Na  Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, em  Piracicaba, pesquisa demonstra a influência da largura e da conservação  da mata ciliar em torno de rios e nascentes na qualidade do solo e da  água para cultivos agrícolas. 
O estudo de Renata Santos Momoli aponta  que águas contaminadas por agrotóxicos, sedimentos e esgoto se tornam  inadequadas para o uso humano e nascentes soterradas reduzem o volume  dos rios e comprometem a oferta de água. Florestas degradadas tornam-se  ambientes inóspitos para diversos animais importantes na cadeia  alimentar e expõem o solo às intempéries do clima, favorecendo a erosão.  Os solos erodidos perdem sua fertilidade natural e modificam o  equilíbrio dos ecossistemas.
A pesquisadora estudou a área do Cerrado  brasileiro, por ser considerado uma região de expansão agrícola onde,  teoricamente, os níveis de erosão são baixos e os solos são aptos à  agricultura. “Porém, por tratar-se de uma região que sofre incidências  de chuvas muito fortes e solos expostos pelo desmatamento, observou-se a  perda da camada superficial e mais fértil do solo, abertura de  voçorocas efêmeras e permanentes, deposição de sedimentos nas áreas mais  baixas do relevo e assoreamento das nascentes pelo processo erosivo”,  destaca. O estudo da dinâmica da sedimentação numa mata ciliar da região  sul do estado de Goiás resultou numa interpretação mais integrada do  ambiente para a proposição das dimensões que a mata ciliar deve possuir  para promover a interceptação dos sedimentos derivados da erosão das  áreas à montante.
Registros de 18 meses de observações  revelaram que a maior parte da sedimentação ocorreu na borda da mata  ciliar, sendo que em alguns pontos houve um aumento de mais de 35 cm no  nível do solo, decorrente da deposição de sedimentos potencializada pela  presença de grandes sulcos de erosão na área com cultivo agrícola. Além  do mais, no interior da mata ciliar, alguns locais também apresentaram  níveis acima de 30 cm de sedimentação, nesse caso, a sedimentação foi  favorecida pela presença de árvores com raízes tabulares, as quais  “barram” o fluxo de sedimentos, retendo ali, grande quantidade de  material sólido transportado na enxurrada. Utilizando as árvores da mata  ciliar como indicador da espessura do depósito de sedimentos ao longo  do tempo foi possível a constatação de que grande parte de deposição de  sedimentos (ao redor de 30 cm de altura) ocorreu nos últimos dez anos.
O fato confirma a grande proporção do  impacto negativo da ocupação agrícola em áreas sensíveis como as zonas  ripárias. Já em projetos de restauração de Áreas de Preservação  Permanentes (APPs) de mata ciliar deve ser considerado o uso de espécies  arbóreas com raízes tabulares, pois as mesmas potencializam o efeito de  filtro da floresta. O estudo ainda sinaliza que é interessante incluir  no reflorestamento espécies que possuam anéis de crescimento bem  demarcados pois podem, futuramente, servir como indicadores de  alterações ambientais como, por exemplo, a datação de processos de  erosão/sedimentação com resolução anual. “Esse estudo comprovou que  grande parte do sedimento que se deposita na borda da mata ciliar  recobre as diversas nascentes que ali afloram. Esse processo de  assoreamento propicia o secamento das nascentes e a redução na produção  de água”, explica a pesquisadora.
Conservação
Um conjunto de práticas de manejo  conservacionistas (PMC), que visam à redução dos impactos causados pela  erosão, são sugeridos no estudo. As PMCs englobam a cobertura do solo  (por meio da palhada de plantio direto ou adubos verdes), o plantio em  nível, a construção de terraços de infiltração e drenagem, o plantio de  faixas ou cordões de vegetação para reduzir a velocidade da enxurrada e a  preservação e recuperação da mata ciliar – APPs de beira de rios e ao  redor de nascentes.
De acordo com a doutoranda, deve haver  um esforço conjunto entre produtores rurais, pesquisadores e políticos  no intuito de manter o equilíbrio do ecossistema para promover a  perpetuidade da produtividade agrícola. “A proposta de redução da  largura das matas ciliares (APPs de beira de rio e ao redor das  nascentes) implica no comprometimento da longevidade do sistema agrícola  no país”, alerta. ”A manutenção da floresta ao redor de rios e  nascentes promove o aumento na qualidade de recursos naturais, como água  e solo. A proteção dada pela copa das árvores, por exemplo, reduz o  impacto da chuva sobre o solo, reduzindo a erosão. A presença de caules e  raízes de árvores favorece a retenção da maior parte dos sedimentos na  borda da mata, protegendo as nascentes que se encontram no interior da  mata ciliar”.
A  pesquisa conclui que é essencial que seja mantida a legislação sobre  largura da mata ciliar até que estudos mais detalhados sobre a  interpretação integrada do ambiente possam ser produzidos. A aprovação  da redução da largura das APPs provocará o acúmulo de sedimentos sobre  as nascentes e permitirá o fluxo livre da enxurrada até o leito dos  rios. Como conseqüência desse processo, aumenta a carga de sólidos em  suspensão e aumenta a sedimentação. A sedimentação tem como conseqüência  o assoreamento dos rios e das nascentes.
O assoreamento favorece a ocorrência de  inundações severas nas margens dos rios, ou seja, a redução da largura  da mata ciliar resultará em impactos negativos cada vez mais intensos,  maiores inundações, maiores níveis de sedimentação soterrando nascentes.  Por isso, reduzir a largura das APPs de beira de rios e nascentes  resultará no comprometimento da qualidade do solo, da água e dos  ecossistemas.  A pesquisa de Renata é descrita em tese de Doutorado  apresentada no Programa de Pós-graduação em Solos e Nutrição de Plantas,  sob orientação do professor Miguel Cooper, do Departamento de Ciência  do Solo (LSO), da Esalq. Com informações da Agência USP.
 
