Observar as plantas e copiar a natureza. Esta foi a saída que o agricultor Jurandi Anunciação de Oliveira buscou no conhecimento tradicional para matar a charada proposta por um técnico que lhe recomendou “plantar água” para conviver com a escassez de água no semiárido nordestino de Cafarnaum, cidade baiana onde mora.
A saída também servirá para amenizar o aquecimento global, segundo entende o pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), Antônio Donato Nobre. Ambos estiveram juntos em conferência sobre sistemas agroflorestais e mudanças climáticas realizada nesta quarta-feira (24) em Luziânia (GO).
“Eu planto mil folhas de palma, colho 4.750 litros de água e posso cultivar manga em agosto sem depender de água de barragem ou de chuva”, contou o agricultor durante o seminário que compôs a programação do VII Congresso Brasileiro de Sistemas Agroflorestais (VII CBSAF), organizado pela Embrapa e parceiros, e que tem objetivo de proporcionar o compartilhamento de experiências.
Oliveira conseguiu driblar os efeitos da seca em sua propriedade compactando folhas de palma sob o solo em que plantaria fruteiras. Mas como essa lógica tem indicado caminhos para salvar a Terra dos efeitos danosos das mudanças climáticas – que são dez vezes mais graves do que dizia o último Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC),
conforme anunciou Nobre.
Regador do Éden
A descoberta de que a “floresta amazônica é o regador do Éden” ou que as árvores transpiram por unidade de área mais do que o oceano ocorreu fora dos modelos matemáticos dos meteorologistas, destacou o agrônomo. Pela física, os cientistas russos captaram os princípios da natureza que os agricultores já haviam captado pela intuição: as florestas funcionam como
uma bomba de água, sendo, portanto essenciais no resfriamento da Terra, disse Nobre.
Segundo ele, cada árvore grande na Amazônia chega a evaporar 300 litros de água por dia. Conseqüências do aquecimento global que estavam sendo esperadas para 2050 teriam começado a ser registradas já em 2007, destaca o pesquisador. “O gelo do Ártico derreteu tão rápido que desestimulou os investimentos para a ampliação do canal do Panamá”, aponta Nobre como um dos eventos que estão sendo antecipados, pegando meteorologistas de surpresa.
“Ou muda ou morre”
O alerta foi feito pelo agricultor familiar Oliveira para o contexto da região semiárida onde vive, mas tem a concordância do pesquisador do Inpe, cujo foco é a situação do Planeta: “a mordida virá, inesperada e brutal”, sentencia, tendo por base dados históricos e não futorológicos conforme frisa.
A saída, segundo entende não estará numa tecnologia que, sozinha, nos salve dos desastres climáticos, mas de uma agenda de colaboração e na disseminação do conhecimento.
O agrônomo desenvolve projeto denominado Fênix amazônica, uma proposta que, a partir da síntese do conhecimento acumulado em vários setores, possa ser acessível e viabilizar saídas colaborativas para questões específicas como a fundiária, dos poluentes e da sustentabilidade.
Embora aponte a necessidade de correção de rotas em diversas áreas, Nobre avalia que “não haverá solução sem a Embrapa, sem a ciência e sem o conhecimento intuitivo do produtor”.
Para acompanhar a programação completa e as notícias sobre o VII Congresso Brasileiro de Sistemas Agroflorestais que segue até sexta feira, 26, basta acessar www.embrapa.br/viicbsaf.
O evento é promovido pela Sociedade Brasileira de Sistemas Agroflorestais e realizado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), em parceria com a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Distrito Federal (Emater/DF) e a organização não-governamental Mutirão Agroflorestal.
A organização do VII CBSAF é da Embrapa Transferência de Tecnologia (Brasília/DF) e o evento conta com apoio da Embrapa Cerrados (Planaltina –DF), Embrapa Floresta (Colombo/PR) e da Embrapa Informação Tecnológica (Brasília/DF).
Texto de Valéria Costa, da Embrapa Transferência de Tecnologia, publicado pelo EcoDebate, 26/06/2009