sábado, 12 de setembro de 2009

Cientista propõe “jardinagem” para recuperar florestas

2009-09-09 - 19:42:53

Uma das responsáveis pelo Santuário Botânico Guruluka (GBS), na Índia, a cientista indiana Suprabha Seshan acredita que técnicas simples, como a jardinagem, podem ser capazes de recuperar áreas destruídas pela ação do homem.

Por Mário Bentes e Daniel Jordano

Uma atividade simples como a jardinagem pode ser muito eficaz para a recuperação de áreas de floresta devastadas pela ação do homem. É o que afirma e mostra a cientista e ambientalista indiana Suprabha Seshan, que esteve nesta quarta-feira (9) no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), em Manaus, onde realizou uma palestra aberta ao público.

“Existe uma força na natureza e na terra, uma força curativa, uma força que os jardineiros aproveitam em seu trabalho. Nós sugerimos que a jardinagem, uma atividade relativamente simples e sem status, é um modo através do qual seres humanos podem participar na restauração e cura de paisagens torturadas e devastadas”, afirmou a cientista, logo no início da apresentação.

Seshan é uma das responsáveis pelo Santuário Botânico Guruluka (GBS), na Índia, que existe oficialmente desde 1981. Hoje tida como um tipo de reserva ambiental de uso comum, o espaço já foi uma grande área degrada em função do desmate ilegal e de intervenções mal-implementadas, como assentamentos e hidrelétricas, mas que vem sendo recuperado ao longo dos últimos 40 anos, a partir da iniciativa de um pequeno grupo de mulheres.

Segundo a cientista-ambientalista, o espaço que hoje corresponde ao GBS fica situado em regiões montanhosas da Índia conhecidas como “ghats”, que se estendem por mais de mil quilômetros e podem atingir 2,6 mil metros de altitude. “Estas áreas guardam pelo menos cinco mil espécies de plantas e outras mil de musgos e samambaias”, afirma Seshan, lembrando que boa parte da flora do local é endêmica.

Jardinagem e recuperação

O trabalho de recuperação, chamado de Green Phoenix (“Fênix Verde”), é feito basicamente a partir do replantio e conservação de espécies nativas de plantas nas áreas devastadas, mas compreende ainda um grande esforço de conscientização das populações nativas no sentido de que se compreenda a importância da conservação da biodiversidade como forma de manter o equilíbrio entre homem e meio ambiente.

A iniciativa atrai a cada ano mais adeptos, e está se estendendo a outras regiões da Índia que passaram por processos semelhantes de degradação. Suprabha Seshan estima que pelo menos 50 mil pessoas já conheceram de perto o Santuário Botânico de Guruluka.

“Além do trabalho de recuperação propriamente dito, o projeto conta ainda com a colaboração de pesquisadores e cientistas, que passaram a se interessar pela iniciativa a partir dos resultados obtidos”, afirma. Em 2006, o GBS recebeu o Whitley Award, um dos mais prêmios mais prestigiados do Reino Unido.

Hoje o projeto dispõe de um tipo de centro de capacitação e formação, instalado no próprio GBS, onde pessoas de todas as partes da Índia estão recebendo instruções para implementar o Green Phoenix.

“Já há muitos grupos na Índia que trabalham com essa abordagem. A mudança não é apenas na área do Santuário, mas há uma multiplicação em vários grupos com essa mesma preocupação, a de resgatar espécies ameaçadas”, declarou.

Consumo, sustentabilidade e o “American Way of Life

Questionada a respeito da ideia de sustentabilidade, onde aspectos de desenvolvimento econômico seriam implementados tendo em vista o lado ambiental, a especialista é categórica: “Não é possível manter a sustentabilidade se as pessoas quiserem ter o padrão de consumo semelhante ao norte-americano. Na Índia, onde vivem um bilhão de pessoas, não é possível. Temos de mudar os conceitos”, alertou.

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