Coletânea de artigos selecionados por sua veracidade e importância para as questões ambientais no Brasil e no Mundo.
domingo, 31 de julho de 2011
sábado, 30 de julho de 2011
Novas tecnologias a serviço do meio ambiente.
Entrevista especial com Antonio Nobre
para o IHU -INSTITUTO HUMANITAS UNISINOS
29/7/2011
“O Brasil dispõe de imensas áreas para expansão tanto da produção agrícola de alto rendimento quanto para proteção e recuperação dos ecossistemas e seus serviços ambientais”, menciona pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – Inpa.
Confira a entrevista.
“O substitutivo proposto já nasce ‘velho’”, diz Antonio Nobre referindo-se ao texto do novo Código Florestal, que, segundo ele, não avança no delineamento inteligente das Áreas de Preservação Permanente – APPs. Na avaliação do engenheiro agrônomo, o “novo Código não aproveitou as tecnologias modernas para aperfeiçoar e otimisar um desenho mais orgânico das APPs, de acordo com potenciais, fragilidades e riscos naturais dos terrenos”.
Na entrevista a seguir, concedida por e-mail à IHU On-Line, Nobre explica que novas tecnologias são capazes de indicar quais áreas devem ser destinadas à agricultura e à preservação. “Com estas imagens em 3D, podemos identificar no computador onde estão os brejos, a que profundidade está a água, quais as declividades e outras várias propriedades diagnósticas dos terrenos. Com estas valiosas informações espaciais, podemos definir classes de potencial de uso, acessar outras classes de fragilidades e mesmo identificar regiões de risco natural (cheias e deslizamentos, por exemplo)”. O uso dessa tecnologia, enfatiza, “resulta numa ampliação inteligente, econômica e não obstrutiva para a agricultura das áreas de conservação da biodiversidade”.
Antonio Donato Nobre é engenheiro agrônomo e pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisa Espaciais – Inpe e do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – Inpa.
Confira a entrevista.
IHU On-Line – De que maneira o novo Código Florestal poderá impactar as Áreas de Proteção Permanente – APPs?
Antonio Nobre – Afeta de muitas maneiras. Primeiramente, pelo fato de que o novo Código não aproveitou as tecnologias modernas para aperfeiçoar e otimisar um desenho mais orgânico das APPs, de acordo com potenciais, fragilidades e riscos naturais dos terrenos. Neste sentido, o substitutivo proposto já nasce “velho”, uma vez que não avança no delineamento inteligente de APPs. Essas novas tecnologias, que utilizam maquetes virtuais da paisagem e modelagem matemática de terrenos, já foram demonstradas como poderosas ferramentas na indicação dos melhores solos para agricultura, o que se traduz em considerável aumento de produtividade e de produção, sem incremento de área; e de áreas mais propícias para produção de serviços ambientais por ecossistemas naturais, o que resulta numa ampliação inteligente, econômica e não obstrutiva para a agricultura das áreas de conservação da biodiversidade.
Mesmo antes de ser aprovada na Câmara, a proposta de anistia, o tal prêmio da impunidade, já motivou preocupante piora nos números de desmatamento, com reflexos também no aumento da violência no campo. APPs como definidas no Código Florestal atual são áreas com terrenos em sua maior parte impróprios ou pouco próprios para atividade agrícola. No entanto, são regiões de grande importância ambiental para os agricultores e para a coletividade, porque lá é produzida água filtrada e de boa qualidade; é de lá que saem animais silvestres predadores de pragas agrícolas e também polinizadores sem os quais cai a produção de muitas culturas. São também essenciais para a segurança geológica e hidrológica, para a manutenção de solos e para a prevenção do assoreamento de canais e lagos. Quase ninguém discorda destas verdades científicas, quais sejam, as de que as APPs não são somente importantes mas também essenciais.
No entanto, um pequeno número de poderosos e influentes proprietários rurais, especialmente os que atuam na pecuária – mas também aqueles associados a imensos desmatamentos –, não querem ser imputados pelos crimes ambientais que cometeram.
IHU On-Line – Uma das propostas do novo Código Florestal é ampliar o espaço territorial para a agricultura. Que espaço físico o Brasil dispõe para investir nesta área? É possível ampliar o espaço para plantação e, ainda assim, conservar a biodiversidade?
Antonio Nobre – O Brasil dispõe de imensas áreas para expansão tanto da produção agrícola de alto rendimento quanto para proteção e recuperação dos ecossistemas e seus serviços ambientais. Como o espaço ocupado pelas plantações é função direta do rendimento, se aumentarmos a intensidade de produção em vastas áreas degradadas ou de baixa produtividade, teremos espaço mais do que suficiente para ampliação das duas frentes. A percepção de oposição entre produção agrícola e conservação não tem fundamento científico demonstrado.
A meu ver, o novo texto surgiu de ponderações políticas, contaminado por ideologia e interesses de lobbies econômicos, e está baseado em apenas um trabalho técnico, trabalho não devidamente publicado em revistas cientificas de sua área (geociências) e fortemente contestado pela comunidade científica.
A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência – SBPC e a Academia Brasileira de Ciências – ABC aportaram uma revisão de centenas de trabalhos científicos, com inúmeras sugestões construtivas para a melhoria do texto, pedindo para ser escutada a comunidade científica, mas até o momento com pouco eco no poder Legislativo. Não obstante o desinteresse prático, quase todos os deputados e senadores, com quem a SBPC e a ABC interagiram para ofertar as contribuições científicas, demonstraram receptividade. Então, parece mesmo que não existem argumentos verdadeiros contra a entrada da ciência, mas existem, sim, interesses políticos inconfessáveis que não suportariam a confrontação com a verdade.
IHU On-Line – Quais são os maiores dilemas e desafios da agricultura brasileira?
Antonio Nobre – O primeiro dilema é permanecer com a abordagem envelhecida da produção a qualquer custo (que pode significar continuação de lucro imediato de poucos poderosos, mas resultar na estigmatização da agricultura brasileira como inimiga da natureza – o que pode refletir-se em barreiras comerciais) ou adotar a abordagem da produção harmonizada com os reclamos ambientais (o que pode custar algo mais no início, mas resultar em apreço social e segurança comercial).
O segundo dilema é manter a artificial luta política contra grupos ambientalistas ou buscar associação com a força do ambientalismo (como já ocorre em países desenvolvidos, gerando muitas sinergias e lucro direto).
O principal desafio é aumentar a produção sem aumentar a área ocupada pela agricultura. (É demonstravelmente alcançável, mas exige investimento em aplicação de tecnologias amplamente disponíveis.) Além disso, é preciso aumentar ou manter a produção com as mudanças climáticas reduzindo ou aumentando os extremos de chuvas, e recuperar os serviços ambientais das florestas que promovem e regulam as chuvas.
IHU On-Line – O senhor apresentou aos senadores novas tecnologias para mapeamentos e estudos sobre os recursos naturais brasileiros. Que tecnologias são essas?
Antonio Nobre – São poderosas tecnologias de imageamento remoto da superfície, que utilizam radar, laser e outros instrumentos, com os terrenos sendo realçados e evidenciados em resolução muito fina, de poucos metros. Com estas imagens, obtidas por aviões ou satélites, constroem-se maquetes computacionais da paisagem. A partir destas maquetes, e utilizando-se modelagem matemática de terrenos, descobrimos e desenvolvemos um novo modo de mapear a profundidade do lençol freático remotamente. Isto é, com estas imagens em 3D, podemos identificar no computador onde estão os brejos, a que profundidade está a água, quais as declividades e outras várias propriedades diagnósticas dos terrenos. Com estas valiosas informações espaciais, podemos definir classes de potencial de uso, acessar outras classes de fragilidades e mesmo identificar regiões de risco natural (cheias e deslizamentos, por exemplo). Com tais tecnologias já construímos um protótipo de visualizador para o Google Earth, onde cada pessoa com acesso à internet poderá ver quais os terrenos são apropriados para determinado tipo de uso. Essas tecnologias vão democratizar o acesso à informação sobre os terrenos, ajudando poderosamente a melhor alocação de culturas agrícolas, de acordo com a aptidão dos solos.
Também, indicará onde as APPs precisam ser recompostas, quais áreas oferecem riscos para residências, etc.
IHU On-Line – Qual sua expectativa em relação à aprovação ou não do Código Florestal pelos senadores?
Antonio Nobre – Tenho forte esperança de que o debate emocional, ideológico e da baixa política que assistimos na Câmara dos Deputados durante a geração do novo texto do Código Florestal seja sucedido no Senado por uma séria análise racional, propositiva e responsável.
Quando o Brasil era pouco desenvolvido, em 1934, os cientistas foram escutados para a construção do primeiro código florestal. Depois,em 1965, novamente o melhor da ciência informou a construção da lei ainda em vigor. Seria surreal se, em 2011, com os inegáveis e espetaculares avanços da ciência e da tecnologia, o Senado aprovar inalterado o texto da Câmara, que infelizmente ainda se encontra desprovido de ciência.
Na entrevista a seguir, concedida por e-mail à IHU On-Line, Nobre explica que novas tecnologias são capazes de indicar quais áreas devem ser destinadas à agricultura e à preservação. “Com estas imagens em 3D, podemos identificar no computador onde estão os brejos, a que profundidade está a água, quais as declividades e outras várias propriedades diagnósticas dos terrenos. Com estas valiosas informações espaciais, podemos definir classes de potencial de uso, acessar outras classes de fragilidades e mesmo identificar regiões de risco natural (cheias e deslizamentos, por exemplo)”. O uso dessa tecnologia, enfatiza, “resulta numa ampliação inteligente, econômica e não obstrutiva para a agricultura das áreas de conservação da biodiversidade”.
Antonio Donato Nobre é engenheiro agrônomo e pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisa Espaciais – Inpe e do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – Inpa.
Confira a entrevista.
IHU On-Line – De que maneira o novo Código Florestal poderá impactar as Áreas de Proteção Permanente – APPs?
Antonio Nobre – Afeta de muitas maneiras. Primeiramente, pelo fato de que o novo Código não aproveitou as tecnologias modernas para aperfeiçoar e otimisar um desenho mais orgânico das APPs, de acordo com potenciais, fragilidades e riscos naturais dos terrenos. Neste sentido, o substitutivo proposto já nasce “velho”, uma vez que não avança no delineamento inteligente de APPs. Essas novas tecnologias, que utilizam maquetes virtuais da paisagem e modelagem matemática de terrenos, já foram demonstradas como poderosas ferramentas na indicação dos melhores solos para agricultura, o que se traduz em considerável aumento de produtividade e de produção, sem incremento de área; e de áreas mais propícias para produção de serviços ambientais por ecossistemas naturais, o que resulta numa ampliação inteligente, econômica e não obstrutiva para a agricultura das áreas de conservação da biodiversidade.
Mesmo antes de ser aprovada na Câmara, a proposta de anistia, o tal prêmio da impunidade, já motivou preocupante piora nos números de desmatamento, com reflexos também no aumento da violência no campo. APPs como definidas no Código Florestal atual são áreas com terrenos em sua maior parte impróprios ou pouco próprios para atividade agrícola. No entanto, são regiões de grande importância ambiental para os agricultores e para a coletividade, porque lá é produzida água filtrada e de boa qualidade; é de lá que saem animais silvestres predadores de pragas agrícolas e também polinizadores sem os quais cai a produção de muitas culturas. São também essenciais para a segurança geológica e hidrológica, para a manutenção de solos e para a prevenção do assoreamento de canais e lagos. Quase ninguém discorda destas verdades científicas, quais sejam, as de que as APPs não são somente importantes mas também essenciais.
No entanto, um pequeno número de poderosos e influentes proprietários rurais, especialmente os que atuam na pecuária – mas também aqueles associados a imensos desmatamentos –, não querem ser imputados pelos crimes ambientais que cometeram.
IHU On-Line – Uma das propostas do novo Código Florestal é ampliar o espaço territorial para a agricultura. Que espaço físico o Brasil dispõe para investir nesta área? É possível ampliar o espaço para plantação e, ainda assim, conservar a biodiversidade?
Antonio Nobre – O Brasil dispõe de imensas áreas para expansão tanto da produção agrícola de alto rendimento quanto para proteção e recuperação dos ecossistemas e seus serviços ambientais. Como o espaço ocupado pelas plantações é função direta do rendimento, se aumentarmos a intensidade de produção em vastas áreas degradadas ou de baixa produtividade, teremos espaço mais do que suficiente para ampliação das duas frentes. A percepção de oposição entre produção agrícola e conservação não tem fundamento científico demonstrado.
A meu ver, o novo texto surgiu de ponderações políticas, contaminado por ideologia e interesses de lobbies econômicos, e está baseado em apenas um trabalho técnico, trabalho não devidamente publicado em revistas cientificas de sua área (geociências) e fortemente contestado pela comunidade científica.
A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência – SBPC e a Academia Brasileira de Ciências – ABC aportaram uma revisão de centenas de trabalhos científicos, com inúmeras sugestões construtivas para a melhoria do texto, pedindo para ser escutada a comunidade científica, mas até o momento com pouco eco no poder Legislativo. Não obstante o desinteresse prático, quase todos os deputados e senadores, com quem a SBPC e a ABC interagiram para ofertar as contribuições científicas, demonstraram receptividade. Então, parece mesmo que não existem argumentos verdadeiros contra a entrada da ciência, mas existem, sim, interesses políticos inconfessáveis que não suportariam a confrontação com a verdade.
IHU On-Line – Quais são os maiores dilemas e desafios da agricultura brasileira?
Antonio Nobre – O primeiro dilema é permanecer com a abordagem envelhecida da produção a qualquer custo (que pode significar continuação de lucro imediato de poucos poderosos, mas resultar na estigmatização da agricultura brasileira como inimiga da natureza – o que pode refletir-se em barreiras comerciais) ou adotar a abordagem da produção harmonizada com os reclamos ambientais (o que pode custar algo mais no início, mas resultar em apreço social e segurança comercial).
O segundo dilema é manter a artificial luta política contra grupos ambientalistas ou buscar associação com a força do ambientalismo (como já ocorre em países desenvolvidos, gerando muitas sinergias e lucro direto).
O principal desafio é aumentar a produção sem aumentar a área ocupada pela agricultura. (É demonstravelmente alcançável, mas exige investimento em aplicação de tecnologias amplamente disponíveis.) Além disso, é preciso aumentar ou manter a produção com as mudanças climáticas reduzindo ou aumentando os extremos de chuvas, e recuperar os serviços ambientais das florestas que promovem e regulam as chuvas.
IHU On-Line – O senhor apresentou aos senadores novas tecnologias para mapeamentos e estudos sobre os recursos naturais brasileiros. Que tecnologias são essas?
Antonio Nobre – São poderosas tecnologias de imageamento remoto da superfície, que utilizam radar, laser e outros instrumentos, com os terrenos sendo realçados e evidenciados em resolução muito fina, de poucos metros. Com estas imagens, obtidas por aviões ou satélites, constroem-se maquetes computacionais da paisagem. A partir destas maquetes, e utilizando-se modelagem matemática de terrenos, descobrimos e desenvolvemos um novo modo de mapear a profundidade do lençol freático remotamente. Isto é, com estas imagens em 3D, podemos identificar no computador onde estão os brejos, a que profundidade está a água, quais as declividades e outras várias propriedades diagnósticas dos terrenos. Com estas valiosas informações espaciais, podemos definir classes de potencial de uso, acessar outras classes de fragilidades e mesmo identificar regiões de risco natural (cheias e deslizamentos, por exemplo). Com tais tecnologias já construímos um protótipo de visualizador para o Google Earth, onde cada pessoa com acesso à internet poderá ver quais os terrenos são apropriados para determinado tipo de uso. Essas tecnologias vão democratizar o acesso à informação sobre os terrenos, ajudando poderosamente a melhor alocação de culturas agrícolas, de acordo com a aptidão dos solos.
Também, indicará onde as APPs precisam ser recompostas, quais áreas oferecem riscos para residências, etc.
IHU On-Line – Qual sua expectativa em relação à aprovação ou não do Código Florestal pelos senadores?
Antonio Nobre – Tenho forte esperança de que o debate emocional, ideológico e da baixa política que assistimos na Câmara dos Deputados durante a geração do novo texto do Código Florestal seja sucedido no Senado por uma séria análise racional, propositiva e responsável.
Quando o Brasil era pouco desenvolvido, em 1934, os cientistas foram escutados para a construção do primeiro código florestal. Depois,em 1965, novamente o melhor da ciência informou a construção da lei ainda em vigor. Seria surreal se, em 2011, com os inegáveis e espetaculares avanços da ciência e da tecnologia, o Senado aprovar inalterado o texto da Câmara, que infelizmente ainda se encontra desprovido de ciência.
segunda-feira, 25 de julho de 2011
Quanto valem os 'serviços' prestados pelo meio ambiente aos humanos?
Entrevista de André Trigueiro para Radio CBN
Como se formam as gotas de chuva?
Meio ambiente
Como se formam as gotas de chuva? A pergunta é simples, mas a resposta não. A questão tem intrigado cientistas como Patrick Chuang, professor de Ciências Planetárias e da Terra da Universidade da Califórnia em Santa Cruz, nos Estados Unidos.
Na reunião anual da União Geofísica Norte-Americana, Chuang propôs um modelo teórico para a formação em nuvens quentes, como as responsáveis pelas chuvas de verão - ou também na primavera, como acontece atualmente no Brasil.
Segundo o pesquisador, trata-se de um processo muito complexo. A condensação de vapor de água nas nuvens cria gotículas de água, de 10 a 20 mícrons de diâmetro - menores do que a espessura de um fio de cabelo. Essas gotas minúsculas são pequenas demais para cair como chuva, cujas gotas têm cerca de 1 milímetro (mil mícrons) de diâmetro e são 1 milhão de vezes mais pesadas.
Para que as gotículas se transformem em gotas, elas colidem e se agrupam umas com as outras. Quando os cientistas simularam o processo em computadores, gotas de chuva foram criadas entre uma e duas horas depois do início das colisões. No mundo real, o resultado ocorre muito mais rapidamente, em menos de 15 minutos.
Segundo Chuang, gotículas com mais de 55 mícrons são grandes e pesadas o suficiente para caírem pela nuvem, fundindo-se com outras em alta velocidade. Mas o enigma é como gotículas de 10 a 20 mícrons se transformam em outras com mais de 55 mícrons.
A explicação proposta pela equipe de Chuang é uma mistura de dois fatores: aumento da turbulência e um processo promovido quando o ar quente se mistura com a umidade nas extremidades das nuvens. A conclusão foi possível depois de análises feitas a partir de instrumentos instalados em asas de aviões, em vôos realizados sobre ilhas do Caribe, no início de 2005.
De acordo com Chuang, o estudo pode ajudar na formação de modelos climáticos mais eficientes.
Agência FAPESP - 08/01/2007
Na reunião anual da União Geofísica Norte-Americana, Chuang propôs um modelo teórico para a formação em nuvens quentes, como as responsáveis pelas chuvas de verão - ou também na primavera, como acontece atualmente no Brasil.
Segundo o pesquisador, trata-se de um processo muito complexo. A condensação de vapor de água nas nuvens cria gotículas de água, de 10 a 20 mícrons de diâmetro - menores do que a espessura de um fio de cabelo. Essas gotas minúsculas são pequenas demais para cair como chuva, cujas gotas têm cerca de 1 milímetro (mil mícrons) de diâmetro e são 1 milhão de vezes mais pesadas.
Para que as gotículas se transformem em gotas, elas colidem e se agrupam umas com as outras. Quando os cientistas simularam o processo em computadores, gotas de chuva foram criadas entre uma e duas horas depois do início das colisões. No mundo real, o resultado ocorre muito mais rapidamente, em menos de 15 minutos.
Segundo Chuang, gotículas com mais de 55 mícrons são grandes e pesadas o suficiente para caírem pela nuvem, fundindo-se com outras em alta velocidade. Mas o enigma é como gotículas de 10 a 20 mícrons se transformam em outras com mais de 55 mícrons.
A explicação proposta pela equipe de Chuang é uma mistura de dois fatores: aumento da turbulência e um processo promovido quando o ar quente se mistura com a umidade nas extremidades das nuvens. A conclusão foi possível depois de análises feitas a partir de instrumentos instalados em asas de aviões, em vôos realizados sobre ilhas do Caribe, no início de 2005.
De acordo com Chuang, o estudo pode ajudar na formação de modelos climáticos mais eficientes.
sábado, 23 de julho de 2011
quinta-feira, 21 de julho de 2011
Novas Tecnologias Geoespaciais para apoiar o Ordenamento Territorial
Imagens tridimensionais da Terra geradas com avançadas tecnologias como o radar ou o laser permitem a construção de maquetes virtuais da paisagem que podem ser facilmente analisadas em computadores. Combinando em modelos matemáticos os conhecimentos funcionais diagnósticos e quantitativos de geologia, geomorfologia, solos e hidrologia é possível identificar e mapear acuradamente o potencial de uso, as fragilidades e os riscos de cada terreno na paisagem.
O cruzamento dos mapas de potenciais e fragilidades dos terrenos com os mapas de uso e cobertura da terra permite avaliar diferentes graus de uso sustentável, se o uso está adequado e onde pode melhorar. Permite também planejar o uso do solo de forma objetiva e substanciada pelas propriedades funcionais dos terrenos.
Assim como já acontece com a previsão do tempo, o mapeamento de todo o território em alta resolução também pode ser transparentemente colocado à disposição da sociedade via internet. No diálogo sobre o Código Florestal, a disponibilidade de novos mapas diagnósticos acurados e verificáveis oferece o potencial inédito de simplificar a definição de áreas para a produção, a conservação e a recuperação ambiental.
Com essas novas tecnologias – muitas delas desenvolvidas no Brasil –, será possível construir uma nova era no uso do solo baseada em inteligência, justiça e responsabilidade, com respeito aos potenciais e limites da natureza.
Sumario do Anexo I, no livro O Código Florestal e a Ciência: Contribuições para o Diálogo, por SILVA, J.A.A.;; NOBRE, A.D.;; MANZATTO, C.V.;; JOLY, C.A.;; RODRIGUES, R.R.;; SKORUPA, L.A.;; NOBRE, C.A.;; AHRENS, S.;; MAY, P.H.;; SÁ, T.D.A. ;; CUNHA, M.C.;; RECH FILHO, E.L. Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência e Academia Brasileira de Ciencias, 124 p.
quarta-feira, 13 de julho de 2011
Sinuca de bico
12 de julho de 2011 | 0h 00
Xico Graziano - O Estado de S.Paulo
Uma variável fundamental reside no crescimento da população. A crise ecológica que afeta o mundo somente passou a se manifestar quando os seres humanos ultrapassaram certo limite na pressão sobre os recursos naturais do planeta. Assim nasceu o conceito da pegada ecológica.
Seu cálculo determina a extensão do território - em terra e no mar - necessária para sustentar uma pessoa, ou a sociedade, considerando o nível de tecnologia e o modo de vida. Calculado em hectares, o seu valor permite avaliar a sustentabilidade da civilização.
Os dados da Global Footprint Network, entidade que propôs originalmente a ideia, indicam que a pegada ecológica global atingiu 2,7 hectares por pessoa (2007). Multiplicando esse valor pela população mundial, resulta em 18,1 bilhões de hectares. Essa seria a área necessária para sustentar a demanda, ambientalmente falando, da sociedade global.
Acontece que a disponibilidade biologicamente produtiva no mundo soma 13,4 bilhões de hectares. Ou seja, a pegada ecológica da humanidade já ultrapassou a capacidade de suporte do planeta Terra em 35%. Das duas, uma: ou se modifica o modo de vida, tornando-o menos perdulário da natureza, ou se reduz a população humana. A primeira providência será dificílima; a segunda, quase impossível.
Vale o raciocínio: o nível de consumo médio da sociedade global estabelece uma pressão sobre os recursos naturais capaz de sustentar, no máximo, 5 bilhões de habitantes. Mas a população mundial, conforme estima a ONU, deverá atingir 9 bilhões de pessoas próximo de 2050. O colapso da sociedade, portanto, somente se evitará com a alteração do padrão civilizatório.
É bem verdade que essa trajetória rumo ao mundo sustentável vai afetar desigualmente as nações. Os países ricos detêm 20% da população mundial, mas consomem 80% dos recursos naturais do planeta. Mais populosos, os países em desenvolvimento lutam para escapar da miséria e atingir o invejado modo de vida dos povos ricos, europeus ou norte-americanos. É trágico perceber que dificilmente essa hora chegará para eles.
Mesmo com as esperadas inovações tecnológicas, que possivelmente elevarão a oferta de energia limpa, entre outros ganhos ambientais, é inimaginável supor que a totalidade da população humana possa vir a manter, no futuro próximo, um padrão de vida semelhante ao dos ricos de hoje. Um azar histórico se configura.
A visão antecipada da tragédia poderá ser, por outro lado, a sorte da humanidade. Decisões políticas, locais e globais, chegarão para consignar a mudança civilizatória. Esse necessário adeus ao sonho de consumo ocidental, entretanto, atormenta a imaginação. Como estaremos vivendo no final deste século?
Ninguém sabe direito. A incerta trajetória rumo ao mundo sustentável trabalha com raciocínios utópicos: novas tecnologias se combinarão com profundas mudanças culturais; os desejos de consumo e as expectativas de vida ter-se-ão modificado; os direitos e os deveres incluirão normas da sociedade global; a educação ambiental prevalecerá. Haverá harmonia entre homem e natureza.
Na dura realidade, para ser bem resolvida a equação sustentável dependerá do sucesso de uma variante fundamental: a segurança alimentar. Aqui o problema fica mais complexo. A necessidade crescente da produção de alimentos vai elevar a pressão sobre o território natural.
A alimentação humana navega no fio da navalha. A Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) estima que a demanda mundial por alimentos cresça entre 70% e 100% até 2050, bem acima do aumento populacional. Isso porque a urbanização e a melhoria da renda familiar nas economias em desenvolvimento exigem mais proteína na mesa das pessoas. China e Índia que o digam.
É certo que a capacidade produtiva da agropecuária venceu, por enquanto, a disputa com a população. Todos reconhecem que tal êxito se deve à fantástica evolução tecnológica combinada com a queda na taxa de natalidade. Ponto pacífico.
Houve, porém, um terceiro fator decisivo: a farta disponibilidade de terras virgens. Nos últimos 200 anos, desde que Malthus publicou seu famoso ensaio sobre a população, o desmatamento progressivo de imensos territórios garantiu a expansão da base produtiva rural. Não faltou comida.
É dramático perceber que o processo exploratório sobre a natureza bruta se esgota. Anda no limite a capacidade da agricultura norte-americana e europeia, tanto quanto na China, Índia, Austrália. Pior: milhões de hectares de terras produtivas sofrem com a salinização, o rebaixamento do lençol freático e a desertificação.
Conclusão: será cada vez maior o esforço para aumentar a produção de alimentos. Por outro lado, a pressão ambientalista requer novas áreas protegidas, em nome da biodiversidade planetária. No passado o desmatamento corria solto. Hoje é inaceitável na opinião pública.
Comete crasso erro de análise quem invocar o velho dilema malthusiano como desculpa para a inércia. O desafio alimentar que a humanidade enfrenta agora surge em outro patamar. A inédita demanda proteica, puxada pela queda progressiva da pobreza mundial, ocorre em tempos de reclamo preservacionista. Sinuca de bico.
Torna-se ridículo, nesse complexo cenário, verificar as querelas egoístas e sectárias entre ambientalistas e ruralistas, que brigam pelo Código Florestal olhando o próprio umbigo. Para vencer o grande desafio da humanidade, em vez de inimigos, necessariamente eles terão de se irmanar.
AGRÔNOMO, FOI SECRETÁRIO DO MEIO AMBIENTE DO ESTADO DE SÃO PAULO.
E-MAIL: XICOGRAZIANO@TERRA.COM.BR
*Papel-solar*
13/07/2011
Agência FAPESP - Aplicar células fotovoltaicas - capazes de transformar energia solar em elétrica - diretamente em papel ou tecido, de um modo simples e rápido, é o objetivo de uma pesquisa conduzida no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos Estados Unidos.
A tecnologia já resultou em diversos protótipos, cujo formato lembra o de um documento produzido em uma impressora comum do tipo jato de tinta. A diferença é que no lugar de palavras e números são impressos pela superfície retângulos coloridos.
Ao ligar fios nos retângulos e direcionar luz ao papel, imediatamente um dispositivo eletrônico começa a funcionar, como se vê no vídeo divulgado pelo grupo responsável pelo estudo.
A novidade é resultado do trabalho do grupo coordenado no MIT pelos professores Karen Gleason, de engenharia química, e Vladimir Bulovi, de engenharia elétrica. Detalhes da tecnologia foram publicados no dia 8 de julho no site da revista Advanced Materials.
Os cientistas afirmam que a nova técnica representa um grande avanço em comparação com sistemas usados atualmente para produzir células solares, os quais dependem de expor os substratos (geralmente vidro) a condições - como altas temperaturas - ou líquidos que podem muitas vezes danificar as próprias células.
O novo processo se baseia no uso de vapor - e não de líquidos - e em temperaturas abaixo de 120 ºC. Nessas condições, é possível empregar materiais como papéis não tratados, tecidos ou plástico como substratos para imprimir as células.
Diferentemente de imprimir documentos, a tecnologia precisa de cinco camadas de materiais, que são depositadas em papel, por exemplo, em etapas sucessivas, por meio do uso de uma máscara (também feita de papel) para formar os padrões das células na superfície. O processo é feito em uma câmara a vácuo, para evitar a contaminação por poeira ou outras impurezas.
A folha fotoelétrica, além de ser impressa facilmente e com baixo custo, de acordo com os pesquisadores, pode ser dobrada e guardada no bolso. Depois, ao ser desdobrada, volta a funcionar normalmente, convertendo energia luminosa em elétrica.
Em alguns casos, nem precisa desdobrar, como no avião de papel feito pelos pesquisadores, cujas células funcionam durante o voo. No artigo, os autores descrevem a impressão de células fotovoltaicas em uma folha de plástico PET, que foi posteriormente dobrado e desdobrado 1 mil vezes sem perda significativa de seu rendimento na conversão de energia.
*Demostramos que se trata de uma tecnologia robusta. Estimamos que poderemos fabricar em escala células solares capazes de atingir performances recordes em relação à produção de watts por quilo. Isso abre um grande número de possíveis aplicações*, disse Bulovi, apontando para o potencial de produção de placas solares mais leves, um grande problema das atuais.
O artigo Direct Monolithic Integration of Organic Photovoltaic Circuits on Unmodified Paper (doi:10.1002/adma.201101263), de Karen K. Gleason e outros, pode ser lido por assinantes da Advanced Materials em http://onlinelibrary.wiley.com /doi/10.1002/adma.201101263/ abstract.
Agência FAPESP - Aplicar células fotovoltaicas - capazes de transformar energia solar em elétrica - diretamente em papel ou tecido, de um modo simples e rápido, é o objetivo de uma pesquisa conduzida no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos Estados Unidos.
A tecnologia já resultou em diversos protótipos, cujo formato lembra o de um documento produzido em uma impressora comum do tipo jato de tinta. A diferença é que no lugar de palavras e números são impressos pela superfície retângulos coloridos.
Ao ligar fios nos retângulos e direcionar luz ao papel, imediatamente um dispositivo eletrônico começa a funcionar, como se vê no vídeo divulgado pelo grupo responsável pelo estudo.
A novidade é resultado do trabalho do grupo coordenado no MIT pelos professores Karen Gleason, de engenharia química, e Vladimir Bulovi, de engenharia elétrica. Detalhes da tecnologia foram publicados no dia 8 de julho no site da revista Advanced Materials.
Os cientistas afirmam que a nova técnica representa um grande avanço em comparação com sistemas usados atualmente para produzir células solares, os quais dependem de expor os substratos (geralmente vidro) a condições - como altas temperaturas - ou líquidos que podem muitas vezes danificar as próprias células.
O novo processo se baseia no uso de vapor - e não de líquidos - e em temperaturas abaixo de 120 ºC. Nessas condições, é possível empregar materiais como papéis não tratados, tecidos ou plástico como substratos para imprimir as células.
Diferentemente de imprimir documentos, a tecnologia precisa de cinco camadas de materiais, que são depositadas em papel, por exemplo, em etapas sucessivas, por meio do uso de uma máscara (também feita de papel) para formar os padrões das células na superfície. O processo é feito em uma câmara a vácuo, para evitar a contaminação por poeira ou outras impurezas.
A folha fotoelétrica, além de ser impressa facilmente e com baixo custo, de acordo com os pesquisadores, pode ser dobrada e guardada no bolso. Depois, ao ser desdobrada, volta a funcionar normalmente, convertendo energia luminosa em elétrica.
Em alguns casos, nem precisa desdobrar, como no avião de papel feito pelos pesquisadores, cujas células funcionam durante o voo. No artigo, os autores descrevem a impressão de células fotovoltaicas em uma folha de plástico PET, que foi posteriormente dobrado e desdobrado 1 mil vezes sem perda significativa de seu rendimento na conversão de energia.
*Demostramos que se trata de uma tecnologia robusta. Estimamos que poderemos fabricar em escala células solares capazes de atingir performances recordes em relação à produção de watts por quilo. Isso abre um grande número de possíveis aplicações*, disse Bulovi, apontando para o potencial de produção de placas solares mais leves, um grande problema das atuais.
O artigo Direct Monolithic Integration of Organic Photovoltaic Circuits on Unmodified Paper (doi:10.1002/adma.201101263), de Karen K. Gleason e outros, pode ser lido por assinantes da Advanced Materials em http://onlinelibrary.wiley.com
Embrapa e SBPC criticam viés ideológico no Código Florestal
Para o presidente da Embrapa, o novo texto do Código Florestal tem um viés ideológico e não tem um embasamento técnico sobre os impactos no campo. Ele chama a atenção para a necessidade de o País avançar no atual texto para evitar novos desmatamentos das florestas. "Hoje o Brasil já tem área suficiente para ser o celeiro agrícola do mundo", disse.
Com opinião semelhante, José Antonio Aleixo, secretario da SBPC e pesquisador da Universidade Federal Rural de Pernambuco, voltou a criticar o texto do Código por não considerar o papel da Ciência. "Há muita política investida no Código Florestal", reitera Aleixo, que coordenou a conferência sobre Cerrado: Água, alimento, energia e pesquisa agropecuária, no primeiro dia da 63a Reunião Anual da SBPC, em Goiânia, ontem (11).
A SBPC enviou nos últimos dias uma carta ao Senado Feral em que pede que o novo texto do Código Florestal seja avaliado pela Comissão de Ciência e Tecnologia (C&T) da casa. Em março, a SBPC já havia divulgado um estudo em que mostra os impactos do texto do Código Florestal. "As mudanças propostas não atendem a realidade brasileira a longo prazo nem ao agronegócio, nem ao Meio Ambiente. Se alguém perde é o País", disse Aleixo.
(Viviane Monteiro - Jornal da Ciência)
CÓDIGO FLORESTAL A FALSA POLÊMICA ENTRE RURALISTAS E AMBIENTALISTAS
Fonte: Correio do Brasil de 08.07.2011
O texto tem o objetivo de abordar o código florestal sob ótica diferente da utilizada até o momento. Através dele, procura-se demonstrar como o novo código é prejudicial aos ruralistas e como o mecanismo internacional do capitalismo age beneficiando capitalistas do hemisfério norte em detrimento do sul.
Casal de ativistas assassinado no Pará
Haverá falta de alimentos! O pequeno produtor será penalizado! O golpe sobre o agronegócio afetará a economia nacional!
Estes são alguns dos argumentos alarmistas que tentam abafar os reais mecanismos de ação que agem sobre o processo de aprovação do novo código florestal.
A verdade é que o momento atual representa uma glória para o GRANDE CAPITAL DO HEMISFÉRIO NORTE. Eles tiveram êxito na implantação da falsa polêmica ruralista x ambientalista. De fato, a situação mereceria um novo capítulo no livro de Eduardo Galeano As Veias Abertas da América Latina.
Até agora nenhum ?especialista? comentou que a estratégia de subsídios e barreiras tarifárias agrícolas dos yankees contra produtos do sul encontra ameaças no próprio liberalismo (lei da oferta/procura): não há mais produto para ESPREMER do hemisfério sul, fato que já está encarecendo muito suas políticas protecionistas e nacionalistas.
Os sofisticados dispositivos de deflação de preços de commodities, tais como Bolsa de Chicago, protecionismo, subsídio, barreiras técnicas e tarifárias, etc já não estão funcionando mais a contento e exigem desembolsos cada vez maiores dos governos nacionalistas do chamado primeiro mundo.
A ordem agora é forçar a ampliação da oferta para deflacionar o custo do produto e, para ampliar esta oferta, vale expandir as fronteiras agrícolas sobre o meio ambiente nos países que ainda não o fizeram, ou seja, os do hemisfério sul.
Os burgueses e pequenos burgueses ruralistas do hemisfério sul caíram na falsa polêmica ambiental plantada. Eles poderiam combater as políticas de deflação do produto de forma enérgica, UNINDO-SE A AMBIENTALISTAS, justificando com a falta de terras e restrições ambientais os motivos para obtenção de um preço justo ? tudo dentro da teoria liberal capitalista.
Acontece que há uma outra regra dentro do liberalismo capitalista: o maior engole o menor. Assim, o grande capitalista do hemisfério norte deseja engolir o capitalista menor, do hemisfério sul.
Desta forma, um capital externo poderoso aliado a lideranças teatrais, como Kátia Abreu e Aldo Rebelo um representando a direita e outro a esquerda, completam a construção do sofisma.
Não é difícil desconstruir a falsa polêmica: é óbvio que a tropa de choque do agronegócio, sempre atenta e maquiavélica, se estivesse realmente preocupada com o setor que representa, estaria totalmente alinhada com o ambientalista local, na busca de um retorno financeiro melhor para seus representados. Ao invés disso temos as regras do capitalismo liberal e, como tal, o potente capital yankee é capaz de comprar facilmente até mesmo os ruralistas de direita do hemisfério sul.
Por outro lado, nosso representante de ?esquerda? alega que o pequeno produtor será afetado se não adotarmos o novo código, tentando com isso distorcer completamente o verdadeiro problema do pequeno produtor e também do produtor sem terra: a falta da reforma agrária.
Há ainda a alegação da crise dos alimentos. Um país que tem a intenção de se tornar potência na produção de biocombustíveis não está preocupado com uma eventual crise alimentar. As recentes medidas de Dilma Rousseff para o dilema álcool x açúcar ilustram claramente esta questão: o produtor que optar pelo açúcar vai perder. A tese da crise alimentar vai então por água abaixo. Se de fato houvesse o compromisso governamental, haveria terra de sobra para suprir a alimentação de todos, mas ao invés disso planta-se para alimentar os enormes e infames carrões da última moda da indústria automobilística.
Para concluir o texto, não podemos deixar de abordar a enorme correlação da questão alimentar e ambiental com este tema transversal que é a energia, afinal a energia é extremamente necessária para as nefastas políticas desenvolvimentistas adotadas pelos governos descompromissados com questões sócio-ambientais (ou seja, TODOS os governos).
Com o governo brasileiro não é diferente e sua política para a questão é oportunista, brutal e desumana: através de sua OMISSÃO DECLARADA, aproveita os assassinatos causados pela falsa polêmica ruralista x ambientalista para HIGIENIZAR o norte do país da presença de proletários ambientalistas, já que são um entrave a seus projetos energéticos e desenvolvimentistas, tais como as usinas hidrelétricas e o extrativismo predatório.
Email:: andrecaon@hotmail.com
Casal de ativistas assassinado no Pará
Haverá falta de alimentos! O pequeno produtor será penalizado! O golpe sobre o agronegócio afetará a economia nacional!
Estes são alguns dos argumentos alarmistas que tentam abafar os reais mecanismos de ação que agem sobre o processo de aprovação do novo código florestal.
A verdade é que o momento atual representa uma glória para o GRANDE CAPITAL DO HEMISFÉRIO NORTE. Eles tiveram êxito na implantação da falsa polêmica ruralista x ambientalista. De fato, a situação mereceria um novo capítulo no livro de Eduardo Galeano As Veias Abertas da América Latina.
Até agora nenhum ?especialista? comentou que a estratégia de subsídios e barreiras tarifárias agrícolas dos yankees contra produtos do sul encontra ameaças no próprio liberalismo (lei da oferta/procura): não há mais produto para ESPREMER do hemisfério sul, fato que já está encarecendo muito suas políticas protecionistas e nacionalistas.
Os sofisticados dispositivos de deflação de preços de commodities, tais como Bolsa de Chicago, protecionismo, subsídio, barreiras técnicas e tarifárias, etc já não estão funcionando mais a contento e exigem desembolsos cada vez maiores dos governos nacionalistas do chamado primeiro mundo.
A ordem agora é forçar a ampliação da oferta para deflacionar o custo do produto e, para ampliar esta oferta, vale expandir as fronteiras agrícolas sobre o meio ambiente nos países que ainda não o fizeram, ou seja, os do hemisfério sul.
Os burgueses e pequenos burgueses ruralistas do hemisfério sul caíram na falsa polêmica ambiental plantada. Eles poderiam combater as políticas de deflação do produto de forma enérgica, UNINDO-SE A AMBIENTALISTAS, justificando com a falta de terras e restrições ambientais os motivos para obtenção de um preço justo ? tudo dentro da teoria liberal capitalista.
Acontece que há uma outra regra dentro do liberalismo capitalista: o maior engole o menor. Assim, o grande capitalista do hemisfério norte deseja engolir o capitalista menor, do hemisfério sul.
Desta forma, um capital externo poderoso aliado a lideranças teatrais, como Kátia Abreu e Aldo Rebelo um representando a direita e outro a esquerda, completam a construção do sofisma.
Não é difícil desconstruir a falsa polêmica: é óbvio que a tropa de choque do agronegócio, sempre atenta e maquiavélica, se estivesse realmente preocupada com o setor que representa, estaria totalmente alinhada com o ambientalista local, na busca de um retorno financeiro melhor para seus representados. Ao invés disso temos as regras do capitalismo liberal e, como tal, o potente capital yankee é capaz de comprar facilmente até mesmo os ruralistas de direita do hemisfério sul.
Por outro lado, nosso representante de ?esquerda? alega que o pequeno produtor será afetado se não adotarmos o novo código, tentando com isso distorcer completamente o verdadeiro problema do pequeno produtor e também do produtor sem terra: a falta da reforma agrária.
Há ainda a alegação da crise dos alimentos. Um país que tem a intenção de se tornar potência na produção de biocombustíveis não está preocupado com uma eventual crise alimentar. As recentes medidas de Dilma Rousseff para o dilema álcool x açúcar ilustram claramente esta questão: o produtor que optar pelo açúcar vai perder. A tese da crise alimentar vai então por água abaixo. Se de fato houvesse o compromisso governamental, haveria terra de sobra para suprir a alimentação de todos, mas ao invés disso planta-se para alimentar os enormes e infames carrões da última moda da indústria automobilística.
Para concluir o texto, não podemos deixar de abordar a enorme correlação da questão alimentar e ambiental com este tema transversal que é a energia, afinal a energia é extremamente necessária para as nefastas políticas desenvolvimentistas adotadas pelos governos descompromissados com questões sócio-ambientais (ou seja, TODOS os governos).
Com o governo brasileiro não é diferente e sua política para a questão é oportunista, brutal e desumana: através de sua OMISSÃO DECLARADA, aproveita os assassinatos causados pela falsa polêmica ruralista x ambientalista para HIGIENIZAR o norte do país da presença de proletários ambientalistas, já que são um entrave a seus projetos energéticos e desenvolvimentistas, tais como as usinas hidrelétricas e o extrativismo predatório.
Email:: andrecaon@hotmail.com
SBPC QUER PARTICIPAR DOS DEBATES SOBRE O CÓDIGO
Fonte: Diário do Pará de 12.07.2011
Os pesquisadores argumentam que a ciência poderia servir como um fiel da balança na disputa entre ambientalistas e ruralistas. Se os ruralistas vencerem, o País perde. Se os ambientalistas vencerem, o País também perde, afirma o engenheiro agrônomo José Antonio Aleixo. A única forma de o País ganhar é não existirem vencedores. O interesse público deve prevalecer. Aleixo, pesquisador da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), coordenou o grupo de trabalho criado pelas entidades científicas para discutir o Código.
Aleixo diz que a ausência dos pesquisadores na discussão torna o diálogo irreal. Já disseram que, se não fosse autorizado o plantio nos morros a altitudes superiores a 1,8 mil metros, as videiras do Rio Grande do Sul estariam condenadas, exemplifica. Mas o ponto mais alto da Serra Gaúcha não tem mais de 1,4 mil metros.
A carta enviada a Sarney diz que, sem participação da ciência, o novo Código Florestal será, já de nascença, considerado defasado.
Os cientistas argumentam que os limites rígidos de distância estipulados no atual Código para determinar até onde as áreas devem ser preservadas (na beira de rios, por exemplo) só se justificam porque o texto em que a lei se baseia foi escrito em 1965. A carta aponta que um novo método quantitativo, baseado em imagens de radar e análises digitais de terreno, pode definir com precisão as larguras funcionais de matas ciliares em função das características variáveis dos solos, da vegetação e dos rios. Não usar as imagens seria como obrigar pessoas diferentes a calçar sapatos do mesmo tamanho, compara Aleixo.
Há quem afirme que os cientistas entraram tarde no debate. As discussões sobre o novo Código começaram há mais de dez anos, mas a academia só teria demonstrado disposição para levantar sua voz em maio de 2010. Silva responde que em nenhum momento os pesquisadores foram chamados para ilustrar o debate, embora fossem atores óbvios no processo.
INSISTÊNCIA
Para a presidente da SBPC, Helena Nader, não faltou insistência aos cientistas. "Já enviamos várias cartas. Estamos sendo ignorados", disse. (Goiânia/AE)
terça-feira, 12 de julho de 2011
Novo código florestal não engloba potencial brasileiro
POLÊMICA ETERNA?
Em encontro sobre o Código Florestal proposto pelo deputado Aldo Rebelo e aprovado na Câmara, em maio passado, o climatologista Carlos Nobre – secretário do Ministério de Ciência e Tecnologia e conselheiro do Planeta Sustentável -, destacou que a floresta tem potencial econômico maior do que a soja, no Brasil, defendendo um modelo de agricultura que explore bem a biodiversidade do país, que é uma das mais ricas do mundo. Também estiveram presentes o sociólogo Ricardo Abramovay e o engenheiro agrônomo André Nassar
Marina Franco - Edição: Mônica Nunes
Planeta Sustentável - 04/07/2011
Planeta Sustentável - 04/07/2011
O secretário de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento do MCT - Ministério de Ciência e Tecnologia, Carlos Nobre, que também é conselheiro do Planeta Sustentável, é a favor do aperfeiçoamento do Código Florestal brasileiro, mas não concorda com a proposta feita pelo deputado Aldo Rebelo e aprovada na Câmara dos Deputados no dia 24 de maio (leia Câmara aprova novo Código Florestal). Para ele, o novo relatório não leva em conta as comprovações da ciência nem as oportunidades de crescimento do Brasil. "O grande potencial brasileiro é a floresta e isso não está na proposta para o novo Código, ao contrário", afirmou o climatologista durante debate sobre o Código Florestal, promovido pelo jornal Folha de S. Paulo, com mediação de Reinaldo Lopes, editor de Ciência e Saúde.
Nobre defende um modelo de agricultura que explore bem a biodiversidade do país, uma vez que é uma das mais ricas do mundo. No encontro, ele explicou que, além da conversão do conhecimento implícito na biodiversidade, deveríamos valorizar os próprios produtos prontos e citou o exemplo do açaí. "Hoje a indústria do açaí vale R$ 5 bilhões e é maior do que toda a madeira legal e ilegal comercializada", exemplificou. Segundo dados apresentados pelo secretário, enquanto a cultura da soja rende entre US$ 200 e US$ 300 por hectare/ano, a do fruto gera entre US$ 1 mil e US$ 2 mil anualmente, para cada hectare.
Na visão do secretário, a mudança sugerida para o Código prevê a expansão continuada da fronteira agrícola e seus defensores não ouviram a ciência com medo de que essa expansão não fosse aprovada. Em resposta, cientistas da SBPC - Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência e da ABC - Academia Brasileira de Ciências produziram um livro para emitir o seu parecer contra a proposta de Rebelo. A publicação O Código Florestal e a Ciência: Contribuições para o Diálogo, da qual Carlos Nobre também participa, apresenta argumentos científicos de que não há incompatibilidade no fato de o Brasil ser potência agrícola e preservar a riqueza de sua biodiversidade (leia Cientistas são contra mudanças no Código Florestal). "Dos doze pesquisadores que participam do livro, metade é da Embrapa, ou seja, entendem muito de agricultura. Neste documento está presente o melhor conhecimento científico que nós temos", salientou.
CUMPRIMENTO DA LEI André Nassar, engenheiro agrônomo do ICONE - Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais, também presente no debate, defendeu a proposta do deputado Aldo Rebelo, ao mesmo tempo que identificou alguns pontos a serem aprimorados, como a consolidação das APPs - Áreas de Preservação Permanente, a consolidação de áreas rurais em quatro módulos fiscais e o cumprimento do programa de adequação.
Para Nassar, o novo Código, se aprovado pelo Senado, é uma oportunidade para os proprietários que não obedecem à lei atual se legalizarem. "O Código veio para dar um voto condicionado de confiança. Ele diz que quem desmatou até 21 de junho de 2008 terá a oportunidade de se regularizar", afirmou. Para ele, essa concessão tem origem em um contexto histórico de ocupação do território que não levou em conta baixos impactos ao meio ambiente. "As concessões fazem toda a diferença", destacou o engenheiro.
Seu argumento, no entanto, foi contrariado por Ricardo Abramovay, professor titular do Departamento de Economia da FEA - Faculdade de Economia e Administração da USP e também debatedor no encontro. "O objetivo fundamental de um Código tem que ser desmatamento zero. O crescimento da economia se deve muito mais ao aumento da produtividade do que do desmatamento", afirmou. "O projeto abre brechas que não poderiam existir, como a de que desmatadores até 2008 ficariam isentos de recuperar seus territórios", completou.
Nobre defende um modelo de agricultura que explore bem a biodiversidade do país, uma vez que é uma das mais ricas do mundo. No encontro, ele explicou que, além da conversão do conhecimento implícito na biodiversidade, deveríamos valorizar os próprios produtos prontos e citou o exemplo do açaí. "Hoje a indústria do açaí vale R$ 5 bilhões e é maior do que toda a madeira legal e ilegal comercializada", exemplificou. Segundo dados apresentados pelo secretário, enquanto a cultura da soja rende entre US$ 200 e US$ 300 por hectare/ano, a do fruto gera entre US$ 1 mil e US$ 2 mil anualmente, para cada hectare.
Na visão do secretário, a mudança sugerida para o Código prevê a expansão continuada da fronteira agrícola e seus defensores não ouviram a ciência com medo de que essa expansão não fosse aprovada. Em resposta, cientistas da SBPC - Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência e da ABC - Academia Brasileira de Ciências produziram um livro para emitir o seu parecer contra a proposta de Rebelo. A publicação O Código Florestal e a Ciência: Contribuições para o Diálogo, da qual Carlos Nobre também participa, apresenta argumentos científicos de que não há incompatibilidade no fato de o Brasil ser potência agrícola e preservar a riqueza de sua biodiversidade (leia Cientistas são contra mudanças no Código Florestal). "Dos doze pesquisadores que participam do livro, metade é da Embrapa, ou seja, entendem muito de agricultura. Neste documento está presente o melhor conhecimento científico que nós temos", salientou.
CUMPRIMENTO DA LEI André Nassar, engenheiro agrônomo do ICONE - Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais, também presente no debate, defendeu a proposta do deputado Aldo Rebelo, ao mesmo tempo que identificou alguns pontos a serem aprimorados, como a consolidação das APPs - Áreas de Preservação Permanente, a consolidação de áreas rurais em quatro módulos fiscais e o cumprimento do programa de adequação.
Para Nassar, o novo Código, se aprovado pelo Senado, é uma oportunidade para os proprietários que não obedecem à lei atual se legalizarem. "O Código veio para dar um voto condicionado de confiança. Ele diz que quem desmatou até 21 de junho de 2008 terá a oportunidade de se regularizar", afirmou. Para ele, essa concessão tem origem em um contexto histórico de ocupação do território que não levou em conta baixos impactos ao meio ambiente. "As concessões fazem toda a diferença", destacou o engenheiro.
Seu argumento, no entanto, foi contrariado por Ricardo Abramovay, professor titular do Departamento de Economia da FEA - Faculdade de Economia e Administração da USP e também debatedor no encontro. "O objetivo fundamental de um Código tem que ser desmatamento zero. O crescimento da economia se deve muito mais ao aumento da produtividade do que do desmatamento", afirmou. "O projeto abre brechas que não poderiam existir, como a de que desmatadores até 2008 ficariam isentos de recuperar seus territórios", completou.
Creative Communs e Divulgação
Carlos Nobre, Ricardo Abramovay e André Nassar debateram as alterações propostas para o Código Florestal brasileiroPesquisa da Esalq mostra que sustentabilidade da agricultura depende da mata ciliar
Publicado em julho 11, 2011 por HC
Na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, em Piracicaba, pesquisa demonstra a influência da largura e da conservação da mata ciliar em torno de rios e nascentes na qualidade do solo e da água para cultivos agrícolas.
O estudo de Renata Santos Momoli aponta que águas contaminadas por agrotóxicos, sedimentos e esgoto se tornam inadequadas para o uso humano e nascentes soterradas reduzem o volume dos rios e comprometem a oferta de água. Florestas degradadas tornam-se ambientes inóspitos para diversos animais importantes na cadeia alimentar e expõem o solo às intempéries do clima, favorecendo a erosão. Os solos erodidos perdem sua fertilidade natural e modificam o equilíbrio dos ecossistemas.
A pesquisadora estudou a área do Cerrado brasileiro, por ser considerado uma região de expansão agrícola onde, teoricamente, os níveis de erosão são baixos e os solos são aptos à agricultura. “Porém, por tratar-se de uma região que sofre incidências de chuvas muito fortes e solos expostos pelo desmatamento, observou-se a perda da camada superficial e mais fértil do solo, abertura de voçorocas efêmeras e permanentes, deposição de sedimentos nas áreas mais baixas do relevo e assoreamento das nascentes pelo processo erosivo”, destaca. O estudo da dinâmica da sedimentação numa mata ciliar da região sul do estado de Goiás resultou numa interpretação mais integrada do ambiente para a proposição das dimensões que a mata ciliar deve possuir para promover a interceptação dos sedimentos derivados da erosão das áreas à montante.
Registros de 18 meses de observações revelaram que a maior parte da sedimentação ocorreu na borda da mata ciliar, sendo que em alguns pontos houve um aumento de mais de 35 cm no nível do solo, decorrente da deposição de sedimentos potencializada pela presença de grandes sulcos de erosão na área com cultivo agrícola. Além do mais, no interior da mata ciliar, alguns locais também apresentaram níveis acima de 30 cm de sedimentação, nesse caso, a sedimentação foi favorecida pela presença de árvores com raízes tabulares, as quais “barram” o fluxo de sedimentos, retendo ali, grande quantidade de material sólido transportado na enxurrada. Utilizando as árvores da mata ciliar como indicador da espessura do depósito de sedimentos ao longo do tempo foi possível a constatação de que grande parte de deposição de sedimentos (ao redor de 30 cm de altura) ocorreu nos últimos dez anos.
O fato confirma a grande proporção do impacto negativo da ocupação agrícola em áreas sensíveis como as zonas ripárias. Já em projetos de restauração de Áreas de Preservação Permanentes (APPs) de mata ciliar deve ser considerado o uso de espécies arbóreas com raízes tabulares, pois as mesmas potencializam o efeito de filtro da floresta. O estudo ainda sinaliza que é interessante incluir no reflorestamento espécies que possuam anéis de crescimento bem demarcados pois podem, futuramente, servir como indicadores de alterações ambientais como, por exemplo, a datação de processos de erosão/sedimentação com resolução anual. “Esse estudo comprovou que grande parte do sedimento que se deposita na borda da mata ciliar recobre as diversas nascentes que ali afloram. Esse processo de assoreamento propicia o secamento das nascentes e a redução na produção de água”, explica a pesquisadora.
Conservação
Um conjunto de práticas de manejo conservacionistas (PMC), que visam à redução dos impactos causados pela erosão, são sugeridos no estudo. As PMCs englobam a cobertura do solo (por meio da palhada de plantio direto ou adubos verdes), o plantio em nível, a construção de terraços de infiltração e drenagem, o plantio de faixas ou cordões de vegetação para reduzir a velocidade da enxurrada e a preservação e recuperação da mata ciliar – APPs de beira de rios e ao redor de nascentes.
De acordo com a doutoranda, deve haver um esforço conjunto entre produtores rurais, pesquisadores e políticos no intuito de manter o equilíbrio do ecossistema para promover a perpetuidade da produtividade agrícola. “A proposta de redução da largura das matas ciliares (APPs de beira de rio e ao redor das nascentes) implica no comprometimento da longevidade do sistema agrícola no país”, alerta. ”A manutenção da floresta ao redor de rios e nascentes promove o aumento na qualidade de recursos naturais, como água e solo. A proteção dada pela copa das árvores, por exemplo, reduz o impacto da chuva sobre o solo, reduzindo a erosão. A presença de caules e raízes de árvores favorece a retenção da maior parte dos sedimentos na borda da mata, protegendo as nascentes que se encontram no interior da mata ciliar”.
A pesquisa conclui que é essencial que seja mantida a legislação sobre largura da mata ciliar até que estudos mais detalhados sobre a interpretação integrada do ambiente possam ser produzidos. A aprovação da redução da largura das APPs provocará o acúmulo de sedimentos sobre as nascentes e permitirá o fluxo livre da enxurrada até o leito dos rios. Como conseqüência desse processo, aumenta a carga de sólidos em suspensão e aumenta a sedimentação. A sedimentação tem como conseqüência o assoreamento dos rios e das nascentes.
O assoreamento favorece a ocorrência de inundações severas nas margens dos rios, ou seja, a redução da largura da mata ciliar resultará em impactos negativos cada vez mais intensos, maiores inundações, maiores níveis de sedimentação soterrando nascentes. Por isso, reduzir a largura das APPs de beira de rios e nascentes resultará no comprometimento da qualidade do solo, da água e dos ecossistemas. A pesquisa de Renata é descrita em tese de Doutorado apresentada no Programa de Pós-graduação em Solos e Nutrição de Plantas, sob orientação do professor Miguel Cooper, do Departamento de Ciência do Solo (LSO), da Esalq.
Tags: agricultura, conservação, floresta zero, legislação ambiental
Alicia Nascimento Aguiar, da Assessoria de Comunicação da Esalq – Agência USP de Notícias
Matéria indicada por Valdir Lamim-Guedes para o EcoDebate, 11/07/2011
[ O conteúdo do EcoDebate é “Copyleft”, podendo ser copiado, reproduzido e/ou distribuído, desde que seja dado crédito ao autor, ao Ecodebate e, se for o caso, à fonte primária da informação ]
Código Florestal: o desafio não está entre velho e novo
artigo de Ricardo Nunes
Publicado em julho 11, 2011 por HC
Publicado em julho 11, 2011 por HC
Mas será que toda essa discussão justifica que podemos mudar o Código Florestal?
Será que não está dentre os direitos fundamentais previstos em nossa Constituição o de um meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum ao povo, essencial a sadia qualidade de vida, impondo ao Poder Público e a coletividade o dever de protegê-lo paraas presentes e futuras gerações (art. 225 da Constituição Federal)?
Direito? Não sejamos ingênuos, pois a liderança política no Brasil goza de muitos direitos, mas mal cumpre os seus deveres. Nesse país, direito é a “preço de ouro” e os deveres são enfiados pela sua goela e não me venha com reclamações.
A mudança no código florestal é desnecessária, pois o antigo código florestal, na maioria, nunca foi respeitado e, por mais absurdo que seja, o novo dificilmente será.
Isso acontece, pois está no íntimo do agricultor querer aumentar a produção, se tornar mais eficiente, aumentar a renda e ter mais posses. Dizer que pequeno produtor é mais sustentável pode ser superficial e provisório, pois a maioria dos pequenos produtores tem como meta ser grande no mais curto prazo. Além do mais, não há mal nenhum em querer ser grande. Todos nós, de alguma forma, queremos.
O que não é permitido é ser grande à custa da nossa biodiversidade e do nosso direito de um meio ambiente protegido.
A questão então é o equilíbrio, pois a humanidade anda pelo caminho da importância, o caminho de que para merecer proteção e respeito tem de mostrar valor, mostrar produtividade e oferecer algo em troca.
Infelizmente, nem todos conseguem perceber o que as florestas bem conservadas, os rios não poluídos e a fauna em harmonia podem oferecer de valor e produtividade.
Talvez o grande desafio não seja lutar por um Código Florestal velho ou novo. O desafio está em convencer, antes que um desastre convença, que um meio ambiente preservado é capaz de gerar renda, melhorar a produtividade agrícola e garantir o direito de sadia qualidade de vida prevista na Constituição.
Ricardo Nunes, Engenheiro Florestal, ESALQ/USP
EcoDebate, 11/07/2011
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segunda-feira, 11 de julho de 2011
Rollemberg quer comunidade científica participando do debate do Código Florestal
Senador Rodrigo Rollemberg (PSB-DF), presidiu audiência pública da Comissão de Meio Ambiente, com a participação de cientistas que querem contribuir no debate do Código Florestal e defendeu a cons- trução de um pacto com a comunidade científica.
Integrantes de um grupo de trabalho formado por pesquisadores ligados à Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e à Academia Brasi- leira de Ciências (ABC) participaram na terça-feira (5) da audiência pública das Comissões de Meio Ambiente, Defesa do Consumidor e Fiscalização e Controle (CMA) e Agricultura e Reforma Agrária (CRA). O grupo encarregado de apresentar contribuições ao projeto do Código Florestal (PLC 30/2011) falou sobre um estudo feito pelas duas instituições, visando garantir a preservação ambiental aliada a práticas agrícolas sustentáveis. O presidente da Comissão de Meio Ambiente, senador Rodrigo Rollemberg, disse que nos últimos 30 anos o Brasil aumentou áreas agricultáveis em 45,6%, sendo que a produção cresceu 268%, conforme dados da Embrapa. Na avaliação do senador, esse salto ocorreu por causa da ciência, da inovação tecnológica, mediante a prática de ações como o plantio direto, que reduz impactos sobre o solo.
O socialista voltou a defender a criação de incentivos econômicos para viabilizar a preservação dos recursos naturais. “Para dar efetividade ao Código Florestal devemos criar estruturas econômicas que incentivem o pequeno produtor a recuperar sua APP”, explicou. Rollemberg informou que a ideia da CMA é construir um pacto em prol do desenvolvimento sustentável, tentando criar meios para aparelhar a assistência técnica e a extensão rural e que estão previstos diversos outros encontros sobre o Código Florestal e assuntos correlacionados. Ele acatou a sugestão do representante da ABC, de fazer a força-tarefa, pontuando que as contribuições da ciência são sempre bem-vindas.
quinta-feira, 7 de julho de 2011
O aquecimento global vai acabar com a Amazônia
As árvores na Amazônia emitem “cheiros” que fazem “cócegas” nas nuvens e provocam as chuvas sobre a floresta. Os cientistas do LBA descobriram também que onde há queimadas a chuva diminui.
EXCLUSIVO - EcoAgência de Notícias
05-set-2003
Rio Branco, AC - O governador Blairo Maggi, do Mato Grosso, deveria ser um aliado do Greenpeace, dos Amigos da Terra, do WWF-Brasil e das demais ONGs ecologistas, pois o celeiro do Brasil precisa da água da Amazônia e o aquecimento global pode acabar com a floresta.
O alerta é do cientista Antonio Nobre, do Experimento de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia (LBA), que iniciou há cinco anos e hoje conta com mais de mil pesquisadores do Brasil, Estados Unidos, Holanda, Inglaterra, Alemanha, Itália, França e Suécia. Nobre apresentou algumas das descobertas já feitas pelo LBA aos 183 jornalistas que participaram do Encontro Internacional de Jornalismo Ambiental da Amazônia, realizado pelo Sindicato dos Jornalistas do Acre, WWF-Brasil, Federação Nacional dos Jornalistas e Governo do Estado do Acre.
O pesquisador Antonio Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, investiga no LBA a troca de carbono na floresta. Formado em agronomia na Esalq/USP, ele fez mestrado em Ecologia Tropical, doutorado em Biogeoquímica da Terra e trabalha na região amazônica há mais de 20 anos.
“O projeto está formando uma geração de cientistas brasileiros em temas antes inéditos, como os estudos de fluxo de carbono com torres. Daqui a algum tempo nas discussões mundiais sobre contribuição do efeito estufa, a comunidade brasileira será capaz de fazer e defender as próprias medidas”, afirma.
A competição entre os cientistas, que marcou o início das pesquisas, está dando lugar a cooperação e integração dos trabalhos. A complexidade da floresta está ensinando os especialistas que não é possível tentar compreender a Amazônia em caixinhas. O Experimento de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia é a maior pesquisa já realizada na floresta amazônica.
O LBA tem um corpo científico que dá as direções e discute as questões fundamentais que precisam ser respondidas. Ele começou a ser elaborado em 1991, mas as pesquisas só iniciaram em 1998, depois de muita polêmica causada pelo envolvimento de pesquisadores estrangeiros.
Nesta entrevista exclusiva à EcoAgência, o cientista Antônio Nobre apresenta alguns dos resultados e explica como funciona o único projeto do mundo que mede mudanças globais e a relação da biosfera com a atmosfera de uma maneira colaborativa e integrada.
EcoAgência: Quais são as grandes linhas de pesquisa do LBA?
Antonio Nobre: Quanto mais a gente trabalha com a Amazônia, mais vê que na realidade todos os componentes são relacionados entre si. Antes se falava em clima, que é água e energia. Hoje, resultado do projeto LBA, já sabemos que a chuva não se forma se não há partículas na atmosfera. Estas partículas formam núcleos de condensação. Em volta da poeira forma uma gota d’água. E na Amazônia, onde o ar é muito limpo não tem partícula. Até foi criado o termo oceano verde porque o ar sobre a Amazônia é tão limpo quanto o ar sobre o oceano.
EcoAgência: Então como chove tanto neste oceano verde da Amazônia se não existem partículas no ar?
Antonio Nobre: Graças à arquitetura do projeto LBA, a comunidade biogeoquímica, de química da atmosfera, que é a minha área, começou a conversar com o pessoal do clima, da meteorologia. Descobrimos que as árvores na Amazônia emitem compostos orgânicos voláteis (terpenos, isoprenos).
EcoAgência: São os “cheiros” da floresta?
Antonio Nobre: Sim, são químicas que a planta põe pra fora. Estes compostos voláteis saem na atmosfera e quando chegam em uma certa altura são oxidados pela luz e resfriados. Eles formam gotículas de óleo, ou cristais orgânicos microscópicos que são absurdamente eficientes na nucleação de nuvens. A floresta gera a sua própria chuva. Ela vai lá e faz “cócegas” nas nuvens.
EcoAgência: Estes “cheiros” da floresta fazem “cócegas” nas nuvens?
Antonio Nobre: É como se a floresta colocasse uma sementinha na nuvem para chover. E chove chuva baixa. Quando você queima e produz poluição, injeta uma quantidade absurda de partículas na atmosfera. Aí o efeito é diferente. A floresta naturalmente solta poucos compostos voláteis que sobem. O suficiente para iniciar o processo, como um catalisador. Aí você tem poucos núcleos de condensação e muito vapor de água, que formam em volta destes núcleos uma gota. Esta gota cresce rapidamente. Ela coalece, se junta, se mescla. Estes poucos núcleos de condensação formam gotas grandes, que ficam pesadas e caem. É a chuva tropical torrencial. Quando tem poluição, são introduzidas muitas partículas na atmosfera e cada uma forma uma gotinha. Acaba o vapor de água. Forma um monte de gotinhas pequenas, que não são pesadas o suficiente. Começam a cair, evaporam e sobem novamente. Existe um balanço muito delicado. Se não tiver alguma partícula não chove. Se tiver partículas de mais, diminui a chuva.
EcoAgência: Já houve discordância de dados entre pesquisadores brasileiros e norte-americanos?
Antonio Nobre: O nosso trabalho em Manaus, ligado mais aos pesquisadores da Comunidade Européia, mostrava que havia seqüestro de carbono na floresta nativa. Enquanto os norte-americanos afirmaram logo de cara que não havia seqüestro, era zero. E eles mediram em apenas um ponto da floresta, em Santarém. Tivemos conflitos de cara, pois nós temos três pontos medindo seqüestro pesado. O projeto LBA permitiu que fizéssemos comparações. Esta é a vantagem deste tipo de estrutura de pesquisa. A Amazônia é extremamente diversa em sua biofísica, biogeoquímica. Ela não é só rica em biodiversidade, é rica em processo. Em cada lugar a floresta funciona de um jeito um pouco diferente. Tem lugar que a floresta está crescendo. Em outros não está. Depende da história do local. É um mosaico. Aí os norte-americanos colocam uma torre em um lugar e afirmam que a Amazônia, que é do tamanho dos Estados Unidos, se comporta de determinada maneira.
EcoAgência: Os grupos de pesquisa do LBA estão trabalhando de forma integrada?
Antonio Nobre: Tem uma nova iniciativa dentro do projeto LBA visando a integração dos vários grupos em um todo harmônico. Estamos agora checando o trabalho de cada grupo. Mas para chegar neste ponto tivemos que desafiar a cultura individualista da comunidade acadêmica. A ciência é absurdamente disciplinar. E a floresta não tem nada de disciplinar. Tudo está interconectado. Química com chuva, gás carbônico com o balanço radioativo do planeta, a temperatura. A própria sociologia da ciência interfere no nosso entendimento da natureza. Eu sou um entusiasta do LBA porque eu estou vendo coisas que eu nunca imaginei que iria ver no projeto. Eu sempre vivi na Amazônia, eu sempre tive uma percepção da complexidade da floresta. E da demanda para uma visão multidisciplinar, holística. Mas na formação acadêmica ritualística - graduação, mestrado, doutorado, pós-doutorado, publicação etc. – você é cortado com faca. Publique na sua área. Se você vai tentar publicar alguma coisa interdisciplinar você toma bomba. Um cientista, por definição, é um ignorante de todas as áreas do conhecimento menos da dele. Não é uma frase minha. Então é muito difícil. Percebemos no LBA que o ganho com a troca de informações é maior do que anunciar uma descoberta sozinho. A troca de dados possibilita uma sinergia na pesquisa, que é o que tem dentro da floresta, onde tudo interage. Não podemos abordar uma entidade complexa como a floresta amazônica dividindo em fatias.Você não vai entender nada. Os norte-americanos tiveram esta experiência aqui. Eles vêm com aquela postura independente, individual, competitiva e aí não publicam nada significativo. Tudo na Amazônia é interativo.
EcoAgência: O que foi descoberto até agora sobre a capacidade da Amazônia seqüestrar carbono da atmosfera?
Antonio Nobre: As medidas de biomassa estão sendo feitas pelos ecólogos e pelos engenheiros florestais. Eles vêm acompanhando o crescimento de árvores em várias áreas da Amazônia. Como o método é idêntico, eles podem comparar o crescimento de árvores no Acre, no Peru, em Manaus ou São Gabriel da Cachoeira. E com isso dá para ter uma idéia de ano a ano do que está acontecendo. A maior parte destes estudos indica seqüestro de carbono. A floresta fica com mais do que ela emite. Os dados das medidas das torres de fluxo mostram um seqüestro muito grande. Nós chegamos a medir de 5 a 7 toneladas de carbono/ha por ano. É quase igual a uma floresta de eucalipto crescendo. Mas estas medidas têm problema. Tem escoamento de gás para um lado da floresta. Em 2004 vamos fazer experimentos conjuntos com os norte-americanos.
EcoAgência: O que acontece quando a floresta é queimada?
Antonio Nobre: Em algumas áreas, como em Alta Floresta, no Mato Grosso, a poluição atmosférica com poluentes extremamente prejudiciais à saúde humana tem níveis superiores aos observados na pior fase da cidade paulista de Cubatão. Quando a biomassa é queimada compostos tóxicos são produzidos. Na fotossíntese, a planta transforma gás carbônico em açúcar e libera oxigênio. O processo inverso, a combustão ou a respiração, transforma açúcar em gás carbônico e consome oxigênio. A fotossíntese consome energia do sol, e a combustão ou respiração libera energia. O fogo libera energia, consome oxigênio, quebra os compostos orgânicos, como açúcar e celulose e transforma em gás carbônico. Quando a combustão é incompleta, fica com um resíduo, a fuligem chamada de carbono preto. Estas queimadas produzem uma miríade de compostos químicos gasosos.
EcoAgência: Estes poluentes podem ser retirados da atmosfera?
Antonio Nobre: A atmosfera terrestre é um envelope muito delgado. Um espaço finito onde estes dejetos gasosos são jogados. Um gás poluente tóxico precisa ser processado para desaparecer da atmosfera. Não desaparece sozinho. Ou precisa ser quebrado pela luz solar, ou dissolvido pela gota de água ou tem que reagir com outros gases formando outras substâncias. E quem é que faz isso? Dentro de um prédio você coloca filtro, lavadores de coluna para limpar o ar removendo estes compostos. Quem faz isso na natureza? O oceano? As florestas? O próprio ar? A fronteira com o espaço? Estas perguntas não são feitas.
Ecoagência: Quem limpa o ar na natureza?
Antonio Nobre: É o que estamos começando a descobrir. Neste ponto a Amazônia começa a assumir uma nova perspectiva, uma espécie de "fígado" da atmosfera. O fígado é o laboratório químico do corpo, ele processa tudo e transforma as toxinas. A biosfera toda tem este papel, mas como a Amazônia tem uma concentração muito grande de biomassa, de floresta, tem esta interação muito forte bio-geo-química. Ela é um poderoso reator, que um deserto não é, e nem uma região coberta com gelo. Este “reator tropical” processa substâncias e a gente tem um ar respirável. Esta noção de que a floresta condiciona a respirabilidade do ar é verdadeira. Além da chuva que limpa tem ainda alguns destes compostos que chegam na atmosfera e reagem para remover ozônio, óxidos de nitrogênio e de enxofre. Esta remoção faz com que o ar fique limpo. É uma reação química.
EcoAgência: Quem é beneficiado por este serviço de “limpeza química”?
Antonio Nobre: Se você pensar o planeta como uma nave espacial com uma atmosfera finita, quem é que limpa o ar? Ainda não foi respondida esta pergunta. O vento que varre a poluição de cima de Porto Alegre, por exemplo, leva pra onde estes poluentes? Um rio tem um limite para depurar o esgoto, a biologia faz esta limpeza. Existe um processamento, como se fosse uma estação de tratamento. Na floresta, cai todo o tipo de detrito no chão. Mesmo assim se você colocar um copo a cinco centímetros sai água pura. Ao mesmo tempo que decompõe purifica. Os sistemas biológicos têm elaborado comunidades de filtragem, decomposição e reciclagem absurdamente sofisticados. Em um punhado de solo na floresta amazônica tem um número maior de microorganismos do que a população da China (1,2 bilhão de habitantes). É muito rico.
EcoAgência: De onde vem a floresta?
Antonio Nobre: Vem do ar, como já disse um colega da USP, Pedro Dias. Na nossa visão agrícola européia, tudo vem da terra. O material construtivo básico das plantas é o carbono. A planta transforma gás carbônico em açúcar, depois celulose e madeira. Então o corpo da planta vem do ar. Era CO2 e virou madeira. A água vem do ar, assim como as sementes. E também os nutrientes, os adubos. Estudos mostram que a poeira do deserto do Saara, que é rica em nutrientes, com as tempestades de areia são transportadas pelo Atlântico e caem em cima do Caribe. Não é à toa que aqueles recifes são super férteis. Em uma parte do ano vira pro Sul e cai também na Amazônia. Ao longo de milhares de anos vai acumulando fósforo, potássio, cálcio, materiais que não tem no solo amazônico, pois é uma região úmida. A umidade excessiva faz com que a rocha se decomponha. Quando se decompõe forma solo. Quando ele é lavado perde tudo isso. E vai para o mar, por isso o oceano é salgado. As regiões úmidas ficam pobres, com argila e quartzo, que é areia. Quando um colono corta a floresta e a transforma em cinza, o resto da queimada, no primeiro ano a planta cresce bem porque a cinza é o capital de nutrientes da terra que aquela floresta acumulou ao longo de milhares de anos. A manutenção de toda esta biomassa é um sistema super delicado.
EcoAgência: E a floresta é ou não um sumidouro de carbono?
Antonio Nobre: A resposta é muito fugaz. Hoje nós estamos medindo e é um sumidouro. Mas se você mudar este balanço e faltar água, por exemplo, morre a floresta. Ela vira fonte de carbono. No LBA já há evidências fortes mostrando que nas áreas onde houve queimadas diminuiu as chuvas. Onde tem floresta tem chuva. Mas ela produz de uma forma elaborada. Ela “sabe” que jogando uma sementinha lá produz chuva. Porque ela está perdendo carbono que poderia ser usado para fazer açúcar. Evaporou perdeu. Como botar dinheiro fora. Carbono que ela sintetizou e formou glicose é como se fosse um recurso para a floresta.
EcoAgência: E o nível de ozônio de baixa altitude?
Antonio Nobre: O ozônio é um oxidante muito poderoso, muito tóxico. Se você ficar respirando ozônio pode morrer. Nas áreas agrícolas próximas às regiões urbanas, cai muito a produtividade quando tem smog. O ozônio deprime a atividade fotossintética. Ele destrói as células dentro da folha. Na Amazônia descobriram os níveis mais baixos do mundo de ozônio. A floresta consome porque é ruim pra ela. Ela emite compostos que neutralizam o ozônio. Um anti-oxidante como a vitamina C que a gente toma para neutralizar os radicais livres. Aos poucos vamos descobrindo que há muito mais coisa entre o céu e a terra na Amazônia do que a gente imagina. A floresta amazônica é um sistema de uma complexidade e de uma “sapiência” espetacular.
EcoAgência: Tem um ponto de não-retorno quando este sistema espetacular não conseguirá mais se restabelecer do impacto da devastação?
Antonio Nobre: Ninguém tem coragem de afirmar categoricamente que isto vai acontecer. Um sistema vivo tem mecanismos de compensação. Mas estes sistemas podem falir. A Amazônia não é a salvação do mundo. Ela sem água morre. E o sistema climático está mudando. E a mudança do sistema climático pode mudar a circulação da atmosfera, como já ocorreu em fases históricas anteriores, tirando a chuva da Amazônia. Se isso acontecer acabou tudo. É muito sério. E isto está acontecendo porque estamos queimando milhões e milhões de barris de petróleo por dia.
EcoAgência: O aquecimento global está ameaçando também a floresta?
Antonio Nobre: Hoje a Amazônia está atenuando o problema, pois está removendo uma parte deste excesso de gás carbônico fóssil que a gente está tirando de baixo da terra e colocando na atmosfera. Estamos destruindo a floresta, acabando com este papel e ainda liberando o carbono que está na floresta. Além disso corremos o risco real de não mudando os padrões de consumo e de queima dos combustíveis fósseis a gente muda a circulação do planeta, aumenta a freqüência do El Niño, tornando as tempestades mais destrutivas. Se mudar a circulação, em ano de El Niño não chove no Norte da Amazônia, como vimos no incêndio de Roraima.
EcoAgência: Se este cenário realmente ocorrer, uma floresta como a Amazônia pode surgir em algum outro lugar do planeta?
Antonio Nobre: Talvez daqui a 60 milhões de anos. Nós podemos produzir no planeta uma catástrofe de extinção em escala planetária. O aquecimento global faz com que os oceanos se aqueçam também. Existem depósitos gigantescos de um material no fundo dos oceanos, o hidrato de metano. É matéria orgânica que estava nos rios que saiu dos continentes. Os rios fazem depósitos quando chegam no mar, o material que está em suspensão na água do rio mistura com o oceano, flocula e sedimenta. O material é coberto pela areia, pelo barro. E aquilo fica lá no meio do sedimento. Muitas bactérias transformam este material ao longo de muito tempo em metano. A decomposição da matéria orgânica sem oxigênio produz metano, um gás estufa mais poderoso que o gás carbônico. Este gás fica lá embaixo devido à pressão, temperatura baixa de 4°C, combina com a água e forma uma roxa que parece um Cebion. São depósitos gigantescos. Aquecendo o oceano, solta este depósito de metano na atmosfera. Seria uma catástrofe. Já aconteceu há 55 milhões de anos este efeito estufa inflacionário. E a Terra levou 65 mil anos para voltar a condição de equilíbrio. Foi uma das extinções em massa. Hoje pela primeira vez uma espécie pode produzir este efeito.
EcoAgência: Por que o planeta depende da biosfera para manter a atmosfera como ela é?
Antonio Nobre: No início a Terra tinha uma atmosfera equivalente a de Vênus e Marte com mais de 90% de gás carbônico. E o Sol há 4 bilhões de anos era 30% mais frio do que é hoje. Se não fosse o efeito estufa, os oceanos teriam congelado e a vida não teria se desenvolvido. A vida se desenvolveu e de lá pra cá mudou muito. Saímos de 90% de CO2 e hoje temos 0,037%. Por que ocorreu esta mudança na Terra e não em Marte e Vênus? Pela vida. A fotossíntese remove gás carbônico e o transforma em material insolúvel, o açúcar, material orgânico. Parte deste material foi enterrado e virou petróleo e calcário nos oceanos. Este gás carbônico que estava na atmosfera do planeta no início foi progressivamente sendo removido e enterrado.
EcoAgência: Então é a biosfera que mantém o clima estável?
Antonio Nobre: Depois de centenas de milhões de anos, estamos revertendo este sistema que a gente nem entende. O sistema é auto-regulado. Aquece o sol, depois de milhões de anos. A vida na Terra responde. Aqueceu, melhorou as condições de vida, mais fotossíntese, remove mais gás carbônico. Aí esfria a atmosfera. É como tirar o cobertor. Quando esfria, diminui a fotossíntese. É um termostato. A biosfera regula a estabilidade do clima planetário como um termostato, através do carbono. Não só através dele, mas o carbono é o principal. Se começar a morrer muita planta, aumenta o carbono e aquece o planeta. Aí as plantas começam a crescer. Esta percepção que é importante ter hoje, pois estamos fazendo um experimento sem precedentes na história do planeta. Estamos fazendo algo que as plantas não desconhecem. Flutuação no nível do gás carbônico elas já viram antes, isto acontece, faz parte do ciclo natural do planeta. Mas nesta proporção e nesta velocidade não tem precedente. A biosfera está respondendo.
EcoAgência: Um sinal disto é o crescimento que está sendo observado na floresta amazônica?
Antonio Nobre: A floresta amazônica está fora do equilíbrio porque estamos jogando adubo, o gás carbônico. Se ela tem mais material, ela cresce. Mesmo coisa se ela tivesse mais água, mais luz. Ela responde. É matéria-prima pra floresta. E ela responde mais a este tipo de adubo gasoso do que ela responde ao Nitrogênio, Potássio, Fósforo. O principal é o carbono.
EcoAgência: A poluição é o adubo?
Antonio Nobre: Estamos aumentando a concentração de gás carbônico na atmosfera, e isto funciona como adubo. A floresta cresce mais rápido. É uma reação da biosfera para manter o equilíbrio. Se continuar subindo a concentração de CO2 na atmosfera vai ficar tão quente que vai mudar tudo, sem condições de vida, como em Vênus.
EcoAgência: Por que foi mais fácil implementar o Protocolo de Montreal, que proíbe os aerossóis que destroem a camada de ozônio, do que o Protocolo de Kyoto, que determina uma redução na emissão dos gases que aumentam o efeito estufa do planeta provocando o aquecimento global?
Antonio Nobre: Porque eram muito poucas as empresas produtoras de clorofluorcarbono. A radiação ultravioleta do sol é mais detectável em função do câncer de pele do que você falar que está aquecendo o planeta. Mesmo a comunidade científica não tendo mais dúvida de que o planeta está aquecendo devido à poluição atmosférica. Mandar três ou quatro empresas parar a produção é mais fácil. Como você pára de queimar combustível?
EcoAgência: É possível que a floresta amazônica regule a bagunça que estamos fazendo na atmosfera?
Antonio Nobre: Uma parte da poluição está sendo tirada da atmosfera. Medidas realizadas no Hemisfério Norte, apesar de ainda incertas, indicam que o sinal que vai do Sul para o Norte é zero. Ou seja, não tem nem sumidouro nem fonte de gás carbônico no Hemisfério Sul. Principalmente na zona tropical da América do Sul. Como tem poucos pontos de medida, agora que estamos começando uma rede, isto ainda é muito incerto. Mas não contradiz o que nós descobrimos aqui medindo diretamente em cima da floresta. Se o carbono que é emitido aqui não aparece em outras partes do planeta, tudo que é produzido na América do Sul também é consumido aqui. Se isto é verdade, significa que a floresta amazônica está removendo a poluição que a América do Sul está produzindo. Mas isto ainda é controverso.
EcoAgência: Quanto tempo seria necessário para conhecer o sistema amazônico?
Antonio Nobre: Com esforço, mais tempo do que a gente tem. Infelizmente. Eu estou descrevendo uma pesquisa que a gente chama de ecologia física, a relação da biosfera, da floresta com o funcionamento do clima, do planeta. Mas temos que pensar também toda relação da floresta com ela mesma. Trezentas espécies de árvore por hectare. Uma copa de árvore com 10 mil espécies diferentes de insetos. A complexidade da Amazônia é estonteante. O esforço de pesquisa colocado é patético. A Amazônia produz 7% do PIB brasileiro. Mas só recebe do orçamento brasileiro 0,2% para pesquisa. A pesquisa na Amazônia compete com os grandes centros desenvolvidos do Sudeste, que levam mais de 80% do dinheiro da pesquisa. E perde. É difícil competir com gente crescida como a USP. A regra do jogo é estabelecida em volta destes grandes centros que copiam centros mundiais. Um professor do Sudeste ou do Sul se formou em Harvard, Stanford, Cambridge aí volta com aquela mentalidade. Quando ele está em um comitê do CNPq a mentalidade dele é produção, produção, produção individual, competição etc. Este é o modus operandi da ciência no Brasil. Aí nós com instituições nascentes e subdesenvolvidas porque estamos começando temos que competir com os grandes centros.
EcoAgência: Quem ganha os recursos para pesquisa no atual sistema?
Antonio Nobre: Quem ganha é quem já tem currículo. Como ele ganha, o currículo dele melhora. O cara do Acre vai continuar na pior. É uma competição desleal. E não é feita por mal. Não estou acusando ninguém da Universidade de São Paulo. Eles são ótimos, gente maravilhosa. Quando começa a pensar uma política nacional, como é a atual proposta do Ministério de Ciência e Tecnologia, os centros de excelência chiam dizendo que tem que dar recurso pra quem tem competência. Mas como é que você se torna competente?
O LBA começa a quebrar esta história da pesquisa expedicionária de Humboldt no século 19, dos naturalistas que vinham até a Amazônia, a hiléia. O que o povo que mora na Amazônia aproveita disto? O povo da Amazônia quer saber o que estas pesquisas trazem de retorno para a região. A Marina Silva tem uma proposta maravilhosa. Existe uma agenda positiva no ar. Mas existe uma competição com o atual modelo de desenvolvimento da Amazônia. Não temos mais ditadura, temos uma democracia com Lula no poder, mas a sociedade brasileira ainda está de costas para a Amazônia. O deslumbramento dos naturalistas é importante. Mas não basta, pois a moto-serra canta dia e noite. É um processo que não pára porque a sociedade é complacente com isso.
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