Nota introdutória,
Eduardo Giannetti, 23-abr-2010
Marina Silva não é a favorita na corrida presidencial. Mas ela é a única candidata portadora de um sonho de civilização brasileira que merece ser sonhado. Ao contrário dos gerentes e tocadores de obra que lideram as pesquisas, ela é a única liderança capaz de inspirar o eleitorado, especialmente os jovens, com uma visão generosa de futuro em que o Brasil não se resigne a continuar sendo mais do mesmo – uma cópia canhestra do modelo norte-americano, na melhor das hipóteses.
Cabe a ela, acima de tudo, reintroduzir um vetor de sonho na vida pública brasileira. Cabe ao movimento que ela representa a construção de um projeto de nação em que a valorização do conhecimento pela educação e pelo estímulo à pesquisa, aliado ao uso inteligente e à preservação do nosso patrimônio ambiental, desloquem o primado quase exclusivo do critério econômico strictu senso nos processos decisórios e se transformem em genuínas prioridades de governo.
Ouso que crer que a própria condição de “azarão” na corrida eleitoral pode se revelar um trunfo, na medida em que propicie a ela uma maior desenvoltura na defesa de ideias e propostas que surpreendam e redefinam a pauta da eleição. Por que não, por exemplo, enaltecer a reconhecida competência gerencial de Serra e Dilma – eles se merecem – e dizer que ambos dariam excelentes ministros, porém de um governo capaz de dar-lhes um norte e uma visão de futuro eticamente orientado? Ótimos ministros, portanto, mas do seu governo!
Pelo seu perfil, postura e situação na campanha, Marina é a única em condições de “pensar o impensável”. A única disposta a mudar o modo de fazer política no Brasil; a única habilitada a disseminar valores que inspirem a cidadania; a única que demonstra estar suficientemente comprometida com os princípios do aprimoramento humano e da sustentabilidade socio-ambiental de modo a garantir que venham a presidir de fato, em seu governo, as iniciativas e políticas do Estado brasileiro.
Nos dois textos apresentados a seguir (baseados na revisão e adaptação de artigos previamente publicados) procurei formular o esboço de uma espécie de manifesto pró-Marina, propondo não um programa articulado de diretrizes, com sugestões e medidas pontuais, mas buscando sustentar a existência e a importância da sua candidatura à luz dos valores e princípios que, a meu juízo, dão a ela absoluta legitimidade e fazem toda a diferença.