ambiente, na desigualdade social e no sentimento de inadequação do próprio indivíduo. Para ele, as explicações sobre por que o mundo chegou a esse ponto de instabilidade generalizada são muitas. O momento, agora, é de perguntar como mudar esse cenário.

Segundo Milton – considerado um dos pioneiros da Ecologia e o primeiro a integrar o Council of Economic Advisers da Casa Branca, em 1970 –, a mudança deve começar pela reconexão com a fonte principal da vida. Ou seja, do ser humano com o meio ambiente e consigo mesmo.  Esse princípio vem do livro-base do Taoísmo, Tao Te Ching, no qual a natureza é descrita como imutável e a “fonte” como fundação infinita, amorfa e inominável permeando todas as formas de existência.  Não por acaso, o nome da organização criada por Milton – The Way of Nature Fellowship – foi extraído dessa obra.

Ao longo dos últimos 60 anos, as ideias visionárias de J.P. Milton, com inspiração na espiritualidade e nas filosofias orientais, vieram atraindo a atenção dos chamados “gurus da gestão de negócios”, como Peter Senge, Joseph Jaworski e Otto Scharmer. Hoje, ele procura levar seus ensinamentos aos executivos de grandes empresas globais. Após vivenciarem processos como o Sacred Passage, de imersão na natureza, e o Nature Quest, treinamento de conscientização e meditação, essas lideranças “têm mudado a forma de ver e fazer negócios” – acredita o guru dos gurus.

Membro fundador da organização ambientalista Friends of the Earth e da Academy for Systemic Change, iniciada por Peter Senge, Milton conversou com Ideia Sustentável durante sua última passagem pelo Brasil e falou sobre experiências com empresas nada sustentáveis, troca de valores entre Oriente e Ocidente e a ascensão dos princípios femininos – e de mulheres na liderança – para a evolução da sociedade.

Ideia Sustentável: Gostaria que o senhor falasse um pouco sobre o atual distanciamento entre o ser humano e a natureza. Quais dilemas enfrentamos por causa dessa desintegração?

John P. Milton: Há a causa e o modo como nos deixamos afetar pela desintegração. A causa, obviamente, é um pouco complexa.  Acredito que esteja relacionada ao fato de termos nos tornado muito confiantes. De algum modo, quando começamos a desenvolver o sentido de self (segundo o fundador da Psicologia Analítica, Carl Gustav Jung, o self representa o centro de toda a personalidade, o “si mesmo”, regido principalmente pelos instintos), a consciência de nosso ego (seguindo a linha de pensamento junguiana, o ego é a parte mais superficial do indivíduo e tem como algumas de suas funções a comprovação da realidade e o controle de impulsos) fica mais forte e passamos a ver a natureza como um objeto à parte de nós mesmos, a manipulá-la em favor de nossos propósitos. Dessa forma, perdemos a conexão profunda com o planeta e a experiência natural da unidade que nos levava a uma vida equilibrada e harmoniosa, com ligações mais naturais e ecológicas. Não se tem ecologia, relacionamento, equilíbrio ou respeito quando se trata algo como um objeto.

IS: Essa visão da natureza como objeto é uma consequência da sociedade de consumo?

JM: Certamente. A partir do momento em que desenvolvemos essa atitude mais precária do ego, isso se reflete em nossas filosofias, sistemas políticos e econômicos. Quando criamos culturas de alto consumo e dependência de objetos exteriores para fazer com que as pessoas sintam-se felizes, já estamos nos separando da vida natural. Se você tem uma vida ligada à comunidade, aos seus amigos, à família e aos seus vizinhos, leva uma vida mais feliz; se está perto da natureza, não precisa pagar pelo ar que respira e, em um ambiente normal, pela água que bebe. Quando se vive de modo a receber diretamente o que se precisa, não há necessidade de comprar um monte de coisas para ser feliz. Uma pessoa torna-se consumista quando está infeliz e tenta obter objetos externos para suprir essa falta… Já a felicidade é natural.

IS: Como poderíamos, então, entrar novamente em contato com a natureza e a espiritualidade mesmo vivendo em áreas metropolitanas? Isso é possível num sistema no qual as pessoas são educadas para servir ao mercado?

JM: Na Europa, a educação tende a promover ainda mais essa desconexão. Em meu país, Os Estados Unidos, muitas escolas não têm sequer uma janela. E o conteúdo ensinado foca-se na Matemática, Gramática, Literatura… Há um pequeno vislumbre da natureza em Biologia, mas mesmo nessa matéria o que se faz normalmente é pegar algum pobre animal, seja ele um sapo ou um rato, e dissecá-lo. Não se transmite o respeito e o apreço pela vida, algo que a educação deveria fazer. Se o fizesse, abriria uma porta para uma ligação mais profunda com o meio ambiente.

Nas cidades, há muitas pessoas e muitos carros. Penso que estamos criando uma outra forma de vida, baseada em chips de silício, computadores e motores de combustão interna. E nós, seres humanos, virando servos ou escravos dessas máquinas. A notícia boa é que podemos ter uma experiência de profunda reconexão com a natureza mesmo vivendo em uma metrópole: basta simplesmente reservar um pouco de tempo para isso, tirar alguns dias para estar em contato com a natureza e seguir algumas regras básicas para se conectar: a presença no “agora” e o relaxamento. Se você ama alguém, por exemplo, quer estar junto à pessoa e aprofundar esse relacionamento. O mesmo acontece com a natureza. Quando se deseja fazer uma conexão, é necessário dar-se um tempo para obter essa experiência. Sem celulares, câmeras. Hoje em dia há muitas distrações.

IS: A proximidade da morte muitas vezes leva as pessoas a refletirem sobre o significado da vida. O senhor acha que a sensação de “morte” do planeta, gerada a partir das mudanças climáticas e suas consequências, cria também uma necessidade de restabelecer o contato com a natureza?
 
JM: Sim, há uma verdadeira urgência nisso porque temos realizado experimentos em nós mesmos e na natureza e não fazemos ideia de qual será o troco disso tudo. Alteramos o clima, o teor de CO2 da atmosfera, derramamos veneno nos oceanos, bombardeamos nossos corpos com radiação, construímos reatores nucleares. Apenas uma dessas ações já teria um impacto muito ruim, imagine todas elas juntas! Nosso corpo, por exemplo, está à mercê de dezenas de impactos causados pela poluição. Fazemos o mesmo com o corpo do planeta. Estamos enfraquecendo os sistemas que produzem oxigênio, água e, claro, acreditamos que mesmo assim ficaremos imunes. Fazemos tudo isso para produzir e consumir. E por quê? Para poder comprar objetos que nos deixam felizes. Porém, ao processar objetos, produzimos a poluição despejada na Terra, deixando-a ainda mais arruinada. É algo estúpido. Não faz sentido. Portanto, a única maneira de mudar esse cenário é começar a perceber o erro e criar um tipo diferente de vida, primeiro, por meio de uma reconexão com a natureza e, em seguida, trocando ideias sobre novas maneiras de estabelecer um novo tipo de cultura mais harmoniosa com o planeta.

IS: Falemos agora sobre a sua troca de experiências com os grandes nomes da gestão dos negócios, como Peter Senge. Quando o procuraram, quais eram suas principais dúvidas e anseios? O que desejavam mudar? Quais as características comuns a esses pensadores com um nível avançado de consciência?

JM: Ninguém nunca me perguntou isso. É uma boa questão! Tenho atuado de maneira próxima a Peter Senge e já trabalhei no passado com Otto Scharmer, criador da Teoria U, Betty Sue Flowers, Joseph Jaworski e Adam Kahan. Todos estão fazendo um grande trabalho. Uma característica comum a todos eles é a preocupação com o que está à nossa frente. Eles perceberam que indivíduos, organizações e empresas se deparariam com um enorme impacto e todos sofreríamos com isso. Hoje, as empresas se comportam como um “câncer” no corpo do planeta. E o câncer pode matar seu hospedeiro. Ele domina o corpo e faz uma grande “festa” por algum tempo, mas, em seguida, o corpo morre, já que as células cancerosas não convivem em harmonia com o restante das células e tecidos.
Assim, indivíduos como Peter Senge e J. Jaworski perceberam que a cultura e as organizações caminhavam na direção de se tornarem mais parecidas com uma célula cancerosa; perceberam a necessidade de uma mudança no sentido de trabalhar de forma mais harmoniosa umas com as outras e com os sistemas de suporte ao planeta – por seu próprio interesse. Todos esses pensadores participaram do Nature Quest, do Sacred Passage ou do Awarness Training comigo para aprender e se aprofundar ainda mais sua conexão com a natureza. Eles incluíram algumas das ideias dessa experiência em seus materiais e na própria maneira de pensar. Como resultado, desde então, tenho trabalhado com um bom número de empresas tentando ajudá-las a concluir o mesmo processo como organizações globais. Abordo dois temas. Um deles é a conexão profunda com a natureza; o outro, a busca de maneiras para se obter uma conexão profunda com a “fonte” – um campo de pura consciência e espaço subjacentes a todas as formas de vida e bens materiais. Quando isso é canalizado, obtém-se um tipo poderoso de criatividade, ligada à Terra, a novas maneiras de pensar uma sociedade mais harmoniosa e equilibrada.

IS: Poderia citar alguns passos simples para o início de uma mudança interna de valores e atitudes?

JM: Pode-se começar a partir dos princípios universais do The Way of Nature Fellowship, elaborados para serem entendidos por qualquer pessoa, independentemente de seus antecedentes culturais ou religiosos. A partir deles é possível desenvolver os próprios princípios. Ao dominar as etapas de relaxamento e da presença, há uma série natural de estágios, começando com os relacionamentos, pela experiência da comunhão. Em uma casa, por exemplo, existe o aterramento elétrico para evitar choques. No corpo humano, isso também tem de acontecer. Quando não se canaliza isso, podemos ter “curto-circuitos”, sobrecargas, literalmente, com a quantidade enorme de ondas eletromagnéticas que recebemos de WiFis e celulares, por exemplo. Portanto, é preciso retomar o contato com a Terra para o corpo voltar ao equilíbrio. Os benefícios advindos da meditação, como silêncio e paz interior, são muito importantes nesse sentido. Esse é o começo. Quando não há meditação, não há espaço para concentra-se e se conectar em meio a tanto ruído.

IS: Quais conteúdos o senhor trabalha junto às organizações?

JM: Busco obter uma noção do que faz a empresa ou o seu líder se moverem, quais são seus principais desafios e, em seguida, olhos para seus pares. Juntamente com eles podemos ter alguma ideia sobre como mudar o rumo da organização para um caminho mais ecológico – tanto no que faz quanto no que toma da natureza, a forma como toma e o que pode devolver a ela. As empresas devem aprender a realizar algo ainda melhor a partir do que extraem do meio ambiente. Refletimos sobre como líderes e gestores podem viver uma experiência de conexão com a natureza e começar a repensar as empresas de maneira mais sustentável e criativa.

IS: Quais são os principais benefícios dessa imersão na natureza? Poderíamos dizer que o processo liberta os gestores de uma sensação ilusória de poder, desenvolvendo-lhes um senso de humildade?

JM: Sim. Esse é um ponto muito importante, porque muitas das organizações são demasiadamente hierárquicas, enquanto a natureza é comunitária. Quando Charles Darwin escreveu a teoria evolucionista, enfatizou a concorrência, a sobrevivência do mais apto. Mas, do ponto de vista de um ecologista, vejo que na maioria das vezes ela não diz respeito à concorrência e hierarquia, e sim à forma como uma espécie ajuda a outra, como trabalham juntas para dar suporte a todo o sistema. No caso de uma empresa ou organização é a mesma coisa. Depois da experiência de imersão na natureza, as pessoas começam a perceber que a relação cooperativa é muito mais forte do que a tentativa de domínio, controle e manipulação. A natureza é mais parecida com um sistema integral. Basicamente, toda organização saudável funciona de forma simbiótica. No meio ambiente, uma espécie oferece apoio à outra e ambas se beneficiam dos resultados. Um bom exemplo são os líquens, encontrados em rochas – organismos formados por fungos e certos tipos de algas. O fungo fornece a arquitetura, a casa, e as algas, o alimento – capturam-noo e cedem parte ao fungo. Eles não estão competindo. Simplesmente trabalham juntos, como uma equipe.

IS: A partir do momento em que esses gestores ou líderes de negócios desenvolvem um novo tipo de consciência, como podem influenciar toda a organização? Poderia citar alguns exemplos de empresas ou governos cujos líderes têm uma visão mais holística?

JM: Um exemplo clássico nos Estados Unidos é a Nike, que fez um trabalho muito bom em reciclagem, questões de justiça social e gênero, tornando-se mais equilibrada em seu estilo de liderança. Outra organização que espero que esteja na direção correta é a Apple, pois tem a oportunidade e a obrigação de tornar-se mais consciente em seu relacionamento com fornecedores na China, por exemplo, onde as condições de trabalho eram insustentáveis. Para tanto, a empresa está revendo todo o seu sistema para ficar atenta a qualquer problema. A Celestial Seasonings, fabricante de chás, também tem feito um bom trabalho na reciclagem de suas embalagens.

IS: O senhor já treinou líderes do setor de petróleo e do tabaco. Como foram essas experiências com empresas pouco ou nada sustentáveis?
 
JM: Trabalhei com empresas pouco conscientes na esperança de que talvez algumas mudanças pudessem ocorrer. A Philip Morris foi um caso interessante porque seu CEO passou por parte do processo de treinamento, mas quando percebeu a dimensão do impacto e o tipo de transformação proposta, achou difícil continuar. Uma mudança boa foi o fato de deixarem de ser apenas uma empresa de tabaco e se envolverem mais com outros tipos de negócio, como alimentos orgânicos e outros direcionamentos muito mais criativos para gerar uma contribuição à sociedade. Quando uma organização começa a estabelecer novos rumos, aberturas acontecem. Certa vez trabalhei com uma companhia de petróleo que mais tarde iniciou uma mudança muito ambiciosa, direcionando parte de seu capital para energias alternativas.

IS: Quais países, organizações ou indivíduos têm potencial para se tornarem grandes lideres globais?

JM: A China possui corporações controladas pelo Estado. Assim, o governo pode oferecer vantagens às empresas de lá que não se encontram em outros países. É muito mais difícil agir sem esse tipo de apoio. A desvantagem é que, por serem empresas estatais controladas, naturalmente não há nenhuma concorrência pura, o mercado de oportunidades não tem lugar. Mas há o lado positivo – também por serem estatais, elas podem responsabilizar-se como nação. O setor de energia solar, por exemplo, é muito importante, e deve haver bastante apoio para impulsioná-lo.

Um bom exemplo está na decisão de Barack Obama para tentar obter o maior apoio possível às energias alternativas por meio de uma declaração pública. Os combustíveis fósseis têm criado dois tipos de problema. Por um lado, eles mantêm a antiga dependência americana dos países do Oriente Médio e da Venezuela. Por outro, contribuem massivamente para a poluição e, consequentemente, as mudanças climáticas. Precisamos nos desvencilhar disso o mais rápido possível. Assim, o apoio de um líder ou um grupo de líderes à energia verde de forma ativa é essencial. Estamos em uma situação de crise em nossa relação com o planeta e precisamos de lideranças esclarecidas para guiar as empresas a formas de negócios mais verdes. Se ficarmos esperando que o funcionamento normal do mercado resolva os problemas, não haverá solução. Precisamos de técnicas e abordagens para que os líderes se tornem muito mais esclarecidos e iluminados em relação à natureza. Costumo dizer aos meus alunos americanos que o futuro do planeta está nas mãos de três países: China, Índia e Brasil. Essa é uma das razões pela qual desejava vir aqui.

IS: Na sua opinião, os países do Ocidente estão absorvendo algumas características importantes do Oriente, como a valorização da cultura e da espiritualidade, ou ainda não conseguem pensar a vida de maneira holística?

JM: Tenho duas perspectivas, uma mais positiva e outra negativa. Primeiro a negativa. O Oriente está começando a ficar realmente frenético, rápido, contraído e perdendo boa parte da beleza e da harmonia que possuía no passado. Embora o Ocidente tenha absorvido parte da sensibilidade da cultura oriental, também tem sido influenciado por alguns aspectos negativos, como o maior controle sobre a população por meio da manipulação da mídia. Antigamente, dizia-se que China e Rússia faziam “lavagem cerebral” nas pessoas. Hoje, o Ocidente, assim como o Oriente, também utiliza a mídia primeiramente para “travá-las” em uma determinada perspectiva; depois, os governos usam o controle dos meios de comunicação para controlar também as consciências.

Pela perspectiva otimista vejo que o Oriente está aprendendo algumas das habilidades práticas do Ocidente, como fazer bons negócios e ser um pouco mais “materialista” – no sentido de produzir mais alimentos e algumas das novas tecnologias de mídia social. Essa perspectiva está se espalhando agora em grande parte da Ásia e fornecendo um meio para o continente se tornar mais democrático, porque não há controle do governo sobre esse tipo de mídia social. Assim, elas permitem que a consciência evolua rapidamente. A China pode sofrer um bom impacto nesse sentido. Talvez não enxerguemos isso agora, mas essa mídia vai possibilitar um ponto de vista melhor e muito mais democrático ao país ao longo do tempo. Esperamos que seja de forma pacífica. Ainda nessa perspectiva, vejo tradições extraordinárias de sabedoria – o Taoísmo chinês ou o Budismo Hinayana, os ensinamentos do Buda tanto para a iluminação quanto para uma vida em harmonia com a natureza; ou ainda, o grande conhecimento de alguns dos povos indígenas do Tibete, da tradição Hindu. Todos são ensinamentos magistrais de como alcançar a essência. E estamos em um momento no qual temos uma necessidade urgente de acessá-la, pois criamos toda esta sociedade de alta tecnologia desconectada da natureza e de nós mesmos. O Oriente tem respostas para esse tipo de dilema há mais de mil anos, mas só agora contamos com professores que incorporam interiormente esses ensinamentos. Vemos surgir ocidentais com treinamento muito profundo nessas abordagens e que podem representar uma ponte entre os dois pólos. É um sinal de esperança, porque significa que começamos a ter pessoas dentro da própria cultura ocidental que ouviram alguns dos grandes segredos do Oriente e podem trazê-los exatamente no momento em que mais se precisa deles.

 IS: O senhor acredita que temos hoje espaço para pensar e tomar decisões com base na intuição e em outros aspectos subjetivos?
 
JM: Temos de fazer isso – começar a honrar muito mais o poder dos princípios femininos em todas as ações, em nossa espiritualidade, nos processos de governo, nas práticas de negócio. Uma das razões dessa discussão ser tão importante é que, se olharmos demais para o lado masculino, nosso comportamento torna-se insensível, agressivo. O relacionamento interpessoal e com planeta fica inapropriado. Precisamos ser mais sensíveis, comunicativos, sentir o mundo, desenvolver a receptividade – uma característica altamente evoluída do feminino que, quando cultivada, nos faz aprender a ouvir profundamente nós mesmo, os outros e a natureza. E precisamos disso para alcançar um tipo diferente de cultura. Sem o poder do feminino não será possível. Nas empresas, precisa-se dessa capacidade de ouvir profundamente a essência de si mesmo.

É como o Yin e o Yang (Yin e Yang representam o princípio da dualidade de acordo com a filosofia chinesa. Baseiam-se no conceito Tao, que deu origem à tradição filosófica do taoismo). Desenvolvemos o Yang a tal extremo que o Yin está clamando para ser solto e se expressar. Isso deve acontecer. Ensino, durante os treinamentos, algumas das práticas da arte marcial chinesa sobre como se tornar mais receptivo quando alguém o ataca e como essa receptividade permite uma conexão com o outro, fazendo com que o poder agressivo se perca no vazio. Assim, é possível captar a energia e transformá-la em uma força positiva, deixando tudo mais leve, quase como uma dança.

IS: Partindo dessa necessidade de ascensão dos princípios femininos, o número de mulheres na liderança de empresas e governos deve crescer nos próximos anos?

JM: Creio que sim. Seria adequado. Sabemos que há um papel claro para o masculino também, mas o que chamo de “homem iluminado” ou “homem liberto” surge apenas com a aceitação completa do “feminino sagrado”. A partir dessa experiência de receptividade profunda nasce um novo tipo de energia Yang, muito libertadora. A reação desse indivíduo torna-se muito mais sensível e intuitiva. Esse pensamento é apropriado tanto para as mulheres quanto para os homens. Na atualidade, muitas mulheres adotaram diversas características masculinas no jeito de ser – mais agressivas, duras ou blindadas, pensando que, dessa forma, se tornariam fortes e poderosas. O essencial é dominar a verdadeira natureza feminina. Esse aperfeiçoamento ajuda, naturalmente, a cultura a se transformar; e ela se transforma, parcialmente, por meio de uma aceitação do aspecto feminino altamente evoluído. Para isso precisamos da liderança feminina – especialmente daquelas mulheres que realmente abraçaram o feminino sagrado no nível mais profundo. E também precisamos de homens que façam o mesmo para que o masculino real e verdadeiro, o masculino “iluminado”, possa surgir.

IS: Qual a sua opinião sobre conferências como a Rio+20? O senhor acredita que elas tragam alguma mudança de fato?

JM: Tenho uma crítica sobre algumas dessas conferências. Várias decisões são tomadas antes que elas aconteçam. Dessa forma, o evento torna-se um carimbo para fazer com que as decisões de trás das portas sejam aceitáveis publicamente. E essa não é a forma correta de tomada de decisão. Um processo participativo e autêntico deveria vir do povo em um fluxo conjunto com os órgãos decisórios, assim ele seria realmente um reflexo da sociedade. Mas isso não tem acontecido.

Materia no Site, Idéia Sustentavel

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Construindo Paz no turbilhão mental...



RESPIRAÇÃO
Por Eckhart Tolle


Podemos descobrir o espaço interior criando lacunas no fluxo de pensamentos.


Sem elas [as lacunas], o pensamento se torna repetitivo, desprovido de inspiração, sem nenhuma centelha criativa - e é assim que ele é para a maioria das pessoas. Não precisamos nos preocupar com a duração dessas lacunas. Alguns segundos bastam. Aos poucos, elas irão aumentar por si mesmas, sem nenhum esforço de nossa parte. Mais importante do que fazer com que sejam longas é criá-las com frequencia para que nossas atividades diárias e nosso fluxo de pensamento sejam entremeados por espaços.

Certa ocasião alguém me mostrou a programação anual de uma grande organização espiritual. Quando a examinei, fiquei impressionado pela rica seleção de seminários e palestras interessantes. A pessoa me perguntou se eu poderia recomendar uma ou duas atividades. "Não sei, não. Todas elas me parecem muito interessantes. Mas eu conheço esta: tome consciência da sua respiração sempre que puder, toda vez que se lembrar. Faça isso durante um ano e terá uma experiência transformadora bem mais forte do que a participação em qualquer uma dessas atividades. E é de graça."

Tomar consciência da respiração faz com que a atenção se afaste do pensamento e produz espaço. É uma maneira de gerar consciência. Embora a plenitude da consciência já esteja presente como o não-manifestado, estamos aqui para levar a consciência a essa dimensão.

Tome consciência da sua respiração. Observe a sensação do ato de respirar. Sinta o movimento de entrada e saída do ar ocorrendo em seu corpo. Veja como o peito e o abdômen se expande e se contrai ligeiramente quando você inspira e expira. Basta uma respiração consciente para produzir espaço onde antes havia a sucessão ininterrupta de pensamentos.

Uma respiração consciente (duas ou três seria ainda melhor) feita muitas vezes ao dia é uma maneira excelente de criar espaços em sua vida. Mesmo que você medite sobre sua respiração por duas horas ou mais, o que é uma prática adotada por algumas pessoas, uma respiração basta para deixá-lo consciente. O resto são lembranças ou expectativas, isto é, pensamentos.

Na verdade, respirar não é algo que façamos, mas algo que testemunhamos. A respiração acontece por si mesma. Ela é produzida pela inteligência inerente ao corpo. Portanto, basta observá-la. Essa atividade não envolve nem tensão nem esforço. Além disso, note a breve suspensão do fôlego - sobretudo no ponto de parada no fim da expiração - antes de começar a inspirar de novo. Muitas pessoas têm a respiração curta, o que não é natural. Quanto mais tomamos consciência da respiração, mais sua profundidade se estabelece sozinha.

Como a respiração não tem forma própria, ela tem sido equiparada ao espírito - a Vida sem uma forma específica - desde tempos ancestrais. "O Senhor Deus formou, pois, o homem do barro da terra, e inspirou-lhe nas narinas um sopro de vida; e o homem se tornou um ser vivente." A palavra alemã para respiração - atmen - tem origem no termo sânscrito Atman, que significa o espírito divino que nos habita, ou o Deus interior.

O fato de a respiração não ter forma é uma das razões pelas quais a consciência da respiração é uma maneira eficaz de criar espaços na nossa vida, de produzir consciência. Ela é um excelente objeto de meditação justamente porque não é um objeto, não tem contorno nem forma.

O outro motivo é que a respiração é um dos mais sutis e aparentemente insignificantes fenômenos, a "menor coisa", que, segundo Nietzsche, constitui a "melhor felicidade". Cabe a você decidir se vai ou não praticar a consciência da respiração como verdadeira meditação formal. No entanto, a meditação formal não substitui o empenho em criar a consciência do espaço na sua vida cotidiana.

Ao tomarmos consciência da respiração, nos vemos forçados a nos concentrar no momento presente - o segredo de toda a transformação interior, espiritual. Sempre que nos tornamos conscientes da respiração, estamos absolutamente no presente. Percebemos também que não conseguimos pensar e nos manter conscientes da respiração ao mesmo tempo.

A respiração consciente suspende a atividade mental. No entanto, longe de estarmos em transe ou semi-despertos, permanecemos acordados e alerta. Não ficamos abaixo do nível do pensamento, e sim acima dele. E, se observarmos com mais atenção, veremos que essas duas coisas - nosso pleno estado de presença e a interrupção do pensamento sem a perda da consciência - são, na verdade a mesma coisa: o surgimento da consciência do espaço.

(pg. 211 do livro O Despertar de uma Nova Consciência de Eckhart Tolle - Ed. Sextante)
 
gentilmente enviado por Lilian Medeiros para nosso grupo yogue

Brasil só pensa em curto prazo, diz empresário grego George Koukis

7/08/2012 - 04h00
TONI SCIARRETTA
da FOLHA DE SÃO PAULO

Os empresários e políticos brasileiros pensam só em curto prazo e fazem muito pouco para deixar um país melhor para as próximas gerações. 

A afirmação é do empresário grego George Koukis, dono da Temenos, multinacional suíça de software bancário, que se tornou um porta-voz do que chama de "liderança ética" global. Para Koukis, essa visão curto-prazista explica por que o país tem dificuldade em desenvolver sua infraestrutura e em promover um ensino de qualidade, investimentos de longuíssima maturação.
"É um erro que ameaça a perpetuidade das empresas e o futuro do país como a sexta economia do mundo."

Koukis afirma que vê os políticos pensarem só na próxima eleição e os empresários, nos resultados trimestrais e no bônus. No máximo, pensam em oportunidades pontuais com Copa e Olimpíada. "Temos aqui uma das maiores pobrezas rurais do mundo. Mas o Brasil é um país rico. Onde está todo esse dinheiro? É muita corrupção, ganância, ineficiência, impostos e desmandos. Há muitos milionários, mas o que eles fazem pelo país?" 

Desde que saiu da Temenos, empresa com 4.500 funcionários em 61 países, passou a investir seu tempo e fortuna para formar jovens capazes de "mudar o mundo". Em 2011, patrocinou a imersão em "ética e integridade" de 30 jovens líderes, sendo sete brasileiros, em um treinamento de três meses em Como, norte da Itália. Em 2013, o programa será em São Paulo, de janeiro a fevereiro. Ele faz palestra hoje na PUC-SP e amanhã na conferência mundial de empresas juniores, em Parati (RJ).
Emigrado para a Austrália e hoje vivendo na Suíça, Koukis afirma que é possível "ganhar dinheiro sem explorar trabalhadores, clientes e fornecedores". A Temenos oferece "garantia eterna" para produtos e serviços, enquanto concorrentes como a Microsoft dão só 90 dias.

VIDA CURTA
 
Aos empreendedores, Koukis vai falar por que a maioria das empresas quebra no primeiro ano de vida. "Um plano de negócio pode parecer infalível no papel, mas não sobrevive se não tiver por trás o comprometimento e a paixão de uma pessoa para fazer a coisa acontecer. Precisa ter um líder que faça isso não por dinheiro, mas porque é sua vida que está lá. É com esse negócio que ela ajuda o mundo a ser um lugar melhor."

Koukis diz que encontrou poucos líderes éticos no mundo dos negócios e na política. "Nem ONGs, institutos de caridade, missões religiosas têm essas pessoas. Vários se tornaram mendigos profissionais, implorando ajuda para seus projetos, mas na verdade só estão pensando em sua própria sobrevivência."

Cita [boas] iniciativas de microcrédito e o trabalho da indiana Vandana Shiva, que iniciou uma disputa com multinacionais como Cargill e Monsanto contra o patenteamento de sementes sob o argumento de que são patrimônio da humanidade.

Como grego, Koukis se sente envergonhado com a crise em seu país e com o futuro da Grécia na União Europeia. "Cada país quer ter sua independência e os políticos prometem benefícios sociais para todos, mas alguém tem que pagar a conta. Que independência é essa em que os governos e os bancos precisam de socorro?", disse. Será uma catástrofe se a Grécia sair do euro. O mercado financeiro vai se fechar e ela não terá mais apoio de ninguém."


Editoria de Arte/Editoria de Arte/Folhapress
LUCRO SEM EXPLORAÇÃO Os mandamentos do empresário ético, segundo George Koukis
LUCRO SEM EXPLORAÇÃO Os mandamentos do empresário ético, segundo George Koukis

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

12 Sintomas de Paz Interior (despertar espiritual)

Aqui está uma doença insidiosa que tens de observar.
  Ela é chamada Paz Interior, e se não tomarmos cuidado, poderá atingir proporções epidêmicas.


Os sinais e sintomas da paz interior incluem o seguinte:

 

1. Uma maior tendência para deixar as coisas acontecerem, em vez de fazê-las acontecer.

2. Ataques frequentes de riso.

 
3. Sentimentos de estar conectado com os outros e com a natureza.

 
4. Freqüentes e
irresistíveis episódios de apreciação.

5. Tendência para pensar e agir espontaneamente ao invés de
baseado em medos registrados na experiência passada.

 
6. Uma habilidade inconfundivel para apreciar cada momento.


7. Perda da capacidade de se preocupar.

 
8. A perda de interesse em conflito.

 
9. A perda de interesse em interpretar as ações dos outros.

 
10. A perda de interesse em julgar aos outros.


11. A perda de interesse no auto-julgamento.


12. Adquirir a capacidade de amar sem esperar nada.


Se apresentares a maioria destes sintomas, pode ser tarde demais para voltar atrás. Se conheces alguém com esses sintomas, continues exposto por seu próprio risco já que a Paz Interior pode bem estar em seu estágio infeccioso.

Saskia Davis, 1983

traduzido do ingles, gentilmente enviado por Mirza Nobre 
original no site Symptoms of Inner Peace

Ironia no site:
SÍNDROME DA PAZ INTERIOR 
PANDEMIA MUNDIAL 

por Saskia Davis, R.N.


Identificada pela primeira vez há 28 anos, a Síndrome da paz interior está arrebatando nações em todo o mundo. Insidiosa e altamente contagiosa, ela se espalha silenciosamente pelas sociedades, infectando um coração de cada vez. Embora nenhuma cura tenha sido encontrada, as seguintes medidas preventivas foram identificadas: medo, preocupação, raiva, ressentimento,
culpa, culpar, auto-piedade, apego a percepções, a pessoas ou a coisas, desonestidade consigo mesmo ou com os outros e julgamentos negativos. A prática regular de qualquer um destes comportamentos impede o aparecimento da síndrome da paz interior. Sua prevenção pode ser fomentada pela abstenção de certas atitudes e comportamentos.