Lauro Eduardo Bacca
(artigo para o JSC de 05/11/2014)
Dedicado a Álvaro
Correia
O gigantesco condomínio, bem funcional dentro de sua
complexidade, desenhado, planejado e acabado para funcionar perfeitamente, com
muita área verde, piscinas e playgrounds, tudo na mais perfeita harmonia, depois
de tempos com alguns residentes mais antigos, finalmente começou a receber novos
ocupantes.
Muitos dos inquilinos, assim que tomaram posse, iniciaram um
inacreditável processo de depredação. Cortinas foram rasgadas, paredes
pichadas, janelas partidas, carne assada com fumaça no meio da sala, refeições
feitas nos quartos, sobre camas lambuzadas, chuveiros arrancados e vasos
sanitários quebrados, sujeira por todos os lados. Era na sacada que muitos iam
dormir depois de destruir o ar condicionado, onde a chuva molhava e tornava
imprestáveis os colchões ali esquecidos.
A parcela dos ocupantes tidos como mais “civilizados”, entre
estarrecidos e sentindo-se impotentes, tentava tocar a vida, cobrando uma
atitude da administração, que dizia nada poder fazer, em meio àquele caos. Até
o dia em que destruíram as bombas que mandavam água para o alto e todos ficaram
sem o precioso líquido. Esse condomínio bem que poderia se chamar Brasil.
Estou pegando pesado demais? Sim, caro e preclaro leitor,
mas foi essa a sensação que tive depois de ler uma matéria com o cientista brasileiro
Antonio Donato Nobre, primeiro na Folha de São Paulo e depois na íntegra, em "Estamos indo direto para o matadouro" que aqui compartilho, recomendando
a leitura [materias referentes ao accessivel relatorio do mesmo autor: O Futuro Climático da Amazônia].
Ocupamos
um paraíso. De cara arrebentamos com a cortina da Floresta Atlântica arrancando
92% dela e danificando a maior parte dos 8% que restaram; pichamos grande parte
de nossas paisagens mal manejadas e expostas à degradação. Deitamos fogo em
tudo, dizimamos a fauna e os recursos naturais. O lixo, a poluição das
queimadas, esgotos e agrotóxicos ainda imperam nas nossas salas de estar que
são as cidades e os campos. Nossos dejetos ainda cheiram fétidos no que
deveriam ser veios de água límpida, os rios e córregos. Para completar, estamos
destruindo a Floresta Amazônica, a bomba d’água que garante que São Paulo e
tantos outros lugares não vire um deserto, num momento em que, como diz
o cientista, o desmatamento não deveria apenas estar totalmente cessado, mas
revertido até com um esforço de guerra de reflorestamentos e recuperações de matas
nativas.
O assunto é chato, eu sei, mas a realidade está aí, para
quem quiser conferir, se conscientizar e cobrar da síndica, primeiro passo para
reverter a degradação do nosso condomínio Brasil.