segunda-feira, 7 de março de 2011

DURO-APRENDIZADO

*RICARDO-YOUNG*
Folha de S.Paulo,segunda-feira, 07 de março de 2011, Página 2.

Empresas não foram pensadas para o combate ao desperdício. Foram, sim, pensadas para a eficiência. Parece paradoxal, mas nem sempre a empresa eficiente combate o desperdício.

Explico. Antes do imperativo da redução das emissões, da gestão da água e dos resíduos sólidos, as empresas produziam uma serie de externalidades sem contabilizá-las.

Se emissões, efluentes e resíduos compensassem economicamente, eles seriam devolvidos à sociedade na forma de poluição solida, liquida ou gasosa. Seus custos eram absorvidos na forma de degradação do ambiente, da qualidade de vida ou na forma de oneração dos serviços públicos.

Não internalizar estes custos era sinal de eficiência.

Pois bem, o mundo sustentável clama por uma mudança fundamental. Ele exige que as empresas internalizem esses custos.

Ora, ao fazer isso, e para se manterem competitivas, elas precisam mudar radicalmente seus processos.

Inventariar e reduzir emissões de gases de efeito estufa, gerir a água captada e devolvê-la melhor que a captação, responsabilizar-se pelos resíduos pós-consumo vem onerando os processos produtivos tradicionais.

Mais oneradas as empresas seriam se ficassem expostas às ações de todo o tipo ou que tivessem a sua reputação irremediavelmente afetada.

Assim, é mais compensador engajar-se na gestão sustentável que ignorá-la.

Empresas ao redor do mundo estão vivendo uma revolução de processos. Ao fim e ao cabo, as empresas serão muito mais eficientes e não onerarão tanto com seus impactos.

O problema passa a ser a transição, e não a estratégia.

Dos processos tradicionais para os sustentáveis, as empresas têm de investir muito e esse delta, do custo inicial até a sua completa amortização, não pode sempre ser repassada ao consumidor.

Afinal, como pagar mais por menos? É aí que se encontra a armadilha de que a sustentabilidade é cara.

Há duas saídas, experimentadas por várias empresas:

1) Mesmo com um eventual descolamento no fluxo de caixa, processos sustentáveis sempre resultam em melhor eficiência, menor desperdício, menor uso de insumos e reengenharia reversa. No fim do processo, a redução de custos é capaz de financiar o custo adicional implicado na mudança. Muitas empresas têm financiado assim a transição.

2) Políticas públicas que melhorem o acesso aos recursos por meio de taxas menores ou que subsidiem temporariamente as empresas que investem na transição.

Em ambos os casos, são óbvios os benefícios. A empresa ganha competitividade e o poder público aumenta sua disponibilidade para outras prioridades.

Já a sociedade, aplaude!
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RICARDO YOUNG escreve às segundas-feiras nesta coluna.