SABINE RIGHETTI
DE SÃO PAULO
DE SÃO PAULO
Um movimento que começou na Alemanha está ganhando, aos poucos, os corredores acadêmicos. A causa é nobre: mais tempo para os cientistas fazerem pesquisa.
Quem encabeça a ideia é a organização "Slow Science", criada por cientistas gabaritados da Alemanha.
Aderir ao movimento significa não se render à produção desenfreada de artigos em revistas especializadas, que conta muitos pontos nos sistemas de avaliação de produção científica.
Hoje, quem publica em revistas científicas muito lidas e mencionadas por outros cientistas consegue mais recursos para pesquisa. Por isso, os cientistas acabam centrando seu trabalho nos resultados (publicações). "Somos uma guerrilha de neurocientistas que luta para que o modelo midiático de produção científica seja revisto", disse à Folha o neurocientista Jonas Obleser, do Instituto Max Planck, um dos criadores do "Slow Science".
O grupo chegou a criar um manifesto, no final do ano passado, em que proclama: "Somos cientistas, não blogamos, não tuitamos, temos nosso tempo. A ciência lenta sempre existiu ao longo de séculos. Agora, precisa de proteção."
O documento está na porta da geladeira do laboratório do médico brasileiro Rachid Karam, que faz pós-doutorado na Universidade da Califórnia em San Diego.
"O manifesto faz sentido. Temos de verificar os dados antes de tirarmos conclusões precipitadas", analisa. "A 'Slow Science' nos daria tempo para analisar uma hipótese em profundidade e tirar conclusões acertadas."
De acordo com Obleser, o número de cientistas simpatizantes do movimento está crescendo, "especialmente na América Latina".
"Mas não é preciso se filiar formalmente. Basta imprimir o manifesto e montar guarda no seu departamento", diz.
O Slow Science é um braço do já conhecido "Slow Food", que defende uma alimentação mais lenta e saudável, tanto no preparo quanto no consumo dos alimentos.
Na ciência, a ideia é pregar a pesquisa que não se paute só pelo resultado rápido.