Coletânea de artigos selecionados por sua veracidade e importância para as questões ambientais no Brasil e no Mundo.
quarta-feira, 21 de outubro de 2009
ALAVANCA PARA UM PAÍS MAIS SUSTENTÁVEL
Hoje, vou fazer uma recomendação de leitura.
É possível construir uma economia verde, inclusiva e responsável e explorar petróleo ao mesmo tempo?
Sim e, agora, um artigo publicado em livro recém-lançado pela editora Campus explica como. O livro se chama Brasil pós-crise - Agenda para a próxima década, organizado pelos economistas Fábio Giambiagi e Octavio de Barros; o artigo é *A sustentabilidade no Brasil*, escrito por Sérgio Besserman, José Eli da Veiga e Sérgio Abranches. Nele, os autores analisam as potencialidades do pré-sal para a indução de uma economia de baixo carbono no Brasil.
Para eles, o pré-sal é uma benção porque deve gerar os recursos de que o Brasil necessita para financiar a transição energética; mas o país deve investir pesado em educação e pesquisa.
Para o trio de autores, o país já possui grandes vantagens comparativas para um mundo de baixo teor de carbono, porque a matriz energética já é mais limpa que em outras nações; e, se reduzir o desmatamento da Amazônia, a equação do baixo carbono fica quase resolvida. Mas, a construção de uma sociedade cuja economia é de baixo carbono exige educação e tecnologia, porque se trata de um mundo que tem ênfase primordial no conhecimento. Haverá inovação tecnológica contínua e uma aversão capilar a desperdícios e ineficiência. Isto demanda dinheiro que deverá vir do uso inteligente dos recursos do pré-sal. Qual seria este uso inteligente, de acordo com os autores?
Potencializar a transição para outra matriz energética, aproveitando as vantagens brasileiras em biomassa, energia solar, eólica e pequenas centrais hidrelétricas.
No entanto, a benção que é o pré-sal, avisam os autores, pode se transformar numa maldição se ele for utilizado para ancorar o passado, ou seja, uma economia que funciona com matriz fóssil.
O mundo da economia verde, inclusiva e responsável esconde riquezas de muitos pré-sais, mas é preciso aprender a enxergá-las. Um exemplo: a sustentabilidade da Amazônia. De acordo com o trio, ela só se tornará possível com a criação de um pólo de alta tecnologia, de modo que o reservatório de biodiversidade que a floresta representa possa gerar riquezas para a região. Também esta proposta depende de pesados investimentos em educação e inovação, do dinheiro do pré-sal, enfim.
Este artigo, por isso, é emblemático e talvez histórico: porque aponta o nó górdio da sustentabilidade no Brasil: a Amazônia. Para Besserman, Veiga e Abranches a questão da Amazônia é que definirá se o Brasil está à altura da oportunidade que a história pôs à frente do nosso país. Temos a chance de aprimorar as políticas de monitoramento de gestão na área pública e privada a partir de iniciativas contra o desmatamento. Porém, mais do que isso, a Amazônia nos impõe o imperativo de dar um salto e criar, pela primeira vez na história, um modelo econômico voltado para a economia tropical, sustentável. Até agora, prevalecem os critérios e parâmetros adaptados de economias industriais e altamente consumidoras de recursos naturais que sempre desprezaram modos de vida tradicionais pelo lucro e crescimento desenfreados.
Trata-se de um desafio civilizatório inédito que vai exigir inusitado pioneirismo e incansável espírito de superação de governantes, empresários, trabalhadores, cidadãos comuns.
A agenda da sustentabilidade ancorada nos recursos do pré-sal não é restritiva, nem pretende limitar o crescimento do país. Quer apenas indicar um caminho para a inserção mais competitiva da economia brasileira num mundo que já nasceu e vai ter vida longa: o da economia de baixo carbono.
O futuro que nos aguarda.
Nós podemos comparar esta nascente economia descarbonizada com pelo menos dois momentos emblemáticos da civilização. O primeiro, o uso universal da eletricidade como fonte de energia. A energia elétrica permitiu o avanço no processo de industrialização e de concentração urbana, transformando nossa civilização de maneira sem precedentes até as décadas de 1980 e 1990, quanto outra revolução emergiu: a da tecnologia, que mudou e vem mudando os conceitos de espaço, tempo, geopolítica, relações sociais, comunicação, acesso ao conhecimento e educação formal, entre outros. O que ambas têm em comum? A Revolução Industrial nos trouxe a educação universalizada, o conhecimento estruturado em série, o lugar que conhecemos por "escola" e as universidades politemáticas. A revolução tecnológica promoveu um crescimento exponencial da produção de informações e de conhecimento, cujos impactos na sociedade ainda não são totalmente conhecidos.
A surpresa engendrada no Vale do Silício, nos EUA, tem um lado menos conhecido que é o papel da Índia pós-independência. Fala-se muito do gênio empreendedor de Steve Jobs e de Bill Gates. Pouco se comenta a respeito do grande contingente de profissionais indianos, formados em centros de excelência de seu próprio país de origem. Sem mercado de trabalho na terra natal, emigraram em massa para o Vale do Silício e lá inventaram as complicadas e herméticas linguagens de programação que regem os milhões de computadores no mundo. Hoje, estes profissionais podem trabalhar em seu próprio país e estão ajudando a construir um modelo de desenvolvimento que não se esquece do mercado externo, mas busca atender as demandas internas também. Por isso, estão à frente da indústria brasileira em vários setores estratégicos, como a química fina, por exemplo.
A Índia chegou a este patamar subindo degrau por degrau a escada da educação. Na primeira fase pós-independência, Pandit Nehru, então primeiro-ministro da república, soube aproveitar como poucos estadistas já o fizeram, a situação geopolítica do país. Fazendo fronteira com a China, buscou apoio da Rússia para se desenvolver. Depois, também procurou os EUA e a França, com o mesmo objetivo. Estas potências construíram cada uma um centro de excelência em pesquisa e tecnologia destinado a formar cientistas. Até os anos 1980, estes cientistas migravam para os EUA que, no mesmo período, investiram pesadamente nas universidades de primeira linha e na inovação tecnológica. Assim, quando sobreveio a crise automotiva dos anos 1980, já estava maduro o novo conhecimento produzido nestas universidades, baseado no uso intensivo de computação. Agregado ao valor trazido por indianos, coreanos e taiwaneses, este conhecimento produziu a revolução tecnológica que ainda vivemos.
Este exemplo demonstra que não há ruptura nem prosperidade que não seja precedida de formação intensiva e incansável de capital intelectual. Com a economia verde, não será diferente. Por isso, o Brasil não pode deixar de investir no futuro. O dinheiro do pré-sal precisa financiar os novos cientistas que vão criar as tecnologias necessárias para a construção de um futuro mais sustentável e justo neste país.
sexta-feira, 16 de outubro de 2009
Não há mais tempo para desenvolvimento sustentável, afirmam pesquisadores
Pesquisador em meteorologia pelo Insituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e ex-presidente da Sociedade Brasileira de Meteorologia, Prakki Satyamurty defende que o mundo adote outro caminho para reverter o quadro de destruição do meio ambiente que tem como conseqüência as mudanças climáticas.
Para ele, o desenvolvimento sustentável já não é o caminho mais aconselhável para a reversão desse quadro. A saída agora, segundo Satyamurty, seria a retirada sustentável, ou seja, a diminuição drástica do consumo de recursos naturais, aliada a um controle de natalidade que levasse a um crescimento menos acelerado do número da população mundial.
Ao falar sobre o tema escolhido pela Organização Meteorológica Mundial para marcar o Dia Mundial Meteorologia de 2009 - Tempo, clima e ar que respiramos - o pesquisador disse que a capacidade do planeta Terra de suportar o uso que se faz dos recursos naturais está cada vez mais limitada.
Por isso, Satyamurty defende que o consumo de recursos naturais deveria ser menor ou igual à reposição dessas riquezas ambientais na natureza. Segundo ele, a exploração dos recursos naturais pela população mundial já ultrapassou a capacidade de oferta do meio ambiente em escala global.
“Já passou o tempo do desenvolvimento sustentável. Agora é tempo de fazer uma retirada sustentável, ou seja, temos que retirar, gradativamente, por exemplo, o número de automóveis das ruas. Tudo o que foi colocado em excesso e hoje contribui para a destruição do meio ambiente precisa sair de cena. Esse é um assunto muito polêmico, mas as autoridades precisam parar e pensar em tudo o que está acontecendo. O mundo tem que mudar para melhor”, observou.
Satyamurty participou, neste semana, da programação realizada pela Universidade do Estado do Amazonas (UEA) em alusão ao Dia Mundial da Meteorologia, comemorado em 23 de março.
Em palestra a estudantes da universidade, o pesquisador polemizou as estratégias pensadas em escala mundial para lidar com os diversos problemas causados pelas mudanças climáticas, como a falta de água. Segundo ele, a população mundial quadruplicou em 50 anos e o aumento da temperatura da superfície terrestre, do nível dos oceanos, bem como a poluição de todos ambientes são as principais conseqüências desse crescimento populacional.
“Com o aumento da população mundial, a diminuição das áreas de floresta e de espécies animais é inevitável. Mais áreas de lavoura, pastos e gado. Tudo isso provocou aumento de gás carbônico, gás metano e aumento substancial da temperatura na Terra”, relatou.
Ainda de acordo com o pesquisador indiano, assim como foi criado o mercado do crédito de carbono, também deveria existir o crédito de população. Para ele, outra missão das autoridades é o reflorestamento.
“Todo país que estivesse crescendo demais deveria pagar por isso. Seria um incentivo à redução das populações e um benefício para o meio ambiente como um todo porque o planeta não agüenta mais essa situação.”
Na avaliação do chefe da divisão de Meteorologia do Centro Técnico Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (Sipam) no Amazonas, Ricardo Delarosa, é incontestável que o desenvolvimento e o progresso geram perturbações e degradações nos sistemas naturais. Contudo, ele ponderou que o grande problema das nações não é a falta de alimentos, mas a distribuição imperfeita desses recursos alimentares.
“Entendo que o que está acontecendo é uma distribuição desigual das riquezas e recursos. A população cresceu bastante, mas a produção de alimentos também cresceu”, disse.
Com relação à polêmica avaliação de Satyamurty sobre a retirada sustentável, Delarosa ponderou que não existe maneira de desenvolver sem degradar de alguma forma. Para ele, a redução da população seria uma das alternativas existentes.
“Eu entendo que o desenvolvimento sustentável é um paradoxo. Não vejo como desenvolver e, ao mesmo tempo, ter sustentabilidade, pelo menos não do ponto de vista da conservação dos sistemas naturais como a gente os conhece hoje. Temos que trabalhar para minimizar esse custo que é um ônus imposto à natureza. Na minha opinião, é preciso haver uma conscientização de que é preciso distribuir melhor os recursos e as riquezas. Acho que isso seria mais efetivo do ponto de vista de preservar mais o ambiente que a gente vive”, concluiu. (Fonte: Amanda Mota/ Agência Brasil)
Brasileiros não querem desmatamento para aumentar área de agricultura
Em pesquisa divulgada na quarta-feira (29) pelo Datafolha, 94% dos entrevistados disse que gostaria de que os desmatamentos parassem de ocorrer, evitando assim desastres ambientais.
A pesquisa foi realizada a pedido da ONG Amigos da Terra – Amazônia Brasileira, e ouviu 2.055 pessoas no mês de abril. Apenas 3% dos entrevistados afirmou que permitiria mais desmatamentos para aumentar a produção agrícola.
Quando questionados sobre a legislação ambiental, 91% dos entrevistados respondeu que as leis deveriam ser mais rígidas, para dificultar o desmatamento, enquanto 5% afirmou que as leis devem continuar como estão, e 4% gostaria de que elas fossem mais brandas, para anistiar os produtores que estão na ilegalidade.
No momento de apontar os responsáveis pelo desmatamento, a resposta é menos unânime. A maior parte (60%) das pessoas ouvidas disse que a maior culpa pelo desmatamento cabe às instituições de governo, que não aplicam as leis. Em segundo lugar (12%) ficou a legislação, que seria muito permissiva. A lista dos culpados é preenchida pelos consumidores (9%), que escolheriam apenas o produto mais barato; os financiamentos bancários (8%), que incentivariam atividades desmatadoras; e as redes de varejo (8%), que não se interessariam pelos produtos que comercializam.
Um recado também foi deixado para a próxima eleição: 93% dos entrevistados afirmou que votaria em candidatos que dificultassem o desmatamento, enquanto 3% disse pretender votar em pessoas que anistiem o desmatamento anterior, e 2% votaria em candidatos que permitissem mais derrubada de florestas. (Fonte: Globo Amazônia)
Com fim do debate científico, luta contra mudança climática ganha ar dramático
Com o fim do governo George W. Bush, sai de cena o último dos "questionadores" do aquecimento global. E os países desenvolvidos já parecem adotar um tom uníssono, no sentido de que a discussão sobre a mudança climática já atingiu uma segunda fase. Em vez de discutir se isso realmente está acontecendo, e com que magnitude, o foco das discussões passa a ser - o que vamos fazer para evitar que a coisa fique realmente muito feia.
Desde o último relatório do IPCC (Painel Intergovernamental para Mudança Climática, da ONU), no ano passado, um novo e inabalável consenso surgiu acerca do aquecimento global: um aumento de até dois graus Celsius na média das temperaturas em escala mundial deve acontecer até o fim do século, não importando o que façamos agora para impedi-lo.
Ocorre que o carbono que temos emitido nos últimos 50 anos na atmosfera tende a ficar um século por lá antes de ser reabsorvido. Então, mesmo que a humanidade interrompa por inteiro suas emissões agora, ainda pagaremos os efeitos do que estávamos colocando no ar até ontem - um preço que virá em prestações a serem pagas nos próximos cem anos.
A batalha agora, no que diz respeito à contenção do aquecimento global, se centra em evitar a chamada "mudança climática perigosa". Os cientistas definem atualmente essa fronteira num aumento de temperatura global acima de 2 graus Celsius. Para eles, é o que será preciso para levar a um derretimento inevitável do gelo preso no solo da Groenlândia. A caminho do mar, essa montanha de água faria subir o nível dos oceanos em vários metros ao longo dos próximos milhares de anos. Mas em menos tempo que isso a mudança já seria mais perceptível, a ponto de causar estragos em muitos países.
Um dos mais preocupados, hoje, entre as nações industrializadas é o Reino Unido. Não por acaso, é um país-ilha, que tem somente o mar como referência para definir suas fronteiras.
Contenção
Para evitar a tal mudança climática perigosa, será preciso reduzir drasticamente as emissões de carbono nos próximos 30 anos. E, na verdade, a ciência sugere que essa redução terá de ser muito aguda nos próximos dez.
Por conta desse fato, a Europa está tentando costurar um acordo continental, estabelecendo metas para emissões e forçando a mudança da matriz energética - de fontes sujas, como carvão e petróleo, para fontes limpas, como usinas eólicas, solares e, gostem ou não os ambientalistas, nucleares.
O acordo europeu estabelece metas de redução de 20% nas emissões de carbono até 2020, com relação aos níveis de 1990. Para o ano 2050, a meta deve ser mais agressiva, embora ainda não esteja definida. Há quem fale em 50%, há quem diga 60% e há até os proponentes dos radicais 80% de cortes.
Mas as propostas encontram resistência mesmo em certos países europeus, como a Polônia, que depende fortemente de carvão em sua atual matriz energética e talvez não possa se dar ao luxo, economicamente, de promover uma mudança tão radical.
Com medo de empacar nas negociações, alguns países estão tentando assumir uma postura de liderança, estabelecendo metas nacionais independentemente do que seus vizinhos pretendam fazer.
No plano das ações, a nação européia que mais se destaca é a Alemanha. Esforços intensos estão sendo feitos naquele país para implementar planos ambiciosos de energia eólica, que agora já servem de modelo para outros países. A essa altura, os alemães parecem estar à frente dos demais nessa transição para uma nova economia com menos carbono e mais energia limpa e renovável.
No plano das políticas, França e Reino Unido aparecem com proeminência. Sob a gestão do presidente Nicolas Sarkozy, o governo francês foi o primeiro a elaborar "orçamentos de carbono" -- documentos que indicam quanto o país pode emitir, para cumprir as metas globais de redução de carbono na atmosfera.
Já o Parlamento do Reino Unido, no início desta semana, aprovou a Lei de Mudança Climática - a primeira legislação nacional voltada para o aquecimento global no mundo todo. Ela estabelece metas agressivas para redução das emissões (26% até 2020, 80% até 2050) e cria mudanças significativas na estrutura do governo para garantir que os objetivos sejam perseguidos com vigor.
Há cerca de três meses, o governo britânico unificou os ministérios da Energia e do Meio Ambiente num único Ministério da Energia e Mudança Climática. A idéia é unificar sob um único comandante decisões que poderiam parecer antagônicas em dois ministérios diferentes: de um lado, satisfazer às necessidades energéticas do país; de outro, cumprir os objetivos necessários à preservação ambiental. Agora, a mesma pessoa terá de zelar pelas duas coisas.
Além disso, a Lei de Mudança Climática estabelece a criação de um Comitê de Mudança Climática, órgão independente que operaria de forma semelhante ao Copom, responsável por estabelecer as taxas de juros da economia. No caso do aquecimento global, o dito CCC seria responsável por aconselhar e cobrar o governo no cumprimento das metas estabelecidas por orçamentos de carbono nacionais, feitos para períodos de cinco anos.
Com suas três maiores economias na busca de uma solução para a mudança climática, a Europa aparece em posição de destaque na questão. Mas de nada adianta os europeus fazerem a parte deles, se o mundo inteiro não caminhar junto.
Uma nova esperança
A eleição de Barack Obama como presidente dos Estados Unidos é vista com grande expectativa pela comunidade internacional. A expectativa é a de que tenha fim a relutância americana em debater metas para conter a mudança climática. Nos últimos oito anos, as delegações americanas que compareceram às reuniões da ONU sobre o assunto só fizeram por tentar sabotar o Protocolo de Kyoto - primeiro esforço internacional para lidar com a mudança climática, que estabeleceu metas de reduções até 2012.
Obama já deu todos os sinais de que os EUA estão de volta ao mesmo barco, mas suas metas nem de perto se assemelham às européias. O presidente eleito anunciou que os americanos se comprometerão a reduzir suas emissões até os níveis de 1998 em 2020, para depois cortar em 80% até 2050. Para o segundo maior emissor de carbono do mundo (perdeu o primeiro posto recentemente para a China), talvez seja muito pouco, sobretudo na meta de 2020. O resto do mundo, embarcado em Kyoto, trabalha com as referências de 1990, enquanto os americanos querem emplacar uma referência mais inchada, de oito anos depois.
Mas só o fato de que os EUA falam agora em metas já é um alívio, e os governos europeus esperam que isso se aprofunde no futuro próximo, deixando de ser apenas palavras e sinais e passando a ser ações concretas e focadas no alvo.
Só com a lição de casa pelo menos encaminhada, as nações desenvolvidas conseguirão empurrar uma proposta muito mais impopular: convencer os países em desenvolvimento a cooperar.
Os pobres também têm de pagar
Brasil, China e Índia são países que, a despeito de seus problemas sociais profundos, não podem ser negligenciados no que diz respeito às emissões de carbono.
Enquanto o primeiro promove a maior parte de suas emissões pelo desmatamento amazônico, os outros dois têm economias aceleradas e superpopulações que exigem cada vez mais recursos energéticos. Não é à toa que, depois de passar uma década com a economia crescendo a 10% ao ano, a China hoje já é o país que mais emite carbono na atmosfera, superando até mesmo os americanos.
Claro que, quando contabilizamos as emissões "per capita", o chinês médio emite muito menos que o americano. Mas o planeta não leva em conta esses números para ter seu clima transformado. E isso significa que os países pobres também terão de fazer sua parte, muito embora eles tenham em pouco contribuído para o problema atual e ainda possuam uma demanda energética imensa para promover seu desenvolvimento.
E ninguém pense que vai receber um afago na cabeça só porque é país em desenvolvimento.
"De fato, o desflorestamento é um problema sério para o Brasil", diz Joan Ruddock, vice-ministra da Energia e da Mudança Climática do Reindo Unido. "Mas ninguém pode pensar que a contribuição do Brasil é só resolver o problema do desflorestamento. Mais esforços terão de ser feitos para reduzir as emissões, e cada país terá de lidar com os seus problemas."
Mas nem todos os países em desenvolvimento vão reagir a isso com entusiasmo. Até mesmo a China - que já trabalha forte em tecnologias para reduzir as emissões - reluta em debater metas concretas e limites para suas emissões.
Um acordo global para o pós-Kyoto deve sair - ou naufragar - até o final do ano que vem, em reunião da ONU em Copenhagen, na Dinamarca. Noves fora a diplomacia, cada país precisa trabalhar internamente suas metas para migrar para a economia "descarbonizada" do futuro, sob risco de se ver cada vez mais isolado no cenário internacional.
Embora ninguém fale em embargos econômicos no momento (até para não assustar), está claro que ferramentas como impostos e taxas começam a surgir no jargão do combate ao aquecimento global e serão usadas se a necessidade aparecer. Mudar é preciso.
O que já vem por aí
De resto, os países desenvolvidos se preparam para as mudanças inevitáveis que o clima irá proporcionar nas próximas décadas.
No campo da ciência, os grandes esforços começam a se voltar para análises locais das mudanças climáticas. O Hadley Centre, escritório de meteorologia do Reino Unido, está desenvolvendo um trabalho forte no setor, com o intuito de antever onde a infra-estrutura britânica terá de ser reforçada para proteger o país da mudança climática.
Londres já tem um plano próprio - em desenvolvimento pela prefeitura da capital britânica - para lidar com as trasnformações do clima e suas conseqüências. Outras cidades devem fazer o mesmo, em breve.
E esse conhecimento começa a ser exportado para outras nações - inclusive o Brasil. Numa parceria entre Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) e Hadley Centre, pesquisadores brasileiros e britânicos estão desenvolvendo modelos de impactos locais da mudança climática para o território brasileiro.
Os resultados que advirão dessas pesquisas devem servir de guia para que os formadores de políticas possam agir no sentido de minimizar os impactos da mudança climática.
É o que resta, depois que tanto tempo foi perdido em cortinas de fumaça e contra-argumentos aos cientistas que alertavam sobre as mudanças que a ação humana estava causando em seu próprio planeta. A essa altura do campeonato, o aquecimento global está aí. Já acontece e veio para ficar. E pode ficar ainda pior, se não agirmos, globalmente e rápido.
Fonte: Salvador Nogueira / G1
Preservação da Amazônia pode evitar eventos climáticos extremos no país, diz pesquisador
A preservação da Amazônia pode evitar eventos climáticos extremos no centro-sul do Brasil, por causa do papel da floresta na manutenção do equilíbrio do clima na América Latina. De acordo com o pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Antonio Nobre, a floresta tem papel fundamental no equilíbrio do sistema hidrológico da região.
“No funcionamento do clima na América do Sul, a Amazônia tem um papel muito grande na exportação de umidade, por meio da atmosfera, dos ventos. As nuvens saem da Amazônia para irrigar as regiões no centro-sul da América Latina: Centro-Oeste e Sudeste do Brasil, norte da Argentina. Toda essa região depende das águas que vêm da Amazônia”, apontou Nobre em entrevista à Rádio Nacional da Amazônia.
De acordo com dados do pesquisador, por dia, a Amazônia chega a jogar na atmosfera 20 bilhões de toneladas de água em forma de vapor.
O bom funcionamento desse sistema de regulação do regime de chuvas depende da manutenção da floresta em pé, sem desmatamentos, segundo Nobre. “O que está em curso hoje ameaça gravemente o funcionamento dessa máquina gigantesca”, avaliou.
O cientista compara o desmate da Amazônia à retirada de partes do fígado de uma pessoa que ingere muito álcool e depende do bom funcionamento do órgão para se recuperar dos excessos. “A floresta amazônica é como um fígado gigantesco, uma bomba, um pulmão. As árvores têm um papel muito importante no funcionamento da atmosfera, do transporte de água, do clima. E o que estamos fazendo é como cortar um pedaço do fígado, que passa a ter muito menos capacidade de lidar com os abusos, que nesse caso são o aquecimento global e todas as agressões que são decorrentes da atividade humana na Terra”, explicou.
Segundo Nobre, apesar de não ser possível traçar precisamente uma relação direta entre o desmatamento da floresta e as recentes chuvas que atingiram Santa Catarina, por exemplo, a ocorrência de eventos climáticos extremos como esse está relacionada a um desequilíbrio ambiental, que pode ser evitado.
“O que a Amazônia provê não são apenas serviços (ambientais) para o cinturão agrícola, para as hidrelétricas, para a atividade industrial; o que a Amazônia provê é um sistema de estabilização climática que consegue manter a região toda em equilíbrio. Não se tem nem excesso de água nem falta. E também impede que ocorram secas prolongadas, que criariam os desertos”, acrescentou.
Nobre defende que, mesmo diante de incertezas científicas, há fatos suficientes para justificar a demanda urgente pela preservação. “O que a ciência já sabe é mais do que suficiente para comprar várias apólices de seguro. E o seguro se chama proteger a floresta. Estamos destruindo o sistema hidrológico e o clima da América do Sul”, alertou.
Fonte: Luana Lourenço/ Agência Brasil
segunda-feira, 12 de outubro de 2009
Porque devemos abandonar o Protocolo de Kyoto e almejar muito mais
A resposta é simples: não queremos um futuro de decadência. Queremos um grande salto para nós e para a humanidade. Tão significativo quanto o Iluminismo. O caminho para uma sociedade onde todo o potencial presente nas mudanças científicas, tecnológicas e societais de hoje possa florescer plenamente e levar a um novo estágio da evolução humana.
Sérgio Abranches
O Protocolo de Kyoto fracassou em quase todas as suas dimensões. Ele durou por tempo impressionante. Entretanto sua única virtude notável foi servir de catalisador para o desenvolvimento e a experimentação de mercados regionais e globais de carbono, como argumenta Mike Hume. Mas esses mercados não foram sequer capazes de estancar o crescimento das emissões. Suas falhas pesaram muito mais que seus poucos benefícios. Ele se tornou um escudo para que grandes emissores emergentes elidissem suas responsabilidades. Ele contempla uma visão medíocre do futuro, é o tratado para empurrar o problema com a barriga, não para promover o progresso.
Kyoto levou muito tempo para entrar em vigor. Quando passou a valer, foi ineficaz e ineficiente. O Protocolo foi basicamente uma invenção política, sem firme base científica ou econômica. Como escreve Oliver Tickell, ele “emergiu de um turbilhão de negociações e toma-lá-dá-cá dominado por interesses do status quo nacionais, políticos e comerciais”.
Ao tempo das negociações, o consenso científico sobre aquecimento global e mudança climática não era tão avassalador como é agora. Vozes dissidentes ainda eram levadas a sério. Agora não mais. Evidências concretas de aceleração do aquecimento global e da mudança climática aumentaram exponencialmente desde então. Kyoto não representa o estado atual do Mundo em relação aos riscos e oportunidades da mudança climática.
Não vou discutir em detalhe os fracassos de Kyoto. Recomendo “Why We Disagree About Climate Change”, de Mike Hume ; “Kyoto 2”, de Oliver Tickell ; “The Global Deal”, de Nicholas Stern; “The Politics of Climate Change”, de Anthony Giddens ; “Climate change negotiations reconsidered”, de Scott Barrett.
É suficiente dizer que o Protocolo de Kyoto não tem meta alguma para os grandes países emergentes, e metas medíocres para os países desenvolvidos. China, India e Brasil têm interpretado sua cláusula “responsabilidades comuns mas diferenciadas”, como “nenhuma obrigação”. Um novo acordo deveria estabelecer mais claramente que os grandes emissores, desenvolvidos e emergentes, têm responsabilidades compartilhadas, que levam a obrigações compulsórias e quantitativas, embora diferenciadas. Os países desenvolvidos têm realmente uma dívida de carbono, mas ela não pode ser paga com autorizações para que as nações em desenvolvimento repitam sua trajetória de alto carbono. Ela deve ser paga com a criação de mecanismos financeiros e técnicos que permitam a esses países buscarem um caminho de baixo carbono.
Kyoto não estabeleceu um mecanismo financeiro eficaz para promover a adaptação à mudança climática. O novo acordo tem que fixar a adaptação como alta prioridade e criar os meios financeiros institucionalizados para efetivamente ajudar os países mais pobres a se adaptarem à mudança climática, enquanto desenvolvem novas atividades econômicas de baixo carbono, que gerem emprego e renda e combatam a pobreza extrema.
O Protocolo foi ineficiente e ineficaz em relação a suas principais metas. É flexível demais. Seu mecanismo para obter a obediência às metas, muito fraco. Não conseguiu mudar o comportamento de suas partes signatárias. Admitiu a desobediência e induziu a complacência generalizada. Não por acaso, não alcançará sequer sua meta medíocre de queda de perto de 5% das emissões de gases estufa até 2012. Perto dos necessários 90% de queda até 2030, é um objetivo pífio. Como Nicholas Stern aponta, “de 1930 a 1950, a concentração dos gases de Kyoto aumentou em perto de 0,5 ppm per annum, de 1950 a 1970, em torno de 1 ppm per annum, e dali até 1990, a taxa de crescimento dobrou novamente. Na década passada [aquela que Kyoto deveria regular] ficou próxima de 2,5 ppm ao ano.”
Um dos pilares do Protocolo de Kyoto foi o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL). Foi uma boa idéia que ajudou a criar o catalisador para o desenvolvimento dos mercados globais de carbono, como nota Hume. Contudo, como diz Stern, na sua forma atual não é capaz de gerar ou absorver of fluxos financeiros e técnicos necessários sob um acordo global. O mecanismo é muito complexo e muito burocrático. Ele se baseia na discricionariedade absoluta de agentes regulatórios e burocráticos. No Brasil, por exemplo, permitiu que um único burocrata fosse capaz de bloquear todo o processo de licenciamento. Ele é vulnerável a comportamentos idiossincráticos, levando a resultados muito diferentes por país, incomparáveis entre si para fins de avaliação. O que se precisa é de um novo quadro conceitual e metodológico, não-discricionário, para reduzir os custos de transação, ganhar escala e acelerar o processo decisório.
Ele não deve ser o pivô central da dimensão financeira do acordo, mas parte de um sistema de mecanismos que tenham como objetivo último promover uma revolução tecnológica, como propõe Scott Barrett. O novo acordo global não deve ser desenhado tendo como objetivos finais as metas de emissões. Elas são um objetivo crítico, mas sua sustentabilidade depende de uma nova economia política, uma nova revolução industrial. Essa nova economia política requer uma verdadeira e completa revolução tecnológica. Para criar momentum para esse salto tecnológico, precisaremos de instrumentos competentes de mercados e enquadramentos regulatórios.
Para alcançar esse máximo objetivo, que nos guiará rumo a uma sociedade de baixo carbono, nós precisamos, claro de mecanismos de mercado e da disciplina institucional de um acordo multilateral, um novo acordo global verde. Mas nós devemos concentrar muito de nossas atenções no estado e nos requisitos de governança para essa transição. O “estado terá um papel fundamental em todos os países na criação das condições gerais para o sucesso desses esforços,” diz Giddens com razão.
O básico para um novo acordo global já é bem conhecido: as emissões de gases estufa (GEF) dos países desenvolvidos devem atingir seu pico em torno de 2015, para cair subsequentemente continuada e rapidamente. As emissões de GEF das potências emergentes (especialmente China, India e Brasil) devem ter seu pico em 2020, para então convergir para as trajetórias dos países desenvolvidos. As emissões globais devem cair, para, pelo menos, 50% dos níveis de 1990 até 2050, e as emissões globais per devem chegar a, pelo menos, 1 tonelada até 2050. A meta é efetivamente estabilizar as concentrações de gases estufa. Scott Barrett lembra corretamente que “há discordância sobre qual deverá ser o ponto de estabilização”. Hoje, está claro que, antes de pensarmos em estabilização, precisamos garantir que essas concentrações cheguem a 350 ppm.
Estabilização, diz Barrett, “requer que a atmosfera e os oceanos estejam em equilíbrio químico. Ao longo do tempo, a absorção pelos oceanos declinará com a queda das emissões. Em equilíbrio, se as concentrações forem [apenas] estabilizadas, as emissões terão que cair para zero.”
Kyoto deixou as florestas do mundo fora de seus mecanismos principais. O novo acordo terá que encontrar uma forma de incluí-las. E, além disso, criar o meios que incentivem metas de desmatamento zero e o máximo possível de reflorestamento.
Temos que criar as condições para escrever esses objetivos em um acordo considerado compulsório por todos. Os governos deveriam aderir e construir os mecanismos domésticos de governança necessários para que sejam realizados. Os governos entre os indiscutíveis grandes emissores que continuam, hoje, a se recusar a assumir suas obrigações estão traindo os interesses concretos de seus povos. Não se trata de estarem descumprindo alguma obrigação moral para com a humanidade.
O acordo deve ser ambicioso. Devemos mirar alto e olhar longe. Os que propõem que as negociações devem almejar o possível estão desejando o impossível: uma solução incremental, de procrastinação, para uma ameaça cataclísmica.
Olhar apenas até os limites do possível é se acomodar. É a fórmula da derrota. Temos nos acomodado, criado soluções parciais, tolerado, e fracassamos nos objetivos da mitigação e da adaptação. Estamos construindo um apocalipse, um fim do mundo, quase inconscientemente, por meio de nossa complacência e falta de visão.
O que nós precisamos é de ambição, ousadia, radicalismo climático, no lugar de manobras políticas e negaças diplomáticas. Precisamos ter um sonho, um sonho global. A sociedade de baixo carbono é possível. Está ao nosso alcance. Não estamos falando de decrescimento. Decrescimento é a ameaça por trás de nossa visão apocalíptica. Estamos falando de um novo padrão de desenvolvimento. Uma grande virada, como a passagem da Idade Média para o Iluminismo, como a transição do feudalismo ao capitalismo, pela via da Revolução Industrial. Já fizemos isso antes. Nós podemos mitigar a mudança climática, melhorar nosso bem-estar e combater a pobreza mundial. Por que deveríamos aceitar uma história futura mais pobre que nossa história passada?
A visão apocalíptica leva à paralisia ou ao delírio, é uma profecia que se realiza em si mesma. As Utopias nutrem revoluções. Nós podemos ser técnicos, práticos e efetivos, e ainda ter um sonho, perseguir uma Utopia para nós e para as próximas gerações.
Tags:Aquecimento global, COP15, Copenhague, desenvolvimento, desmatamento, gases estufa, Kyoto, meio ambiente, metas de emissões CO2, mudança climática, política climática global
sexta-feira, 9 de outubro de 2009
Panelas de pressão e Milagres: frustração e expectativas
Bangkok, 08/10/2009 - Depois de 6 dias de reuniões, os 1688 Delegados dos 176 países reunidos em Bangkok, Tailândia, definitivamente não atenderam as nossas expectativas, não nos fizeram sentir orgulho deles. Eles não são, aquele seleto grupo de homens e mulheres escolhidos para entrar nos livros de história por terem produzido o mais importante acordo internacional, o mais influente documento que a humanidade já viu. Não são estes que vão definir uma nova trajetória para a vida neste planeta. Quando este processo acabar, todos eles poderão cair em esquecimento. Se algum dia no futuro distante forem lembrados serão como aqueles que traíram a confiança e a esperança neles depositado pelos habitantes deste “Pálido Ponto Azul”, palavras do Carl Sagan ao se referir ao planeta terra quando visto da nave espacial Voyager I 4 bilhões de anos distante da terra em 1990. Os negociadores do novo regime de combate ao aquecimento global e seus efeitos perigosos sobre o clima, não foram capazes de se içar à altura do maior desafio jamais enfrentado pelo ser humano. Preferiram virar as costas. Dizer que não podem decidir porque dependem de instruções dos seus capitais é, no mínimo, ingênuo. Mesmo nas áreas de negociação em que têm livre arbítrio para agir, fugiram das suas responsabilidades. O aquecimento global e as mudanças de clima decorrentes representam uma ameaça global que atinge todos os homens e mulheres independente da sua contribuição à causa. Quanto mais as delegações avançarem na consolidação e sintetização dos textos de negociação nas áreas desvinculadas de políticas nacionais, mais rápido será o processo quando estes posicionamentos políticos forem resolvidos. Os países desenvolvidos ameaçam com diversas táticas de pressão sem remorso. O G77+China , os LDCs e SIDS têm que aprender jogar na primeira divisão com as mesmas táticas.
Estamos numa panela de pressão. Os ingredientes, os elementos básicos do Plano de Bali: Visão Compartilhada, Mitigação. Adaptação, Transferência de Recursos Tecnológicos e Transferência de Recursos Financeiros foram colocados na CoP 13 em Bali. Ficamos marinando nesta panela durante um ano e meio com o fogo desligado. De repente se dá conta que não vamos poder servir a refeição em Copenhagen. Ligou-se o fogo, mas baixo. Com este nível de energia o AWG – LCA e o AWG – KP não vão conseguir terminar o processo e apresentar suas recomendações na CoP 15 em Copenhagen em dezembro. Além disso, quando a panela foi fechada em Bali, os Estados Unidos ficaram de fora, não haviam ratificado o Protocolo de Quioto. Agora todos querem vir para o banquete. Eis o impasse e a causa de tantas divisões, conflitos e acusações. Os Estados Unidos se dizem arrependidos pelo seu comportamento anti-“social” e briguento do passado e querem sentar à mesa. Mas, só vão fazer isso se os países em desenvolvimento assumirem compromissos que não são obrigados a assumir. Estes, por sua vez, reclamam que os Estados Unidos querem comer de graça, sem se comprometer com compromissos de redução de emissões de gases de efeito estufa à altura das necessidades ditadas pela ciência e sem quantificar qual vai ser sua contribuição financeira para ajudar os países em desenvolvimento, os LDCs e SIDS realizarem ações de mitigação e adaptação.
O fogo, embora baixo, começa esquentar a panela e a pressão está aumentando. Os convidados para a festa na terra da noite eterna, já estão preparando as suas agendas. Chefes de Estado com dúvidas – “Vou ou não vou?”, a sociedade civil, sem dúvidas, fazendo planos e organizando-se para demonstrações na rua e outras manifestações de apoio, repúdio etc. e os delegados aqui em Bangkok, começando a ficar nervosos.
Mitigação e Transferência de Recursos Financeiros são os dois pontos que estão emperrando o processo das negociações. Ontem, recebemos com grande surpresa e alegria a notícia que a Noruega vai assumir um compromisso de redução de emissões de gases de efeito estufa de 40% até 2020 e referente ao ano base de 1990. Será o primeiro país a assumir um compromisso coerente com a sua responsabilidade moral e cientifica. É um exemplo para todos os países do Anexo I. Politicamente, é possível ser ambicioso. Quanto à questão específica de mecanismos de compensação para a Redução de Emissões de Desmatamento e Degradação de Florestas – REDD, há boas e más notícias. O Grupo de Contato sobre Ação Aumentada de Mitigação e as Medidas Respectivas de Implementação (parágrafo 1 (b) iii do Plano de Ação de Bali reuniu-se pela última vez em Bangkok esta manhã). Um documento de trabalho foi preparado pelo “Chair” do Grupo visando a consolidação de diversas propostas para um texto de negociação. Este texto, embora represente um avanço no processo (a boa notícia) o seu conteúdo em alguns aspectos é muito preocupante. Citamos alguns exemplos. No primeiro capítulo sobre Objetivos, Abrangência e Princípios Orientadores o texto diz “Todas as Partes devem coletivamente mirar a perda de cobertura florestal nos países em desenvolvimento até 2030....” Ora bem, o objetivo de REDD é preservar as florestas naturais, porque são as florestas naturais que têm a maior concentração de carbono e, além do mais, são os maiores sustentos da biodiversidade e serviços ambientais. Admitir que REDD visa preservar “cobertura florestal” é abrir a porteira para a especulação e dar acesso ao mecanismo pelos investidores em projetos de reflorestamento e plantios mono-culturais de arvores, que muitos insistem em confundir ou chamar de reflorestamenti. Isto seria contrário aos objetivos de REDD. O documento não faz qualquer referência à conservação de florestas naturais, ponto que foi assinalado por Tuvalu, Costa Rica, Venezuela, Índia, União Europeu e Brasil. A conservação de florestas naturais, não quer dizer que não se pode tocar nelas. Quer dizer que, se tocar na floresta natural tem que ser de forma sustentável. Só isso. Mas, quando o facilitador da reunião afirmou que o argumento parecia razoável e solicitou aos países permissão para reintroduzir “conservação de florestas naturais” no documento todos aprovaram menos a União Européia que bloqueou. O texto não foi corrigido. Outro ponto que preocupa é a ausência de qualquer referência aos vetores de pressão sobre as florestas: agricultura, pecuária, madeireiras etc. Um regime de REDD que ignora esses vetores de pressão será, certamente, incompleto, omisso e perigosamente arriscado. Nos corredores, corre no rádio peão que os grandes madeireiros multinacionais se infiltraram no processo e que chegaram ao ponto de assessorar o redator do texto. “Onde há fumaça há fogo”. - dizia a minha avozinha.
Em matéria de finanças o problema é simples e complexo. Fato – os países desenvolvidos não estão dispostos a mostrar as suas cartas, ou seja, mostrar quanto de recursos irão disponibilizar. Conseqüentemente o nível de desconfiança por parte dos países em desenvolvimento cresce a cada dia. Isto é muito ruim para as negociações. O combate a mudanças de clima requer um contexto de cooperação entre nações. Para algumas delas isto é uma questão de sobrevivência. Por outro lado a definição do “quanto” e “quando” é uma decisão política que é construída nas grandes capitais, fora dos plenários e salas de reunião das sessões de negociação da UNFCCC.
O cenário geral continua desolador. O jogo não terminou e pode ser que o gol da vitória aconteça no último segundo da prorrogação do segundo tempo em Copenhagen. Milagres acontecem. Mas, é melhor não contar com eles.
Hoje é o penúltimo dia das negociações em Bangkok. É o dia para as últimas reuniões dos Grupos de Contato dos dois AWGs. Amanhã será o Plenário de Encerramento e teremos a exata noção de quanto foi feito e quanto ainda falta fazer. Teremos o prazer de escrever o nosso último Boletim sobre as negociações de Bangkok do conforto do nosso lar em Juquitiba, São Paulo na próxima semana.
Portanto, a contagem dos pontos em Bangkok está assim: tempo desperdiçado 10 dias; tempo de progresso 0 dias e rodadas restantes 1 dia.
Morrow Gaines Campbell III, especialista em mudança de clima e representante do Vitae Civilis – Instituto para o Desenvolvimento, Meio Ambiente e Paz nas negociações internacionais preparatórias da CoP-15
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¹O Grupo dos 77 (G 77) foi estabelecido em 1964 em Gênova, por um conjunto de 77 países em desenvolvimento numa conferencia das Nações Unidas sobre Desenvolvimento e Comércio (UNCTAD).
²LDC – Países menos desenvolvidos
³Pequenos Países Insulares em Desenvolvimento
4O AWG-LCA foi estabelecido pela CoP-13, em dezembro de 2007, em Bali, Indonésia para ser um processo de acompanhamento do diálogo sobre ação cooperativa de longo prazo para abordar mudança de clima amplificando a implantação da Convenção. Este órgão subsidiário novo recebeu um mandato para inaugurar um processo para assegurar a plena, efetiva e sustentada implementação da Convenção por meio de ação cooperativa de longo prazo até e para além de 2012. O AWG-LCA deve completar seu trabalho até a CoP-15, em Copenhagen, em 2009.
5Na sua segunda sessão, o AWG-KP, em Nairóbi, novembro de 2006, adotou um programa de trabalho para seu mandato cobrindo:
a) Análise de potenciais de mitigação e faixas de metas de redução de emissões para países do Anexo I; b) Análise de possíveis meios para atingir metas de mitigação; c) Consideração de compromissos adicionais pelas Partes de Anexo I; O AWG-KP tem mandato para relatar o status do seu trabalho em cada CMP. Seu objetivo é completar seu trabalho e ter seus resultados adotados pela Conferência das
Partes o mais cedo possível para assegurar que não existirá nenhum vazio entre o primeiro e segundo período de compromisso que deverá começar em 1 de janeiro de 2013.
Copenhagen e Copenhagen
5 de agosto de 2016. Milhares de pessoas protagonizam a cerimônia de abertura da 31ª. edição das Olimpíadas, transmitida para todo o planeta a partir do Rio de Janeiro. Foram anos de investimento, planejamento e muito trabalho para que a escolha feita no dia 2 de agosto de 2009 em Copenhagen tivesse um desfecho feliz. Mas uma outra escolha, também em Copenhagen, também em 2009, mudou tudo. Foi em dezembro, quando delegações de todos os países-membros da Organização das Nações Unidas se reuniram para deliberar sobre a continuação do Protocolo de Kyoto. O objetivo oficial era reverter a então tendência de aquecimento global provocada pelos altíssimos níveis de emissão dos gases que provocam o efeito estufa, notadamente o gás carbônico oriundo da queima de combustíveis fósseis. Oficiosamente, no entanto, ocorreu a III Guerra Mundial: uma guerra diplomática, de palavras e manobras, aparentemente sem vítimas fatais. Ledo engano: na abertura das Olimpíadas de 2016 já se conhecem as primeiras vítimas do confronto.
Se em outubro Copenhagen sediou uma decisão, em dezembro ela foi palco da mais fatal indecisão da história da humanidade. Cindidos por interesses conflitantes entre desenvolvimentistas e ambientalistas, os negociadores não avançaram o suficiente e fecharam um acordo de fachada. Alguns acharam que não havia problema; outros, que estavam empurrando para as futuras gerações o ônus de resolver o problema. Mais um engano: a partir de um determinado momento, não há volta e as futuras gerações ficam alijadas de alcançar qualquer solução. É o que se começa a ver na abertura das Olimpíadas, apesar de todo o esforço do governo brasileiro e do Comitê Olímpico Internacional para que o evento transmita uma aura de sucesso e de tranqüilidade.
Mas o mar já começa a roubar parte da orla do Rio de Janeiro que, assolado por ondas de calor cada vez mais longas e intensas, já perdeu parte da Floresta da Tijuca. Chuvas fora de época provocam enchentes – como a que foi acontecer justo na véspera da abertura das Olimpíadas! Que azar! Até parece que Deus não é brasileiro! A chuva também danificou o cultivo de hortaliças no entorno da cidade, agravando os problemas de abastecimento. Sim, porque com o avanço do desmatamento da Amazônia, o ciclo de chuvas do país foi alterado e a agricultura tem vivido, ano após ano, recordes de improdutividade. A bancada ruralista, sempre tão garbosa da crescente safra de grãos, empenha-se em obter mais subsídios do governo, emperrando a pauta de votações no Congresso e no Senado, como de praxe. Esta semana, aliás, é um alívio para eles: por causa das Olimpíadas, a imprensa quase não fala deles! Se bem que volta e meia surge um assunto mais quente que rouba as manchetes. Os blecautes, por exemplo. Desde que o Brasil começou a ter tornados e furacões, volta e meia alguma linha de transmissão é destruída pelos ventos, causando panes em todo o sistema (que, ironicamente, havia sido unificado justamente para ganhar em estabilidade e segurança). Aliás, está todo mundo torcendo hoje para que não vente lá pras bandas do Sul, causando algum problema no sistema Itaipu! E pensar que as hidrelétricas da região Norte não aliviaram em nada a situação... Ok, tem as termelétricas, mas com a escassez do petróleo, todas as companhias petrolíferas estão elevando seus preços : a Petrobrás está tão poderosa que o governo não consegue alterar as decisões “de mercado” da estatal. E o preço da eletricidade foi para a casa do chapéu! Mas como as distribuidoras haviam subido o morro, na década passada, dizendo que estavam fazendo um trabalho de responsabilidade social ao tirar os gatos e reformar as instalações elétricas, hoje a população mais carente não consegue roubar energia. E fica no escuro. Para evitar uma imagem feia na transmissão dos jogos, o governo aceitou pagar a tarifa para que os morros do Rio recebam eletricidade hoje, independente de estarem com as contas em dia ou não. Só para sair bem na foto.
E olha que a gente nem tem muito o que reclamar aqui! Do outro lado do Atlântico, na África, a coisa está muito pior. Lá, as mudanças climáticas praticamente inviabilizaram as chances de vida humana e animal. O processo de desertificação do continente avança a passos largos. Os migrantes do clima não têm mais onde se refugiar. Os conflitos por terra e pelas poucas fontes de água estão deixando saldos sangrentos. Mas isso sai pouco no noticiário. Nunca ninguém deu muita bola para a África mesmo... O que sai mais são os problemas na Ásia. A Índia nunca teve uma política eficiente de controle de natalidade e o incentivo ao uso das fontes de água potável no início do século levou a uma escassez quase total. O Brasil exportou a tecnologia de cisternas para eles, já que as monções trazem um volume de água absurdo ao subcontinente indiano. Mas com o aquecimento global o ritmo delas se alterou, bem como a duração e a intensidade: chove muito mais, mas durante menos dias. Resultado: as chuvas destroem as cisternas, ao invés de enchê-las. O Banco Mundial já liberou vários milhões para o desenvolvimento de uma tecnologia mais eficiente, mas enquanto ela não chega as pessoas vão morrendo de fome, de doenças tropicais, em desastres ambientais. Com a China é a mesma coisa, mas como a economia deles cresceu barbaramente nos últimos anos, o dano se concentra mais na fronteira oeste, onde estão as comunidades rurais mais pobres. Nas cidades, o governo liberou programas de assistência inspirados no welfare state ocidental. Repercutiu muito bem no último encontro do G20! Aliás, vários presidentes de países europeus vieram para a abertura das Olimpíadas! Eles não perdem uma chance de viajar porque a chapa está quente lá no velho continente: as mudanças climáticas inviabilizaram a agricultura nos países ao redor do Mediterrâneo. A luta não é mais por subsídios, como no começo do século, quando essa pauta emperrou as negociações de Doha. Agora, a luta é por terras mais ao norte. Está o maior embroglio desde que a Itália resolveu questionar a posse da Groenlândia pela Dinamarca. Sim, hoje a Groenlândia já se destaca na produção de grãos! A União Européia quer agora transformar a Dinamarca em uma espécie de Antártida, à qual todos têm direito.
Mas agora tenho que parar. Já vai começar a transmissão da cerimônia de abertura dos jogos. Parece que o tema escolhido foi meio ambiente. Acho que vai ser bem bonito!
Fonte: Blog: http://ascendidamente.
Silvia Dias é jornalista, com experiência em comunicação corporativa com especialização em sustentabilidade.
Copenhagen e Auschwitz
Texto de Silvia Dias
São Paulo, 09/10 - Hoje é o último dia da conferência de Bangkok - mais um dos encontros preparatórios para a CoP15, a tão esperada conferência das Nações Unidas que deverá definir o que acontece depois de 2012, quando se encerra o prazo de validade dos atuais compromissos com a redução dos gases de efeito firmados por meio do Protocolo de Kyoto. Tem muita coisa em jogo. Países que não têm metas de redução mas que são grande poluidores, como China, Índia e Brasil, estão sendo pressionados a assumir metas. Estes, por sua vez, argumentam que quem polui há mais tempo (= países desenvolvidos) devem não só ter metas mais agressivas como também ajudar as nações em desenvolvimento a alcançar suas metas por meio da transferência de tecnologia e pelo aporte de recursos financeiros. Novos mecanismos financeiros, como o pagamento para se manter a floresta em pé (REDD), têm potencial para redesenhar algumas economias. Não por acaso, esses encontros se tornam frustrantes: o processo democrático, por meio do qual todos opinam e participam, já é lento por si só - junte a isso uma miríade de lobbies de diferentes setores (econômicos, políticos, sociais) e o banho-maria está criado! Tudo cozinha muuuuito lentamente. As organizações não governamentais ligadas à questão ambiental bem que tentaram: enviaram observadores, organizaram protestos, pressionaram por meio da imprensa... Mas o saldo desse encontro foi o bom e velho "empurrar com a barriga" - para Barcelona, que é onde acontece a próxima reunião preparatória, e para Copenhagen. Só que a ONU só decide por consenso - e dificilmente será possível chegar a um consenso em Copenhagen se não houver um arremedo de consenso antes. E o que se vê a cada dia é mais discórdia, mais picuinha - e um número cada vez maior de lobbies contrários a qualquer medida drástica de controle das emissões dos gases de efeito estufa.
Talvez no futuro esse processo seja usado para ilustrar como funciona a irracionalidade humana. Porque sobrepor interesses individuais aos coletivos vai levar todos nós a uma situação que prejudicará inclusive quem defendeu seus próprios interesses. Portanto, além do viés individualista há, acima de tudo, o foco no curto prazo. Mas ainda assim pode-se questionar porque para indústrias de base, por exemplo, os planos econômicos são feitos dentro de um horizonte de no mínimo 10 anos. Ou seja, 2020 é presente para eles! A questão não é o tempo, mas a racionalidade técnica que é empregada na construção dos argumentos e dos cenários e que dá uma sensação de sensatez ao insensato. E não é porque essas pessoas não estejam "acessando seus sentimentos", para usar uma expressão grata aos alternativos. É porque não há uma crítica sobre os fins quando os meios são supostamente racionais. E da mesma forma que os ambientalistas se cercam de estudos que mostram o aquecimento, quem está contra (que não são só empresas, veja bem - há setores governamentais que também estão se movimentando) contratando especialistas e estudos que dão racionalidade a seus argumentos. Mais que empoderados (= cheios de poder), todos passam a se sentir enrazonados (= cheios de razão, nos diversos sentidos da palavra). Ninguém quer acabar com a humanidade ou o planeta ou as próximas gerações intencional ou conscientemente. Todo mundo acha que tem razão. E tem: razões técnicas. Racionalidade dos meios. Irracionalidade dos fins. Sabe o nazismo? Quando se usavam técnicas e pesquisas científicas para provar a superioridade de uma raça sobre a outra? E, depois, para criar métodos eficientes de eliminação das raças ditas inferiores? Pois é... Parece que não aprendemos a lição.
Fonte: Blog: http://ascendidamente.
Silvia Dias é jornalista, com experiência em comunicação corporativa com especialização em sustentabilidade.
Marina recebe prêmio da Fundação Príncipe Albert II de Mônaco
- A senadora Marina Silva (PV-AC) receberá, neste sábado dia 10 de outubro, em Mônaco, o Prêmio Mudanças Climáticas, oferecido pela Fundação Príncipe Albert II de Mônaco, em reconhecimento à sua contribuição para projetos na área do meio ambiente, ações e iniciativas conduzidas sob a ótica do desenvolvimento sustentável.
Anualmente, a fundação premia pessoas ou instituições com atuação especial e trabalho reconhecido em favor do meio-ambiente e da preservação do planeta nos três domínios de ação considerados prioritários pela instituição internacional: a mudança climática; a preservação da biodiversidade; o acesso à água e a luta contra a desertificação.
A Fundação, criada em 2006, se dedica, sobretudo, ao financiamento de projetos nas áreas de florestas, biodiversidade, água e meio-ambiente da região do Mediterrâneo. Em 2008, o "Climate Change Award" , foi concedido a Alain Hubert, explorador belga, da Fundação Internacional Polar.
Desde sua criação, em 2006, a Fundação apoiou financeiramente mais de 95 projetos, num total de 14,6 milhões de euros. Seu Conselho de Administração reúne 14 personalidades internacionais, inclusive ganhadores do Prêmio Nobel da Paz. Seu Conselho Científico e Técnico é constituído por 12 especialistas de projeção mundial.
Além de ser agraciada com um troféu especialmente criado para a ocasião, a senadora Marina Silva receberá da Fundação um prêmio de 40 mil euros. A entrega do prêmio, pelo Príncipe Albert II de Mônaco, será às 18 horas (hora local), no Fórum Grimaldi.
Este é o quinto prêmio internacional que Marina Silva recebe desde a sua volta ao Senado, depois de ter saído do Ministério do Meio Ambiente, em maio de 2008. Em abril deste ano, ela foi agraciada, em Oslo, na Noruega, com o Prêmio Sofia 2009, concedido anualmente pela Fundação Sofia a pessoas e organizações que se destacam nas áreas ambientais e do desenvolvimento sustentável.
Em outubro do ano passado, a senadora recebeu das mãos do príncipe Philip da Inglaterra, no palácio de Saint James, em Londres, a medalha Duque de Edimburgo, em reconhecimento à sua trajetória e luta em defesa da Amazônia brasileira - o prêmio mais importante concedido pela Rede WWF.
Marina Silva ainda foi agraciada, em 16 de outubro de 2008, depois que retornou ao Senado, com o Prêmio "World Rainforest Award", concedido pela Rainforest Action Network (RAN), como reconhecimento ao seu trabalho e compromisso para proteger a floresta tropical, Recebeu também, em março deste ano, o XIV Prêmio N´Áitun 2009, criado em 1996 por Artistas Pro Ecologia , destinado anualmente a pessoas e instituições que tenham se destacado na defesa do meio ambiente.
Assessoria de Imprensa da senadora Marina Silva (PV-AC)
Fone: (61) 3303 2184
quarta-feira, 7 de outubro de 2009
Fibras naturais da Amazônia serão usadas na fabricação de polímeros
Alex Sander Alcântara - 10/09/2008
A Floresta Amazônica coloca o Brasil no centro das principais discussões de políticas de manutenção e desenvolvimento sustentável. Devido à gigantesca biodiversidade de plantas lenhosas e fibrosas, pesquisadores vêem estudando formas sustentáveis de explorar o potencial de fibras vegetais naturais para a fabricação de polímeros.
Fênix Amazônico
Essa é uma das propostas do Fênix Amazônico, projeto de construção de um ecossistema de empreendimentos sustentáveis na Amazônia. Coordenado pelo pesquisador Antonio Donato Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), eo projeto é desenvolvido em parceria com o Departamento de Engenharia de Materiais da Universidade de São Carlos (DEMa/UFSCar).
De acordo com Alessandra Marinelli, da UFSCar, o Fênix é um projeto multidisciplinar cujo objetivo é despertar o interesse da comunidade científica das mais diversas áreas a fim de colaborar com o desenvolvimento de novas tecnologias que possam ser utilizadas para a recuperação de áreas degradadas da Amazônia.
Fibras amazônicas
"Os estudos iniciais do grupo de compósitos estão sendo realizados com o objetivo de testar a viabilidade do emprego das fibras de madeira balsa e da embaúba e fibras vegetais de bambu e mamona em compósitos com termoplásticos, em especial poliolefinas e PVC reciclados a partir de resíduos urbanos", disse Alessandra à Agência FAPESP.
Segundo o estudo, descrito em artigo na revista Polímeros, o grupo atua em duas frentes. Uma que trabalha com sistemas de produção com maquinário relativamente barato e simples, para que as comunidades rurais da Amazônia possam absorver a tecnologia. E a outra para desenvolver materiais compósitos com tecnologia de fabricação mais avançada.
"Desde agosto de 2006, exploramos conceitos de compósitos de polímeros com fibras vegetais naturais baseados em silvicultura de ciclo curto que pudessem colaborar com a proteção e recuperação da Floresta Amazônica. Escolhemos algumas espécies colonizadoras para serem exploradas, como a embaúba (Cecropia), balsa (Ochroma pyramidalis) e bambu. Incluímos também a fibra dos caules da mamona por fazer parte da cadeia de biocombustíveis", explica a pesquisadora.
Misturando fibras vegetais ao polipropileno
Essas fibras dos caules seriam obtidas a partir da rotação de culturas, importante para a manutenção do solo onde a mamona é cultivada. "Inicialmente, caracterizamos as fibras e, agora, produzimos os primeiros compósitos de polipropileno, virgem e reciclado, com fibras de madeira balsa. O aspecto visual dos compósitos é bastante promissor e a caracterização de suas propriedades mecânicas está sendo feita. Em breve, publicaremos resultados. A idéia é apontar quais as melhores fibras para aplicação em compósitos termoplásticos", disse Alessandra.
"Existe um enorme potencial para a descoberta de fibras naturais com propriedades desejáveis, como resistência mecânica, estabilidade química e biológica, resistência ao fogo, leveza, resistência à abrasão e ao cisalhamento, entre outras propriedades de interesse", apontou.
Aproveitamento de áreas degradadas
Segundo Alessandra, espécies pioneiras ou colonizadoras de crescimento rápido poderiam ser plantadas em áreas degradadas. "Quando suas copas se encontram formando um dossel, fornecem sombra e proteção para as árvores de madeiras nobres, que crescem em ritmo bem mais lento. Espécies com troncos espinhosos, tais como palmeira pupunha e curauá, podem ser utilizadas como cerca viva protetora ao redor dessas plantações florestais", explicou.
As árvores de ciclo curto, com madeira leve, podem ser colhidas dentro de um a dois anos, período equivalente ao da cana-de-açúcar. As madeiras nobres das árvores de crescimento mais lento podem ser colhidas em ciclo de seis a dez anos, equivalente ao do eucalipto.
Agregação de valor às fibras vegetais
"Um fator importante para o sucesso do método é a agregação de valor às fibras vegetais e outros subprodutos - como óleos vegetais, brotos comestíveis, frutos, fitocosméticos e fitoterápicos - das espécies de crescimento rápido e mesmo das plantas empregadas nas cercas vivas de proteção, que possam dar suporte à recuperação das espécies de crescimento lento", disse.
Alessandra conta que o grupo de pesquisa em compósitos baseado no Projeto Fênix Amazônico é aberto à participação de outros pesquisadores.
Bibliografia:Desenvolvimento de compósitos poliméricos com fibras vegetais naturais da biodiversidade.
Alessandra L. MarinelliI, Marcos R. MonteiroI, José D. AmbrósioI, Márcia C. BrancifortiII, Márcio KobayashiII, Antonio Donato NobreII
Polímeros
Vol.: 18 n.2
DOI: 10.1590/S0104-14282008000200005
América Latina é única região do mundo com superávit ecológico
da Folha Online
América Latina é a única região do mundo que ainda tem um "superávit ecológico" e por isso deve articular as políticas adequadas para preservar seus recursos, de acordo com a apresentação, nesta segunda-feira, do livro "O Poder Ecológico das Nações".
O texto ilustra com números e estatísticas a realidade ecológica das nações, um tema que foi considerado "da mais alta importância" pelo secretário-geral da CAN (Comunidade Andina), Freddy Ehlers.
Revelou que a mudança climática pode ter um impacto em 2025 que gerará perdas por US$ 25 bilhões nos países da CAN (Bolívia, Colômbia, Equador e Peru).
"Seria uma catástrofe para os países andinos. Um grau de temperatura em nível do mar equivale a seis graus nas alturas, nas geleiras, é por isso que estão derretendo", disse.
"Estamos diante de uma situação que não vamos poder conduzir. Se promove um modelo de vida que não é sustentável, não é possível. Houve esta trágica confusão entre crescimento e desenvolvimento", afirmou.
O livro foi apresentado na sede da CAN em Lima, por Ehlers; Antonio Cardoso Mota, chefe da Delegação Europeia no Peru; e Juan Alfonso Peña, representante de Acordo Equador.
Entre os especialistas convidados estiveram Mathis Wackernagel, diretor-executivo de Global Footprint Network; Juan Reiser, responsável do Projeto de Pegada Ecológica na Pontifícia Universidade Católica do Peru; e Arturo Alfaro, Representante do Fórum Cidades para a Vida.
Antonio Cardoso Mota afirmou que para a União Europeia (UE) "esta é uma temática de importância especial", já que se trata "de uma luta de nossa geração para deixar a nossos filhos e netos um mundo melhor".
"Este é um livro importantíssimo e acho que a todos nos interpela", assinalou.
"Queremos reforçar este componente de luta contra a mudança climática... nesta zona que tem os pulmões da humanidade", indicou ao referir-se à cooperação entre a UE e América Latina.
Mathis Wackernagel comentou que o século XXI "nos está obrigando a ver que a verdadeira riqueza da terra não está no dinheiro, mas nos recursos ecológicos".
A publicação é resultado da colaboração entre a Fundação Acordo Equador e Fórum Cidades para a Vida, com o apoio da Secretaria-Geral da CAN e a Comissão Europeia, através do projeto SOCICAN (Ação com a Sociedade Civil para a Integração Andina), e Global Footprint Network.
Com Efe
Nota das Ongs contra revogação da legislação ambiental brasileira
As organizações abaixo assinadas alertam à sociedade brasileira para a gravidade da proposta da bancada ruralista no Congresso Nacional (PLs 1876/99 e 5367/09) que tramita em comissão especial formada por maioria de parlamentares ligados ao agronegócio.
A proposta revoga ou modifica as principais Leis ambientais brasileiras, como o Código Florestal brasileiro, a Lei de Política Nacional de Meio Ambiente, a Lei de Crimes e Infrações contra o Meio Ambiente e a Lei do Sistema Nacional de Unidades de Conservação. Os principais instrumentos de gestão ambiental em vigor como a criação de unidades de conservação, as reservas florestais legais, as áreas de preservação permanente, o licenciamento ambiental, o Conselho Nacional de Meio Ambiente poderão ser revogados ou enfraquecidos para atender exclusivamente por encomenda setorial dos ruralistas.
Às vésperas de uma das mais importantes reuniões internacionais de todos os tempos (Conferência do Clima em Copenhagen em dezembro próximo) que tratará de mecanismos e compromissos com a redução de emissões de gases de efeito estufa a bancada ruralista, com a conivência do governo federal, insiste em colocar em pauta e em ritmo acelerado propostas que põem em sério risco as principais leis brasileiras, em especial a que regulamenta o controle do desmatamento em todos os Biomas brasileiros. Ressalte-se que o desmatamento é responsável por mais de 50% das emissões brasileiras.
As organizações abaixo assinadas pedem ao Presidente da República e ao Presidente da Câmara dos Deputados o empenho necessário para que os Projetos de Lei aqui referidos (PL 1876/99 e 5.367/09) sejam rejeitados, ou que, no mínimo, sejam objeto de amplo debate nacional e tramitem ordinariamente nas comissões temáticas pertinentes viabilizando assim a participação ativa e informada de todos os setores interessados no desenvolvimento sustentável no Brasil.
As principais leis ambientais brasileiras a Lei da Mata Atlântica, a Lei de Gestão de Florestas Públicas, a Lei de Crimes e Infrações contra o Meio Ambiente, a Lei do Sistema Nacional de Meio Ambiente, Lei de Gerenciamento de Recursos Hídricos, Lei de Informações Ambientais e Lei do Sistema Nacional de Unidades de Conservação foram objeto de amplo debate no Congresso Nacional sendo inadmissível que este governo permita modificações de leis tão importantes para o desenvolvimento nacional sustentável sem um amplo e aberto debate nacional.
Brasilia, 06 de outubro de 2009
Associação Preserve a Amazônia
Apremavi
Amigos do Futuro
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quinta-feira, 1 de outubro de 2009
Preferir Marina
Folha de S. Paulo, 1º de outubro de 2009.
TENDÊNCIAS/DEBATES
JOSÉ ELI DA VEIGA
A base de apoio de um governo Marina Silva será necessariamente construída pela atração daquilo que há de melhor no PT e no PSDB
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A PROFUNDA convicção de que o Brasil só se tornará uma nação desenvolvida se vier a ser simultaneamente competitivo e ambientalmente sustentável é o que move todos os que já veem na senadora Marina Silva a melhor solução pós-Lula. E, para explicar os motivos dessa aposta, são unânimes em também enfatizar valores de vida e de convivência consagrados na sexagenária Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Porém, alguns revelam duas sérias propensões a dúvidas ou restrições.
Por um lado, que a espiritualidade de Marina possa trazer prejuízos ao racionalismo iluminista que vem ajudando a sociedade a se livrar de inúmeras superstições e preconceitos limitadores de autonomia individual e de liberdades cívicas.
Por outro, que as inescapáveis circunstâncias políticas da viabilização de sua candidatura não ofereçam as imprescindíveis condições de governabilidade.
Na primeira tendência chega a haver insinuações de atitude obscurantista pelo fato de Marina Silva não ser categórica sobre meia dúzia de questões: acesso legal das mulheres ao aborto, direito de usar drogas leves, conquistas da comunidade LGBT, educação científica separada da religiosa nas escolas confessionais e normas de biossegurança para cultivos transgênicos ou pesquisas com células-tronco.
Antes de tudo, não se deve esquecer que são questões sobre as quais há sérias controvérsias ético-científicas que racham a sociedade brasileira.
Podem ser ótimas para inquirir a senadora, porque ela assume sua condição de evangélica. Mas, fosse ela tão hipócrita quanto exigem as práticas mais costumeiras da política, tais polêmicas nem seriam lembradas. Muito menos usadas em tentativas de estigmatizá-la ou tachá-la de fundamentalista.
Pois bem, eu sou ateu há mais de 40 anos e radical adepto do darwinismo generalizado. Entendo as religiões como frutos da adaptação cultural.
Por isso, não tenho dúvida em optar pelos valores humanos que guiam a senadora. Pois ele são infinitamente superiores àqueles preferidos por materialistas vulgares e que servem até para justificar toda a nojeira que tem sido praticada no Senado e na Câmara dos Deputados pelos dois oligopólios partidários.
Por que deveria eu ter aversão a uma crente que nutre mais respeito pela diversidade cultural e pelas liberdades civis do que todas as raposas políticas juntas? Apenas uma lembrança: as que agora bajulam o ilegítimo e horrendo regime iraniano.
Sobre a segunda tendência, como estimar as chances de governabilidade? A base de apoio de um governo Marina será necessariamente construída pela atração daquilo que há de melhor no PT e no PSDB, alijando do poder os arranjos que foram montados por oligarcas com o propósito de chantagear os presidentes FHC e Lula. Só Marina poderá isolar essa corja.
Se der Ciro ou Dilma, o poder será exercido em parceria com esquema bem semelhante ao que está sendo regido por Sarney, Renan, Temer & Cia. Ltda. Se der Serra ou Aécio, esse mesmo arranjo será recauchutado sob a égide dos demos.
Por isso, a pergunta básica ao eleitor bem informado é: o que será melhor para a sociedade brasileira? Um governo de rude gerência executiva, necessariamente refém de sinhozinhos que organizam e comandam fisiológicos e oportunistas de todas as siglas e regiões, ou uma coalizão entre social-democratas e verdes conduzida por meiga, firme e serena seringueira negra com larga experiência política senatorial e ministerial?
Além disso, não será melhor que a chefia do Estado siga rigorosamente código de ética em que a sustentabilidade ambiental seja algo intrínseco?
Ou seria melhor que ficasse para quem já foi capaz de falsificar méritos universitários e ignora os riscos que corre a espécie humana, por falta de precaução com uma dezena de problemas usualmente classificados de "ambientais", mas que, a rigor, são de segurança e tão sérios quanto a violência alimentada pelo narcotráfico ou por todas as máfias e gangues que põem em xeque o Estado de Direito?
Enfim, está mais do que na hora de parar com esse besteirol de dizer que a alternativa verde seria "ambientalista". O que a distingue de candidaturas vermelhas, rosas ou de colorida plumagem não é qualquer apego romântico à preservação da natureza.
Ao contrário, é a consciência de que não haverá desenvolvimento se o crescimento econômico minar a sustentabilidade ambiental. De que crescer sem conservar é cavar a própria cova.
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JOSÉ ELI DA VEIGA , 61, é professor titular da Faculdade de Economia da USP. www.zeeli.pro.br