| Segunda, 26 Abril 2010 02:14 | |
|  Correio da Cidadania  [Valéria Nader e Gabriel Brito] - Projetada no governo Geisel, a usina  hidrelétrica de Belo Monte, bandeira energética do governo Lula, tem  vivido um espetáculo da mais pura improvisação. Após incessantes decisões judiciais  contra e a favor da obra, o leilão que consagrou o consórcio liderado  pela Queiroz Galvão e Chesf durou apenas sete minutos, sobrepondo-se à  notificação da justiça que o suspendia. Logo depois, a Queiroz decidiu  abandonar o empreendimento, acontecimento inédito em leilões do gênero.  Para finalizar, alguns perdedores poderão participar do empreendimento,  não como sócios principais, mas nas obras de construção da usina, vez  que o projeto está envolto em uma série de dúvidas relativas aos custos a  serem incorridos. Já há uma fila de empreiteiras interessadas. É o  cabaré da energia elétrica. Para tratar deste que é um dos assuntos mais polêmicos dos oito anos do PT no poder, o Correio da Cidadania conversou com o professor do Instituto de Eletrotécnica e Energia da USP, Célio Bermann.  Bermann não poupou críticas, de todos os matizes, a um projeto que foi  imposto contra a vontade das populações, através de caricaturais  audiências públicas e fictícias referências de custo. Para Bermann, a explicação para a  obsessão por Belo Monte é a aliança Lula-Sarney, que abarca figuras  historicamente ligadas ao setor eletro-intensivo, de forma a manter a  subordinação da política energética nacional aos interesses de grandes  corporações econômicas. Desse modo, estaríamos vendo o início de uma  radicalização na apropriação das riquezas do território amazônico, que  só pode gerar trágicas conseqüências ambientais e sociais. Correio da Cidadania: Que  balanço você faz da trajetória do projeto de Belo Monte, com toda a  disputa política e guerra judicial que cercam o projeto? Como avalia o  resultado do leilão, que culminou com a desistência dos principais  concorrentes, a Odebrecht e a Camargo Corrêa, tudo indicando que o  projeto deverá ser encampado pelo governo? Célio Bermann: Primeiramente, eu não  classificaria o resultado do leilão como uma vitória. Aconteceu que,  apressadamente, a partir de novembro passado, o governo empurrou de  forma obsessiva o projeto Belo Monte. O resultado indica o seguinte: em  primeiro lugar, o projeto será bancado única e exclusivamente pelo  dinheiro público, através, primeiramente, do financiamento do BNDES, que  deverá comparecer com 80% dos 19 bilhões de reais que custará a obra –  custo que, no entanto, as construtoras e fabricantes de equipamentos  eletro-mecânicos dizem não ser inferior a 30 bilhões. Outro fato é que o consórcio vencedor é  fundamentalmente formado por empresas públicas, estatais, o que se  verifica na medida em que a Chesf representa 50% da composição acionária  e o governo pretende também incorporar ao projeto, de forma efetiva, a  participação acionária da Eletronorte, que por sua vez vai gerir a  hidrelétrica. É toda uma engenharia financeira baseada fundamentalmente  em renúncia fiscal exacerbada, com todas as conseqüências à população e  aos contribuintes. Dessa forma, estamos na iminência de  assistir a um dispêndio de dinheiro público a ser administrado de forma  absolutamente incompetente, porque o preço vencedor é totalmente  fictício, uma vez que não é possível remunerar tal investimento com uma  tarifa de 78 reais por cada 1000 kW/h. Isso significa que, mais uma vez, haverá  necessidade - para compensar os prejuízos, que serão assumidos  principalmente pelas empresas estatais - de recorrer ao Tesouro Nacional  a fim de se garantir que a energia seja suprida, principalmente para  reproduzir e confirmar (e essa é a maior característica do projeto de  Belo Monte) o modelo de apropriação do território amazônico, baseado na  tomada de seus recursos naturais, de sua água, seus rios, para  proporcionar a expansão de bens de alto conteúdo energético e baixo  valor agregado. Ou seja, faço referência às indústrias  minero-metalúrgicas, de minério de ferro, bauxita e também sua primeira  transformação, em aço e em lingote de alumínio. Essa forma de "promover" o  desenvolvimento da região amazônica e do país é absolutamente lesiva aos  interesses da população brasileira. CC: Além de perseguir um modelo  de desenvolvimento inadequado sob os aspectos social e ambiental e dos  custos elevadíssimos, o projeto é também criticado pela sazonalidade da  usina no suprimento da energia e pelas incertezas geotécnicas que  envolvem a obra. O que você acrescentaria a estes pontos que são  destacados como grandes óbices para a efetivação desse empreendimento? CB: Além da já mencionada questão da  engenharia financeira, a idéia de que é preciso uma hidrelétrica para  resolver o problema de habitação e infra-estrutura de uma cidade, de uma  região, também aponta uma maneira absolutamente equivocada de entender  os projetos de geração de eletricidade. O principal benefício argumentado pelo  governo é prover habitações de alvenaria e melhorias de saneamento,  tratamento de água e esgoto para Altamira e região. Isso significa  passar a responsabilidade das políticas públicas, que necessariamente  devem ser assumidas pelos escalões da administração municipal, estadual e  federal, para o empreendimento. Significa também a procura do governo  por uma legitimação política, principalmente junto à população local mal  informada. CC: O que pensa sobre a  avaliação de estudiosos de que o empreendimento de Belo Monte, com as  reformulações pelas quais passou desde seu formato original, quando  ainda era a usina de Kararaô, terá um impacto significativamente menor  sobre o meio ambiente? CB: O que aconteceu, em minha  compreensão, foi que efetivamente houve a tentativa de levar em  consideração o problema da amplitude do reservatório na concepção do  projeto, com o artifício da construção de canais. Serão construídos dois  canais de medidas significativas, de forma a comportar o volume de água  que inicialmente estava estabelecido e ocuparia toda a região. Com  isso, reduziu-se pela metade o reservatório, que antes era de 1200km². Um problema significativo é que o Estudo  de Impacto Ambiental (EIA) indica um reservatório de 400 km², enquanto o  edital do leilão apontava um reservatório da ordem de 600 km². Aí  também havia uma brecha por onde se poderia justificar o cancelamento do  empreendimento, por não reconhecer o que tinha sido referência para a  discussão ambiental. Se efetivamente haverá o aumento do reservatório,  problemas sócio-ambientais de maior monta serão revelados. Portanto,  seria fundamental reavaliar o projeto. Mas o problema maior é que, na medida em  que o projeto procurou reduzir as resistências ambientais, ao mesmo  tempo em que manteve o dimensionamento da obra, ocasionou uma concepção  absolutamente equivocada, que já determina sua ineficiência. Agora ele está nas mãos de empresas  estatais, pois as privadas saíram e não participam da tomada de  empréstimos e dos investimentos, o que manteve a concepção de  superdimensionamento da usina, de 11,2 mil mW, quando na verdade essa  energia só estará disponível durante três meses ao ano. E haverá  períodos de estiagem, entre setembro e outubro, nos quais a capacidade  de geração se reduzirá a 1080 mW. Frente a esse fato, o governo passou a  trabalhar com a noção de ‘média de energia’, em torno de 4000, 4500 mW  ao longo do ano, o que é uma maneira enganosa de caracterizar o  empreendimento. A energia que estará garantida, independentemente do  regime hidrológico, é de apenas 1000, 1100 mW. O restante da energia  disponibilizada terá valor comercial menor. Dessa forma, as empresas estatais (que  deveriam ser públicas, mas não são) vão arcar com esse enorme prejuízo,  que vai cair no bolso do brasileiro, e assim assistiremos ao prenúncio  do processo de expansão do capital internacional na Amazônia:  predatório, sem levar em consideração o interesse da população  brasileira, especialmente as ribeirinhas, indígenas e tradicionais,  fatalmente seguido da solicitação de construção de outras três usinas  rio acima para melhorar a eficiência da usina e aumentar a  disponibilidade hídrica, embora o governo indique que isso não  acontecerá. No entanto, aponto como inexorável a necessidade de  construção de outras usinas a montante, aí sim passando diretamente  pelas populações da bacia do Xingu. CC: Por que este governo é tão  determinado em dar início a um projeto de custo elevadíssimo, em um país  com variadíssimo potencial energético e com toda a resistência de  entidades ambientalistas e movimentos sociais, inclusive com grande  repercussão internacional? A quem se destina prioritariamente os  benefícios desse projeto? CB: Precisamos realmente qualificar que  governo é esse que leva adiante de forma obsessiva o empreendimento,  malgrado todas as análises críticas de movimentos sociais,  ambientalistas, de acadêmicos e cientistas que fizeram aquele painel de  especialistas para elaborar uma avaliação crítica aos estudos ambientais  e à construção. É preciso lembrar que essa obra é um  arranjo político que constitui a expressão e significado do governo  Lula-Sarney. Eis a referência que aponto. O governo lulo-sarneysista tem  interesses históricos na viabilidade de Belo Monte; todo o Ministério  das Minas e Energia e a Eletrobrás de hoje estão constituídos pelos  chamados homens-Sarney. São a esses, que mantêm relações históricas de  privilégios com o setor eletro-intensivo, e às empresas  minero-metalúrgicas, que politica e economicamente satisfaz um  empreendimento dessa ordem. Para o governo Lula e a candidatura  Dilma fica o equívoco de identificar o projeto Belo Monte como  estratégico, prioritário do PAC. Foi um equívoco determinado pela  política de aliança do governo Lula. Em minha opinião, esse erro pode gerar,  em função das repercussões, uma insatisfação da sociedade e das  populações locais em relação à condução do processo, fragilizando a  própria candidatura. Eu analiso que Belo Monte, da forma como foi  açodadamente conduzido, pode significar o cadafalso da candidatura  Dilma. CC: Vários estudiosos da área  elétrica defendem, no entanto, o projeto como uma forma de aproveitar o  potencial hidrelétrico brasileiro, já que o Brasil só teria utilizado  até agora um terço desse grande potencial de energia limpa, proporção  bem inferior à média dos países desenvolvidos. Qual a sua opinião quanto  a esta avaliação? CB: Essa percepção da hidroeletricidade  de nosso país precisa ser redefinida. Nós temos hoje uma dependência  excessiva da hidroeletricidade amazônica. O fato de mais de 50% de nosso  potencial hidrelétrico estar localizado naquela região não significa,  em absoluto, que todos os rios da Amazônia precisam ser transformados em  jazidas de megawatts. Tanto o projeto de Belo Monte como as  usinas Santo Antônio e Jirau, do Rio Madeira, apontam a idéia que marca o  pensamento elétrico, de se otimizar o aproveitamento energético  desconsiderando as questões ambientais e sociais. E eventualmente, como  em Belo Monte, procurando incorporar algumas dessas questões, mas  mantendo a concepção de geração energética. Isso indica que não há  compatibilidade entre preocupação ambiental, justiça social e o  pensamento hegemônico de conduzir os projetos hidrelétricos da forma que  vemos. Em relação aos apoiadores da expansão  hidrelétrica, devo dizer algo, sobre o qual Belo Monte é simbólico:  primeiramente, a energia hidrelétrica ficará cada vez mais cara. Se  levarmos em consideração a ordem e grandeza de 30 bilhões de reais de  investimento, significa que o kilowatt instalado em Belo Monte está  alcançando 2700 reais, cerca de 1500 dólares por kilowatt instalado,  basicamente. Internacionalmente, o preço do kilowatt hidrelétrico  instalado é de 1000 dólares. Estamos fazendo uma usina cara,  contrariando a informação do governo e seus apoiadores de que se trata  de projeto extremamente favorável no que se refere à relação  custo/investimento e benefício. Em segundo lugar, há o problema do  destino da energia. Ela não será destinada às necessidades e  requerimentos da população brasileira, não será voltada à melhoria de  suas condições de vida no dia-a-dia e ao aumento da oferta de energia a  essas pessoas. CC: Segundo ainda esses mesmos  estudiosos, fontes de energia alternativa, como eólica, solar, podem,  sem dúvida, complementar a necessidade de suprimento, em vista de nosso  variado potencial energético, mas não conseguiriam suprir  significativamente as demandas de nossa matriz energética. O que você  teria a dizer sobre essas energias alternativas? CB: Essas outras fontes poderiam ter um  aproveitamento melhor, como a biomassa também, o que poderia ser um  complemento às fontes tradicionais, mas ainda se tem a compreensão de  que são caras demais para receber investimento. Mas é extremamente importante, antes de  tudo, ressaltar alguns pontos. Um deles é a redução da perda de energia  do sistema termelétrico: de acordo com dados do próprio governo, temos  no Brasil uma perda da ordem de 15% do momento em que a energia é  gerada, entra no sistema de transmissão, depois passa pela distribuição,  até chegar à tomada dos consumidores. Sem esquecer das características de  prioridade à fonte hidráulica, não podemos imaginar reduzir essa perda  ao que hoje é a média em países da Europa, Japão, EUA, onde ela fica em  torno de 8%. Mas poderíamos imaginar reduzir as perdas a cerca de 10%.  Daria pra ganhar 5% do que é gerado, disponibilizando esse montante para  o consumo. Tal investimento é bem menor que a construção de uma nova  usina. Ao mesmo tempo, considero o fato de que o  sistema hidrelétrico nacional apresenta condição diferenciada daquela  existente nos locais citados, cuja matriz energética é extremamente  dependente de usinas a carvão e gás natural, localizadas mais próximas  do centro de carga e dos consumidores, o que possibilita uma menor perda  também. A distância entre o local de geração e de consumo é  determinante para operacionalizar um programa desse tipo. Por isso, em  minha opinião, considerando as grandes linhas de transmissão do Brasil,  levando energia elétrica de usinas hidrelétricas distantes do centro de  carga e dos locais de consumo, nossa característica possibilitaria  trabalhar com a redução de perdas, o que é uma conta teórica, mas que  poderia levar a uma economia equivalente a dois terços do que se produz  de energia em Itaipu. Outra alternativa, para a qual chamei  particularmente a atenção em 2004, e que teve resposta do governo apenas  no ano passado, é a repotenciação de usinas hidrelétricas que operam há  mais de 20 anos. Mas, nesse estudo feito pelo governo, a EPE – Empresa  de Planejamento Energético - procura reduzir as conseqüências da  repotenciação vistas historicamente e acaba super-dimensionando a  capacidade de geração do parque hidrelétrico atual. Com isso, apontam  uma escala de ganho extremamente reduzida por meio da repotenciação. Neste momento, estou envolvido num  trabalho de investigação e pesquisa junto a uma empresa de geração do  estado de São Paulo para definir concretamente as possibilidades de  redução de perdas nas usinas que operam hoje, de modo a conseguir  aumento de energia por meio da repotenciação. Espero que esse trabalho  se transforme numa discussão teórica, baseada em ganhos advindos da  repotenciação e, por outro lado, em questionamentos sobre o  super-dimensionamento do atual parque hidrelétrico por parte do governo.  Espero reunir elementos suficientes para, de forma concreta, indicar as  possibilidades que a repotenciação pode trazer. CC: Todas essas possibilidades  juntas não alcançariam o potencial elétrico que se projeta para Belo  Monte de modo bem menos lesivo ao meio ambiente e à população? Por outro  lado, até que ponto suprir esse potencial elétrico supostamente  originário de Belo Monte é o foco que deve acompanhar as preocupações de  uma política energética e de um modelo de desenvolvimento? CB: Todas essas alternativas não  substituem as grandes usinas hidrelétricas produtoras de grandes blocos  de energia, como Belo Monte. Uma energia que, no entanto, é voltada a  satisfazer as necessidades e requerimentos do processo eletro-intensivo. As formas alternativas de energia têm  como foco principal trazer benefícios não concentrados em um ou outro  setor da economia, e com isso há a necessidade de discutir o modelo de  acumulação que vigora em nosso país. O modelo de desenvolvimento no qual  estamos hoje assentados, de meros produtores de bens primários de alto  conteúdo energético e baixo valor agregado, não representa um Brasil  forte em termos de produção, geração de renda e geração de energia. Pelo  contrário, esse modo de apropriação dos recursos naturais em favor de  poucos apenas representa e indica que o governo Lula-Sarney faz essa  construção em subordinação aos interesses financeiros internacionais. Trata-se de uma visão equivocada, de que  a disponibilidade energética conduz necessariamente ao desenvolvimento.  As conseqüências inelutáveis serão a degradação ambiental e o  acirramento da crise social. CC: É possível projetar o  tamanho do custo ambiental da obra? Seria digno de contestação não  apenas nacional, como também internacional? CB: Embora tenha sido propagandeado que  era da ordem de 1,5 bilhão de reais, o custo ambiental não teve uma  contabilidade de fato, não foram citados os parâmetros para se chegar a  tal resultado... A discussão histórica é de que os  empreendedores que vão tocar a obra vão buscar reduzir custos. E a  procura por redução de custos se dará principalmente sobre as dimensões  sociais e ambientais. Mesmo que tais valores projetados se confirmem, só serão verificados no futuro. CC: E quanto ao custo social,  considerando todo o deslocamento das populações tradicionais, indígenas e  ribeirinhas, qual a sua avaliação? Será tão desastroso como no caso de  Tucuruí? CB: O problema é que não se trata, como  se pensa, de dar a essas populações opções de uma casinha ou algo assim.  O que acontece historicamente é que cerca de 80% das populações  atingidas por obras hidrelétricas do país não receberam nenhum tipo de  indenização. Vamos imaginar que o empreendimento  consiga fazer alguma forma de ressarcimento à população. O problema  reside em que o levantamento do EIA – Estudo de Impacto Ambiental -  subestima a população, o que já mostra o problema de se levar em conta o  custo real do deslocamento dessa população a partir de uma obra desse  porte, ainda mais na região amazônica. É o mesmo que se viu em Tucuruí e  se vê agora em Porto Velho (por conta das usinas do Rio Madeira), casos  em que o contingente de pessoas atraídas pela busca de emprego não será  absorvido, pois a obra fica preferencialmente com a mão-de-obra  qualificada. E essa população é mão-de-obra desqualificada, que não  dispõe de programas de qualificação previstos nos projetos. A questão social, acrescentada ao fato  de que a população atraída vai demandar equipamentos sociais, moradia,  educação, não está contemplada no investimento, não está valorada, e irá  se constituir numa conta não assumida pelo empreendedor. CC: Acredita que toda a contenda  em torno da construção, ou não, da usina pode ensejar novas lutas por  direitos de povos indígenas, tradicionais e locais, enfim, minorias que  habitam terras muito cobiçadas em nosso país por suas riquezas naturais? CB: A perspectiva de ampliação do  processo político de contestação certamente existe. O problema é saber  as conseqüências que irá trazer. A depender destas conseqüências, vai  ser redefinida a forma como os interesses das populações são, ou não,  incorporados ao processo de discussão e de investimentos. Em minha opinião, a natureza de tais  empreendimentos, com sua subordinação aos interesses do capital  internacional, determina que esta é uma luta inglória, isto é, existe  uma insatisfação popular muito grande, mas que, a meu ver, não abrirá  espaço para que populações tradicionais interfiram nas decisões. Quero dizer que não há compatibilidade entre o exercício democrático e a concepção desses empreendimentos. Eles são excludentes. CC: Qual será, de todo modo, o  final dessa contenda a seu ver? A luta de ambientalistas e populações  atingidas conseguirá barrar a obra? Ou, por outro lado, o governo pode  acabar engavetando ou adiando o projeto em vista de todo o desgaste  gerado pela construção da usina, o qual pode ser utilizado inclusive  eleitoralmente pela oposição? CB: O problema é que, nas atuais  circunstâncias, o governo conta com a irreversibilidade do processo. Eu  esperava que a lógica prevalecesse, e foi o que aconteceu. Dessa forma,  não posso levar em consideração a incerteza do que pode acontecer. Vai existir incerteza tanto em relação  ao empreendimento como no que se refere à contestação política ao  resultado do leilão. Isso vai trazer um desgaste muito grande à  candidatura do governo, mas tais possibilidades não nos permitem apontar  de forma conclusiva o desfecho. Porém, qualquer que seja, o desgaste é  enorme e pode representar a fragilização da candidatura Dilma. Valéria Nader, economista, é editora do Correio da Cidadania; Gabriel Brito é jornalista. | |
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