Ana Primavesi não
quer, porém, destinar a
qualquer pessoa uma
área onde provou, na
prática, suas teorias
Um
laboratório vivo de agroecologia e manejo ecológico dos solos. Ou,
simplesmente, um sítio. O sítio de Ana Primavesi, situado em Itaí, região de
Avaré (SP), a 300 km da capital.
Quando Ana
Primavesi o comprou, há 32 anos, o solo estava degradado, infértil, cheio de
voçorocas – a erosão em seu mais alto grau. E sem nenhuma nascente. Reportagem
de 28 de outubro de 1980, no Jornal da Tarde, do jornalista Randau
Marques, noticia quando Ana adquiriu o sítio de 96 hectares: “A doutora Ana
Primavesi está deixando São Paulo por um pedaço de terra árida e marcada pela
erosão. É a terra que ela transformará numa fazenda rica e produtiva, gastando
pouco e sem usar agrotóxicos”.
Dito e feito.
Ao longo de três décadas, vivificou o solo, eliminou voçorocas e recuperou mata
nativa e nascentes. “Hoje temos cinco nascentes ali”, orgulha-se. Numa região
cercada por cana e pasto, o solo vivo do sítio se destaca. “O café produzido
ali, organicamente, atrai vários compradores, que dizem que os grãos dão uma
bebida especial”, comenta a filha de Ana, a psicopedagoga Carin Primavesi
Silveira.
Ali a
agrônoma produziu, com fartura, milho e café, além de criar gado. Tudo organicamente.
Em 25 de janeiro deste ano, porém, mais por questão de idade do que de saúde,
Ana teve de deixar o sítio onde provou na prática todos os seus ensinamentos.
“Hoje o solo do sítio está vivo”, garante ela, que voltou para São Paulo, ao
bairro do Campo Belo, na casa que construiu e mora com Carin e família.
Futuro. Agora, sem condições de seguir o cuidado
desenvolvido no local, a família optou por colocar o sítio à venda. E, sendo a
propriedade um legado da agroecologia, há várias pessoas em busca de uma
solução que permita a preservação e a continuidade do trabalho. Em especial, um
grupo de 20 pessoas ligadas ao movimento orgânico no Brasil, que tem se reunido
para encontrar uma solução. A ideia que mais tomou corpo foi a da criação da
Fundação Dra. Ana Maria Primavesi, que daria conta de gerir o sítio e torná-lo
um polo difusor de agroecologia.
“Para tanto,
precisamos de investidores, sejam pessoas físicas ou jurídicas, a fim de
adquirir a propriedade”, diz o professor Manoel Baltasar, da Agroecologia da
Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e um dos membros do grupo de
discussão.
Também foi
criado um blog (anaprimavesiana.blogspot. com.br) para difundir tudo o que se
relacione ao trabalho de dona Ana. Espera-se, em breve, que ele possa divulgar
a atuação da fundação no sítio. O e-mail de Carin (carin.bp@gmail.com) está aberto
a contatos e mais informações. Sobre o sítio, Ana repete a todos que só quer
uma coisa: manter o seu solo vivo. / T.R.