Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia. A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma
a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.
A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.
A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E, não acreditando nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa
duração.
A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.
A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagar mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais
dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.
A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.
A gente se acostuma à poluição. Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À lenta morte dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.
A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só os
pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.
A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta, para poupar o peito.
A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma.
(1972) Estou encantada com a minha memória (ai, como me amo!), nem acreditava que me lembraria. Eu estudei este texto na minha infância, lembro que me marcou muito e a partir de então a palavra *costume* foi me assustando. Sempre tive medo de me acostumar...às pessoas, situações e lugares...mas como diz o texto nos acostumamos mesmo assim!
Não que eu seja a pessoa mais dinamica ou a pessoa mais desistente da face da terra, mas tenho medo de me acostumar com as coisas ruins, com os meus desamores, com a rotina e com o gosto amargo da indiferença. Tenho medo de me acreditar assim para o resto da vida, como se em algum momento você perdeu o fio de Ariadne que te faz sair do labirinto. Sempre que me pego desesperada com a vida e com os Homens (este no sentido genérico, por favor!) ...me lembro dos meus planos bobos....de tão bobos que me fazem acordar todos os dias...
Por fim,
*É preciso não esquecer nada/ Cecilia Meireles*
"É preciso não esquecer nada: *
*nem a torneira aberta nem o fogo aceso, *
*nem o sorriso para os infelizes *
*nem a oração de cada instante.
É preciso não esquecer de ver a nova borboleta *
*nem o céu de sempre.
O que é preciso é esquecer o nosso rosto, *
*o nosso nome, o som da nossa voz, o ritmo do nosso pulso.
O que é preciso esquecer é o dia carregado de atos, *
*a idéia de recompensa e de glória.
O que é preciso é ser como se já não fôssemos, *
*vigiados pelos próprios olhos severos conosco, *
*pois o resto não nos pertence."
*
"Deus nos fez perfeitos e não escolhe os capacitados, capacita os escolhidos. Fazer ou não fazer algo só depende de nossa vontade e perseverança." (Albert Einstein)
Todo mundo ama seus filhos
em excesso e procuram fazer o melhor por eles. O problema é que autores
de um novo estudo dizem que o narcisismo em crianças é cultivado pela infantolatria dos
pais – crentes que eles são mais especiais e têm mais direitos do que
outros. A atitude pode ter um impacto negativo na vida da criança.
Quando a criança sente que é centro do mundo
A
maioria dos pais pensa que os filhos são especiais e merecem sempre um
tratamento melhor. Quando isso acontece, por outro lado, é comum que
eles se tornem narcisistas e passem a acreditar que realmente são superiores aos outros. Pelo menos é o que sugere um estudo da Ohio State University, dos Estados Unidos.
Em contrapartida, os pesquisadores descobriram que as crianças criadas em uma atmosfera de cordialidade parental
simples são mais propensas a ter um nível adequado de autoestima, mas
não narcisismo. Ou seja, é bom ser um pai amoroso, mas estabelecer
limites e evitar tratar seus filhos como se eles fossem intocáveis.
Infantolatria tem efeito negativo na fase adulta. Foto: iStock, Getty ImagesPara chegar a essas conclusões, os estudiosos avaliaram 565 crianças de sete a 11 anos, que moravam em bairros de classe média
da Holanda. Pais e filhos responderam a uma série de questões
destinadas a avaliar os níveis de narcisismo e autoestima dos pequenos,
bem como sobrevalorização dos pais sobre seus filhos.
A
equipe de investigação descobriu que as principais expressões que
indicam sobrevalorização dos filhos incluem declarações como meu filho é mais especial do que as outras crianças. Foi apurado que quando isso ocorria com frequência, os pequenos ficavam excessivamente convencidos de sua própria importância.
Infantolatria pode ter efeitos negativos mais tarde
Psicólogos da Loyola University Chicago alertam
que os pais que idolatram seus filhos podem influenciar no sucesso das
crianças mais tarde. Vale a pena temperar o narcisismo e evitar frustrações na vida adulta.
Mas afinal, o que é narcisismo? Trata-se daquela personalidade que busca atenção constantemente
e que se considera melhor do que os outros. Quando essas pessoas se
sentem humilhadas, elas podem atacar de forma agressiva ou até mesmo
violenta. Não é raro ainda que definam metas irrealistas e tentem tirar
vantagem de outros.
Em compensação, uma quantidade certa autoestima
é importante. Há vários fatores necessários para a sua construção:
família, amigos, fracasso, habilidades e realizações são alguns
exemplos. Os pais devem oferecer apoio realista e respeito
às lutas de seus filhos, o que os torna mais capazes de conseguir uma
boa dose de confiança.
Vale saber ainda que um estudo publicado na revista Psychological Science indica que a infantolatria
é capaz de promover grandes expectativas de alcançar sucesso no futuro –
tanto no âmbito profissional quanto no familiar. Parece bacana, mas os
pesquisadores sugerem que isso é uma receita para a depressão mais além.
Gostou do artigo? Qual é a sua opinião sobre ele? Venha compartilhar suas experiências e tirar suas dúvidas no Fórum de Discussão Doutíssima! Clique aqui para se cadastrar!
Há
várias décadas, tem crescido o interesse pela relação entre as emoções,
os pensamentos e o corpo físico. A comunidade científica já aceitou a
inegável influência que esses fatores “invisíveis” têm sobre nosso
corpo.
Como por exemplo, ao sofrer uma grande dor emocional, como a
perda de um ente querido, alguém pode sofrer um ataque cardíaco ou um
derrame, o que pode até levar à morte.
Mas, quando as emoções não
são tão intensas, é um pouco mais difícil notar a relação entre elas e o
estado da nossa saúde. Além disso, os pensamentos que alimentamos também podem influenciar nosso bem-estar, para bem e para mal.
Sintomas físicos da relação corpo-mente
A
relação entre as emoções e o nosso corpo é bem conhecida pela sabedoria
popular. Algo que percebemos graças à experiência e ao instinto. Por
exemplo, é comum sentirmos dor de barriga antes de uma prova, entrevista
de emprego ou outra situação em que seremos avaliados.
A dor de
estômago também pode ser sintoma de estresse, como quando temos
dificuldades no trabalho, nos relacionamentos ou problemas financeiros.
Dificuldades para dormir, perda do apetite e tremores também são sintomas de uma mente estressada. A ansiedade pode levar algumas pessoas a procurar conforto na comida, sobretudo em alimentos ricos em açúcar e carboidratos,
como chocolate, bolos, biscoitos, coxinhas, pizzas etc. Isso pode levar
ao aumento de peso e a todos os problemas associados a ele.
A
vergonha faz nosso rosto ficar vermelho e o medo faz com que o nosso
rosto fique pálido. Quando a emoção é muito forte, o coração bate mais
rápido, aumentando a pressão arterial.
Enfim, há muitas “provas” de que as emoções têm influência direta sobre o nosso corpo, o que pode causar doenças. Mas será que podemos ter algum domínio sobre o que sentimos e pensamos?
Afirmações positivas para curar
A
autora Louise Hay é uma das mais respeitadas quando se trata de
afirmações para a saúde, prosperidade, bem-estar e cura. Nos seus livros
“Você pode curar sua vida”, “Cure seu corpo” e “O poder das afirmações
positivas”, ela compartilha muitas informações valiosas sobre como você
pode assumir a responsabilidade pelas suas emoções e pensamentos,
curando, assim, não apenas o corpo, mas também todas as áreas da sua
vida.
Louise acredita que o amor próprio é a chave da saúde e da
felicidade verdadeiras. Um exercício simples que qualquer pessoa pode
fazer e que a autora recomenda em seus livros, é este:
Cerca de três vezes por dia, durante pelo menos um mês, diga, na frente do espelho, olhando para seus olhos:
“Eu amo você. Tenho orgulho de você”. Essas afirmações simples, mas
poderosas, devem ser ditas com sinceridade, sem nenhum criticismo. É normal sentir alguma resistência no início, mas persista até que se torne um hábito natural se elogiar.
Pensamentos de autocrítica
Constantemente,
temos um “diálogo interno” com nós mesmos, sem que nos demos conta. São
as histórias que repetimos por dias, meses, anos, décadas e por toda a
vida, sobre quem somos, o que podemos ou não fazer, o que outras pessoas
nos fizeram, etc. Quando esse diálogo é muito negativo, ele traz consequências danosas para a saúde física e mental. Exemplos de diálogos internos negativos:
– “Sou muito burra”.
– “Sou muito gorda”.
– “Não consigo emagrecer”.
– “As pessoas vivem me passando para trás”.
– “Ninguém gosta de mim”.
– “Não sou (bonita/inteligente/rica/boa…) o bastante”.
E por aí vai.
Uma boa maneira de combater esses pensamentos negativos é fazendo
terapia. Anotá-los em um diário e questioná-los também é bastante
eficaz, pois você se tornará consciente de seu próprio diálogo interno.
Outro efeito nocivo desses “diálogos internos” inconscientes é que eles
vão atrair pessoas que pensam como você a seu respeito. Assim, se você
acreditar que é “burra”, por exemplo, atrairá pessoas em sua vida que
vão confirmar esse pensamento.
Boas maneiras de melhorar sua saúde através das emoções e pensamentos
Não
podemos “controlar” nossos pensamentos e emoções, mas podemos
adotarpráticas saudáveis que nos ajudarão a lidar melhor com eles.
Uma dessas práticas é a meditação. Meditar pode ser a melhor coisa a
fazer assim que você acorda, pela manhã. Dedique cerca de 15 minutos por
dia a uma prática meditativa, sozinho ou em grupo.
Outra prática
muito benéfica é a de atividades físicas. Corrida, hidroginástica,
caminhadas na natureza, aeróbica, pilates, ioga e os vários tipos de
esportes podem fazer maravilhas para o corpo, aumentando o nível de
endorfina e a sensação de bem-estar, ajudando a equilibrar as emoções. Cantar, dançar, pintar e realizar alguma atividade criativa e artística são bálsamos para as emoções.
Você pode se dedicar a algum tipo de atividade assim, como a escrita, a
pintura em tecidos, o bordado e a dança, apenas para citar algumas. É
também uma excelente oportunidade de conhecer novas pessoas. Exercícios
de relaxamento profundo podem ser muito curativos. Você pode comprar CDs
ou baixar meditações pela internet, como a ioga nidra, uma técnica de
relaxamento simples, mas muito eficaz.
Cuidar bem da sua saúde
mental e emocional terá um impacto positivo na saúde do seu corpo. Além
disso, você estará cultivando uma postura mais positiva diante da vida, o
que atrai felicidade.
Enquanto nos maravilhamos com as descobertas da NASA, destruímos nossos recursos naturais insubstituíveis - para que possamos comprar bananas pré-descascadas e smartphones para cães.
Evidência para a água fluindo em Marte: isso abre a possibilidade de vida, de maravilhas, que nem podemos começar a imaginar. Sua descoberta é uma realização surpreendente. Enquanto isso, os cientistas marcianos continuam sua busca por vida inteligente na Terra.
Podemos ser cativados pelo pensamento de organismos em outro planeta, mas parecemos ter perdido interesse em nossa próprio. O Dicionário Oxford para crianças está extirpando palavras marcantes do mundo vivo.
Somadores, amoras, jacintos, azevinho, peixinhos,
lontras, prímulas, tordos, doninhas e carriças são agora consideradas palavras excedentes.
Pense o que mudaria se valorizássemos a água terrestre tanto quanto valorizamos a possibilidade de haver água em Marte. Apenas 3% da água do nosso planeta é doce; da qual, dois terços é congelada. Ainda assim, emporcalhamos a porção acessível. Sessenta por cento da água utilizada na agricultura é desnecessariamente perdida por uma irrigação descuidada. Rios, lagos e aqüíferos são sugados até secarem, enquanto a água que resta é muitas vezes tão contaminada que ameaça a vida de quem a bebe. No Reino Unido, a demanda doméstica é tal que o curso superior de muitos rios desaparece durante o verão. No entanto, ainda instalamos chuveiros e primitivos banheiros antigos que jorram como cachoeiras.
Quanto
à água salgada, do tipo que tanto nos fascina como aquela aparentemente
detectada em Marte, na Terra expressamos nossa apreciação com um frenesi
de destruição. Um novo relatório
sugere que o número de peixes [nos oceanos] diminuiu para metade desde 1970. A tuna de barbatana azul do pacifico, que já habitou os mares em incontáveis milhões, foi
reduzida para uma população estimada em 40.000, e continuam sendo perseguida
Os recifes de coral estão sob tamanha pressão que a maioria poderá ter desaparecido em 2050. E nos mares, em nosso próprio espaço profundo, o desejo de capturar
peixes exóticos rasga através de um mundo menos conhecido do que a superfície do planeta vermelho. Os arrastões operam agora em profundidades de 2.000 metros. Nós só podemos imaginar o que eles podem estar destruindo.
Poucas horas antes da descoberta marciana ser anunciada, a Shell encerrou sua prospecção de petróleo do Ártico. Para os acionistas da empresa, é um desastre menor: uma perda de US $ 4 bilhões; para aqueles que amam o planeta e a vida que ele sustenta, é um golpe de grande fortuna. Mas aconteceu apenas porque a empresa não conseguiu encontrar reservas suficientes. Se a
Shell tivesse sucedido, ela teria exposto um dos lugares mais vulneráveis
da Terra a derramamentos, que são quase inevitáveis, em local onde a contenção é
quase impossível. Será que estamos deixando tais assuntos para o acaso?
Deixar o mercado decidir: esta é a maneira pela qual os governos procuram resolver destruição planetária.
Deixe isso para a consciência dos consumidores, mas a
consciência está muda e confusa com propaganda e mentiras das corporações.
Em um quase vácuo de informação, somos cada um deixado a decidir o
que devemos tirar de outras espécies e de outras pessoas, o que devemos abocanhar para nós mesmos ou deixar para as gerações seguintes. Certamente existem alguns recursos e alguns lugares - como o Ártico e o mar profundo - cuja exploração deveria simplesmente parar?
Toda essa perfuração, escavação, arrastão, descarga e envenenamento - o que é tudo isso, afinal? Será que tais atividades enriquecem a experiência humana, ou a sufoca? Um par de semanas atrás eu lancei o #extremecivilisation hashtag, e pedi sugestões. Elas vieram em inundação. Aqui estão apenas alguns dos produtos encontrados por meus correspondentes. Todos eles, tanto quanto eu possa dizer, são reais.
Uma bandeja de ovos para seu refrigerador que se sincroniza com o seu telefone para que você saiba quantos ovos sobram. Uma maquineta para misturar os ovos - ainda dentro de suas cascas.
Perucas para bebês, para permitir que "os bebes meninas com pouco ou nenhum
cabelo tenham a oportunidade de ter um belo e realista estilo de penteado." O iPotty, que permite crianças a continuar jogando em seus iPads
durante o treinamento higiênico.Uma cabana à prova de aranha de £2.000.Uma sauna de neve, à venda nos Emirados Árabes Unidos, no qual você pode criar um paraíso de inverno com o apertar de um botão. Um container de melancia refrigerado sobre rodas: indispensável para piqueniques - ou talvez não, porque pesa mais do que o melão. Creme de branqueamento anal, para ... para ser honesto, eu não quero saber. Um "girador de corda automático para relógio" que poupa o incômodo de dar corda na sua doçura-de-pulso de luxo. Um smartphone para cães, com o qual eles podem tirar fotos de si mesmos. Bananas pré-descascada-, em bandejas de poliestireno cobertas de filme plástico;tens apenas que descascar a embalagem.
Todos
os anos, novas maneiras inteligentes de desperdiçar coisas são
concebidas, e todos os anos nos tornamos mais acostumados com o consumo
inútil de recursos preciosos do mundo. Com cada intensificação sutil, a linha de base da normalidade se desloca.
Não deveria ser surpreendente descobrir que quanto mais rico um país se
torna, menos suas pessoas se preocupam com seus impactos sobre o planeta
vivo.
Nossa
alienação do mundo de maravilhas, dentro do qual evoluímos, tem-se
intensificado desde que David Bowie descreveu uma menina caindo dentro de
um "sonho profundo", em sua maneira de ser "presa pela tela de prata",
onde uma longa série de distrações a desviam das grandes questões da
vida. A canção, é claro, era Vida em Marte.
Pesquisador, que estuda interação entre as florestas e atmosfera, defende uma abordagem mais ampla do planeta
artigo em O Globo por Bolívar Torres
RIO - Um dos convidados do colóquio "Os mil nomes de Gaia", que
acontece de 15 a 19 de setembro na Casa de Rui Barbosa, Antonio Nobre é o
que se pode chamar de "cientista da terra". Pesquisador titular do
Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia e pesquisador Visitante no
Centro de Ciência do Sistema Terrestre, do Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais, onde lidera o grupo de modelagem de terrenos, ele
estuda as interações entre as florestas e a atmosfera, mas também tem
desenvolvido, nos últimos anos, uma abordagem mais ampla do planeta.
Nobre, que participa da mesa-redonda, no dia 16 de setembro, às
10h30, com a filósofa belga Isabelle Stengers (criadora do conceito de
"intrusão de Gaia") e o antropólogo mexicano Carlos Mondragón, acredita
que a Amazônia se tornou um terreno de demonstração importante para uma
reanálise da teoria neo-Darwinista da evolução, questionando a noção
implícita de que o processo essencial da seleção natural embutia em si o
"enobrecimento do egoísmo", que extrapolou a esfera da ciência e foi
absorvida pela cultura, a economia e a ciência. Segundo o cientista, já
está comprovado que a colaboração entre as espécies é mais importante
para um sistema do que a competição - ideia que pode nortear uma nova
maneira de pensar a preservação do meio ambiente e evitar um colapso
ambiental.
O que se pode entender por Gaia?
ADVERTISEMENT
Antonio Nobre. O
nome vem da denominação de povos antigos ao ente feminino que rege os
elementos da natureza na Terra. O conceito científico inspirado por tal
nome é descrito em uma teoria reveladora de um planeta complexo e
autorregulado, com a participação ativa (e maciça) dos seres vivos na
miríade de processos interconectados, geradores de bem-estar e
equilíbrio no habitat. A teoria de Gaia em seu início era apenas uma
hipótese, derivada da percepção de James Lovelock e Lynn Margulis de que
as condições encontradas na Terra se desviavam muito do que seria de se
esperar se forças puramente geofísicas e geoquímica agissem sozinhas
ao longo de bilhões de anos, como ocorre nos demais corpos celestes
cujas condições de superfície são conhecidas. Algo na Terra era
responsável por tais desvios, que a tornavam amena e favorável à vida. A
hipótese de Gaia sugeriu que a própria vida era esse algo a mais na
Terra, capaz de reagir ativamente às flutuações cataclísmicas de origem
interna ou cósmicas, regulando o ambiente de superfície e o otimizando
para favorecer seu próprio desenvolvimento. Quatro décadas depois a
hipótese já é respeitada como teoria, e o que antes era apenas sugestões
lógicas, hoje acumulou extensiva base de observações e elaborações
formais que lhe dão suporte. Tal teoria propõe e demonstra como a
biosfera, o conjunto de todos os seres vivos da Terra, interferem de
maneira reguladora no funcionamento do Sistema Terrestre, através da
manipulação não arbitrária dos fluxos de matéria e energia.
Comprovar cientificamente a ideia de que o individualismo e o egoísmo cumprem um papel de regulação na Terra teria sido uma obsessão
do século XX? Antonio Nobre. Como esta ideia norteou a ciência e a nossa concepção de
ecossistema? Infelizmente, na progressão explosiva dos últimos cinco
séculos, pós-liberação do indigno jugo religioso-inquisitório, a ciência
se fragmentou e algumas percepções isoladas e incompletas dos processos
naturais hipertrofiaram-se querendo abarcar o todo. A noção implícita
de que o processo essencial da seleção natural embutia em si o
"enobrecimento do egoísmo" foi um erro grave que bloqueou a visão de
outros processos essenciais para o funcionamento do conjunto. Muito bom
percebermos o valor intrínseco da seleção natural, mas ruim que esse
valor tenha inflado o crescimento de um novo tipo de dogmatismo que não
admite nada fora do seu arcabouço conceitual estreito. E aí funcionou de
maneira anômala um principio que, em geral, é útil, a navalha de Occam
(Guilherme de Ockham: "Se em tudo o mais forem idênticas as várias
explicações de um fenômeno, a mais simples é a melhor"). A explicação da
seleção natural para a variedade de organismos era sem dúvida melhor do
que as explicações anteriores, mas ela não era idêntica em tudo o mais
com explicações que viriam depois. Vasto campo de complexidade,
invisível antes do surgimento da biologia molecular, permaneceu ignorado
no auge do desenvolvimento do Darwinismo. E suspeita-se que parte maior
da complexidade bioquímica na base do funcionamento dos sistemas vivos
ainda permaneça oculta. Por exemplo, a explicação mais simples, como
aquela na base da teoria da evolução baseada apenas nos mecanismos
demonstrados da seleção natural, não dá conta de clarificar o papel da
vida na regulação do ambiente planetário. Ademais, existem explicações
simplíssimas ilustrando o papel central da colaboração na evolução de
complexidade, que são rejeitadas apenas porque não batem com o que
tornou-se um dogma excludente, o da competição e da sobrevivência do
mais apto.
Podemos comprovar cientificamente que a colaboração é tão importante quanto a competição na regulação do planeta? Antonio Nobre. A explicação da necessidade inescapável para efeitos regulatórios é
dada com uma analogia ao surf. Surfar a onda dá vantagem a quem sabe se
colocar e tirar da onda proveito. Mas não muda em nada o funcionamento
da própria onda. Se a cada mudança ambiental os organismos e
ecossistemas "surfassem" para seu próprio beneficio, -como preconiza a
percepção estreita da seleção natural e da sobrevivência do mais apto-, o
efeito seria uma incapacidade absoluta para resistir à propria mudança
ambiental. As novas formas surgidas com o novo ambiente, estando
adaptadas ao novo e excluindo as formas anteriores, não terão qualquer
efeito estabilizador. Estabilidade requer opor resistência à mudança,
como faz o termostato de um ar condicionado. A competição, importante
como mecanismo de segurança (quando falham todos os demais mecanismos de colaboração, ela é salvadora), assume papel restrito nos processos
regulatórios, justamente porque é desestabilizadora (o ganhador leva
tudo). Quanto mais rico e complexo um sistema, menor o papel da
competição e maior o da colaboração. Tem aí um principio organizador básico, análogo ao descrito pelos trabalhos de John Nash no surgimento
de equilíbrio entre competição e colaboração (Teoria de Jogos).
Como o establishment reage a esta teoria?
Antonio Nobre. O
establishment reage como sempre reagiu, da forma descrita por Thomas
Kuhn em seu épico "A estrutura das revoluções científicas". Mas o novo
paradigma já está bastante maduro e substanciado, me parece que breve
passaremos pelo ponto de inflexão onde os conceitos da seleção natural e
da sobrevivência do mais apto serão finalmente creditados por seu valor
real, não aquele inflado e dogmático de até recentemente.
Por que o mundo ainda tem tanta dificuldade de ver as relações entre meio ambiente, ciência e tecnologia?
Antonio Nobre. Porque
o meio ambiente opera em escalas de espaço (átomos, moléculas,
continentes, oceanos, etc.) e tempo (fenômenos quânticos, dinâmicas
moleculares, intervalos de milênios, milhões e bilhões de anos) difíceis
para visualizar e captar pelos sentidos comuns do ser humano.
Acrescente-se aí para a vida o automatismo (tudo funciona sem
intervenções humanas) e então a máxima ocidental de que "o coração não
sente o que os olhos não veem" explica porque permanecemos inertes
diante da grandiosidade destes fenômenos que nos permitiram existir e
que continuam a nos suportar. Isso para o senso comum, para os leigos
nas sociedades humanas. Mais injustificável é quem lida com ciência e
tecnologia, que tem estendido enormemente nossos sentidos, não traduzir
para as pessoas normais o que lhes é facultado ver e perceber sobre o
ambiente com suas ferramentas. E a razão única para tal dificuldade
reside na competição desagregadora, onde cada cabeça "mais apta"
isola-se mais e mais em seu campo de domínio, ignorando as demais que
lhe desafiam.
A cada encontro internacional, há um consenso de que os
movimentos de colaboração necessários para impedir um provável colapso
ambiental não evoluem. Quais são os caminhos para mudar esta história?
Antonio Nobre. É urgente que a colaboração surja nas ciências e tecnologias, permitindo uma união do conhecimento, esclarecedora e simplificadora, que
crie uma nova compreensão acessível sobre o mundo e seus intrincados
processos de suporte à vida. Em outro estudo que fiz (O futuro climático
da Amazônia) sugiro um esforço de guerra no combate à principal causa
do descaminho ambiental, a "ignorância". É a ignorância que maneja os
sistemas humanos em escala planetária, nos governos, nas empresas, em
cada pessoa, e ela precisa ceder se queremos impedir o provável colapso.
O melhor caminho para mudar essa historia é reabilitar o senso comum
amplo através da contação de historias reais com o toque lúdico, tocar o
emocional das pessoas com o estimulo ao senso infantil de
maravilhar-se. É preciso despertar nossos corações, de onde saem os
impulsos para a ação. A ciência e a tecnologia moderna nos colocou nas
mãos de microscópios, telescópios, satélites, supercomputadores e uma
infinidade mirabolante de outros instrumentos poderosos, com os quais
podemos fazer nossos olhos finalmente verem tudo que há no mundo,
pequeno e gigantesco, rápido e ultra lento.
BAILARINA
Cantinho da Via Láctea,
em nosso sistema solar,
existe uma esfera pequena,
bailarina de azul e serena,
no espaço vive à girar.
Circula há bilhões de anos,
mostrando-se ao infinito,
não existe no Universo,
um planeta mais bonito.
Seu nome, Terra ou “Gaia”,
a mãe de todos; então,
tem no mapa do Brasil,
onde existe muito rio,
a forma de um coração.
Isso não é à toa,
quis “DEUS” que fosse assim,
ali, na selva Amazônica,
sempre pulsará; enfim,
lá nascerá o ritmo,
dos ciclos da Natureza,
melhorando nosso clima,
água, ar, muita beleza.
Parem esse tormento,
basta ao desmatamento,
deixem a vida pulsar,
essa é a única esperança,
de continuar sua dança,
o show não pode parar.
Mazzola/FMU/GA
2º semestre
XXX/XI/MMVIII
comentario na pagina da Envolverde http://www.envolverde.com.br/6-eventos-2015/como-a-fe-pode-ajudar-o-meio-ambiente/
O que está acontecendo com o PT não é um fenômeno isolado. Aconteceu com
vários grupos da esquerda autocrática depois da queda do muro de
Berlim. Sobretudo na América Latina, em que muitos dirigentes de
organizações ditas revolucionárias enveredaram para o crime.
Conheci vários desses militantes que viraram bandidos. Daniel Ortega, da
Frente Sandinista, hoje presidente da Nicarágua, foi um deles. Me
lembro como se fosse hoje. Ele foi convidado de honra no I Congresso do PT (que coordenei), no
final de 1991. Chegando lá, no Hotel Pampa, em São Bernardo, Daniel
pediu logo ao tesoureiro do PT à época, se não podia arranjar umas
prostitutas. Esse Daniel e seu irmão Humberto, eram teleguiados de
Fidel, que lhes passava pitos, aos berros. Reuniões decisivas para o
futuro da chamada revolução sandinista foram realizadas em Havana, sob o
comando de Fidel. E enquanto as bases petistas da Igreja idolatravam
por aqui os sandinistas como expoentes de uma nova espiritualidade dos
pobres, esses bandidos assaltavam patrimônio público (inclusive passavam
para seus nomes propriedades imóveis) do Estado nicaraguense.
O mesmo ocorreu com gente da Frente Farabundo Marti de Libertação
Nacional de El Salvador, que também está no governo. Aconteceu com o Mir
(e com o Mir Militar) chileno, com alguns Tupamaros, com as FARC
colombianas e, é claro, com a nova leva de bolivarianos, que não tinham
tanta tradição de esquerda, como Chávez, Maduro e Cabello (mas aí já
estamos falando de delinquentes da pior espécie, que inclusive chefiam o
narcotráfico na região) e como Rafael Correa e Evo Morales. Bem, para
resumir, aconteceu com boa parte das organizações e pessoas que
frequentam as reuniões do Foro de São Paulo (fundado, não por acaso, um
ano depois da queda do muro - e eu estava presente na reunião de fundação, no Hotel Danúbio).
Não
dando certo a revolução pela insurreição, pelo foquismo ou pela guerra
popular prolongada, essa galera chegou à conclusão de que seria preciso
fazer a revolução pela corrupção. Bastaria adotar a via
eleitoral contra a democracia e depois assaltar o Estado para financiar
um esquema de poder de longo prazo. O plano era simples: conquistar
hegemonia sobre a sociedade a partir do Estado aparelhado pelo partido. O
objetivo era claro: chegar ao governo pela via eleitoral, tomar o poder
e nunca mais sair do governo. Para isso, entretanto, era necessário,
além do tradicional caixa 2, fazer um caixa 3, encarregado de custear
ações legais e ilegais, ostensivas e clandestinas, para controlar as
instituições, comprar aliados, remover ou neutralizar obstáculos...
Afinal, pensaram eles: as elites não fizeram sempre assim? Para jogar o
jogo duro do poder não se pode ter escrúpulos. Foi essa a conclusão de
Lula, Dirceu e dos dirigentes petistas que tomaram o mesmo caminho. É
claro que, como ninguém é de ferro e como não se pode amarrar a boca do
boi que debulha, alguma compensação em vida esses bravos revolucionários
mereciam ter. E foi assim que enriqueceram, abriram contas secretas no
exterior para guardar os frutos dos seus crimes, adquiriram bens móveis e
imóveis em nome próprio ou de terceiros e foram levando a vida numa boa
enquanto o paraíso comunista não chegasse.
O ano de 1989 foi decisivo para essa degeneração política e moral da
esquerda. Mas o que aconteceu não foi um resultado do somatório de
desvios individuais. Não! Eles viram que seria muito difícil conquistar o
mundo e assumir o comando de seus próprios países, contrapondo um bloco
a outro bloco. O bloco dito comunista se desfez. A União Soviética
derreteu em 1991. Ruiu tudo. E agora? Bem, agora - pensaram eles - seria
necessário ter uma nova estratégia. E eis que surgiu uma
ideologia pervertida, baseada numa fusão escrota de maquiavelismo
(realpolitik exacerbada) com gramscismo. Eles, como operadores
políticos, conduziriam a realpolitik sem o menor pudor, enquanto que
pediriam ajuda aos universitários para dar tratos à bola do gramscismo
(e reproduzir mais militantes nas madrassas em que se transformaram as
universidades).
No Brasil, porém, parece que
erraram no timing. Precisariam de mais uns três ou quatro anos para ter
tudo dominado, dos tribunais superiores, passando pelo Congresso, pelo
movimento sindical e pelos fundos de pensão, pelos (falsos) movimentos
sociais que atuam como correias de transmissão do partido, pela academia
colonizada, pelas ONGs que se transformaram em organizações
neo-governamentais, por uma blogosfera suja financiada com dinheiro de
estatais e por grandes empresas (com destaque para as empreiteiras,
atraídas pela promessa de lucros incessantes quase eternos se estivessem
aliadas a um sólido projeto de poder de longo prazo).
Não deu tempo. O plano foi descoberto antes que as instituições fossem completamente degeneradas. E
chegamos então a este agosto de 2015, ano em que alguns desses
dirigentes vão começar a assistir, de seus camarotes na prisão, o
desmoronamento do esquema maléfico que urdiram.
A seca avança em Minas, Rio, São Paulo
O Nordeste é aqui, agora
No tráfego parado onde me enjaulo
Vejo o tempo que evapora
Meu automóvel novo mal se move
Enquanto no duro barro
No chão rachado da represa onde não chove
Surgem carcaças de carro
Os rios voadores da Iléia
Mal desaguam por aqui
E seca pouco a pouco em cada veia
O Aquífero Guarani
Assim do São Francisco a San Francisco
Um quadro aterra a Terra
Por água, por um córrego, um chovisco
Nações entrarão em guerra
Quede água? Quede água?
Quede água? Quede água?
Agora o clima muda tão depressa
Que cada ação é tardia
Que dá paralisia na cabeça
Que é mais do que se previa
Algo que parecia tão distante
Periga, agora tá perto
Flora que verdejava radiante
Desata a virar deserto
O lucro a curto prazo, o corte raso
O agrotóxico, o negócio
A grana a qualquer preço, petro-gaso
Carbo-combustível fóssil
O esgoto de carbono a céu aberto
Na atmosfera, no alto
O rio enterrado e encoberto
Por cimento e por aslfalto
Quede água? Quede água?
Quede água? Quede água?
Quando em razão de toda a ação humana
E de tanta desrazão
A selva não for salva, e se tornar savana
E o mangue, um lixão
Quando minguar o Pantanal e entrar em pane
A Mata Atlântica tão rara
E o mar tomar toda cidade litorânea
E o sertão virar Saara
E todo grande rio virar areia
Sem verão, virar outono
E a água for commoditie alheia
Com seu ônus e seu dono
E a tragédia da seca, da escassez
Cair sobre todos nós
Mas sobretudo sobre os pobres outra vez
Sem terra, teto, nem voz
Quede água? Quede água?
Quede água? Quede água?
Agora é encararmos o destino
E salvarmos o que resta
É aprendermos com o nordestino
Que pra seca se adestra
E termos como guias os indígenas
E determos o desmate
E não agirmos que nem alienígenas
No nosso próprio habitat
Que bem maior que o homem é a Terra
A Terra e seu arredor
Que encerra a vida aqui na Terra, não se encerra
A vida, coisa maior
Que não existe onde não existe água
E que há onde há arte
Que nos alaga e nos alegra quando a mágoa
A alma nos parte
Para criarmos alegria pra viver
O que houver para vivermos
Sem esperanças, mas sem desespero
O futuro que tivermos
Quede água? Quede água?
Quede água? Quede água?
Quede água
Há algum tempo respondi uma entrevista do Portal Amazônia sobre essa fabrica de água do ar (Ô), veja abaixo.
Portal da Amazônia - a perda de umidade do ar através de um processo como este prejudicaria o ambiente?
Em termos quantitativos, ou volumétricos, não, já que o volume a ser retirado seria insignificante frente aos fluxos de vapor na atmosfera Amazônica (para entender mais sobre isso leia o relatório "O Futuro Climático da Amazônia").
Mas parques industriais suscitam utilização de energia não produzida localmente, o que pode levar (e normalmente leva) a destruição ambiental. As muitas hidrelétricas planejadas para a Amazônia são exemplo deste potencial efeito destrutivo. A Ô promete evitar esse fator complicante através do uso de energias renováveis, principalmente solar fotovoltaica. Mas como se verá abaixo, o investimento proposto não se justifica perante a lógica natural.
Portal da Amazônia - se o empreendimento der certo na Amazônia a iniciativa poderia ser copiada em outros lugares?
Tentar reproduzir com maquinas, que consomem a nobre energia elétrica, processos feitos gratuitamente e abundantemente pela Natureza não me parece uma forma inteligente de interagir com o meio ambiente para obter esse recurso vital (água potável). Além disso, quanto menor a umidade relativa do ar, maior a quantidade de energia necessária na condensação, e menor a quantidade de água extraída. Um clima progressivamente mais árido, como se prevê com a remoção das florestas, inviabilizará completamente este tipo de produção de água a partir do ar continental.
Portal da Amazônia - essa água é realmente adequada para o consumo?
A água da chuva, quando a atmosfera está livre de poluentes (no meio da estação chuvosa na Amazônia por exemplo), tende para a condição de água destilada. Ingerir água destilada produz inúmeros distúrbios na bioquímica do corpo, devido a falta de nutrientes minerais essenciais. Na Natureza, atravessando a floresta, os solos e as camadas geológicas, essa água da chuva passa por elaboradíssimo (e também gratuito) processo de mineralização o que a torna saudável para consumo.
Já quando a atmosfera está contaminada por fumaça, fuligem (na estação seca na Amazônia, por exemplo) e outros componentes tóxicos de poluição urbana, então a água condensada terá os mesmos contaminantes do ar, o que determina a necessidade de caros sistemas de purificação química, que por sua vez aumentam o custo, não garantem qualidade e podem aumentar ainda mais a necessidade de remineralização. E essa ultima, feita sem o concurso das complexíssimas cadeias tróficas dos micro-organismos do solo, também tenderá a ser um arremedo caro do que faz a gratuita e complexa tecnologia da Natureza.
Portal da Amazônia - a poluição do ar influenciaria na qualidade desta água?
Já respondido na questão anterior.
Conclusão:
Não faz sentido montar uma infraestrutura industrial e gastar energia para reproduzir pobre e incompletamente o que a própria Natureza faz abundantemente, de graça e de forma saudável. Se outro empreendedor montasse simples coletores de chuva, e passasse a água coletada por similar tratamento (filtragem e remineralização) teria água idêntica, com zero custo de condensação. Se outro empresario ainda abrisse um poço em solo adequado na mesma região, e passasse a água por simples filtragem, teria água idêntica, com zero custo de condensação e zero custo de remineralização.
Perdoem-me esses empreendedores, que parecem bem intencionados, mas o que vemos nesta iniciativa é o mais puro "vapor de marketing", feito para pegar carona na percepção coletiva de importância dos rios aéreos de vapor para o ciclo hidrológico.
Vivendo
no meio de climatologistas, fiquei surpreso com a certeza transmitida pelo
artigo Seca não veio da Amazônia, na
revista Época.
A
seca de 2014 não foi prevista por nenhum modelo climático. Depois disso, ao
longo do ano, o grupo de previsão climática, que reúne especialistas de varias
instituições, absteve-se de emitir previsões sobre a progressão da seca em
varias regiões do Brasil. Ao longo de 2014 todos climatologistas que conheço
declararam-se pasmos com essa seca fortíssima, e seu silencio no período
atesta. Não me parece razoável crer que as primeiras chuvas de fevereiro
irrigaram os modelos climáticos com uma capacidade que eles demonstraram não ter
até o final de janeiro.
Existem
nas observações do clima registros de secas fortes para o Sudeste. O que
surpreendeu e assustou em 2014, além da intensidade e duração sem precedentes,
foi o virtual desaparecimento da ZCAS (Zona de Convergência do Atlântico Sul).
Essa condição rendeu incapazes os modelos numéricos, até para previsões de
curto prazo. Por estas características inusitadas do fenômeno climático, vários
colegas cogitam tratar-se já das primeiras manifestações de mudanças climáticas
associadas ao aquecimento global.
A
publicação do meu relatório (O
Futuro Climático da Amazônia),
iniciado muito antes, coincidiu com a seca de 2014. Nele é reportada a
existência de base científica sólida para suportar a importância da ligação
hidro-meteorológica da Amazônia com o Sudeste (Marengo et al. 2004 Journal of
Climate; Arraut et al., 2012 J. of Climate; Spracklen et al., 2012 Nature;
Makarieva et al., 2014, etc.). Embasada por essa ciência podemos afirmar que a
umidade amazônica não chegou em São Paulo em 2014, e não conheço ninguém
responsável que disputaria tal fato. Também indisputáveis são as observações
feitas “na Amazônia” que conectam o desmatamento com a redução de umidade
atmosférica. A matéria da Época* passa uma imagem
não acurada e sem base em artigos publicados, de que o que se passa no Sudeste não teria nada a ver com a
Amazônia. Não sabemos ainda como os vários fatores interagiram para produzir a seca, mas mesmo que venham a demonstrar haver havido em 2014 apenas um
impedimento meteorológico externo à propagação da umidade amazônica, ainda
assim foi a umidade amazônica que não
chegou. A relação do suprimento de serviços
ambientais da floresta amazônica com a sorte hidrológica de regiões a jusante
dos rios aéreos de lá procedentes é cientificamente embasada e auto-evidente. O
bom senso sugere todo cuidado com esse recurso.
*Assim
expressei para o repórter da Época:
“O fato
solido é que a umidade Amazônica -que usualmente alimenta a maior parte das
chuvas que caem no sudeste-, durante 2014 e janeiro ultimo não chegou aqui.
Sim, a falta da umidade Amazônica é um dos fatores principais que explicam a
seca. Porem, ainda não sabemos os números que explicam essa não propagação
dessa umidade Amazônica. O que se observou foi uma massa de ar quente e seco
que estacionou sobre a região sudeste, e que parece haver impedido tanto a
entrada das massas de ar úmido da Amazônia, quanto as mais secas frentes frias
que vem do sul do continente.”
Assim apareceu na matéria:
"Procurado por
ÉPOCA, Nobre endossou que o desmatamento lá é a principal razão para a falta de
chuvas cá."
Mencionei
o desmatamento na minha afirmação? Referencias
Arraut, J.M.,
Nobre, C., Barbosa, H.M.J., Obregon, G., Marengo, J., 2012. Aerial Rivers and
Lakes: Looking at
Large-Scale Moisture Transport and Its Relation to Amazonia and to Subtropical
Rainfall in South America. J. Clim. 25, 543–556
Makarieva A.M.,
Gorshkov V.G., Sheil D., Nobre A.D., Bunyard P., Li B.-L. (2014)Why does air passage over forest yield
more rain? Examining the coupling between rainfall, pressure, and atmospheric
moisture content.
Journal of
Hydrometeorology, 15, 411-426.
Marengo, J.,
Soares, W., Saulo, C., Cima, M., 2004. Climatology of the low-level jet east of
the Andes as derived from
the NCEP-NCAR reanalyses: Characteristics and temporal variability. J. Clim.
17, 2261–2280.
Spracklen,
D.V., Arnold, S.R., Taylor, C.M., 2012. Observations of increased tropical
rainfall preceded by air passage over forests. Nature 489, 282–5.
Lauro Eduardo Bacca
(artigo para o JSC de 12/11/2014)
A transposição do rio São Francisco, que já sofre com a
seca, pretende levar 127 metros cúbicos por segundo de águas do velho Chico para
o Nordeste brasileiro. O volume equivale à vazão do rio Itajaí Açu em tempos
normais e os dois canais previstos somam uma distância que vai de Blumenau a
São Paulo. O projeto é altamente questionável, mereceria artigos à parte, sem
contar que o custo da obra já beira a casa dos R$10 bilhões.
Por incrível que pareça, muito mais fácil é a transposição
de uma quantidade 1.800 vezes maior de águas da Amazônia a um custo de uns 100
trilhões de reais, possibilitando amplo fornecimento de água para vastas
regiões do Centro Oeste, Sul e Sudeste brasileiras, além do Paraguai, partes da
Argentina e Uruguai. Isso tudo sem tirar uma gota sequer do rio Amazonas.
Não, caro e preclaro leitor, não estou louco. Essa
transposição já existe e é feita de graça pela natureza, coisa que já se sabia há algum tempo, mas que
agora tem mensuração científica.
O rio Amazonas despeja todos os dias no Oceano 17 trilhões
de litros, quase um quinto da soma das águas de todos os rios do mundo. Já a
quantidade de água que a imensa floresta lança na atmosfera, sabe-se agora,
chega a 20 trilhões de litros/dia, ou seja, a Amazônia joga mais água na
atmosfera pela transpiração das árvores do que no oceano Atlântico pelo rio!
Grande parte dessa umidade, levada pelos ventos, bate na
Cordilheira dos Andes, dá meia volta e dirige-se para o Sul–Sudeste, formando o
já conhecido “rio aéreo”, que possibilita muita chuva nas regiões já mencionadas,
viabilizando a agricultura, o agronegócio, os grandes mananciais e grandes
hidrelétricas, além do abastecimento de muitas cidades, como o da agora sedenta
São Paulo.
Nos últimos 40 anos o Brasil deixou acontecer a destruição total,
por corte raso, de 763 mil km² de floresta amazônica, área equivalente a uma
Alemanha e França somadas, fora outros 1,25 milhões de km² de floresta que já está
degradada. A pastagem ou a soja plantada no mesmo espaço, além de reter bem
menos água no solo, evapora apenas um quarto da água que era evaporada pela
floresta original, quantia insuficiente para formar o grande “rio aéreo” na
direção sul/sudeste.
Ironicamente, enquanto torramos uma fábula de recursos para
transpor água do São Francisco para o Nordeste, destruímos uma transposição mil
vezes maior que a natureza nos faz de graça a partir da Amazônia, inclusive
para as cabeceiras do próprio rio São Francisco!
Estamos matando o mais
saudável dos doadores enquanto usamos um anêmico para doar sangue.