Nerter Samora
Depois de ceder às pressões de ambientalistas e  ruralistas no Congresso, o governo surpreendeu o mercado político e  rejeitou o acordo firmado entre a bancada governista e a oposição para a  votação do novo Código Florestal na Câmara. A votação, que estava  acertada para a próxima terça-feira (24), pode ser postergada. Apesar da  expectativa de intensificação das negociações durante o final de  semana, o ministro das Relações Institucionais, Luiz Sérgio, foi  tachativo quanto ao texto acordado: “Do jeito que está, esse texto não  passa”, declarou ao jornal Valor Econômico.
Segundo o ministro, o impasse da vez na longa novela  da votação do Código Florestal passa pela emenda – patrocinada pelo  líder peemedebista Henrique Alves (RN) – que autoriza atividades rurais  em beiras de rio. O remendo foi aceito por membros da bancada aliada e  até da oposição, mas enfrentou a resistência da bancada petista. Com  isso, o tema deve encabeçar a pauta das negociações marcadas para este  final de semana.
Entretanto, o ministro disse à publicação que o veto  não significa um novo adiamento da votação no plenário da Câmara. Luiz  Sérgio adiantou que o texto será submetido à avaliação de todos os  ministérios envolvidos na discussão. Isso porque a participação do  peemedebista na costura do acordo privilegiou em quase todos os aspectos  os desejos da banca ruralista. Na avaliação do governo, a emenda premia  quem planta ou cria gado de forma irregular em margens de rios.
Na Câmara, os aliados defendem o acordo e afirmam que  “viraram ao jogo” no que seria uma derrota do Planalto, caso a emenda  da oposição que transferia poderes aos estados fosse aprovada. Em  contrapartida, o governo argumenta com os líderes aliados que a  combinação de um código mais brando e o avanço do desmatamento na  Amazônia Legal destruirá a boa imagem da política ambiental brasileira  no cenário internacional.
As alterações no Código Florestal flexibilizam a  legislação ambiental e colocam em risco a proteção da Amazônia, mata  atlântica, Cerrado e a Caatinga, o que poderá aumentar o desmatamento,  responsável por maior emissão dos gases do efeito estufa – na contramão  dos compromissos internacionais assumidos pelo País. Também incentivam a  ocupação de áreas de risco, como encostas de morros e margens de rios  nas cidades brasileiras, provocando tragédias como deslizamentos de  terra e enchentes.
A maioria dos parlamentares da bancada capixaba no  Congresso Nacional já manifestou interesse em votar de acordo com o  relatório do deputado Aldo Rebelo (PCdoB/SP). Posição contraria à  mobilização de entidades representativas da área ambiental e das duas  principais organizações científicas do Brasil - Sociedade Brasileira  para o Progresso da Ciência (SBPC)  e a Academia Brasileira de Ciências  (ABC). Os dois segmentos criticam as mudanças que irão beneficiar o  agronegócio no País e defendem que o assunto seja tratado sem cunho  político, com numerosos debates, assim como o tema exige.
 
