A ocorrência de enchentes em rios do Brasil pode ser quase 90% maior até  o fim do século, se nada for feito para combater as mudanças  climáticas, de acordo com um estudo divulgado na Conferência das Nações  Unidas sobre o Clima em Durban, na África do Sul.
A pesquisa científica do Met Office Hadley Centre, da Grã-Bretanha,  simulou os impactos, em 24 países, de emissões - no padrão atual - em 21  modelos climáticos diferentes. Cada modelo foi produzido por  computadores poderosos que simulam a interação entre parâmetros de dados  da atmosfera, temperaturas e oceanos.
No caso do Brasil, a conclusão a que chegaram é que o risco de aumento  de enchentes no país seria 87% mais alto que atualmente. Esse é o valor  central entre os dois extremos dos resultados apresentados pelos modelos  climáticos, tanto de aumento (na maioria) quanto de redução do risco.
Os resultados mais extremos dos modelos chegaram a indicar um aumento de  638% no risco de cheias no Brasil. Por outro lado, houve modelos que  indicaram até queda neste risco, com o mínimo sendo de -67%.
Sem ações para a redução de emissões, o aumento de temperatura pode  ficar entre 3ºC e 5ºC até o fim do século, segundo a pesquisa.
Outra pesquisa divulgada no início da semana indica que, mesmo com as  reduções já prometidas, o aquecimento global até 2100 pode chegar a  3,5ºC.
Sinal de alerta
A pesquisa foi encomendada pelo governo britânico e usada como sinal de  alerta para que os negociadores de 194 países reunidos em Durban busquem  um empenho maior na busca por um acordo de redução de emissões.
"Nós queremos um acordo global e legalmente vinculante para manter (o  aumento) das temperaturas abaixo de 2ºC. Se isso for conseguido, este  estudo mostra que alguns dos mais significativos impactos das mudanças  climáticas poderiam ser evitados significativamente", afirmou o ministro  de Energia e Mudança Climática da Grã-Bretanha, Chris Huhne.
Entre os 24 países analisados no estudo, o Brasil, apesar da  possibilidade alarmante de aumento de enchentes, aparece como um dos que  menos seriam afetados pelas mudanças climáticas, tanto positivamente  quanto negativamente.
A Espanha, por exemplo, pode perder 99% da sua área de cultivo na  agricultura, segundo os modelos climáticos, além de enfrentar um aumento  na escassez de água que afetaria 68% da população.
A falta d'água também aparece como problema grave para o Egito, onde 98%  da população seria afetada. O país norte-africano também perderia mais  de 70% de sua área de cultivo.
A Grã-Bretanha, cujos dados meteorológicos, de temperatura e outros  usados nos modelos são mais robustos, poderia até ter motivos para  comemorar os impactos das mudanças climáticas. Enquanto o estudo indica  que o Brasil não deve perder nem ganhar área de cultivo, a Grã-Bretanha  poderia praticamente dobrar a sua agricultura, com um aumento de 96% na  área compatível.
Os impactos se devem principalmente a previsões de mudança nos padrões de chuvas no planeta.
Isso pode levar a grandes riscos de fome, principalmente na África e em Bangladesh.
 
