sexta-feira, 28 de maio de 2010

O valor econômico do tempo livre [1]


(nota técnica)

Ladislau Dowbor


22 de maio de 2010

O tempo é o nosso principal recurso não renovável. O seu deperdício, por nós mesmos ou por terceiros, é monumental. Todos sabemos que time is money, mas poucos pensam no que estão comparando. O tempo é o tempo da nossa vida. Dinheiro perdido pode ser recuperado. Já a vida...
Keynes tinha uma visão muito simpática do amor pelo dinheiro: “O amor do dinheiro como posse – distintamente do amor do dinheiro como meio de obter os prazeres e realidades da vida – será reconhecido pelo que é, uma morbidez um pouco repugnante, uma destas propensões semi-criminais, semi-patológicas que entregamos com um tremor aos especialistas em doenças mentais”.[2]
Não que desconheçamos o valor econômico do tempo. O empresário calcula rigorosamente os tempos dos seus empregados, porque o tempo dos seus empregados é o seu dinheiro. Kuttner relata a visita que fez a um centro de tele-marketing, onde as moças têm direito a apenas dois segundos entre uma chamada e outra: passados os dois segundos, começam os descontos. O documentário The Corporation mostra empresas onde são registrados até centésimos de segundo das operações de costureiras para as grandes marcas. Ninguém marca em segundos o tempo que passamos na fila do banco.
Ao pensarmos o tempo livre como categoria econômica, entramos numa visão moderna da economia, porque centrada no resultado final, na qualidade de vida. Em termos econômicos, isto significa darmos valor tanto ao tempo que não é diretamente contratado por um empregador, – e que as empresas consideram gratuito pois não lhes custa – como ao tempo dedicado a atividades socialmente úteis mas que não entram no circuito monetário, como os cuidados com a família, o embelezamento dos nossos jardins, a arborização das nossas calçadas por vizinhos dedicados e assim por diante, porque o prazer da vida tem valor. Dormir bem também tem valor. É o nosso tempo.
Há uma dimensão surrealista nesta irracionalidade que envolve a má distribuição dos esforços. Uma parte da sociedade está desesperada por excesso de trabalho, e outra por não ter acesso ao emprego. Um mínimo de bom senso na distribuição de esforços constitui, neste sentido, um dos objetivos centrais da gestão social. Em termos de regulação da economia do tempo, chega-se à conclusão de que o mercado constitui um mecanismo estruturalmente insuficiente de alocação des recursos do trabalho, exigindo soluções sistêmicas articuladas. Não há nada de novo nesta constatação. Mas na visão que aqui sugerimos, ao darmos um valor econômico ao tempo social, o desemprego deixará de ser visto apenas como situação de desespero lamentável, retrita aos pobres diabos que não conseguiram diplomas e “empregabilidade”, mas um custo para a sociedade: o valor do tempo desperdiçado pode ser muito maior do que o custo de medidas de organização que assegurem um trabalho útil para todos.[3]
Calcular o valor econômico do nosso tempo livre pode ter grandes impactos sobre a forma de organizarmos as decisões econômicas, e sobre a priorização dos investimentos, além de resolver o problema da inclusão no PIB de categorias não monetárias. A forma mais prática de explicitar a metodologia é aplicá-la a um caso concreto, a cidade de São Paulo.  

O exemplo de São Paulo
São Paulo tem 11 milhões de habitantes. O PIB da cidade é de 320 bilhões de reais. Dividindo o PIB pela população temos uma PIB anual per capita de 29 mil reais. Para já, é um montante muito elevado. Mas o que nos interessa aqui é que a partir desta cifra podemos calcular o valor da hora per capita. Dividindo 29 mil reais por 8.760 horas, que é o número de horas num ano, teremos um valor de 3,30 reais. Este seria o valor médio da hora do paulistano, em termos gerais.[4]
Fixar um valor básico para o tempo do paulistano nos  permite chegar a uma visão bastante mais realista das contas econômicas. Essencialmente, permite que se dê um equivalente valor a um conjunto de atividades que não contabilizamos simplesmente porque não custam dinheiro, ou não ocasionam registro de trocas monetárias. O que segue, é uma aplicação possível da metodologia para a cidade. Não se trata aqui de substituir o conceito de Produto Interno Bruto, e sim de dar visibilidade econômica ao conjunto de atividades não contabilizadas, pois são atividades que absorvem tempo, e ao dar uma equivalência valor à hora do paulistano, passamos a complementar o PIB.[5]

O custo do tempo no trânsito
É notório que o tempo perdido no transporte é um desperdício. Do ponto de vista do PIB, o fato tantos serem obrigados a comprar carros e a utilizá-los em permanência – pela fragilidade dos serviços de transporte coletivo – aparece como conta positiva no cálculo do PIB, tanto pela produção de automóveis, como consumo de combustíveis, investimentos, acidentes e hospitalizações e assim por diante. Desde 2003 o Banco Mundial passou a descontar no cálculo da contribuição da produção automobilística para o PIB os custos gerados com saúde. No nosso caso, de forma mais ampla, consideraremos que os 6 milhões de pessoas que constituem a população economicamente ocupada da cidade, são penalizadas ao perder tempo no transporte, em que nem descansam, nem produzem, nem investem (a não ser os raros que por exemplo aproveitam o trânsito parado para estudar idiomas e atividades semelhantes). Uma hora perdida por 6 milhões de ativos, são 6 milhões de horas perdidas. Se calcularmos o valor da hora perdida em 3,30 reais, são 19,8 milhões de reais perdidos por hora.
De acordo com as pesquisas do movimento Nossa São Paulo, o paulistano ativo médio perde por dia duas horas e quarenta minutos no trânsito. Isto significa um custo-tempo de 52,8 milhões de reais por dia, o que representaria a dimensão do prejuizo causado à cidade pela ineficácia das suas opções de transporte. Outra forma de considerar este cálculo está ligada à política de investimentos. Se São Paulo perde, arredondando, 20 milhões de reais por hora de tempo perdido no trânsito, isto significa que se investimentos no metrô e corredores de ônibus economizarem meia hora por dia do nosso tempo, são 10 milhões de reais ganhos por dia. Como um quilómetro de metrô custa 200 milhões de reais em valores aproximados, isto significa que no cálculo do retorno sobre o investimento devemos levar em conta não só o retorno pelos bilhetes que as pessoas irão pagar, mas também as economias difusas para toda a sociedade. Com 10 milhões economizados por dia, só isto já cobre um quilómetro de metrô a cada 20 dias.
Não incluir este cálculo na avaliação dos investimentos significa fazer um cálculo errado. Do ponto de vista microeconômico é até correto, pois quem fizer o investimento acha que o que lhe interessa é apenas o dinheiro dos bilhetes que vai entrar, e as economias realizadas pelo conjunto da população não enchem o seu bolso. Mas do ponto de vista da produtividade sistêmica do território, a racionalidade geral torna-se mais elevada, pois o fato das pessoas desperdiçarem menos tempo e dinheiro em transporte melhora a situação de todos. Contabilidade incompleta é contabilidade errada.

O custo do desemprego
Uma outra forma de aproveitar a equivalência valor do tempo, é a avaliação do desemprego. Em São Paulo temos uma população ativa da ordem de 6 milhões de pessoas, com um desemprego aberto de 7% (critério IBGE), e um desemprego que inclui o desemprego por desalento da ordem de 14% (critério DIEESE). Este segundo critério é sem dúvida mais realista para uma economia como a nossa. 14% de 6 milhões são 840 mil desempregados. Independentemente dos custos humanos que isto significa, podemos avaliar, em horas de trabalho perdidas, o que isto significa como perdas para a cidade. Se calcularmos as perdas diárias como representando 8 horas de potencial trabalho não realizado, temos uma perda diária de 6,72 milhões de horas. Isto multiplicado por R$3,30 representa R$22,2 milhões desperdiçados por dia.
Do ponto de vista propositivo, quando se toma uma iniciativa de criação de serviços de manutenção urbana – saneamento básico, arborização, promoção de autoconstrução e reforma de habitações etc. – pago com salário mínimo, o custo de 22 milhões por dia se tranforma em investimento na qualidade de vida urbana. Já dizia Celso Furtado que quando a produção de uma pessoa e zero, qualquer atividade é lucro. Na realidade, tomar consciência de que cada hora perdida de atividade representa um custo, facilita a compreensão e aceitação das políticas de garantia do emprego. Assim atribuir um valor equivalente à hora do paulistano permite avaliar melhor como estamos gastando o dinheiro. A organização do processo de garantia do emprego não representa hoje maiores mistérios, política implementada na Índia durante 10 anos no Estado de Maharashtra, com bons resultados, e que hoje está sendo extendida para todo o país.
Nem todos irão querer trabalhar por um salário mínimo. Mas muitos desempregados com boa formação – e são muitos mesmo – podem ser absorvidos na educação e na saúde, coisa que hoje gera protestos porque estaria “inchando a máquina pública”. Na realidade, o desempregado custa, e tomar consciência de que nos custa mais de 20 milhões de reais por dia poderia levar a cidade a ser mais ativa em termos de promoção de emprego.

A contribuição dos voluntários
Uma outra forma de aproveitar a equivalência valor do tempo, é a avaliação do trabalho prestado por voluntários. Para muitos, trata-se de atividade pouco importante, “marginal” do ponto de vista econômico. O exemplo da Pastoral da Criança é neste sentido significativo. A Pastoral trabalha com 350 mil voluntários, e está na origem, nas regiões de atividade, de 50% da redução da mortalidade infantil e 80% da redução das hospitalizações. Em termos de contabilidade tradicional, esta atividade não é positiva: pelo contrário, ao reduzir o consumo de medicamentos, uso de ambulâncias e dias de hospitalização, reduz o PIB. E a atividade, como não é remunerada, não aparece no PIB como contribuição positiva. Se estimarmos o trabalho das voluntárias da Pastoral dedicado a crianças em 1 hora por dia, a R$3,30 a hora, podemos avaliar a contribuição da pastoral como equivalente a R$1.155.000 por dia.
Não temos estimativas do volume de horas de trabalho voluntário na cidade de São Paulo. Mas seguramente é muito significativo, e a sua avaliação através da equivalência hora permitiria ter uma aproximação muito mais realista do valor das atividades na cidade. De toda forma, este cálculo passará a equilibrar melhor as decisões políticas na cidade, inclusive porque o voluntariado se expande no país, com a expansão das organizações da sociedade civil que o utilizam intensamente.

A contribuição dos afazeres domésticos
Outro potencial importante da equivalência valor-hora encontra-se na sempre difícil avaliação do trabalho não remunerado nas famílias. No exemplo clássico, a pessoa que plantou, colheu e vendeu o pé de alface realizou uma atividade econômica, enquanto a pessoa que foi comprar na feira, transportou, lavou, preparou e serviu este mesmo alface não contribuiu para economia. Mais ainda, a pessoa que comprou, lavou, preparou e serviu este mesmo alface num restaurante contribui sim para economia. A dificuldade de se avaliar esta atividade é amplamente reconhecida. Mas avaliar o tempo de trabalho doméstico realizado nos domicílios é hoje uma tarefa relativamente simples, e familiar para os estatísticos que fazem, por exemplo, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios. Não é complexo fazer um levantamento por amostragem de quanto tempo as mulheres gastam na sua segunda jornada.
A Síntese de Indicadores Sociais 1996-2006, do IBGE, comenta que “com relação à jornada média semanal despendida em afazeres domésticos, verifica-se que as mulheres trabalham mais que o dobro dos homens nessas atividades (24,8 horas).”[6] Se estimarmos – enquanto não se realiza a amostragem correspondente para São Paulo – que vale para a cidade de São Paulo a média brasileira, podemos calcular o valor desta contribuição. O cálculo é simples: dos 11 milhões de pessoas da cidade, subtraimos 2,7 milhões de pessoas de menos de 15 anos, e 1,3 milhões de pessoas de mais de 60 anos, restando 7 milhões de adultos em idade de trabalho. A metade desta população representa 3,5 milhões de mulheres (seria um pouco mais na realidade, pela presença maior da população feminina, mas isso não muda significativamente o cálculo) que despendem 24,8 horas semanais, tres horas e meia por dia, em afazeres domésticos. Com o valor de R$3,30 por hora, 3,5 milhões de pessoas com trabalho de 3,5 horas por dia, são R$40,4 milhões de reais por dia. Como na família se come e se lava pratos inclusive aos domingos, multiplicando os R$40,4  por 365 dias, as mulheres da cidade de São Paulo contribuiriam com R$14,7 bilhões para a economia da cidade, a se acrescentar aos R$320 bilhões do PIB calculado pelo SEADE.

Perspectivas do valor equivalente do nosso tempo
Utilizar o valor equivalente da hora do nosso tempo pode ter outras utilizações. Por exemplo, perdemos tempo na fila do banco. Do ponto de vista do banco, a hora do funcionário é paga, a hora do cliente na fila é de graça. Portanto, compensa ter menos funcionários e mais filas. Na economia isto se chama externalização de custos. Há limites, evidentemente, e por vezes manifestações de indignação de clientes. Mas se os outros bancos adotam a mesma política, a maioria suspira de fila, ou contrata rapazes cuja profissão será ficar na fila. Não é complicado calcular, por agência, multiplicando as pessoas pelo tempo de espera, o valor perdido para todos, tempo em que não se descansa, e não se trabalha. E o rapaz fica na fila em vez de estudar, ou se divertir.
Um vetor semelhante de custos pode ser calculado a partir do tempo médio de espera pelo ônibus. Do ponto de vista da empresa transportadora, o ideal é ter um ônibus bem cheio, o que rentabiliza o trajeto. Portanto é bom demorar um pouco, para que o número de passageiros nos pontos aumente. O tempo médio perdido na espera pelo transporte coletivo pode ser calculado sem muita dificuldade, e multiplicado pelo valor equivalente da hora do paulistano. Ao se calcular a disponibilização de meios coletivos de transporte, a contabilidade correta exige portanto que se leve em consideração os custos sociais completos. Uma vez mais, o custo para o cidadão, em termos de tempo perdido, não sai do bolso da empresa, e o tempo ganho não o enche. A implicação evidente, é que não basta a soma do cálculo microeconômico das empresas, é preciso acrescentar a avaliação da produtividade sistêmica para a cidade no seu conjunto.
Seria de grande utilidade avaliar pelo critério do valor do tempo a produtividade dos sistemas públicos ou privados que envolvem as burocracias em geral. Para determinados impostos, calcula-se o custo/benefício dos diferentes impostos. Alguns geram mais trabalho para a administração pública do que os recursos gerados. Mas é preciso incluir também os custos para o cidadão, em termos de tempo perdido. Se multiplicarmos o número de contribuintes, e o tempo de preenchimento ou de filas, pelo equivalente valor básico da hora do cidadão, teremos o custo social da cobrança calculado de maneira mais correta. Determinados documentos ou procedimentos burocráticos exigem horas de espera. Isto é um custo. Ao aplicarmos a contabilidade das horas perdidas, poderemos verificar melhor a produtividade de se comprar equipamento mais avançado para reduzir as filas, ou simplificar impostos.
Os exemplos podem evidentemente ser multiplicados. Quanto vale o tempo de espera nos serviços de saúde? Quanto vale o tempo perdido pelo cidadão, mas não pela empresa, ao discar dezenas de vezes para um número onde atende uma voz misteriosa que nos informa que “a sua ligação é muito importante para nós”. Importante para o misterioso “nós”, mas evidentemente um custo direto para o bolso do usuário. Quanto custa o serviço que solicitamos, e que será atendido “em horário comercial”, em que temos de ficar em casa esperando? Porque o tempo dos fornecedores não pode ser desperdiçado, o nosso sim. O telemarketing calcula os seus custos em termos de funcionários e de tarifas telefônicas. E o tempo perdido por milhões de potenciais clientes? Apenas uma proporção ínfima das chamadas resultará em venda, e por isso as chamadas devem ser aos milhões. Alguns minutos de milhões de pessoas representam um custo de tempo perdido – sem falar da irritação – muito significativo. Outras formas de publicidade, em particular o “spam”, representam mundialmente centenas de milhões de horas perdidas apagando bobagens, e sendo distraídos do que estamos fazendo, com perda de produtividade geral. O custo da saúde será mais completo ao incluirmos os dias perdidos de trabalho com doenças. Levar em conta este custo do tempo tornaria muito mais clara a produtividade de se investir na saúde preventiva. 
Particular atenção deverá ser dada aos cálculos que realizamos sobre a redução da jornada de trabalho. Nos cálculos dos opositores, como consideram sem valor a hora fora do trabalho comercialmente remunerado, assegurar as quarenta horas semanais, e portanto dois dias plenos de descanso para os trabalhadores, representaria uma queda de produção. Naturalmente, porque não consideram como tendo valor o tempo passado com a família, o merecido descanso, o lazer. Na realidade, o cálculo que fazem é errado inclusive no plano estritamente microeconômico, pois onde foi introduzida, a redução da jornada expandiu outras atividades econômicas  mais ligadas a lazer, cultura, esportes e semelhantes. Mas na metodologia que aqui focamos, aumentar o lazer não reduz a produção, pois passamos a calcular o valor da hora livre como valor também para a população.

Uma metodologia em definição
Optamos aqui pelo mais simples: o valor do PIB dividido pela população nos dá o PIB per capita anual. Dividindo este pelas horas do ano, obtemos o valor per capita da hora. Mas podemos pensar em contas diferentes. Steven Davis, nos Estados Unidos, partiu do valor médio do salário horário, descontados os impostos, e atribuiu este valor à hora de lazer, algo como 13,2 dólares. Um ganho de 5 horas de lazer por semana significaria 3.300 dólares por trabalhador e por ano.[7] O importante, em termos metodológicos, é a cifra ser claramente compreensível por não especialistas. O per capita anual é uma cifra compreensível e assimilada pelo grosso da população. O per capita por hora é igualmente transparente. Poderíamos utilizar como divisor apenas a população ativa em vez da população total, ou as horas médias de trabalho em vez das horas totais do ano – o que causa problemas porque estamos avaliando as horas totais, incluindo em particular o tempo livre. Isto não mudaria o sentido geral da avaliação, e apenas dificultaria a compreensão.
Por outro lado, a metodologia aponta para a importância de realizarmos regularmente pesquisas sobre o uso do tempo na sociedade. No plano internacional, são os estudos do time budget, que ainda falta introduzir no Brasil. Trata-se do nosso bem mais precioso, o tempo da nossa vida. Entender como o utilizamos, e o custo do seu desperdício, é essencial para começarmos a organizar as nossas atividades em torno à qualidade de vida, e atualizarmos as nossas contas.
  Ladislau Dowbor, é doutor em Ciências Econômicas pela Escola Central de Planejamento e Estatística de Varsóvia, professor titular da PUC de São Paulo e consultor de diversas agências das Nações Unidas. É autor de “Democracia Econômica”, “A Reprodução Social: propostas para uma gestão descentralizada”. Seus  numerosos trabalhos sobre planejamento econômico e social estão disponíveis no site   http://dowbor.org – Contato ladislau@dowbor.org    


[1] Expandimos aqui uma categoria desenvolvida no capítulo A Economia do Tempo, no nosso ensaio Democracia Econômica, Ed. Vozes, Petrópolis 2009
[2] John Maynard Keynes – Economic Possibilites for our Grandchildren – (1930), in Essays in Persuasion, W.W. Norton, New York, London, 1963, p. 358 e ss. No original, “The love of money as a possession – as distinguished from the love of money as a means to the enjoyments and realities of life – will be recognised for what it is, a somewhat disgusting morbidity, one of those semi-criminal, semi-pathological propensities which one hands over with a shudder to the specialists in mental disease”. (p. 369).
[3] O clássico sobre o tema é o livro de Guy Aznar, Trabalhar menos para trabalharem todos -  prefácio de André Gorz. Keynes já se insurgia contra “a enorme anomalia do desemprego num mundo cheio de necessidades”.
[4] Dados da Fundação Seade, www.seade.gov.br/produtos/perfil/perfil.php, Perfil Municipal, São Paulo.
[5] O próprio PIB está sendo reavaliado nos mais variados fóros. Sobre as insuficiências do PIB, ver o nosso O debate sobre o PIB: Estamos fazendo a conta errada, http://dowbor.org/09_pibestamosfazendoacontaerrada.doc
[6] Ver os dados na Sintese de Indicadores Sociais 1996-2006 do IBGE, gráfico 4.1, e páginas seguintes, doc. s.p.  – O documento completo, Síntese de Indicadores Sociais 2007 – Uma análise das condições de vida da população brasileira 2007 – está disponível em http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/condicaodevida/indicadoresminimos/sinteseindicsociais2007/indic_sociais2007.pdf   Sobre as tendências de desagregação da família, ver o nosso artigo Economia da Família, sob Artigos Online no site www.dowbor.org
[7] The Economist, February 4th 2006, p. 29

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Transformação pela inovação

27/5/2010

Por Fábio de Castro

Agência FAPESP – Se o Brasil quiser construir um novo projeto de desenvolvimento sustentável para a Amazônia, para a indústria, para a agricultura e para os próprios padrões culturais da sociedade, em todos os casos, a inovação deverá ser o eixo central da transformação.

A análise foi feita pelos participantes da plenária de abertura da 4ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (CNCTI), que começou nesta quarta-feira (26/5), em Brasília.

Com o tema "Política de Estado para Ciência, Tecnologia e Inovação com vistas ao desenvolvimento sustentável", o evento reúne milhares de participantes até a sexta-feira (28/5).

A plenária de abertura discutiu o eixo central da reunião: como o avanço do conhecimento e da inovação pode se tornar o vetor fundamental do desenvolvimento econômico com preservação dos ativos ambientais e
melhoria na qualidade de vida.

De acordo com Bertha Becker, professora emérita da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a Amazônia – área estratégica para o país e modelo por excelência para o estudo dos conflitos entre preservação ambiental e crescimento econômico – tem hoje duas propostas de projetos de desenvolvimento sustentável.

"Um desses projetos, que está associado às mudanças climáticas, tem predominado. Sua prioridade é evitar a emissão de gases de efeito estufa e implementar o mercado de carbono. Esse projeto defende a preservação da floresta em pé, financiando a renúncia ao desmatamento. É uma ideia que parece sedutora, mas questiono fortemente esse projeto, pois ele mantém a floresta improdutiva. É basicamente um projeto de compensação para países desenvolvidos que poderão continuar sendo os maiores emissores", disse.

O outro projeto, segundo a pesquisadora, entende o desenvolvimento sustentável como um novo padrão de desenvolvimento baseado na ciência, na tecnologia e na inovação.

"O desafio, nesse caso, é utilizar os recursos naturais sem destruí-los, gerando emprego e renda para os milhões de habitantes da região. Para isso, vamos ter que mudar o padrão de desenvolvimento da Amazônia. Só conseguiremos isso com políticas públicas e imensos investimentos em ciência e inovação", destacou.

Segundo Bertha, na atualidade o papel dos cientistas se tornou mais complexo: além de pesquisar, descobrir, inovar e implementar técnicas avançadas, o cientista contemporâneo precisa esclarecer a sociedade sobre
as rápidas transformações no mundo.

"Caberá à sociedade acarear esses dois projetos e essa acareação deverá levar em conta o extraordinário valor da Amazônia. Os cientistas precisam deixar isso claro", disse.

De acordo com o coordenador da plenária de abertura, Luiz Gonzaga de Mello Belluzzo, professor titular da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e conselheiro da FAPESP, a ciência e a inovação têm uma missão ainda maior que o estabelecimento de uma economia sustentável. Será preciso contribuir com a construção de um novo modelo de sociedade.

"Nos últimos anos, o sistema financeiro se tornou uma finalidade em si e desvirtuou os investimentos em tecnologia. Tivemos uma concentração do risco e, mesmo tendo avaliações prévias de que haveria um colapso financeiro, não fomos capazes de impedi-lo. Não estamos diante de uma mera crise financeira: uma análise mais profunda revela uma crise do padrão de convivência da sociedade contemporânea", afirmou.

Segundo o também professor das Faculdades de Campinas, a crise estrutural do modelo construído nos últimos 60 anos e radicalizado na década de 1980 gerou ao mesmo tempo uma escalada do consumo e da desigualdade.

"O Brasil é quase uma exceção, já que conseguiu fazer o mínimo para reduzir a desigualdade. Mas estou assustado com a degradação cultural da sociedade. Basta olhar os fóruns na internet para ter noção do grau de isolamento e agressividade das pessoas que se manifestam anonimamente. Isso não está dissociado do meio ambiente – esse comportamento faz parte de um padrão civilizatório que precisa ser mudado", afirmou.

Para pensar em inovação e desenvolvimento, segundo Belluzzo, será preciso cuidar do aperfeiçoamento cultural dos brasileiros e da inclusão social e cultural dos jovens da periferia.

"Estamos, aqui falando de inovação, mas é preciso destacar que a inovação precisa começar pela base cultural e educacional", disse, sob aplausos da grande plateia presente.

Recursos naturais

Segundo Pedro Luiz Barreiros Passos, presidente do Instituto de Educação e Inovação (Iedi), a economia do Brasil vive um bom momento, mas ainda está baseada em exportação de recursos naturais, em vez de produtos manufaturados com alto valor agregado.

"Enfrentamos a crise financeira com muita inteligência, mas, além do rico patrimônio natural, social e cultural, precisamos criar elementos para a exploração das vantagens comparativas do país, seja energia renovável,
a forte produção agrícola ou uma nova cadeia como a do pré-sal", disse.

De acordo com Passos, além dos recursos naturais o Brasil tem vantagens de curto prazo, como a janela demográfica, que permitirá ao país ter uma população economicamente ativa relevante, formando em pouco tempo imensa força de trabalho e um novo mercado interno.

"Temos a oportunidade de fazer uma transição para uma economia de baixo carbono, com aumento da eficiência energética e do transporte. Para isso, os padrões do uso de transportes terão que mudar, de forma associada aos investimentos nas tecnologias de bioenergia, novos materiais e processos produtivos. Mas temos que ser ambiciosos e buscar a liderança mundial em bioenergia, química verde, alimentos sustentáveis e outras áreas que são nossa vocação", disse.

José Geraldo Eugênio de França, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, destacou que o Brasil passou por uma revolução verde e, hoje, a agricultura representa quase um terço da economia do país,
empregando 40% da população.

O país, segundo ele, tem um dos mais baixos preços de alimentos do mundo. Mas a ambição deve ser levada mais longe, pois há potencial para se tornar o primeiro produtor mundial de alimentos.

"Já estamos na terceira colocação, tendo ultrapassado o Canadá recentemente. A grande questão é chegar a esse objetivo adotando o princípio do respeito ao meio ambiente e à sustentabilidade. Estamos convencidos de que podemos fazer isso", afirmou.

Segundo França, os pesquisadores são responsáveis pelo redesenho de uma nova agricultura menos dependente dos insumos, com maior produtividade baseada na biotecnologia e na nanotecnologia.

"Hoje, temos 8 milhões de hectares de cana-de-açúcar que não empregam inseticidas e 22,5 milhões de hectares de soja com uso de bactérias no lugar do nitrogênio mineral. Assim como a China escolheu ser a fábrica do mundo, podemos nos tornar o grande produtor de alimentos, matérias-primas e biocombustíveis. Mas não há como fazer isso sem muita ciência e sustentabilidade", disse.

Mais informações sobre a 4ª CNCTI: www.cgee.org.br/cncti4

terça-feira, 18 de maio de 2010

Uma defesa da idoneidade cientifica das crenças de Marina

Por Antonio Donato Nobre

[ texto escrito e postado no blog Ciencia e Ideias, de Marina Guimaraes, como resposta numa discussao onde muitos criticavam a suposta posicao criacionista de Marina]


Lynn Margulis, a autora da aclamada teoria da endosimbiose, repeliu elogio tardio do estridente Richard Dawkins (que combateu com cruz e estaca essa teoria desde o seu surgimento, mas que capitulou depois que a biologia molecular a demonstrou verdadeira), com uma frase no seguinte teor: "a historia registrarah os neo-darwinistas (aqueles que classificam qualquer questionamento sobre evolucao e selecao natural como heresia criacionista) como um secto religioso que tomou a biologia de assalto no seculo XX e impediu por decadas o desenvolvimento real da biologia".

Toda estas afirmacoes histrionicas contra a Marina tem coloracao persecutoria, comportamento de massa, pouca substancia biologica exposta e substanciada, como requer a boa ciencia. Afirmar com superioridade arrogante que alguem que cre em algo ainda nao completamente compreendido ou demonstrado (como o surgimento da vida no planeta, diferenciacao na embriogenese, etc) nao deve ser levado a serio eh desmerecer o proprio carater investigativo da ciencia. Cada cientista serio comeca sua investigacao por pistas sutis e suspeitas, usando intuicao, ou simplesmente se baseando em crença numa realidade ainda desconhecida ou nao provada. Soh aqueles dedicados a perseguir, como no tempo da inquisicao, aqueles que nao contribuem com nenhum conhecimento realmente novo para a humanidade, tem tempo para patrulhamento.

A Marina defende uma postura perfeitamente coerente com os ideais cientificos, ou seja, o que esta demonstrado e eh plenamente compreendido faz parte do repertorio das conviccoes. O que nao estah nem demonstrado nem eh compreendido, pertence ao campo das crenças, inclusive no ambito cientifico. E para terminar, uma citacao do proprio Darwin:

"I cannot anyhow be contented to view this wonderful universe, and especially the nature of man, and to conclude that everything is the result of brute force. I am inclined to look at everything as resulting from designed laws, with the details, whether good or bad, left to the working out of what we call chance. Not that this notion at all satisfies me. I feel most deeply that the whole subject is too profound for the human intellect. A dog might as well speculate on the mind of Newton. Let each man hope and believe what he can." [tradução: Eu não posso de qualquer forma estar contente ao ver este universo maravilhoso, e especialmente a natureza do homem, e concluir que tudo é resultado de força bruta. Estou inclinado a olhar para tudo como resultado de leis desenhadas, com os detalhes, sejam boms ou maus, deixados para a elaboração do que chamamos de acaso. Não é que este conceito absolutamente me satisfaça. Sinto o mais seriamente que este assunto é demasiadamente profundo para o intelecto humano. Um cão pode muito bem especular sobre a mente de Newton. Deixe que cada homem tenha a esperança e acredite no que ele puder.]
— Charles Darwin Letter to Asa Gray (22 May 1860). In Charles Darwin and Francis Darwin (ed.), Charles Darwin: His Life Told in an Autobiographical Chapter, and in a Selected Series of His Published Letters (1892), 236. 

Escrito por: Antonio Donato Nobre | dezembro 3, 2009 9:38 PM
http://scienceblogs.com.br/cienciaeideias/2009/08/marina_a_caminho.php

É Marina ou statu quo

Página 22 - Edição 42 - Junho 2010

José Eli da Veiga

A candidatura Marina será uma ferramenta à disposição dos eleitores que desejarem estimular avanços incomparavelmente mais sérios e conseqüentes do que poderiam ser alcançáveis com outros postulantes. 

E isso independe do infeliz cacoete “mas ela não tem chance”. Mesmo que porventura não vença, quanto mais votos atrair maior será a influência de suas posições sobre as opções do próximo governo, seja lá quem chegar à presidência.

A única vantagem de eleição em dois turnos é justamente esta: poder apoiar no primeiro quem aponta o caminho mais promissor. Só no segundo é que muita gente se verá forçada a usar seu voto para evitar o que considera pior.
Claro, esse não é um argumento que possa sensibilizar aquela imensa parte do eleitorado que se define em função de motivações bem diferentes. Aquela parte que mal assistirá aos espetáculos que lhe serão oferecidos pelo duopólio do horário eleitoral de televisão. E que menos ainda se empenhará em entender o que poderia haver de tão especial nos propósitos daquela falante moreninha de voz aguda. Mesmo que muitos venham a guardar seu nome, talvez nem fiquem sabendo que exerceu dois mandatos no Senado e foi ministra do governo Lula.

Todavia, também há eleitores que farão de tudo para basear sua escolha em serena avaliação do que poderá ser melhor para o futuro da sociedade brasileira. Mesmo que em minoria nas urnas, certamente serão eles os que depois mais contribuirão para o bom funcionamento cotidiano das instituições democráticas. Por isso, o maior prejuízo para a sociedade ocorrerá se o debate público entre os candidatos impedir que essa faixa o eleitorado perceba a real diferença que existe entre a candidatura de Marina e as demais.

Os pré-candidatos que despontam como favoritos nas pesquisas falarão de sustentabilidade, mas seus currículos de gestores governamentais atestam que sequer assimilaram seu beabá. Sempre optaram pela turbinagem do PIB como objetivo supremo de suas ações, pois têm a convicção de que o desenvolvimento é diretamente proporcional a essa obsoleta maneira de se medir o crescimento da economia. O que necessariamente os obriga a encarar a natureza como eterno obstáculo, ou restrição, jamais como base, ou fundamento, de soluções.

A trajetória política de Marina levou-a a uma posição diametralmente oposta. De um lado, por ter muito cedo percebido que o desenvolvimento depende é da eficiente utilização pela sociedade dos frutos de seu desempenho econômico, algo que é precariamente avaliado pelo PIB. De outro, por também ter entendido que tanto crescimento econômico quanto o desenvolvimento humano terão pernas curtíssimas se comprometerem a resiliência dos ecossistemas. Seja pela falta geral de conservação, como, em alguns casos, de preservação. Foi essa ampla consciência que fez da responsabilidade socioambiental seu guia supremo de ação.

Ao contrário, será no altar dedicado ao PIB que os dois pré-candidatos mais cotados sacrificarão quaisquer cuidados com a proteção da natureza. Ambos idolatram acima de tudo a aceleração do crescimento porque são prisioneiros do mesmíssimo DNA ideológico social-democrata, por mais que na atual conjuntura brasileira discordem aqui e ali sobre quais seriam seus melhores métodos, ou suas melhores práticas.

Ainda mais decisivo: continua a ser o ideário social-democrata o que melhor atende aos três principais grupos sociais favoráveis à manutenção do statu quo: dos empresários que bancam campanhas eleitorais para obter muito mais do que o legitimado por suas contribuições para o bom desempenho da economia nacional; dos sindicalistas facilmente cooptáveis por dependência de transferências públicas; e dos próprios políticos que jamais seriam eleitos sem festivais de benesses federais.

Como essas bases sociais continuam mais poderosas do que os simpatizantes das inúmeras associações voltadas à sustentabilidade, só pode ser pequena a probabilidade de que saia derrotada em outubro de 2010 a irresponsabilidade socioambiental comum aos atuais favoritos. Daí a importância de que no primeiro turno vote mesmo em Marina quem concorda com sua corrente por democracia e sustentabilidade, sejam quais forem suas sensibilidades sobre os candidatos do statu quo.

Se, ao contrário, adeptos da responsabilidade socioambiental forem ofuscados por antipatias que antecipem o segundo turno, sairá reforçada a truculência que obrigou Marina a deixar do governo Lula, e que acaba de ter emblemática confirmação no caso de Belo Monte. O próximo governo estará inteiramente à vontade para - por exemplo - conduzir da mesma maneira o licenciamento e leilão das 33 outras usinas já planejadas.
Enfim, dia 3 de outubro é Marina ou statu quo.

JOSÉ ELI DA VEIGA, professor titular da Faculdade de Economia (FEA) e orientador do Programa de Pós-Graduação do Instituto de Relações Internacionais (IRI) da Universidade de São Paulo. Página web: www.zeeli.pro.br

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Sobre o programa eleitoral do PT na TV

14/05/2010 - 09:03
Enviado por: Marcia

PORQUE ELA (Dilma Roussef) NAO OLHA DE FRENTE A POPULAÇÃO? a resposta é bem simples …..SEUS OLHOS MOSTRARIAM A VERDADE

http://blogs.estadao.com.br/vox-publica/2010/05/14/propaganda-do-pt-revela-preocupacoes-com-discurso-e-imagem-de-dilma/

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Cientistas brasileiros são premiados internacionalmente

Carlos Nobre e José Marengo, do Inpe, foram vencedores por seus trabalhos ligados a mudanças climáticas

13 de maio de 2010 | 12h 24

Com informações da Agência Fapesp
O pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) Carlos Nobre e José Marengo foram vencedores de prêmios internacionais. Marengo recebeu o Internacional Journal of Climatology Prize 2009 pela relevância do conjunto dos trabalhos publicados nos últimos cinco anos. A publicação é editada pela Royal Meteorological Society, entidade criada no século 19.

Marengo é membro do conselho editorial do Internacional Journal of Climatology, considerada uma das mais importantes publicações do mundo na área. Publicou cerca de 10 artigos na revista, como autor principal e coautor, que enfocam, principalmente, estudos sobre o clima e o tempo na região tropical da América do Sul. O pesquisador receberá um certificado e um prêmio em dinheiro, que serão entregues no dia 19 de maio, em Londres, durante evento organizado pela sociedade.

Carlos Nobre, que é chefe do Centro de Ciência do Sistema Terrestre do Inpe e também é coordenador executivo do Programa FAPESP de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais, foi premiado com a Medalha Alexander von Humboldt, concedida pela European Geosciences Union (EGU).
A medalha, que foi entregue no dia 5 durante a Assembleia Geral da EGU realizada em Viena, na Áustria, foi concedida em reconhecimento aos trabalhos do pesquisador sobre as florestas da Amazônia e seu papel no sistema climático da Terra. O EGU publica vários periódicos importantes como Journal Earth System Dynamics e Journal Solid Earth.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

'Meio mundo pode ficar inóspito com mudança climática', diz estudo

12/05/2010 - 12h17, da BBC Brasil
O aquecimento global pode deixar até metade do planeta inabitável nos próximos três séculos, de acordo com um estudo das universidades de New South Wales, na Austrália, e de Purdue, nos Estados Unidos, que leva em conta os piores cenários de modelos climáticos. O estudo, publicado na última edição da revista especializada "Proceedings of the National Academy of Sciences", afirma ainda que, embora seja improvável que isso aconteça ainda neste século, é possível que já no próximo, várias regiões estejam sob calor intolerável para humanos e outros mamíferos. "Descobrimos que um aquecimento médio de 7 ºC causaria algumas regiões a ultrapassar o limite do termômetro úmido (equivalente à sensação do vento sobre a pele molhada), e um aquecimento médio de 12 ºC deixaria metade da população mundial em um ambiente inabitável", afirmou Peter Huber, da Universidade de Purdue. Os cientistas argumentam que ao calcular os riscos das emissões de gases atuais, é preciso que se leve em conta os piores cenários (como os previstos no estudo).
Roleta russa
  Quando o professor Huber fala em um aquecimento médio de 12 ºC, isso significaria aumentos de até 35 ºC no termômetro úmido nas regiões mais quentes do planeta. Atualmente, segundo o estudo, as temperaturas mais altas nesta medida nunca ultrapassam 30 ºC. A partir de 35 ºC no termômetro úmido, o corpo humano só suportaria algumas horas antes de entrar em hipertermia (sobreaquecimento). Huber compara a escolha a um jogo de roleta russa, em que "às vezes o risco é alto demais, mesmo se existe apenas uma pequena chance de perder". O estudo também ressalta que o calor já é uma das principais causas de morte por fenômenos naturais e que muitos acreditam, erroneamente, que a humanidade pode simplesmente se adaptar a temperaturas mais altas. "Mas quando se mede em termos de picos de estresse incluindo umidade, isso se torna falso", afirmou o professor Steven Sherwood, da universidade de New South Wales. Calcula-se que um aumento de apenas 4 ºC medidos por um termômetro úmido já levaria metade da população mundial a enfrentar um calor equivalente a máximas registradas em poucos locais atualmente. Os autores também afirmam que um aquecimento de 12 ºC é possível através da manutenção da queima de combustíveis fósseis. "Uma implicação disso é que cálculos recentes do custo das mudanças climáticas sem mitigação (medidas para combatê-las) são baixos demais."

Brasil é apontado o maior destruidor ambiental no mundo

2 de Maio de 2010

Considere o quanto um país prejudica o meio ambiente nos seguintes quesitos: desmatamento, pescaria predatória, uso de fertilizantes agrícolas, poluição da água, emissão de carbono, ameaça de espécies animais e alterações de ambiente (quando áreas naturais são convertidas em campos agrícolas ou cidades). Somando todas essas coisas, o Brasil é o país que mais maltrata o meio ambiente

Foi o que concluíram cientistas do Instituto Ambiental da Austrália, em Adelaide. Eles criaram duas classificações: uma para números relativos, em que foi feito um cálculo considerando as áreas naturais de um país e a porcentagem de danos causados. A outra, na qual o Brasil foi eleito o maior vilão, trata de números absolutos.

A pesquisa concluiu que, em linhas gerais, quanto mais rico é o país, maior é a sua agressão ao meio ambiente. Segundo o coordenador da pesquisa, eles sofreram uma decepção: “Esperávamos que um país rico pudesse diminuir seu impacto ambiental, já que teria acesso a tecnologias mais limpas, mas infelizmente isso não foi confirmado”.

Mas vamos lembrar de dois aspectos. O primeiro é que, de acordo com os pesquisadores, o estudo analisou os impactos ambientais exclusivamente, sem se preocupar com aspectos sócio-econômicos.

Outro fato é que o resultado da pesquisa é um conjunto de todos os quesitos. Assim, não significa que o Brasil seja o “campeão mundial” de agressão em todos eles. Sabe-se que em alguns, como o desmatamento, somos de fato os maiores destruidores, mas na emissão de carbono, por exemplo, há países que poluem mais do que nós. Confira a lista dos “dez mais” em ambos os quesitos:

Números absolutos

1 - Brasil
2 - Estados Unidos
3 - China
4 - Indonésia
5 - Japão
6 - México
7 - Índia
8 - Rússia
9 - Austrália
10 - Peru

Números relativos

1 - Cingapura
2 - Coréia do Sul
3 - Catar
4 - Kuwait
5 - Japão
6 - Tailândia
7 - Bahrein
8 - Malásia
9 - Filipinas
10 - Holanda

[Live Science]

http://www.revistadae.com.br/novosite/noticias_interna.php?id=3080#>

terça-feira, 11 de maio de 2010

Amazônia já perdeu 17% de sua floresta


11 de maio de 2010, Afra Balazina - O Estado de S. Paulo

O Brasil é citado positivamente no relatório do Pnuma por dois motivos: ter sido o país que mais criou áreas protegidas no mundo desde 2003 (foi responsável por quase 3/4 do total) e ter conseguido reduzir a taxa anual de desmatamento da Amazônia. O estudo lembra que o pico da taxa de desmate foi de 27 mil km² em 2003-2004 e, no período 2008-2009, foi de 7 mil km².

“Alguns países demonstram que, com determinadas ações, tendências históricas podem ser revertidas”, diz o documento.

Porém, o País ainda é alvo de muitas preocupações, principalmente no que se refere à floresta amazônica. “Imagens de satélite sugerem que uma área crescente da Amazônia está sendo degradada”, diz o relatório.

Colapso

No Brasil, o desmate da Amazônia já atingiu 17% do total. Estudos indicam que é importante manter o desflorestamento abaixo dos 20% para evitar um colapso. Segundo o documento, com a interação entre desmatamento, queimadas e mudanças climáticas, a Amazônia pode sofrer um colapso generalizado – haveria a ocorrência de fogos mais frequentemente e secas prolongadas.

Esse colapso pode provocar a savanização da floresta em algumas áreas, levar a reduções de chuvas regionais, comprometer a agricultura e a produtividade no País.

O Pnuma avalia ser uma medida “para garantir a segurança”, tendo em vista esse cenário negativo, iniciar programas de restauração da floresta amazônica.




Desmatamento e degradação florestal custam até US$ 4,5 tri ao ano

Relatório da ONU revela que 42% das espécies de anfíbios e 40% das de aves estão com a população em declínio

11 de maio de 2010, Afra Balazina - O Estado de S. Paulo

Um novo relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) alerta para os impactos econômicos da perda da biodiversidade no mundo. Em âmbito global, os desmatamentos e a degradação florestal geram um custo anual entre US$ 2 trilhões e US$ 4,5 trilhões (R$ 3,6 trilhões e R$ 8,2 trilhões) – para se ter uma ideia, o valor é maior do que os prejuízos provocados pela recente crise financeira mundial.

Chamado de Terceiro Panorama Global de Biodiversidade, o estudo do Pnuma demonstra também que espécies invasoras (que podem competir com espécies nativas e danificar plantações) podem custar para a economia global US$ 1,4 trilhões (R$ 2,5 trilhões) ou mais. Somente na África subsaariana, os invasores são responsáveis por perdas anuais que somam US$ 7 bilhões (R$ 12,8 bilhões).

“Muitas economias continuam cegas para o enorme valor e papel da diversidade de animais, plantas e outras formas de vida num ecossistema saudável e funcional de florestas e água para solos, oceanos e a atmosfera”, diz Achim Steiner, diretor executivo do Pnuma.

Alguns países começam devagar a perceber a importância econômica da biodiversidade. Porém, segundo as Nações Unidas, as iniciativas precisam ganhar escala mais rapidamente.

A plantação e proteção de cerca de 12 mil hectares de mangues no Vietnã teve um custo de aproximadamente US$ 1 milhão (R$ 1.8 milhão), mas economiza gastos anuais em manutenção de diques de mais de US$ 7 milhões (R$ 12,8 milhões).

Ja a China permitiu por mais de 40 anos a destruição de florestas para obter madeira para construção civil e a fabricação de móveis. Porém, o país começou a enfrentar um grave problema de desertificação, viu o Rio Amarelo praticamente morrer e passou a sofrer com enchentes devastadoras – em 1998, uma dela causou danos de bilhões de dólares.

O país decidiu, então, banir o desmatamento em 17 províncias. “Os chineses perceberam que estavam prejudicando a si mesmos, principalmente porque o produto era, em grande parte, exportado para países como Estados Unidos, Japão e Coreia”, diz Pavan Sukhdev, do Pnuma. Segundo ele, o custo real da madeira seria 129% maior do que o comercializado se os danos ambientais fossem considerados.

Em sua opinião, as empresas têm papel fundamental para evitar a perda da biodiversidade hoje. Segundo Sukdev, há oportunidades nessa área de negócios sustentáveis: a venda mundial de alimentos orgânicos, por exemplo, teve um aumento de 203% entre 1999 e 2007 e inclui empresas como Carrefour e WalMart. Ele prepara um relatório para apresentar a executivos de médias e grandes empresas sobre o tema.

Extinção

O relatório indica que 42% das espécies de anfíbios e 40% das de aves estão com sua população em declínio. Afirma ainda que a população de espécies de vertebrados caiu, em média, 31% globalmente entre 1970 e 2006.

Uma queda severa ocorreu nos trópicos (59%), enquanto houve um aumento da população das espécies de locais temperados, onde quase não ocorrem mais desmatamentos para fazer pastagens e plantações.

O estudo aponta cinco principais pressões para a biodiversidade atualmente: a perda e a degradação dos hábitats (que são convertidos em plantações e, mais recentemente, para produzir biocombustível), as mudanças climáticas, a poluição, o uso insustentável (super exploração) e, por fim, as espécies invasoras.

Em uma amostra de 57 países foram encontradas mais de 542 espécies invasoras com algum impacto para a biodiversidade – uma média de 50 por país. O número provavelmente está subestimado, já que há muitos impactos que ainda não foram examinados e muitos países têm falta de dados.

Tópicos: Planeta, Sustentabilidade, Vida, Biodiversidade, Desmatamento, Degradação florestal, Onu, Aves, Anfíbios, Vida &, Planeta

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Política:


"Poli "uma palavra latina que significa 'muitos' e 'tica' significando "criatura sanguessuga"
Robin Williams

http://www.buzzle.com/articles/sarcastic-sayings-about-life.html

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Materia na Veja é uma Farsa: Os reais números da Conservação

O ECO, 5/5/2010

Estudo ainda inédito coordenado pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), previsto para sair em breve em publicação científica, traz à luz novos números sobre as áreas agricultáveis ou disponíveis para uso no Brasil. O trabalho mostra que, de toda vegetação natural (537 milhões de hectares), nos vários biomas, 43% estão em áreas protegidas (APP e unidades de conservação). Isto é, atualmente o país possui 57% de vegetação natural (308 milhões de ha) que podem ser destinados à criação de novas Unidades de Conservação, alocação de reservas legais ou acabarem sendo desmatadas.

Os números, apresentados na segunda-feira (3), em São Paulo, a um grupo de jornalistas, se contrapõem aos dados mostrados pela revista Veja desta semana, no texto “A farra da Antropologia oportunista”. A matéria garante que, somente em reservas e áreas de preservação ambiental (Unidades de conservação e Terras Indígenas), o Brasil possui 550 milhões de hectares demarcados . “Realmente não sei de onde a Veja tirou esse número”, diz o pesquisador Gerd Sparovek, um dos autores do estudo.

O levantamento dos dados foi realizado durante um ano e meio pela Esalq em conjunto com a universidade sueca Chalmers University of Tecnology, com apoio do Instituto e Estudos do Comércio e Negociações Internacionais (Icone), WWF-Brasil e MDA. Ele se soma às pesquisas científicas que provam que não é necessário derrubar mais nenhum hectare de vegetação nativa para expandir a agricultura no país. A falta de terras é o principal argumento da bancada ruralista no Congresso para a flexibilização do Código Florestal.

Uma das idéias principais que o artigo é de que o Pacto do Desmatamento Zero é viável e urgente, justificado pelo fato de que “a produção agropecuária não depende de desmatamento para expandir sua área de produção e/ou sua produtividade”. Segundo o levantamento, os agricultores têm disponíveis 60 milhões de hectares em pastagens extensivas com alta aptidão para a agricultura, área que, se utilizada, iria mais do que dobrar a capacidade de expansão do setor. Atualmente, a média da pecuária na Amazônia é de apenas um boi por hectare.

Segundo o documento, a conservação da vegetação natural no Brasil passa “necessariamente por uma revisão (re-invenção) do setor de produção pecuária” e pelo fortalecimento da presença do Estado na criação e manutenção de UCs de domínio e gestão pública, as que se mostraram mais eficientes do ponto de vista da conservação. Os 175 milhões de hectares que estão em UC´s e Terras Indígenas têm 97% de eficácia; já nos 375 milhões de hectares que estão no setor privado, na forma de Áreas de Proteção Permanente (APPs) e Reserva Legal (RL), a garantia de proteção é muito menor – 43% das APPs e pelo menos 17% da necessidade total de RL ( 254 milhões de ha) terão de ser supridos por restauração. (Cristiane Prizibisczki)