sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Mudar código florestal é buscar catástrofes

 Miriam Leitão
Eu conversei ontem com um conservacionista para ajudar a ilustrar nosso debate sobre essa tragédia que estamos vivendo. Miguel Milano, engenheiro florestal, acabou de fazer uma viagem de 5 mil quilômetros pelo interior do Brasil, pegando as pequenas rodovias. Ele ficou impressionado com o que viu. Disse que morros estão se desfazendo em erosão, porque não se respeita a lei. É preciso ter vegetação em áreas de declive, reserva legal, mata ciliar nos rios.
Contou também que lembrou o que estudou na faculdade: a diferença entre o pico da cheia e o da secas nas áreas vegetadas é de sete vezes; no caso das degradadas, 20 vezes. A água cai em área devastada com mais violência. As árvores também transpiram, bombeando parte da água para a atmosfera. Por isso que é preciso ter reserva florestal, faz parte dessa lógica do planeta.
Ele descreve um quadro de contratação de catástrofe pelo interior do Brasil todo e, nesse momento, o país está discutindo no Congresso a mudança do código florestal, que sugere uma redução de áreas de preservação permanente, de beiras de rio, de reserva legal em todos os biomas.
Vai na direção contrária do que tem de ser feito. Temos de obrigar o respeito a lei, em vez de tentar flexibilizá-la num momento em que os climatologistas nos dizem que tudo vai piorar. Está nas mãos do Congresso decidir se vamos caminhar na direção da catástrofe, aprovando esse relatório da mudança do código, ou recusar essa insensatez. Queremos caminhar para contratar mais dor, mais sofrimento? É preciso aumentar a proteção, não reduzi-la.