sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Belo Monte, ambientalismo e governança

ECO VERDE
Agostinho Vieira • oglobo.com.br/blogs/ecoverde

O tema está na pauta há mais de 30 anos, desde os governos militares. Sempre discutido com muita paixão, e até com certa violência. Na última semana, voltou às páginas por conta da decisão do governo de conceder uma licença para a instalação de um canteiro de obras. Nesta coluna especial sobre Belo Monte, vamos tratar do assunto do ponto de vista estratégico, discutir a floresta e não a árvore, abordar a segurança energética e a preservação do maior patrimônio ambiental do Brasil: a Amazônia.

Para isso, foram convidados 10 especialistas no assunto. Eles responderam a duas perguntas: Você é contra ou a favor de Belo Monte? Por quê? O grupo ficou dividido e ambos os lados apresentaram bons e sólidos argumentos. Mas algumas conclusões são óbvias. A primeira, é que a obra não é obviamente boa e nem obviamente ruim. Talvez não seja urgente como argumenta o governo, mas também não é o maior absurdo do planeta como tentam fazer crer alguns ambientalistas. Outro ponto claro é a total falta de habilidade, dos diversos governos, em lidar com esse tema. Temos um problema de governança e de credibilidade. As audiências públicas não são públicas, os números não batem e não existe transparência. Onde falta gestão, sobra desinformação e prospera o radicalismo. Um assunto estratégico e de Estado é tratado como se fosse um problema do Ibama.

Mas as grandes divergências estão nas visões sobre os impactos ambientais e sociais e sobre a necessidade de energia que o país terá nos próximos anos. Uns acham que os impactos são grandes, outros que eles são mínimos e que há benefícios sociais. Para os defensores, o Brasil não crescerá sem a energia da Amazônia. Para os críticos, a prioridade é investir em eficiência e em usinas eólicas e de biomassa. Um debate que afeta a vida de todos deveria ser mais democrático e racional.

José Goldemberg, professor da USP
SOU CONTRA porque, na realidade, Belo Monte não é necessária. Sucessivos governos têm a idéia fixa e atrasada de que o consumo de energia tem de crescer junto com o PIB, o que não é verdade. Podemos suprir a demanda com eficiência energética e com energias renováveis. Com isso teremos tempo para planejar hidrelétricas de médio porte na própria Amazônia.

Suzana Kahn, vice-presidente do IPCC
SOU A FAVOR porque não existe uma fonte de energia isenta de impactos. Até a energia eólica tem problemas. Claro que temos muito a fazer na área de eficiência, mas isso não será suficiente. Precisamos resolver o que queremos para o nosso futuro. Sem hidrelétricas temos que usar mais combustíveis fósseis ou nucleares.

José Eli da Veiga, economista
SOU CONTRA porque se não democratizar o planejamento energético, tornando-o transparente, não poderá ser racional o aproveitamento das partes mais aptas do potencial hidrelétrico da Amazônia.

Luiz Pinguelli Rosa, diretor da Coppe
SOU A FAVOR porque as restrições ambientais não são grandes. Um reservatório de 500 km2 é quase do mesmo tamanho do leito do rio expandido. O nosso nível de consumo ainda é cerca de um décimo do americano. Vamos precisar de energia. Não podemos esquecer que o nosso sistema é interligado e que a geração de Belo Monte será importante para abastecer o país.

Ricardo Baitelo, coordenador do Greenpeace
SOU CONTRA porque os impactos sociais e ambientais são enormes. Belo Monte provoca uma pressão grande sobre a floresta. Economicamente ela não é viável. Temos que investir em eficiência energética. Precisamos de mais usinas eólicas, de biomassa e solar. Além de aumentar a potência das hidrelétricas já existentes.


Carlos Minc, secretário de Meio Ambiente
SOU A FAVOR porque o Brasil foi o primeiro país em desenvolvimento a ter metas de gases de efeito estufa e precisamos cumpri-las. A construção de hidrelétricas de fio d’água e usinas plataformas fazem parte desse processo. Mas é preciso que sejam atendidas as 40 condicionantes.

Fernando Almeida, consultor ambiental
SOU CONTRA porque não sei qual será a vazão ou o custo final da obra. Como profissional, acho que não foram considerados os impactos na biodiversidade. Como gestor de agência ambiental eu jamais daria uma Licença de Instalação sem que as exigências tivessem sido atendidas. Isso é ilegal.

Rogério Cezar Cerqueira Leite, Unicamp
SOU A FAVOR porque se o Brasil for impedido de aproveitar o seu potencial hidrelétrico, será forçado a recorrer ao combustível fóssil. O que provocará, no longo prazo, a desertificação da Amazônia. Do jeito que está planejada Belo Monte, usina de fio d’água, não há no Brasil melhor opção do ponto de vista de sustentabilidade, que combine condições ecológicas e financeiras.


Sérgio Besserman, economista 
NÃO É POSSÍVEL dizer se sou a favor ou contra porque não tenho as informações que gostaria. Esse é o custo de uma governança de baixo nível e pouco democrática. Não sou contra hidrelétricas e acho que os ambientalistas precisam aprender a lidar com decisões que levem em conta a relação custo benefício. Mas não há necessidade de fazer Belo Monte com essa urgência toda.

Denise Hamú, WWF-Brasil
NÃO SOMOS CONTRA Belo Monte em si. Defendemos a ideia de um planejamento que considere a Amazônia como um todo e não rio por rio. Acreditamos que o país deveria partir de uma perspectiva mais ampla no planejamento da matriz elétrica. Que levasse em conta o funcionamento dos sistemas ecológicos e a dinâmica social e cultural em torno das bacias hidrográficas.

enviado por J. Eli da Veiga