Jorge Hage (*)
O mundo celebrou no dia 9 o Dia Internacional Contra a Corrupção, instituído pela ONU. 
Nestes dias finais do Governo Lula, é tempo de reflexão sobre o que fizemos e o que ainda precisa ser feito nessa área. 
Lembremos  as medidas iniciais, a base do que veio depois: o fortalecimento da CGU  e da PF e a decisão de fazê-las atuar de forma articulada, em operações  conjuntas, desbaratando quadrilhas há muito existentes. Pouco depois, o  Sistema de Corregedorias, com uma em cada ministério.
Decisiva  foi também a nova relação com o Ministério Público, para que pudesse  cumprir sua função constitucional, ao contrário do que ocorria antes,  quando um Procurador ganhou a alcunha de “Engavetador-Geral”. Hoje, essa  autoridade é apontada pelo voto dos seus pares, o que garante sua  autonomia. 
No  campo da transparência, este governo partiu do zero, tal era a “caixa  preta” das despesas. Hoje, o Portal da Transparência é reconhecido como  um dos mais completos do mundo, permitindo a qualquer cidadão saber hoje  de todos os gastos feitos até ontem à noite pelo governo. 
Para  afastar a impunidade, que sempre imperou por aqui, já foram demitidos  mais de 2,8 mil servidores. Passaram a ser punidas também as empresas  fraudadoras: mais de 3,7 mil já estão proibidas de contratar com a  Administração.  
Claro  que isso não é tudo, pois ainda não se consegue por os corruptos na  cadeia, graças às leis processuais e à interpretação dada às garantias  do réu. Mas pelo menos os estamos excluindo da Administração.
Esses  esforços já ganharam reconhecimento internacional e levaram nosso país a  uma posição de liderança. Organismos como a ONU e a OCDE vêm apontando o  Brasil como modelo no esforço contra a corrupção.
O país acaba de ser bem avaliado por esta última e de ser convidado para integrar seu Comitê de Governança Pública, em Paris. 
Aqui  se realizou a Conferência da OEA, pela primeira vez fora dos Estados  Unidos. E fomos escolhidos pela Transparência Internacional (TI), para  sediar, em 2012, a Conferência Anti-Corrupção, que reúne mais de cem  países.
Como se vê, conquistamos confiança e credibilidade. 
Pesquisa  mundial divulgada pela TI no dia 9, mostra o Brasil no grupo de países  menos castigados pela praga da propina: apenas 4% dos entrevistados já  foram submetidos a isso, índice igual ao Canadá e melhor que os Estados  Unidos e a União Européia (5%). A média da América Latina foi 23% e a  mundial 25%.
Mas  o item mais divulgado em nossa mídia foi o de 54% das respostas  considerando insuficiente o que o governo faz para combater corrupção.  Pois bem: a mesma tabela mostra que nos EUA esse percentual é 71%, no  Canadá 74, na Alemanha 76, na Inglaterra 66 e na Finlândia 65. Já no  Azerbajão é de apenas 26%, no Kenia 30%, em Uganda 24% e em Sierra Leone  12%. Como assim? A tabela está invertida? Não. O que ela mostra é que  quando a pergunta envolve “percepção” (em lugar de fatos concretos), a  resposta depende do nível de informação, de exigência e de consciência  crítica  de cada sociedade. Por isso, é preciso cautela nas comparações.  
Mas  não resta dúvida que ainda há muito por fazer aqui. Falta a reforma  política, a do financiamento de campanhas, a das emendas parlamentares e  a das leis processuais, entre outras. 
E  certas coisas só evoluem com a pressão da sociedade. O exemplo da Lei  da Ficha Limpa pode e deve multiplicar-se. Porque é muito importante que  o Brasil continue avançando nessa área. 
 
