quarta-feira, 30 de junho de 2010

A raça humana inteira caberia no volume de um cubo de açúcar


Isso ocorre porque a matéria é incrivelmente, absurdamente vazia. Um átomo, o bloco básico de construção da matéria, é como um Sistema Solar em miniatura com os elétrons em órbita de um “núcleo” como os planetas que orbitam o sol. Mas o núcleo no centro é incrivelmente minúsculo em comparação com as órbitas dos elétrons. Isto significa que, se você espremer todo o espaço vazio de todos os átomos em todos os povos do mundo, você poderia acomodar toda a raça humana no volume de um cubo de açúcar. Você e eu e todos os demais somos 99,9999999999999 por cento espaço vazio!

terça-feira, 29 de junho de 2010

Do Código Florestal para o Código da Biodiversidade, obra prima de Aziz


Aziz Nacib Ab'Sáber
São Paulo, 16 de junho de 2010

Em face do gigantismo do território e da situação real em que se encontram os seus macro biomas... ...qualquer tentativa de mudança no 'Código Florestal' tem que ser conduzido por pessoas competentes e bioeticamente sensíveis. Pressionar por uma liberação ampla dos processos de desmatamento significa desconhecer a progressividade de cenários bióticos, a diferentes espaços de tempo futuro. Favorecendo de modo simplório e ignorante os desejos patrimoniais de classes sociais que só pensam em seus interesses pessoais, no contexto de um país dotado de grandes desigualdades sociais. Cidadãos de classe social privilegiada, que nada entendem de previsão de impactos. Não tem qualquer ética com a natureza. Não buscam encontrar modelos tecnico-cientificos adequados para a recuperação de áreas degradadas, seja na Amazônia, , seja no Brasil Tropical Atlântico, ou alhures. Pessoas para as quais exigir a adoção de atividades agrárias 'ecologicamente auto-sustentadas' é uma mania de cientistas irrealistas.

Por muitas razoes, se houvesse um movimento para aprimorar o atual Código Florestal, teria que envolver o sentido mais amplo de um Código de Biodiversidades, levando em conta o complexo mosaico vegetacional de nosso território. Remetemos essa idéia para Brasília, e recebemos em resposta que essa era uma idéia boa mas complexa e inoportuna (...). Entrementes, agora outras personalidades trabalham por mudanças estapafúrdias e arrasadoras no chamado Código Florestal. Razão pela qual ousamos criticar aqueles que insistem em argumentos genéricos e perigosos para o futuro do país. Sendo necessário, mais do que nunca, evitar que gente de outras terras sobretudo de países hegemônicos venha a dizer que fica comprovado que o Brasil não tem competência para dirigir a Amazônia (...). Ou seja, os revisores do atual Código Florestal não teriam competência para dirigir o seu todo territorial do Brasil. Que tristeza, gente minha.

O primeiro grande erro dos que no momento lideram a revisão do Código Florestal brasileiro 'a favor de classes sociais privilegiadas' diz respeito à chamada estadualização dos fatos ecológicos de seu território especifico. Sem lembrar que as delicadíssimas questões referentes à progressividade do desmatamento exigem ações conjuntas dos órgãos federais específicos, em conjunto com órgãos estaduais similares, uma Policia Federal rural, e o Exercito Brasileiro. Tudo conectado ainda com autoridades municipais, que tem muito a aprender com um Código novo que envolve todos os macro-biomas do pais.... Para pessoas inteligentes, capazes de prever impactos, a diferentes tempos do futuro, fica claro que ao invés da 'estadualização', é absolutamente necessário focar para o zoneamento físico e ecológico de todos os domínios de natureza dos pais. ...

Seria preciso lembrar ao honrado relator Aldo Rabelo, que a meu ver é bastante neófito em matéria de questões ecológicas, espaciais e em 'futurologia' que atualmente na Amazônia Brasileira predomina um verdadeiro exercito paralelo de fazendeiros que em sua área de atuação tem mais força do que governadores e prefeitos. O que se viu em Marabá, com a passagem das tropas de fazendeiros, passando pela Avenida da Transamazônica, deveria ser conhecido pelos congressistas de Brasília, e diferentes membros do executivo. .... E,os grupos iam passando separados entre si, por alguns minutos. E , alguém a pé, como se fosse um comandante, controlava a passagem da cavalgada dos fazendeiros. Ninguém da boa e importante cidade de Marabá saiu para observar a coluna amedrontadora dos fazendeiros. Somente dois ...meninos, deixaram as bicicletas na beira da calçada olhando silentes a passagem das tropas. Nenhum jornal do Pará, ou alhures, noticiou a ocorrência amedrontadora. Alguns de nós não pudemos atravessar a ponte para participar de um evento cultural.

Será certamente, apoiados por fatos como esse, que alguns proprietários de terras amazônicas deram sua mensagem, nos termos de que 'a propriedade é minha e eu faço com ela o que eu quiser, como quiser e quando quiser'. Mas ninguém esclarece como conquistaram seus imensos espaços inicialmente florestados. Sendo que, alguns outros, vivendo em diferentes áreas do centro-sul brasileiro, quando perguntados sobre como enriqueceram tanto, esclarecem que foi com os 'seus negócios na Amazônia' (...). Ou seja, através de loteamentos ilegais, venda de glebas para incautos em locais de difícil acesso, os quais ao fim de um certo tempo, são libertados para madeireiros contumazes. E, o fato mais infeliz é que ninguém procura novos conhecimentos para re-utilizar terras degradadas. Ou exigir dos governantes tecnologias adequadas para revitalizar os solos que perderam nutrientes e argilas, tornando-se dominadas por areias finas (siltizaçao).

Entre os muitos aspectos caóticos, derivados de alguns argumentos dos revisores do Código, destaca-se a frase que diz que se deve proteger a vegetação até sete metros e meio do rio. Uma redução de um fato que por si já estava muito errado, porém agora esta reduzido genericamente a quase nada em relação aos grandes rios do pais. Imagine-se que para o rio Amazonas, a exigência protetora fosse apenas sete metros, enquanto para a grande maioria dos ribeirões e córregos também fosse aplicada a mesma exigência. Trata-se de desconhecimento entristecedor sobre a ordem de grandeza das redes hidrográficas do território intertropical brasileiro. Na linguagem amazônica tradicional, o próprio povo já reconheceu fatos referentes à tipologia dos rios regionais. Para eles, ali existem, em ordem crescente: igarapés, riozinhos, rios e paranás. Uma última divisão lógica e pragmática, que é aceita por todos os que conhecem a realidade da rede fluvial amazônica.
Por desconhecer tais fatos os relatores da revisão aplicam o espaço de sete metros da beira de todos os cursos d'água fluviais sem mesmo ter ido lá para conhecer o fantástico mosaico de rios do território regional.

Mas o pior é que as novas exigências do Código Florestal proposto têm um caráter de liberação excessiva e abusiva. Fala-se em sete metros e meio das florestas beiradeiras (ripario-biomas), e, depois em preservação da vegetação de eventuais e distantes cimeiras. Não podendo imaginar quanto espaço fica liberado para qualquer tipo de ocupação do espaço. Lamentável em termos de planejamento regional, de espaços rurais e silvestres. Lamentável em termos de generalizações forçadas por grupos de interesse (ruralistas).

Já se poderia prever que um dia os interessados em terras amazônicas iriam pressionar de novo pela modificação do percentual a ser preservado em cada uma das propriedades de terras na Amazônia. O argumento simplista merece uma critica decisiva e radical. Para eles, se em regiões do centro-sul brasileiro a taxa de proteção interna da vegetação florestal é de 20%, porque na Amazônia a lei exige 80%. Mas ninguém tem a coragem de analisar o que aconteceu nos espaços ecológicos de São Paulo, Paraná, Santa Catarina, e Minas Gerais com o percentual de 20%. Nos planaltos interiores de São Paulo a somatória dos desmatamentos atingiu cenários de generalizada derruição. Nessas importantes áreas, dominadas por florestas e redutos de cerrados e campestres, somente o tombamento integrado da Serra do Mar, envolvendo as mata s atlânticas, os solos e as aguadas da notável escarpa, foi capaz de resguardar os ecossistemas orográficos da acidentada região. O restante, nos 'mares de morros', colinas e várzeas do Médio Paraíba e do Planalto Paulistano, e pró-parte da Serra da Mantiqueira, sofreram uma derruição deplorável. É o que alguém no Brasil 'falando de gente inteligente e bioética' não quer que se repita na Amazônia Brasileira, em um espaço de 4.200.000 km².

Os relatores do Código Florestal, falam em que as áreas muito desmatadas e degradadas poderiam ficar sujeitas a '(re)florestamento' por espécies homogêneas pensando em eucalipto e pinus. Uma prova de sua grande ignorância, pois não sabem a menor diferença entre reflorestamento e florestamento. Esse último, pretendido por eles, é um fato exclusivamente de interesse econômico empresarial, que infelizmente não pretende preservar biodiversidades. Sendo que, eles procuram desconhecer que para áreas muito degradadas, foi feito um plano de (re) organização dos espaços remanescentes, sob o enfoque de revigorar a economia de pequenos e médios proprietários: Projeto FLORAM. Os eucaliptologos perdem éticos quando alugam espaços por trinta anos, de incautos proprietários, preferindo áreas dotadas ainda de solos tropicais férteis, do tipo dos oxissolos, e evitando as áreas degradadas de morros pelados reduzidas a trilhas de pisoteio, hipsométricas, semelhantes ao protótipo existente no Planalto do Alto Paraíba, em São Paulo. Ao arrendar terras de bisonhos proprietários, para uso em 30 anos, e sabendo que os donos da terra podem morrer quando se completar o prazo. Fato que cria um grande problema judicial para os herdeiros, sendo que ao fim de uma negociação as empresas cortam todas as árvores de eucaliptos ou pinos, deixando miríades de troncos no chão do espaço terrestre. Um cenário que impede a posterior reutilização das terras para atividades agrárias. Tudo isso deveria ser conhecido por aqueles que defendem ferozmente um Código Florestal liberalizante.

Por todas as razoes somos obrigados a criticar a persistente e repetitiva argumentação do deputado Aldo Rebelo, que conhecemos ha muito tempo, e de quem sempre esperávamos o melhor, no momento somos obrigados a lembrar a ele que cada um de nós tem que pensar na sua biografia, e , sendo político, tem que honrar a historia de seus partidos. Mormente, em relação aos partidos que se dizem de esquerda e jamais poderiam fazer projetos totalmente dirigidos para os interesses pessoais de latifundiários.

Insistimos que em qualquer revisão do Código Florestal vigente, deve-se enfocar as diretrizes através das grandes regiões naturais do Brasil, sobretudo domínios de natureza muito diferentes entre si, tais como a Amazônia, e suas extensíssimas florestas tropicais, e o Nordeste Seco, com seus diferentes tipos de caatingas. Tratam-se de duas regiões opósitas em relação à fisionomia e à ecologia, assim como em face das suas condições socioambientais. Ao tomar partido pelos grandes domínios administrados técnica e cientificamente por órgãos do executivo federal, teríamos que conectar instituições específicas do governo brasileiro com instituições estaduais similares. Existem regiões como a Amazônia que envolve conexões com nove estados do Norte Brasileiro. Em relação ao Brasil Tropical Atlântico os órgãos do Governo Federal IBAMA, IPHAN, FUNAI e INCRA teriam que manter conexões com os diversos setores similares dos governos estaduais de norte a sul do Brasil. E assim por diante.

Enquanto o mundo inteiro repugna para a diminuição radical de emissão de CO2, o projeto de reforma proposto na Câmara Federal de revisão do Código Florestal defende um processo que significará uma onda de desmatamento e emissões incontroláveis de gás carbônico, fato observado por muitos críticos em diversos trabalhos e entrevistas.

Parece ser muito difícil para pessoas não iniciadas em cenários cartográficos perceber os efeitos de um desmatamento na Amazônia de até 80% das propriedades rurais silvestres. Em qualquer espaço do território amazônico, que vem sendo estabelecidas glebas com desmate de até 80%, haverá um mosaico caótico de áreas desmatadas e faixas inter-propriedades estreitas e mal preservadas. Nesse caso, as bordas dos restos de florestas, inter-glebas ficarao à mercê de corte de arvores dotadas de madeiras nobres. E além disso, a biodiversidade animal certamente será profundamente afetada.

Seria necessário que os pretensos reformuladores do Código Florestal lançassem sobre o papel os limites de glebas de 500 a milhares de quilômetros quadrados, e dentro de cada parcela das glebas colocasse indicações de 20% correspondente às florestas ditas preservadas. E, observando o resultado desse mapeamento simulado, poderiam perceber que o caminho da devastação lenta e progressiva iria criar alguns quadros de devastação similares ao que já aconteceu nos confins das longas estradas e seus ramais, em áreas de quarteirões implantados para venda de lotes de 50 a 100 hectares, onde o arrasamento de florestas no interior de cada quarteirão foi total e inconseqüente.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Academia pressiona para ser ouvida sobre novo Código Florestal

26/06/2010

Local: Campinas - SP
Fonte: Unicamp - Universidade Estadual de Campinas
Link: www.unicamp.br



Luiz Sugimoto
Comissão especial da Câmara dos Deputados, formada por maioria ruralista, pode aprovar na segunda-feira (28) o relatório de Aldo Rabelo (PCdoB) sobre o novo Código Florestal Brasileiro, que propõe significativas reduções das Áreas de Preservação Permanente (APPs). “Se for aprovado do jeito que está, o projeto será o pior retrocesso ambiental que o Brasil terá sofrido em meio século. Ele vai minar, gradualmente, todos os avanços conquistados penosamente desde que o Código foi instituído”, adverte Thomas Michael Lewinsohn, professor do Instituto de Biologia (IB) da Unicamp e presidente da Associação Brasileira de Ciência Ecológica e Conservação.
Lewinsohn participou na quarta-feira (23) de mesa-redonda organizada por estudantes interessados no tema, juntamente com o professor Carlos Alfredo Joly, colega do IB e coordenador do Programa Biota/Fapesp. Ambos engrossam o coro de pesquisadores paulistas inconformados com a total falta de ouvidos à comunidade científica, e que trabalham junto aos deputados para adiar a votação em plenário ao menos para o segundo semestre, permitindo que este debate aconteça. “Queremos discutir quais são as bases científicas para manutenção ou diminuição das áreas de preservação”, diz Joly.
O coordenador do Biota explica que o Código Florestal é uma das leis ambientais mais antigas do país, de 1965, tendo sido modificada substancialmente em 1989 e depois, através de medida provisória, em 2001. “Basicamente, o código regulamenta a preservação de áreas no entorno de corpos d’água (rios e lagos) e define que, em diferentes biomas, as propriedades rurais com mais de cem hectares mantenham uma reserva legal com a vegetação predominante no local. Essa reserva deve ser de 20%, subindo para 35% no cerrado e chegando a 80% na região amazônica”.
Segundo Carlos Joly, o Código Florestal também protege as encostas e topos de morro, visando diminuir a possibilidade de deslizamentos e de soterramentos, a exemplo do que vem acontecendo em todo começo de ano. “São áreas muito sensíveis a alterações, ainda que estas não sejam consideradas altas para a agricultura. Por isso, queremos uma discussão para que possamos colocar nossos dados e pontos de vista mostrando a importância da manutenção e, se possível, da ampliação da proteção em alguns casos. Dependendo da declividade e do tipo de solo, a reserva de mata ciliar precisa ser mais larga, a fim de reduzir a erosão”.
Joly lembra que os deputados ligados à base ruralista iniciaram uma movimentação para diminuir as APPs em 2002, o que levou o Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) a criar grupos de trabalho que estão apresentando agora seus resultados. “Aparentemente, não satisfeita com esses resultados, que são por manter uma série de restrições contidas no código, a bancada ruralista se reorganizou para criar uma comissão especial. Tramitavam no Congresso perto de seis projetos, que foram reunidos num só”.
Na opinião do pesquisador da Unicamp, as reduções sugeridas no relatório, divulgado por Aldo Rebelo há duas semanas, eliminam a possibilidade de as áreas de preservação cumprirem, de fato, um enorme conjunto de serviços aos ecossistemas. “São benefícios como a diminuição de erosão e do assoreamento de rios, estabilidade de encostas, recarga de aquíferos e garantia da população de polinizadores – importantes para a própria atividade agrícola, que vai ser altamente prejudicada no médio e longo prazo”.
Para o professor Thomas Lewinsohn, doutor em ecologia, é assustador que a comunidade científica não tenha sido ouvida, quando tem muito a contribuir. “O único consenso entre cientistas e parlamentares é que o código está realmente desatualizado. Fora disso, estamos em desacordo com tudo o que foi proposto, principalmente a maneira como estão fazendo as mudanças. Fica claro que a proposta em trâmite é muito tendenciosa e defende vários interesses, menos os da nação e da cidadania”.
Lewinsohn reitera que os cientistas não foram convidados para participar da elaboração do projeto nem individualmente, nem institucionalmente, o que considera inaceitável. “A revisão do Código Florestal não pode ser feita no toque de caixa, e sim com seriedade e serenidade. Este projeto é desastroso, pois tem uma série de implicações bastante evidentes para o futuro da conservação no Brasil. É realmente preocupante”.

Pandora é Aqui

Texto de Marina Silva sobre Avatar

Teve um momento, vendo Avatar, que me peguei levando a mão à frente para tocar a gota d´água sobre uma folha, tão linda e fresca. Do jeito que eu fazia quando andava pela floresta onde me criei, no Acre. A guerreira na'vi bebendo água na folha como a gente bebia. No período seco, quando os igarapés quase desapareciam, o cipó de ambé nos fornecia água. Esse cipó é uma espécie de touceira que cai lá do alto das árvores, de quase 35 metros, e vai endurecendo conforme o tempo passa. Mas os talos mais novos, ainda macios, podem ser cortados com facilidade. Então, a gente botava uma lata embaixo, aparando as gotas, e quando voltava da coleta do látex, a lata estava cheia. Era uma água pura, cristalina, que meu pai chamava de água de cipó. E aprendíamos também que se nos perdêssemos na mata, era importante procurar cipó de ambé, para garantir a sobrevivência.
    Me tocou muito ver a guerreira na'vi ensinando os segredos da mata. Veio à mente minhas andanças pela floresta com meu pai e minhas irmãs. Ele fazia um jogo pra ver quem sabia mais nomes de árvores. Quem ganhasse era dispensada, ao chegar em casa, de cortar cavaco para fazer o fogo e defumar a borracha que estávamos levando. A disputa era grande e nisso ganhávamos cada vez mais intimidade com a floresta, suas riquezas e seus riscos.
    A gente aprendia a reconhecer bichos, árvores, cipós, cheiros. Catávamos a flor do maracujá bravo pra beber o néctar, abrindo com cuidado o miolinho da flor. Lá se encontrava um tiquinho de mel tão doce que às vezes dava até agonia no juízo, como costumávamos dizer.
    É incrível revisitar, misturada à grandiosidade tecnológica e plástica de Avatar, a nossa própria vida, também grandiosa na sua simplicidade. Sofrida e densa, cheia de riscos, mas insubstituível em beleza e força. Éramos muito pobres, mas não passávamos fome. A floresta nos alimentava. A água corria no igarapé. Castanha, abiu, bacuri, breu, o fruto da copaiba, pama, taperebá, jatobá, jutai, todas estavam ao alcance. As resinas serviam de remédio, a casca do jatobá para fazer chá contra anemia. Folha de sororoca servia pra assar peixe e também conservar o sal. Como ele derretia com a umidade, tinha que tirar do saco e embrulhar na folha bem grande, que geralmente nasce em região de várzea. Depois amarrava com imbira e deixava pendurado no alto do fumeiro para que o calor mantivesse o sal em boas condições. Aprendi também com meu pai e meu tio a identificar as folhas venenosas que podiam matar só de usá-las para fazer os cones com que bebíamos água na mata.
    O filme foi um passeio interno por tudo isso. Chorei diversas vezes e um dos momentos mais fortes foi quando derrubam a grande árvore. Era a derrubada de um mundo, com tudo o que nele fazia sentido. E enquanto cai o mundo, cai também a confiança entre os diferentes, quando o personagem principal se confessa um agente infiltrado para descobrir as vulnerabilidades dos na'vi. E, em seguida, a grande beleza da cena em que, para ser novamente aceito no grupo, tem a coragem de fazer algo fora do comum, montando o pássaro que só o ancestral da tribo tinha montado, num ato simbólico de assunção plena de sua nova identidade.
    O filme também me remeteu ao aprendizado ao contrário, quando fui para a cidade e comecei a aprender os códigos daquele mundo tão estranho para mim. Ali fui conduzida por pessoas que me ensinaram tudo, me apontaram as belezas e os riscos. E também enfrentei, junto com eles, o mal e a violência da destruição.
    Impossível não fazer as conexões entre o mundo de Pandora, em Avatar, e nossa história no Acre. Principalmente quando, a partir da década de 70 do século passado, transformaram extensas áreas da Amazônia em fazendas, expulsando pessoas e comunidades, queimando casas, matando índios e seringueiros. A arrasadora chegada do "progresso" ao Acre seguiu, de certa forma, a mesma narrativa do filme. Nossa história, nossa forma de vida, nosso conhecimento, nossas lendas e mitos, nada disso tinha valor para quem chegava disposto a derrubar a mata, concentrar a propriedade da terra, cercar, plantar capim e criar boi. Para eles era "lógico" tirar do caminho quem ousava se contrapor. Os empates, a resistência, a luta quase kamikaze para defender a floresta, usando os próprios corpos como escudos, revi internamente tudo isso enquanto assistia Avatar.
    A ficção dialoga muito profundamente com a realidade. Seres humanos, sem conhecimento sensível do que é a natureza, chegam destruindo tudo em nome de um resultado imediato, com toda a virulência de quem não atribui nenhum valor àquilo que está fora da fronteira estreita do seu interesse imediato. No filme, como o valor em questão era a riqueza do minério, a floresta em si, com toda aquela conectividade, toda a impressionante integração entre energias e formas de vida, não vale nada para os invasores. Pior, é um estorvo, uma contingência desagradável a ser superada.
    Encontrei na tela, em 3D e muita beleza plástica e criatividade, um laço profundo e emocionante com a nossa saga no Acre, com Chico Mendes. E percebi que, assim como no filme, éramos considerados praticamente alienígenas, não humanos, não portadores de direitos e interesses diante dos que chegavam para ocupar nosso espaço.
    É uma visão tão arrogante, tão ciosa da exclusividade do seu saber, que tudo o mais é tido como desimportante e, consequentemente, não deve ser levado em conta. É como se se pudesse, por um ato de vontade e comando, anular a própria realidade. Como se o que está no lugar que se transformou em seu objeto de desejo, fosse uma anomalia, um exotismo, uma excrescência menor.
    E, afinal, essa arrogância vem da ignorância e da falta de instrumentos e linguagem para apreender a riqueza da diferença e extrair dela algum significado relevante e agregador de valor. Numa inversão trágica, a diferença é vista apenas como argumento para subjugar, para estabelecer autoritariamente uma auto-definida superioridade. Poderíamos chamar tudo isso de síndrome do invasor, cujo principal sintoma é a convicção cega e ensandecida, movida a delírios de poder de mando e poder monetário, de ser o centro do mundo.
    No Acre nos deparamos com muitos que viam nossos argumentos como sinônimo de crendices, superstição. Coisa de gente preguiçosa que seria "curada" pelo suposto progresso de que eles se achavam portadores. Por outro lado, também chegaram muitos forasteiros que, tal como a cientista de Avatar e o grupo que a seguiu, compreenderam que nosso modo de vida e a conservação da floresta eram uma forma de conhecimento que poderia interagir com o que havia de mais avançado no universo da tecnologia, da pesquisa acadêmica e das propostas políticas de mudanças no modelo de desenvolvimento que eram formuladas em todo o mundo. Com eles, trocamos códigos culturais, aprendemos e ensinamos.
    Fiquei muito impressionada como esse processo está impregnado no personagem principal de Avatar. Ele se angustia por não saber mais quem é, e só recupera sua integridade e identidade real quando começa a se colocar no lugar do outro e ver de maneira nova o que antes lhe parecia tão certo e incontestável. Sua perspectiva mudou quando viu a realidade a partir do olhar e dos sentimentos do outro, fazendo com que a simbiose presente no avatar, destinado a operar a assimilação e subjugação dos diferentes, se transformasse num poderoso instrumento para ajudá-los a resistir à destruição.
    Pode-se até ver no filme um fio condutor banal, uma história de Romeu e Julieta intergalática. Não creio que isso seja o mais importante. Se os argumentos não são tão densos, a densidade é complementada pela imagem poderosa e envolvente, pelo lúdico e a simplicidade da fala. Se houvesse uma saturação de fala, de conteúdos, creio que perderia muito. A força está em, de certa maneira, nos levar a sermos avatares também e a tomar partido, não só ao estilo do Bem contra o Mal, mas em favor da beleza, da inventividade, da sobrevivência de lógicas de vida que saiam da corrente hegemônica e proclamem valores para além do cálculo material que justifica e considera normais a escravidão e a destruição dos semelhantes e da natureza.
    E, se nada mais tenho a dizer sobre Avatar, quero confessar que aquele povo na'vi tão magrinho e tão bonito foi para mim um alento. Quando fiquei muito magra, na adolescência, depois de várias malárias e hepatite, me considerava estranha diante do padrão de beleza que era o das meninas de pernas mais grossas, mais encorpadas. Sofria por ser magrinha demais, sem muitos atributos. Agora tenho a divertida sensação de que, finalmente, achei o meu "povo", ainda que um pouco tarde. Houvesse os na´vi na minha adolescência e, finalmente, eu teria encontrado o meio onde minhas medidas seriam consideradas perfeitamente normais."

    ”Aprendi com a primavera
    a deixar-me cortar
    e voltar sempre inteira.”
    C. Meireles

    Uma unidade de encontro é como um poema

    que se desenvolve ao som,

    ritmo e compasso da sinergia.

    Há sempre beleza e encantamento quando abrimos

    espaço para o universo amplo

    do encontro humano.

    Roberto Crema



O mundo é um lugar perigoso de se viver, não por causa daqueles que fazem o mal, mas sim por causa daqueles que observam e deixam o mal acontecer - Albert Eintein

domingo, 27 de junho de 2010

Combustível para a motosserra


Modificação do Código Florestal Brasileiro permitirá o desmatamento de 80 milhões de hectares, área equivalente a 138 vezes o tamanho do DF

Vinicius Sassine

Um detalhe despercebido no relatório do deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP) que modifica o Código Florestal Brasileiro autoriza o desmatamento de 80 milhões de hectares de vegetação nativa, caso a nova regra definida no texto final do parlamentar entre em vigor. O cálculo das possíveis perdas em razão dessa alteração específica da lei, a que o Correio teve acesso, foi concluído pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA) no fim da semana passada. Os 80 milhões de hectares — equivalentes a 138 territórios do tamanho do Distrito Federal (DF) — são áreas preservadas que não precisariam entrar no cálculo das reservas legais nas propriedades rurais, por meio de um mecanismo definido por Aldo Rebelo sem qualquer alarde.
Defendido pela bancada ruralista na Câmara e atacado pelos ambientalistas, o novo Código Florestal exime propriedades rurais de até quatro módulos fiscais(1) de definirem reservas que não podem ser desmatadas. É essa medida, somada à diminuição dos espaços de áreas de preservação permanente (APPs), a que mais vem despertando polêmica e reações contrárias ao relatório final de Rebelo. Uma outra regra, porém, passou incólume às críticas até agora porque não foi detalhada no voto de Aldo, mas está presente na redação final da nova lei.
Propriedades com mais de quatro módulos fiscais poderão excluir esses quatro módulos do cálculo da reserva legal. Assim, por exemplo, uma fazenda de 10 módulos instalada no cerrado, precisará preservar 20% da vegetação — como prevê a lei para reserva legal nesse bioma — sobre seis módulos apenas. Nos outros quatro, o desmatamento estaria autorizado.
A primeira projeção mostrou 180 milhões de hectares vulneráveis. Um refinamento dos dados levou aos 80 milhões de hectares que passariam a ser alvo de novos desmatamentos. “Nas grandes propriedades rurais, 100% das áreas equivalentes a quatro módulos fiscais ficariam vulneráveis. Esse é um risco bastante preocupante, já que se disponibilizam novas áreas para desmatamento legal”, afirma o diretor do Departamento de Florestas do MMA, João de Deus Medeiros, responsável pelos cálculos.
O voto do deputado Aldo Rebelo no relatório final sobre as alterações do Código Florestal detalha as razões para se exigir reserva legal somente de propriedades com mais de quatro módulos fiscais e reafirma a permanência dos percentuais já exigidos pela lei — 80% das florestas na Amazônia Legal, 35% das áreas de savana ou de campo na mesma região, e 20% nos outros biomas brasileiros. O texto, porém, não traz nenhuma referência à exclusão dos quatro módulos do cálculo da reserva legal nas grandes propriedades, o que só aparece na redação da nova lei. O primeiro parágrafo do artigo 14 faz a seguinte especificação, ao detalhar em seguida as percentagens: “A reserva legal exigida observará os percentuais mínimos em relação à área no imóvel que exceder a quatro módulos fiscais”.
Agropecuária
Ao Correio, Aldo Rebelo disse que o relatório em discussão na Câmara não autoriza novos desmatamentos nas propriedades rurais, mesmo com a definição de regras mais brandas para reservas legais e APPs. “Os proprietários não terão autorização para se desfazer do que têm. Na verdade, eles não ficarão obrigados a recompor essas áreas.” Segundo o deputado, a preservação será reforçada pela “moratória” de novos desmatamentos, também prevista no novo Código Florestal. A retirada de mata nativa para a agropecuária ficaria proibida por cinco anos, prorrogáveis por mais cinco, conforme decisão de cada estado. “A vegetação nativa é intocável”, sustenta Aldo.
1 - Medidas
Os módulos fiscais são unidades de medida de propriedades rurais definidas pelo Instituto Nacional de Colonização e reforma agrária (Incra), conforme a realidade de cada município brasileiro. As dimensões variam em cada região do país. O MMA levou em conta essas diferenças para calcular o tamanho das áreas de vegetação que ficarão vulneráveis à devastação, caso passe a valer a regra que exclui quatro módulos fiscais do cálculo das reservas legais nas grandes propriedades.
Devastação ainda maior
Além dos 80 milhões de hectares calculados pelo MMA, referentes às áreas de quatro módulos fiscais nas grandes propriedades, outros espaços preservados ficariam ameaçados com o novo Código Florestal, segundo estudo da Escola Superior de Agricultura da Universidade de São Paulo (USP).
O relatório de Aldo Rebelo permite que APPs sejam incluídas no cálculo de reservas legais, diferentemente do que é praticado hoje (no cerrado, por exemplo, são 20% para reserva legal e 10% para APPs). Somente essa inclusão deixaria vulneráveis mais 65 milhões de hectares de mata nativa. Há ainda as áreas preservadas das pequenas propriedades rurais, de até quatro módulos, que ficariam dispensadas de definir reservas legais.
Para se ter uma ideia, somente as áreas passíveis de novos desmatamentos em razão das novas regras para o Código Florestal são maiores do que todas as unidades de conservação e terras indígenas existentes no país. Outros 104 milhões de hectares já estão desprotegidos pela atual legislação. São áreas onde o desmatamento pode ser autorizado pelo poder público. Em APPs, o deficit de vegetação — que deveria estar preservada por força da lei — é de 44 milhões de hectares e, em reservas legais, de 43 milhões, conforme o estudo da USP.
Um exemplo dessa situação é o que ocorre na região do Vale do Araguaia e da cidade de Rio Verde, em Goiás. O Ministério Público (MP) do estado mapeou, com ajuda de imagens de satélite, a situação das propriedades rurais nas duas regiões, com o objetivo de identificar o desrespeito a reservas legais e APPs em áreas por onde a pecuária e a agricultura avançam.
Na área de nascentes do Rio Araguaia, em Mineiros, 249 das 384 fazendas (64,8%) não averbaram as reservas legais. Em Rio Verde, um dos maiores produtores de soja do país, das 3.970 propriedades, 1.666 (42%) não se preocuparam em averbar as reservas. “Os donos podem estar explorando propriedades inteiras, o que é ilegal. O MP vai notificar todos eles”, afirma a promotora Sandra Garbelini. (VS)
Guerra entre os estados
A possibilidade de os estados decidirem sobre a redução de até 50% das faixas mínimas de áreas de preservação permanente (APPs), como prevê o novo Código Florestal, pode gerar uma “guerra ambiental” entre as unidades federativas: vence quem fizer menos exigências a empreendimentos econômicos interessados em se instalar no local. Mais do que isso, a transferência da União para os estados da responsabilidade de editar normas ambientais e ampliar a fiscalização esbarra nas dificuldades estruturais das Secretarias de Meio Ambiente.
No estado do Amazonas, por exemplo, 70 analistas ambientais são responsáveis por 5 mil processos em um ano. O estoque de ações em que são analisados pedidos de licença ambiental chega a 10 mil, segundo informação apurada em audiência realizada no estado para a elaboração do relatório sobre o novo Código Florestal. Em Goiás, a Secretaria de Meio Ambiente tem um servidor concursado para cada quatro comissionados, “sem qualificação necessária”, conforme constatação do Ministério Público (MP) do estado.
A falta de estrutura dos órgãos ambientais, inclusive do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), é apontada no voto final do deputado Aldo Rebelo, relator do novo Código Florestal. “Há muitos conflitos de competência entre os órgãos ambientais, o que acaba por prejudicar os proprietários das terras”, cita o relatório. (VS)
Colaborou Igor Silveira 





Da Rede Rebia:  http://www.portaldomeioambiente.org.br/legislacao-e-direito/codigo-florestal-brasileiro/4550-combustivel-para-a-motosserra.html

Nosso jeito de fazer política

Por que repetimos insistentemente esta expressão "Por um novo jeito de fazer política" no Movimento Marina Silva?

A política brasileira ainda é motivo de vergonha e de descrença, contaminada por um modo obsoleto de agir. Mesmo quando lideranças carismáticas e bons gestores conseguem conquistas positivas, o padrão que os sustenta está ruindo. Os "líderes" políticos do Brasil estão perdidos na disputa pelo poder, caem na vala corrupção e das alianças espúrias, e revelam ser pessoas sem autoridade moral para falar em nome do bem comum. 

O Brasil anseia por uma mudança profunda no modo de se fazer política.  E a boa notícia é que a mudança já está em curso. Antigas e novas forças sociais que estavam afastadas da política por não encontrar ali um espaço para agir sem abrir mão de seus princípios, agora começam a se encontrar e reencontrar, sonhando e praticando juntos um Brasil diferente. 

Marina é o elemento que faltava para reunirmos estas forças. Ao liderar pelo exemplo, praticar o verdadeiro diálogo, agir com princípios, ter uma visão antecipatória e uma postura cuidadosa com a vida em todas as suas formas, tornou-se a principal expressão desta mudança hoje, no Brasil.
Nós, no Movimento Marina Silva, fazemos parte desta mudança que o Brasil quer ver.  É a primeira vez que cidadãos independentes lançam por iniciativa própria uma candidatura de uma pessoa que sequer tinha ambição de ser Presidente, muito antes que um partido tomasse esta atitudeDepois que alguns partidos monopolizaram o poder político, nós estamos trazendo de volta a política para nós mesmos, com as nossas próprias mãos. Estamos aqui para confirmar que Marina é símbolo de uma mudança maior.

O Movimento começou em 2007, suspendeu suas atividades em 2008 a pedido de Marina, mas em março de 2009 desobedeceu a este pedido - como resposta ao coro de 700 crianças e adolescentes de todos os estados do país, que clamaram "Brasil, pra frente, Marina Presidente" numa conferência com o lema "Vamos cuidar do Brasil". Este diálogo generoso entre gerações está na base de atuação do Movimento e alimenta o sonho de um mundo melhor para todos. 

Conheça em mais detalhes a história do Movimento

Nós buscamos novas abordagens de diálogo e ação coletiva para trazer para o mundo o melhor de cada um de nós, apostando na abundância das riquezas humanas e valorizando a dimensão pedagógica da ação coletiva. Estamos aqui também para conhecer novas práticas, novas ideias, pessoas diferentes e desenvolver novas capacidades, e assim trabalhamos para integrar a transformação do país com a transformação de cada um de nós.

Marina nos mostra que é possível fazer política de modo autêntico, sem fingir nem esconder nada de ninguém, sendo a mudança que queremos ver no mundo. Durante a
campanha presidencial de 2010, cada um de nós terá a oportunidade de aprender e
ser parte desta grande mudança que o Brasil anseia. 
Você deseja ser protagonista desta mudança?
 
Então ... prepare-se!

Visite MOVIMENTO MARINA SILVA em: http://www.movimentomarinasilva.org.br/?xg_source=msg_mes_network

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Pensando na Dilma e sua proposta de governo


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"Quando a única ferramenta que você possui é um martelo, todo problema começa a se parecer com um prego."   Abraham Maslow 

http://spreadsheets.google.com/pub?key=pOE_FCPHprhyGeUyyq8gESQ

Fazendas de Querência no MT: DESERTOS, por dois terços do ano

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Foto da Fazenda Tanguro, do Grupo Maggi,  enviada por uma colega* que visitou  fazendas próximas a Querência, MT (setembro, 2009).

Durante 7 meses por ano, numa área que costumava ser floresta exuberante, este deserto extende-se por imensidões, sem uma folha verde sequer, solo esturricado e entupido de herbicidas.

Nos outros 5 meses, quando a chuva que ainda resta vem da Amazônia, cultivam uma safra de soja (roundup), fica tudo verde-químico monotônico, é quando tiram as fotos para promover o agronegócio na pré-Amazônia.

Nota do Blog:  Depois de uma visita a região NE do Mato Grosso (Xavantina, Canarana e Querência - outubro 2011) devo interpor a noção de que lá existe uma máquina de produção de grãos e algodão impressionante. Compreendo porque muitos do agronegócio fecham os olhos para a questao ambiental, vista como mal menor diante da potência agrícola. Porém, nenhuma produção agrícola pode justificar a demolição das florestas, mesmo porque sem estas falta a água, insumo principal e indispensável a qualquer agricultura.

Nota do Blog 2: Vejam cobertura recente da Época sobre algumas fazendas de Querência que adotaram uma revolução na lide com as areas naturais e recuperaçao de florestas (Os Semeadores da Amazônia e Ele Fabrica Florestas). 
*A Autora da foto é Suprabha Seshan do Jardim Botânico Gurukula da India, que trabalha com rehabilitação de áreas degradas e que esteve visitando o Brasil

Terra sem lei

Coluna no Globo

Mirian Leitao

Em dez anos, os desmatadores destruíram no Brasil 260 mil hectares na Mata Atlântica, ou 2,6 mil km, o equivalente a duas cidades do Rio; e 176 mil km na Amazônia, área maior que toda a Inglaterra. Em sete anos, foram 85 mil km de cerrado; 4,3 mil km, no Pantanal; e 16,5 mil km, na caatinga. E o que o Congresso está discutindo não é como parar o crime, mas como perdoar os criminosos.

Esse é o principal ponto que torna o projeto do deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP) um equívoco. Ele leva o Brasil na direção oposta do que se deve ir. Em cada ponto, a proposta acelera na contramão. O que os poderes da República poderiam estar considerando é: dado que o atual Código não impediu essa destruição toda, o que fazer para que as leis possam ser cumpridas?

Os rios brasileiros estão assoreados, muitos já morreram, os rios que cortam o interior do país viraram latas de lixo e esgoto. As histórias são tão frequentes e antigas que nem cabe repetir aqui. A discussão urgente é como proteger os rios, aumentar o saneamento básico, limpar as correntes de água, garantir que a faixa de mata ciliar seja recomposta. Mas o que a proposta de novo Código Florestal estabelece é como reduzir a proteção aos rios, diminuindo o tamanho das Áreas de Proteção Permanente (APP).

O Brasil tem tido assustadores problemas de deslizamento de encostas nas cidades, nas estradas. Elas servem como um alerta sobre o cuidado com o uso de terrenos muito íngremes. A lei de 1965 cria limites ao uso de terrenos com 45 graus de inclinação e protege o topo dos morros. O novo Código reduz a proteção dessas áreas frágeis.

Imaginemos dois proprietários rurais na Amazônia, no Cerrado ou na Mata Atlântica, ou qualquer outro bioma brasileiro, como o nosso belo e frágil Pantanal. Um preservou a reserva legal guardando o percentual da
propriedade estabelecido por lei, respeitou as APPs e não contou essas áreas nas reservas legais. Se já entrou na propriedade com uma área desmatada maior do que o permitido, replantou espécies da região. O outro desmatou com correntão, incendiou parte da floresta, fez corte raso ou qualquer uma dessas formas primitivas e predatórias de ocupar a terra. O segundo terá as seguintes vantagens: pode continuar usando as áreas "consolidadas" sem pagamento de multa, tem 30 anos para recompor a reserva legal de forma voluntária, pode usar espécies exóticas, pode replantar em outro local, pode fazer lobby junto ao governo estadual para reduzir a área a ser protegida. Pode continuar explorando o topo dos morros, reduzir a área de proteção aos rios e contar a APP como parte da reserva legal. Como se vê, será compensado, anistiado, incentivado. E quanto ao primeiro? Ao que cumpriu a lei? Ora, esse deve procurar o primeiro espelho, olhar para seu próprio rosto e dizer:

"Cumpri a lei, fui um otário!"

No século XXI, diante de tantos exemplos dos riscos da degradação ambiental, o que o Brasil deveria estar fazendo? Discutindo seriamente como aumentar a proteção ao meio ambiente. Mesmo os que não acreditam nas mudanças climáticas sabem que o meio ambiente é essencial para a qualidade de vida. Em vez de uma discussão serena e atualizada, o relator do projeto de mudança do Código Florestal, deputado Aldo Rebelo, nos propõe uma sequência delirante de explicações persecutórias. O mundo estaria conspirando contra o desenvolvimento brasileiro através de
malévolas organizações infiltradas no país, impondo aos cidadãos nacionais convicções exóticas sobre a necessidade de evitar o desmatamento e inventando evidências científicas de que o clima está mudando.

Até quem tenha muito boa vontade com este tipo de raciocínio alienista precisa saber como explicar algumas contradições: muitas das ONGs são genuinamente brasileiras, o maior beneficiário de um meio ambiente sadio
e protegido é o próprio brasileiro, o clima está de fato mudando perigosamente, os países desenvolvidos estão impondo para si mesmos metas de redução de emissões maiores do que as que o Brasil espontaneamente se dispôs a cumprir.

O Brasil é uma potência agropecuária. Os números crescentes de produção, produtividade e exportação derrubam a tese de que o Código Florestal está impedindo essa atividade econômica no país. Há pouca chance de que continuemos avançando em mercados mais competitivos se a decisão for permitir mais desmatamento, tornar mais frouxas as regras, controles e limites. É bem provável que ocorra o oposto: que esse passe a ser o principal argumento para imposição de barreiras contra o produto brasileiro, seja ele produzido de forma sustentável ou não.

O principal problema do Código não é ser excessivamente rigoroso. Se fosse, o Brasil não teria as estatísticas que tem. É que as leis não têm sido respeitadas. Mudar a lei para que o Código seja cumprido é tão inútil e perigoso quanto tentar reduzir a incidência de febre nos pacientes com infecção, estabelecendo que febre é apenas de 39 graus para cima. O racional a fazer com a febre é tratar a infecção; o melhor a fazer com nosso persistente desmatamento é impor o respeito à lei e ao patrimônio público; e não suavizar o Código, anistiar quem não a cumpriu e postergar seu cumprimento.

Em Minas, há um desmatador profissional que tira a mata dele e dos vizinhos, pequenos proprietários, a quem paga alguns trocados. De tanto ser denunciado e multado, ele já aprendeu o truque. Agora, ele mesmo se denuncia, paga a multa e assim legaliza seu ato. É o crime que tem que ser combatido, deputados e senadores, e não a lei.

"http://oglobo. globo.com/ economia/ miriam/posts/ 2010/06/12/ terra-sem- lei-299362. asp"
 

Açodamento Ufanista do Pré-Sal.... A Maré que nos Espera

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Número de desastres naturais no 1º semestre é o maior desde 2003, mostra estudo

23/06/2010-18h33 

ANDRÉ MONTEIRO

Levantamento realizado pela Confederação Nacional de Municípios aponta que no primeiro semestre deste ano foram reconhecidos 1.635 decretos de situação de emergência e estado de calamidade pública no país. O número é maior que o registrado em todo o ano de 2009.
Segundo o presidente da CNM, Paulo Ziulkoski, o período de 1º de janeiro a 16 de junho deste ano só não supera o ano de 2003, que teve 1.682 decretos. Foram consideradas apenas as situações reconhecidas pela Sedec (Secretaria Nacional de Defesa Civil).
Para decretar emergência ou calamidade, segundo a Sedec, devem ser consideradas a intensidade dos danos humanos e materiais, além dos prejuízos sociais e econômicos e as características agravantes. Com o decreto reconhecido, as exigências burocráticas dos gastos das prefeituras ficam mais flexíveis. O processo de recebimento de recursos também é acelerado.
Os Estados que mais tiveram desastres naturais decretados este ano foram Santa Catarina (380), Rio Grande do Sul (286), Bahia (177) e Minas Gerais (166). A maioria é referentes a eventos relacionados às chuvas, como enchentes, alagamentos e vendavais, que totalizaram 1.028 casos. Em segundo lugar ficaram os eventos relacionados à seca, como estiagem e geada, totalizando 588.
"Em média, são reconhecidas cerca de 1.500 situações de emergência ou calamidade por ano, fato que se diferenciou em 2010", afirma Ziulkoski. Entre 2003 e 2009, foram reconhecidos pela Sedec 10.803 desastres.

Decretos de emergência e calamidade pública reconhecidos
UF 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 Total
RS 129 352 459 18 47 192 493 1.690
PB 274 140 180 92 281 202 47 1.216
CE 112 70 192 272 241 134 67 1.088
MG 315 93 53 92 206 266 61 1.086
SC 102 200 189 200 69 97 61 918
RN 103 105 45 56 160 115 93 677
PI 55 94 145 53 146 83 90 666
PE 121 62 42 67 126 115 9 542
BA 84 82 12 23 79 126 25 431
AL 123 29 29 14 37 70 32 334
ES 70 26 30 4 23 17 65 235
SP 50 24 55 19 45 18 12 223
RJ 44 9 5 4 44 4 97 207
PR 3 35 92 42 5 - 15 192
MT 35 28 14 5 39 7 2 130
MA 1 16 - 2 - 15 93 127
AM - - 62 1 5 - 55 123
MS 3 8 65 6 20 3 9 114
SE 40 18 9 4 1 16 20 108
PA 2 1 8 8 5 1 27 52
TO 1 5 1 4 18 21 1 51
GO 1 2 21 2 3 - 11 40
RR 10 1 - - 7 - - 18
RO - - 2 1 2 - 2 7
AP 4 - - 1 - - 1 6
AC - - - 1 - - 1 2
DF - - - - - - - -
Total 1.682 1.400 1.710 991 1.609 1.502 1.389 10.283
Fonte: Confederação Nacional de Municípios

Municípios
 
O levantamento apontou um grupo de 30 municípios que sofreu problemas recorrentes nos últimos anos. Quase todos ficam na região Nordeste, e foram afetados principalmente por seca e estiagem.
"Esta região do país é onde estão os municípios com situações de emergência e calamidade mais recorrentes e, portanto, devem ser acompanhados mais de perto pelo governo federal e a Defesa Civil, inclusive com ações de prevenção e preparo para desastres", afirma o relatório.
Sobral (CE) lidera a lista, com 18 portarias emitidas de 2003 a 2009 --11 só no último ano. Em segundo lugar ficou o único município da lista que não é da região Nordeste, Bom Jesus do Itabapoana (RJ), que teve 16 eventos reconhecidos. Acopiara (CE) também teve 16 decretos reconhecidos.

Gastos

O estudo da CNM também levantou os gastos do governo federal com programas de prevenção e de resposta aos desastres naturais.
De acordo com dados do Siafi (Sistema Integrado de Administração Financeira) de 2004 a 2009, o programa de prevenção teve o maior investimento em 2008, quando atingiu R$ 57,4 milhões. O valor fica próximo do menor investimento do programa de resposta no período, que foi de R$ 51,3 milhões em 2006. O maior gasto neste programa ocorreu em 2009, quando chegou a R$ 1,1 bilhão.
"Essa imensa diferença entre os valores pagos em prevenção e em resposta mostra claramente o tão pouco que o governo vem gastando para prevenir os prejuízos causados pelos desastres naturais. A falta de investimento na prevenção tem relação direta com o aumento de gastos na resposta aos desastres, que cada vez mais afetam comunidades localizadas em áreas de riscos (no caso de chuvas) e cada vez mais causam prejuízos aos municípios que sofrem com a seca intensa", afirma o relatório.

Governo federal gasta mais com o pós-chuva do que com prevenção



Folha de Sao Paulo, 24/06/2010-07h46



Em sete anos e meio, o governo federal gastou cinco vezes mais com a reconstrução e assistência para as vítimas de desastres do que com a prevenção deles. A informação é da reportagem de Fernanda Odilla e Larissa Guimarães publicada na edição desta quinta-feira da Folha.

Para Lula, tragédia no Nordeste não tem explicação
Nº de desastres no 1º semestre é o maior desde 2003


De acordo com o texto, entre 2003 e junho deste ano, foram liberados R$ 5,8 bilhões para ações pós-tragédias e R$ 1,1 bilhão para prevenir enchentes como as que, na semana passada, destruíram dezenas de cidades de Alagoas e de Pernambuco, provocando 45 mortes.

Na execução do orçamento deste ano, o ministério desembolsou R$ 70,6 milhões, o equivalente a 14% do total de recursos disponíveis para aquisição de equipamentos, estabilização de encostas, contenção de erosões e realocação de famílias em áreas de risco. Do total liberado, mais da metade foi para a Bahia, Estado do ex-ministro da Integração Geddel Vieira Lima, que deixou a pasta para disputar o governo do Estado.


Danilo Verpa/Folhapress
Criança de 1 ano dorme em rua de Barreiros (PE), após forte chuva. 
45 morreram na região
 Criança de 1 ano dorme em rua de Barreiros (PE), após forte chuva. 45 morreram na região



Renato Gomes (337)
 Essa é bem lógica, é mais fácil embolsar uma grana durante a tragédia, pois obras são isentas de licitação, do que com obras normais que exigem toda uma borocracia para evitar favorecimentos, etc...
Qualquer gestor público sabe disso, por isso, quando acontece uma tragédia, os caras fazem aquela carinha de choro, de tristeza, de preocupação mas, por dentro, é só alegria. Vão embolsar uma grana violenta, até cobertores e colchões são desviados!!!

domingo, 20 de junho de 2010

‘A reforma permite desmatamento desenfreado’


Professor da USP afirma que alterações no Código Florestal não têm embasamento técnico e são só políticos


O GLOBO ENTREVISTA Luiz Antonio Martinelli

Professor titular do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena), da Universidade de São Paulo (USP), o agrônomo Luiz Antonio Martinelli diz que o relatório do deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP) com a nova versão do Código Florestal, que propõe mudanças nesta lei, não tem nenhum embasamento científico e atende somente a interesses políticos. Segundo o pesquisador, que é doutor em ciências ambientais, as alterações podem gerar um “desmatamento desenfreado”. A principal crítica que ele faz é com relação à diminuição do limite mínimo da largura das Áreas de Proteção Permanente (APPs), destinadas à conservação dos rios, de um tamanho de 30 metros para 15 metros, podendo chegar até a 7,5 metros nos estados que assim decidirem. Para ele, uma área deste tamanho não é capaz de garantir a sobrevivência dos rios.

Catarina Alencastro – O GLOBO
O GLOBO: O que o senhor achou das mudanças propostas no Código Florestal?

LUIZ ANTONIO MARTINELLI: As mudanças foram baseadas em aspectos políticos. A base científica desse relatório é zero.

Esqueceram de convidar a ciência a participar. Em decorrência, existe uma série de falhas enormes em termos científicos e ecológicos na proposta de reforma do código.

A comunidade científica não foi consultada sobre essas mudanças. Eu sei que esta é uma decisão política, mas tem que ser embasada na ciência. E não foi.
 
Quais os principais problemas da proposta de mudança?

MARTINELLI: As principais falhas são a redução da APP, a moratória, a não punição. Se essas reformas forem aprovadas, estaremos indo na contramão da história. Por um lado, o Brasil investe milhões para promover um combustível ecológico, como é o etanol, por outro lado, essa reforma vai permitir ocorrer um desmatamento desenfreado, lançando uma quantidade enorme de carbono na atmosfera.

Quais os prejuízos para o meio ambiente com a redução da APP?

MARTINELLI: Não tem como uma floresta caber em 7,5 metros (de largura) e ter alguma função ecológica. Não tem função ecológica protetora nenhuma em uma área tão exígua para APP. É uma brincadeira.

É uma linha de árvores sem função nenhuma. Mesmo 15 m é muito pouco. Isso é um retrocesso muito grande.

Passar para os estados a prerrogativa de decidirem se ampliam ou reduzem as APPs é positivo?

MARTINELLI: Abre um precedente muito perigoso. Uma Assembleia Estadual é muito mais afeita a pressões de grupos de interesses locais do que o Congresso Nacional. Eu garanto pra você que em 90% dos estados vai haver a redução da APP.

Mas o atual Código Florestal não é perfeito. É?

MARTINELLI: Eu acho que para os pequenos produtores tem que ter bom senso e fazer reformas no código porque, se forem aplicadas todas as normas, não sobra muito para eles produzirem.

Obviamente tem que haver uma reforma. Mas não da maneira que foi feito. A agricultura depende do meio ambiente funcionando. Um ecossistema saudável se consegue com um misto de preservação e agricultura. É uma falácia colocar o meio ambiente de um lado e a agricultura do outro.

O relator sempre se refere a um estudo da Embrapa, que demonstra que, excluindo todas as áreas protegidas (terras indígenas, unidades de conservação, APP e reserva legal), sobram menos de 30% do território brasileiro para agricultura.

MARTINELLI: Esse estudo, tecnicamente, é um lixo que já foi contestado por vários colegas que trabalham com mudança no uso da terra. Tem estudos que mostram que se você só usar áreas abandonadas, áreas degradadas e áreas de pastagem de baixa produtividade você não precisa arrancar mais nenhuma árvore e você ainda consegue dobrar a área agriculturável no país. Este estudo do pesquisador da Embrapa é uma falácia encomendada.

E esse foi o problema: o único estudo no qual o nobre deputado se baseou foi um estudo errado, que ele sabia que sofria fortes contestações.

Então o estudo teve um uso meramente político.

O Brasil tem tecnologia para aumentar a produção agrícola com desmatamento zero?

MARTINELLI: Nós temos 200 milhões de hectares de pastagens.

A média no Brasil é uma cabeça de gado por hectare.

Isso é muito pouco. Você facilmente coloca dois bois por hectare. Só nessa brincadeira você ganha 100 milhões de hectares. Se você somar as áreas de plantações de soja, cana e milho, que são as principais culturas, você não chega nem a 50 milhões de hectares.

O que a terra é no Brasil é mal aproveitada. Mas existe uma pressão muito grande para você aumentar as áreas para haver terra mais barata, você produzir com baixo custo e gerar mais lucro.

O que pode acontecer se houver o desmatamento desenfreado que o senhor teme?

MARTINELLI: Nas florestas que forem retiradas vamos ter a perda da biodiversidade, perdas dos serviços dos ecossistemas, como a produção de água, a manutenção de insetos úteis. A intensificação do uso da terra, com maquinários pesados leva ao aumento da erosão do solo. Conforme a lavoura, você vai aumentar o uso de pesticidas, com o agravante de que muitos pesticidas banidos no mundo inteiro ainda continuam sendo usados no Brasil. O mais triste disso é que o Brasil é o primeiro país da história que criou uma agricultura tropical extremamente produtiva. E ao mesmo tempo nós temos uma mega biodiversidade. Esse é o Brasil do futuro, mas temos também a chance de perder essa oportunidade.

A candidata Marina Silva se declarou contra o relatório de Aldo Rebelo e convocou os outros presidenciáveis a se manifestarem, o que não aconteceu.

MARTINELLI: Isso é preocupante.

Especialmente quando vejo o Xico Graziano (secretário de meio ambiente de São Paulo e coordenador da campanha do Serra) dizendo ser a favor da utilização de espécies exóticas para a compensação ambiental. Isso é de um desconhecimento científico cavalar ou é de má fé.

Isso é muito grave. Do lado da Dilma, ela não mostrou nenhuma preocupação quanto às mudanças.

A Dilma tem se mostrado frequentemente com um certo desleixo ao meio ambiente, mas pelo menos ela está sendo coerente. Ela tem essa vertente de que o Estado deve passar em cima do meio ambiente, porque ela acha que o meio ambiente é um empecilho ao desenvolvimento.


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19/06/2010 - 16:26h Projeto ameaça reduzir parque onde nasce o rio São Francisco

Inquilinos ... [da Terra]


Luiz Fernando Verissimo

Ninguém é responsável pelo funcionamento do mundo. Nenhum de nós precisa acordar cedo para acender as caldeiras e checar se a Terra está girando em torno do seu próprio eixo na velocidade apropriada, e em torno do Sol de modo a garantir a correta sucessão das estações. Como num prédio bem administrado, os serviços básicos do planeta são providenciados sem que se enxergue o síndico – e sem taxa de administração. Imagine se coubesse à humanidade, com sua conhecida tendência ao desleixo e à improvisação, manter a Terra na sua órbita e nos seus horários, ou se – coroando o mais delirante dos sonhos liberais – sua gerência fosse entregue a uma empresa privada, com poderes para remanejar os ventos e suprimir correntes marítimas, encurtar ou alongar dias e noites e até mudar de galáxia, conforme as conveniências de mercado, e ainda por cima sujeita a decisões catastróficas, fraudes e falência. É verdade que, mesmo sob o atual regime impessoal, o mundo apresenta falhas na distribuição dos seus benefícios, favorecendo alguns andares do prédio metafórico e martirizando outros, tudo devido ao que só pode ser chamado de incompetência administrativa. Mas a responsabilidade não é nossa. A infra-estrutura já estava pronta quando nós chegamos. Apesar de tentativas como a construção de grandes obras que afetam o clima e redistribuem as águas, há pouco que podemos fazer para alterar as regras do seu funcionamento.
Podemos, isto sim, é colaborar na manutenção da Terra. Todos os argumentos conservacionistas e ambientalistas teriam mais força se conseguissem nos convencer de que somos inquilinos no mundo. E que temos as mesmas obrigações de qualquer inquilino, inclusive a de prestar contas por cada arranhão no fim do contrato. A escatologia cristã deveria substituir o Salvador que virá pela segunda vez para nos julgar por um Proprietário que chegará para retomar seu imóvel. E o Juízo Final, por um cuidadoso inventário em que todos os estragos que fizemos no mundo seriam contabilizados e cobrados.
– Cadê a floresta que estava aqui? – perguntaria o Proprietário. – Valia uma fortuna.
E:
– Este rio não está como eu deixei…
E, depois de uma contagem minuciosa:
– Estão faltando cento e dezessete espécies.
A Humanidade poderia tentar negociar. Apontar as benfeitorias – monumentos, parques, áreas férteis onde outrora existiam desertos – para compensar a devastação. O Proprietário não se impressionaria.
– Para o que eu quero o Taj Mahal? Sete Quedas era muito mais bonita.
– E a catedral de Chartres? Fomos nós que construímos. Aumentou o valor do terreno em…
– Fiquem com todas as suas catedrais, represas, cidades e shoppings. Quero o mundo como eu o entreguei.
Não precisamos de uma mentalidade ecológica. Precisamos de uma mentalidade de locadores. E do terror da indenização.

Extraído do Jornal A Gazeta – 07/12/07

sexta-feira, 18 de junho de 2010

A sucessora

Folha de S. Paulo, 18 de junho de 2010

FERNANDO DE BARROS E SILVA


SÃO PAULO - Marina encontrou uma fórmula feliz para definir seu lugar na corrida presidencial: o Brasil, diz ela, não precisa de um "continuador" de Lula (Dilma) nem de um "opositor" a Lula (Serra), mas de um "sucessor" para Lula.

Mulher, negra, pobre -e "Silva". Alguém que represente desde a biografia um avanço histórico -nem continuidade nem ruptura- em relação ao legado de Luiz Inácio.

Muitos talvez vejam aí mais poesia que política. Como diria o jagunço Riobaldo no "Grande Sertão: Veredas": "Quem mói no asp'ro, não fantasêia". Marina, no entanto, parece ter encontrado espaço para a fantasia enquanto os adversários se consomem no áspero da sucessão.

Com 12% -fora da disputa, a não ser em caso de um cataclismo político-, a senadora verde diz ver nos palanques rivais "500 anos de política velha". E explicita assim o seu papel: "A gente ia fazer um plebiscito para descobrir quem é mais gerente, quem tem mais currículo. Estou aqui para quebrar o plebiscito".

Marina, na prática, não vai quebrar o plebiscito. Não agora. Mas introduz, sim, uma novidade no jogo político: seu ponto de fuga é a convergência -para muitos impossível, para outros historicamente necessária- entre o PT e o PSDB.

Há em Marina uma naturalidade e até um senso de humor que Dilma e Serra não têm. Mas a novidade de que é portadora convive, na sua pessoa, com a jovem senhora à moda antiga -alguém contra o casamento gay e o aborto, por exemplo.

Marina, porém, qualifica suas opções conservadoras com o elogio e a defesa da tolerância, o que é moderno e joga a favor da vida esclarecida. Ela, de fato, lida com suas contradições de cara lavada. Pense, como contraponto, na prosa torcida de Dilma quando fala de Deus.

Alternativa, mas moderada, radical, mas de centro, Marina não é como Heloísa Helena, um fenômeno circunstancial. Sua utopia está no futuro. E ela hoje parece ensaiar para 2014, quando, aí sim, talvez tenha chances de ser "a sucessora".

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Carro elétrico versus etanol

 

Leia meu artigo sobre o topico: Biocombustíveis num planeta ameaçado: o instável protagonismo Brasileiro

 Seg, 14/Jun/2010 00:00

Lobby do álcool barra incentivos ao carro elétrico Governo terá que decidir se investe na tendência mundial de carros elétricos, que já tem projetos avançados, ou no etanol. Escolha poderá ser decisiva no futuro do país


4405Por Daniel Camargos
O Nissan Leaf, com abastecimento à base de eletricidade. Grupo de trabalho no Brasil, formado por montadoras e BNDES,fez um amplo estudo sobre as vantagens destes veículos e apresentou a Lula

Podem existir vários motivos para o governo federal ter tirado o projeto do carro elétrico brasileiro da tomada, mas o que não pode ser alegado é que faltam informações. O grupo de trabalho para avaliar o assunto, composto por diversas entidades, esteve no Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES) no mês passado e subsidiou o governo federal com um arsenal de números, dados e perspectivas que convergem sempre para o mesmo norte: o carro elétrico, ou mesmo híbrido, só dará a partida de fato com apoio do governo federal – que chegou a falar em incentivos ao segmento, mas acabou recuando.
Entre os estudos apresentados ao BNDES, está o do responsável técnico dos sistemas de energia do CPqD, Raul Beck, que credita o adiamento do projeto a “um jogo de forças entre lobbies da indústria da energia. Tem o lado do pessoal dos usineiros, que acreditam que o Brasil, no que diz respeito aos veículos verdes, já está atendido pela indústria do etanol”, afirma Beck.
Além do CPqD, participaram das discussões no BNDES a Fiat, Mitsubishi, Renault-Nissan, General Motors, Magneti Marelli, CPFL, Itaipu, Petrobras, Coope/UFRJ e o Ministério da Ciência e Tecnologia. A pasta, inclusive, deu o apoio técnico para o relatório que seria apresentado pelo Ministério da Fazenda, mas foi adiado diante de uma série de pedidos. À época, o argumento foi que o presidente Lula queria se informar melhor sobre as medidas de incentivo aos veículos elétricos e híbridos. Em um evento repleto de carros elétricos no Rio de Janeiro, na semana passada, quando questionado, o presidente disparou: “É carro elétrico para cá, carro elétrico para lá, mas não se sabe ainda se alguém vai produzir em grande escala”.

Flex
Apesar do tom crítico, o presidente Lula dirigiu o elétrico Audi e-Tron, mas completou dizendo que quase 100% dos carros brasileiros são flex e que 60% dos donos dos carros têm preferência pelo etanol, que é parte importante da matriz energética brasileira. Tão importante que, neste ano, junto com a posse do atual presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Cledorvino Belini, que é presidente da Fiat, comemorou-se a marca de 10 milhões de veículos flex, tecnologia iniciada em 2003.
O consultor de emissões e tecnologia da União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica), Alfred Szwarc, entende que os incentivos aos carros elétricos precisam de uma atenção especial, mas que também deve-se levar em conta “que este é um mercado que não existe e levará de 10 a 15 anos para tomar um vulto significativo no mundo”. Szwarc aponta que o Brasil não dispõe de folga de eletricidade e o acréscimo do abastecimento de carros poderia agravar a situação. Ele também destaca como pontos negativos a pequena autonomia das baterias e cita o caso do Nissan Leaf, que chega a 120 quilômetros com uma carga na bateria, o que ele considera muito pouco.
A Unica não participou do grupo de trabalho para discutir o carro elétrico no país. Também não foi ao BNDES. Talvez, por isso, não tenha as informações mostradas pela CPFL, Itaipu e Coope/UFRJ, que projetaram o impacto dos veículos elétricos no sistema enérgico nacional. A CPFL fez a previsão que a tecnologia se estabilize em 2030 e considera que um veículo roda, em média 13.275 quilômetros por ano, ou 37 quilômetros por dia, e que a participação dos veículos elétricos na frota nacional será de 36% – o que representará um impacto no consumo de energia elétrica de 5,51%., considerando que o consumo por veículo é de 184kWh.
Já Itaipu fez o cálculo considerando que o brasileiro roda, em média, 54 quilômetros por dia e calculou o impacto se todos os automóveis produzidos no Brasil, no ano de 2008, fossem elétricos. Sendo que o consumo de energia do Brasil em 2008 foi de 12,37 TWh, a produção de veículos de 3 milhões e o consumo médio de cada carro 10 Kw por dia, o impacto seria de 3,22% do total. A Coope/UFRJ fez a conta mais pessimista, projetando toda a frota nacional (25 milhões de carros) com motores elétricos: o impacto seria de 15,69% do consumo de energia do país.

Lítio
Sobre as baterias, várias fabricantes mostraram detalhes dos diversos tipos e vantagens e desvantagens entre o uso das de chumbo-ácidas (Pb), níquel-cádmio (Ni-Cd), hidreto metálico de níquel (Ni-Mh) e íons de lítio (Li-ion). A Fiat citou o exemplo chinês, que já tem vários modelos elétricos (Geely EK2, Chery S18 EV, BYD 6, BYD F3).
A Renault-Nissan também usa o exemplo chinês para conquistar o BNDES e afirma que o país asiático terá capacidade de produção de 500 mil veículos elétricos no ano que vem. Lá, 13 cidades foram eleitas para abrigarem o projeto do carro elétrico e as prefeituras vão receber cerca de R$ 15 mil para comprar veículos para suas frotas. Também citou os acordos existentes em cidades, em diversos locais no mundo, como Portugal, onde o governo oferece infraestrutura para recarga, prioridade para estacionar e subsídio de 5 mil euros para comprar um carro elétrico.
Nos EUA, os planos também são calcados nos benefícios. O governo federal dá US$ 7,5 mil em crédito de taxas para rodar com um veículo elétrico e mais US$ 2 mil em crédito para instalar uma estação de recarga. O Nissan Leaf custaria US$ 32,8 mil, mas com incentivo custará US$ 25,3 mil. A Mitsubishi deu todos os detalhes do i-Miev, que pretende importar para o Brasil, e ressaltou as diferenças de preço ao abastecer com as diferentes matrizes energéticas (ver quadro).
O presidente da Associação Brasileira de Veículos Elétricos (ABVE), Pietro Erber, afirma que, nas conversas com o grupo de trabalho, estavam evidentes as intenções muito positivas de criarem medidas favoráveis. “Com o adiamento, ficou uma sensação de decepção”, afirma. Ele acredita ser ideal a isenção do Imposto sobre Produto Industrializado (IPI). Por enquanto, paga-se o imposto cheio: 25%, diferentemente de carros com motor 1.0 e flex. “A propulsão elétrica é uma coisa que virá mais cedo ou mais tarde, pois existe um interesse global”, frisa. O país vai perder mais esse bonde da história?

Regulamentação
O projeto que lei que prevê a regulamentação do mercado de etanol não será mais encaminhado para a apreciação do legislativo no mandado do presidente Lula. O projeto de lei, que vinha sendo negociado por representantes dos ministérios da Agricultura, Minas e Energia e Desenvolvimento com o setor sucroalcooleiro, era uma demanda antiga das empresas para garantir investimentos futuros na produção do biocombustível. Em ano de eleições, a conclusão foi de que a regulamentação terá de ficar para 2011. Faria parte do marco regulador uma série de normas para assegurar, por exemplo, metas de participação do etanol na matriz energética brasileira e, desta forma, dar transparência ao crescimento da oferta, além da questão tributária, com a unificação do ICMS incidente sobre o etanol, que varia entre os estados.

Fonte: Estado de Minas