quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Preço REAL de um Hambúrguer: 100 Dolares!!



BBC BUSINESS NEWS
14 Junho 2011

Um destacado ambientalista e escritor (do livro Consuptionomics) afirmou que o valor da maior parte dos recursos globais é “totalmente sub-precificado” e, se os custos econômicos e ambientais da produção de carne fossem levados em conta no preço dos alimentos, um hambúrguer valeria cerca de "cem dólares" .

Falando à BBC Business Daily, Chandran Nair disse a Lesley Curwen que o atual modelo asiático para o crescimento econômico está quebrado e é insustentável. Se o desenvolvimento econômico na Ásia deve prosseguir no seu ritmo acelerado, "medidas draconianas são absolutamente necessárias" para combater a deterioração do meio ambiente.

Transcrição da entrevista abaixo.

Chandran Nair:tamanha discussão sobre a mudança do poder econômico do oeste para o leste e grande parte da narrativa é uma narrativa ocidental. E eu argumento que uma espécie de subserviência intelectual da parte de muitos políticos e economistas asiáticos resultou em uma negação da evidência científica de que 5 bilhões de asiáticos em 2050 não poderão viver como vive o americano médio hoje.

Lesley Curwen: Por que não?

Chandran Nair: Simplesmente porque não há o suficiente para o globo. Deixe-me dar um exemplo. Hoje a China já é o maior mercado mundial de automóveis e nível de propriedade por é cerca de 150 carros por mil pessoas. Nos países da OCDE, os níveis são cerca de 800-750 por grupo de mil pessoas, dependendo da fonte consultada. O nível de posse na Índia hoje está em cerca de 50; Os indianos ainda não começaram a dirigir. E as estimativas são de que apenas somando China e Índia, haverá cerca de 1,5 bilhão de carros, o que será três vezes a atual frota mundial de carros.

Lesley
Curwen: Em que ano chegaria a esse nível?

Chandran
Nair: Nos próximos 30 anos. Então, isso simplesmente não é possível, por uma variedade de razões, incluindo precisamente a natureza da capacidade das cidades para acomodar estes quantidade de carros; mas o mais importante é que existem algumas estimativas que vai demorar o envio de petróleo da Arábia Saudita inteira apenas para propelir carros na China e Índia se eles alcançarem estes níveis de propriedade. E eu posso seguir falando sobre a carne e tudo mais.

Lesley
Curwen: Então, e a carne?

Chandran Nair: Bem, o consumo de carne é particularmente interessante, dada a preocupação sobre como a produção de carne é ineficiente em termos de conversão de grãos para carne e da intensidade de uso da água. Mas, novamente, aqui está uma estatística interessante. Os americanos consomem hoje algo como 9 bilhões de aves por ano. A Ásia, com uma população cerca de 10 vezes maior consome hoje cerca de 16 bilhões de aves. Se o consumo asiático de carne aumentar no ritmo da previsão, os asiáticos em 2050 vão consumir algo como 200 bilhões de aves. Isso de novo não vai ser possível porque na jornada a esses níveis de consumo, veremos uma enorme quantidade de colapsos em termos de sistemas ecológicos, nos quais estamos muito dependentes.

Lesley
Curwen: Você está falando aqui, não está, sobre as aspirações das pessoas de fazerem melhor para seus filhos do que eles próprios fizeram. É um impulso humano tão básico. Não é incontrolável?

Chandran
Nair: Você poderia argumentar que é incontrolável e, em seguida, todos nós poderíamos encerrar a conversa de que as mudanças climáticas tornam o mundo um lugar melhor. Se nós não damos a mínima, porque dizemos que a natureza humana é completamente egoísta e incontrolável, então esperemos pelo melhor. Mas esperança não é um plano.

Lesley
Curwen: Se as políticas vão restringir o crescimento econômico na Ásia em particular, então como você consegue que os governos adotem essas [politicas]? Porque com certeza nas democracias as pessoas não vão votar por isso. Seria provável que um país como a China adotasse voluntariamente tais politicas, já que até agora o que temos visto do governo chinês é "tenhamos mais crescimento"?

Chandran Nair: Eu acho que precisamos ir além dessa noção muito simplista sobre o que é crescimento econômico. Acho que o que todos nós estamos interessados ​​é em desenvolvimento. Defendo no livro que na verdade está no interesse dos governos na Ásia começar a resolver esse problema imediatamente. Uma mudança de rumo irá proporcionar-lhes uma melhor oportunidade para elevar a maioria.

Lesley Curwen: Você está dizendo realmente que deve haver limites impostos ao número de pessoas que podem possuir carros nas economias asiáticas, o número de pessoas que podem comer carne, seriam tais medidas aplicáveis?

Chandran Nair: Medidas draconianas são absolutamente necessárias. Nós temos medidas draconianas em muitos aspectos de nossas vidas hoje. Quero dizer que temos medidas draconianas, que não permitem que você e eu –e eu não fumo - fumemos dentro de casa. Alguns governos podem decidir que haveriam restrições à posse carro, o que alguns governos já fazem. Essas intervenções podem ser muito diretas, mas elas podem também vir através de meios fiscais e tributação, etc.

O atual modelo econômico é baseado em uma coisa muito importante que é a subvalorização dos recursos. A maioria dos recursos globais foram completamente sub-precificados e o capitalismo extremo prosperou sorvendo estes recursos. Se você começar precificar as coisas corretamente, então é claro que a carne vai ser comida, mas as pessoas vão pagar um preço adequado por ela.

Eu argumentaria, como alguns economistas que começaram a olhar para esta questão têm sugerido, que o preço de um hambúrguer que eu acho, e eu não como hambúrgueres, varia de 3 a 4 dólares; que o preço real se você tiver computado o custo econômico real das externalidades, seria algo como US$ 100. Então claramente o primeiro passo em tudo isso é precificar externalidades corretamente.

Lesley Curwen: Se você restringir o crescimento no local com o mais rápido crescimento da economia global, o que isso significa para todos nós no final?

Chandran Nair: Esta é realmente a questão crítica, a narrativa fabricada em torno das questões de limites de recursos, das alterações climáticas, etc, sugeriria que de alguma forma os mercados livres, a tecnologia e as finanças irão resolver estes problemas.

Uma das coisas que me provocaram a escrever o livro foi, e acho que isso vai direto ao coração da questão. Quando a crise financeira estourou, você vai se lembrar que a insistência da maioria das economias ocidentais e governos foi pedir aos asiáticos para consumir. Ao mesmo tempo, estávamos sendo informados que a mudança climática é provavelmente o maior desafio que a humanidade enfrenta. Qualquer pessoa inteligente sabe que você não pode reconciliar o pedido a bilhões de asiáticos para que consumam mais, como os americanos e, ao mesmo tempo lidar com as mudanças climáticas.

Entrevista com o autor do Livro 
Consumptionomics: Asia's Role in Reshaping Capitalism and Saving the Planet. by Chandran Nair [encontrável no Amazon.com]

Sobre Chandran Nair