Nota: O jornal O Estado de Sao Paulo nao registra para a historia uma conduta completamente isenta, progressiva ou mesmo de firme compromisso com os interesses maiores da sociedade. Nao foram poucas as situacoes em que este jornal defendeu interesses de retrogradas oligarquias rurais, entre outras missoes menos nobres. No entanto, o compromisso deste blog eh com a verdade, independentemente de onde ela possa aparecer. E para minha surpresa, arroubos de verdade apareceram em editorial do dito jornal, que reproduzo abaixo. Na sequencia deste, tomei a liberdade de colocar duas posicoes criticas ao mesmo, que nao desmerecem o teor deste, mas questionam exatamente a isencao e a gritante falta de isonomia politica do jornal.
09 de setembro de 2010 | 0h 00
Editorial em O Estado de S.Paulo
Tão profícua tem sido a atuação do presidente Lula na desmoralização das mais importantes instituições do Estado brasileiro, que se torna missão complexa avaliar o que efetivamente tem sido realizado nesse campo, aí sim como nunca antes neste país. Como a lista é longa, melhor ficar nos exemplos mais notórios.O presidente Lula desmoralizou o Congresso Nacional ao permitir que o então chefe de seu Gabinete Civil, o trêfego José Dirceu, urdisse e implantasse um amplo esquema de compra de apoio parlamentar - o malfadado mensalão. Essa bandidagem custou ao chefe da gangue o cargo de ministro. Mas seu trânsito e influência dentro do governo permanecem enormes, com a indispensável anuência tácita do chefão.
Denunciado o plano de compra direta de apoio de deputados e senadores, o governo petista passou a se compor com toda e qualquer liderança disposta a trocar apoio por benesses governamentais, não importando o quanto de incoerência essas novas alianças pudessem significar diante do que propunha, no passado, a aguerrida ação oposicionista de Lula e de seu partido na defesa intransigente dos mais elevados valores éticos na política. Daí estarem hoje solidamente alinhadas com o governo as mais tradicionais oligarquias dos rincões mais atrasados do País - os Sarneys, os Calheiros, os Barbalhos, os Collors de Mello, todos antes vigorosamente apontados pelo lulo-petismo como responsáveis, no mínimo, pela miséria social em seus domínios. Essa mudança foi recentemente explicada por Dilma Rousseff como resultado do "amadurecimento" político do PT.
O presidente Lula desmoralizou a instituição sindical ao estimular o peleguismo nas entidades representativas dos trabalhadores e, de modo especial, nas centrais sindicais, transformadas em correia de transmissão dos interesses políticos de Brasília.
O presidente Lula tentou desmoralizar os tribunais de contas ao acusá-los, reiteradas vezes, de serem entrave à ação executiva do governo por conta do "excesso de zelo" com que fiscalizam as obras públicas.
O presidente Lula desmoralizou os Correios, antes uma instituição reconhecida pela excelência dos serviços essenciais que presta, ao aparelhar partidariamente sua administração em troca, claro, de apoio político.
O presidente Lula desmoralizou o Tribunal Superior Eleitoral, e, por extensão, toda a instituição judiciária, ao ridicularizar em público, para uma plateia de trabalhadores, multas que lhe foram aplicadas por causa de sua debochada desobediência à legislação eleitoral.
Mas é preciso reconhecer que pelo menos uma lei Lula reabilitou, pois andava relegada ao olvido: a lei de Gerson. Aquela que, no auge do regime militar e do "milagre brasileiro", recomendava: o importante é levar vantagem em tudo. Esse sentimento que o presidente nem tenta mais disfarçar - tudo está bem se me convém - só faz aumentar com o incremento de seus índices de popularidade e sinaliza, por um lado, a tentação do autoritarismo populista, enquanto, por outro lado, estimula a erosão dos valores morais, éticos, indispensáveis à promoção humana e a qualquer projeto de desenvolvimento social.
O presidente vangloria-se do enorme apoio popular de que desfruta porque a economia vai bem. Indicadores econômicos positivos, desemprego menor, os brasileiros ganhando mais, Copa do Mundo, Olimpíada. É verdade, mesmo sem considerar que Lula e o PT não fizeram isso sozinhos, pois, embora não tenham a honestidade de reconhecê-lo, beneficiaram-se de condições construídas desde muito antes de 2002 e também de uma conjuntura internacional política e, principalmente, econômica, que de uma maneira ou de outra acabou sendo sempre favorável ao Brasil nos últimos anos.
Mas um país não se constrói apenas com indicadores econômicos positivos. São necessárias também instituições sólidas, consciência cívica, capacidade cidadã de avaliar criticamente o jogo político e as ações do poder público. Nada disso Sua Excelência demonstra desejar. Oferece, é verdade, pão e circo. Não é pouco. Mas é muito menos do que exige a dignidade humana, senhor presidente da República!
Comentario de um colega sobre a materia:
Nao apoio o PT, nao voto no PT. Mas o Estado eh um jornal abertamente conservador e de direita.
Sim, tudo que esta escrito eh verdade no editorial. Porem, para ser justo e equilibrado, substitua Lula por FHC no texto. Vera que quase tudo se aplica aa perfeicao. Substiua os exemplos de escandalos do Lula por outros escandalos do governo FHC (estritamente falando mensalao e compra de votos descarada para a aprovacao da reeleicao sao do mesmo grau de seriedade: corrupcao institucional da pior especie anti-democratica). FHC tambem cooptou e apoiou a criacao da pelega Força Sindical. Tambem bajulou e trabalhou com quase todos os corruptos citados na materia (menos Collor que estava com direiros politicos cassados). Ainda que tivesse pose de intelectual, FHC praticou uma politica populista. A historia das privatizacoes entraria em qualquer livro texto sobre corrupcao, nao diferente da corrupcao entranhada do governo Lula.
Realmente, nao me lembro se o Estadao publicou materia semelhante sobre FHC.
Em resumo, qualquer analise isenta mostra que sao todos farinha do mesmo saco. Infelizmente.
Sim, tudo que esta escrito eh verdade no editorial. Porem, para ser justo e equilibrado, substitua Lula por FHC no texto. Vera que quase tudo se aplica aa perfeicao. Substiua os exemplos de escandalos do Lula por outros escandalos do governo FHC (estritamente falando mensalao e compra de votos descarada para a aprovacao da reeleicao sao do mesmo grau de seriedade: corrupcao institucional da pior especie anti-democratica). FHC tambem cooptou e apoiou a criacao da pelega Força Sindical. Tambem bajulou e trabalhou com quase todos os corruptos citados na materia (menos Collor que estava com direiros politicos cassados). Ainda que tivesse pose de intelectual, FHC praticou uma politica populista. A historia das privatizacoes entraria em qualquer livro texto sobre corrupcao, nao diferente da corrupcao entranhada do governo Lula.
Realmente, nao me lembro se o Estadao publicou materia semelhante sobre FHC.
Em resumo, qualquer analise isenta mostra que sao todos farinha do mesmo saco. Infelizmente.
E para completar minha resposta a este comentario:
Achei tao fidedigna a descricao do editorial que postei no meu blog. Mas Vc tem inteira razao em teu comentario. Acho que a malfadada obra prima de Maquiavel, o Principe, explica porque estes governantes adotam o pragmatismo amoral. Alias, no livro do FHC, a historia que vivi, o segundo capitulo tenta encontrar um fundamento filosofico para justificar o que ele chama de a inevitabilidade de aceitar a etica de resultados (ou a correcao moral de demolir a etica de principios), um nojo intelectual completo. Alias, comentei isso com a Marina, e lhe perguntei qual sua posicao, como defenderia principios se chegasse no governo. A resposta dela me pareceu interessante, mais ou menos nestas linhas "os principios cada um tem os seus, eh de onde partimos. Mas para governar eh preciso ter valores que vao alem dos principios, e estes a gente constroi junto com a sociedade". Se entendi bem, ela diz que alguns principios individuais podem conflitar com principios de outras pessoas, e na sociedade eh preciso compatibilizar as vontades e as perspectivas baseados em valores construidos, que podem ter raizes nos principios e serem de dimensao universal (seguir as leis da natureza, por exemplo).