Ana Lucia Azevedo e Ricardo Grandelle
Publicado:
RIO - Para dezenas de tribos indígenas a samaúma é sagrada, cultuada como a mãe da Humanidade. Trata-se da mais alta árvore da Amazônia, chegando a 65 metros. Sua copa grandiosa abriga um pequeno ecossistema. Mas nada disso importa para os madeireiros. Sua derrubada é indiscriminada e a madeira, considerada de baixa qualidade, é usada em compensados. A espécie tem sido tão explorada que poderá não sobreviver.
A samaúma é uma gigante delicada. Sua reprodução depende de caprichos. Um deles é o tempo: o florescimento acontece em períodos irregulares - pode demorar até sete anos. Durante este processo, a árvore produz uma grande quantidade de flores brancas, que duram apenas uma noite.
A partir daí, a reprodução depende de morcegos. Em bando, eles deslocam-se entre as samaúmas para colher o néctar. Os animais sujam o pêlo com o pólen, que, assim, acompanha-os de uma árvore à próxima, fecundando as flores. É por meio desse transporte que as árvores cruzam umas com as outras.
- Mas o aumento da distância entre as samaúmas tem feito o morcego desistir das viagens - explica Rogério Gribel, diretor de pesquisa científica do Jardim Botânico. - As árvores ficam isoladas reprodutivamente, diminuindo a produção de frutas e sementes.
Separada das demais, a árvore fecunda a si própria para garantir novas sementes. Desse modo, porém, não há troca de material genético entre as samaúmas. Quanto menor for esta variedade, mais difícil será a adaptação da espécie às mudanças climáticas.
Nem sempre a samaúma viu-se encurralada pela devastação. A árvore, segundo seus pesquisadores, é uma colonizadora nata. Suas sementes, protegidas por um conjunto de fibras, são dispersas pela água ou por vendavais. Foi por uma dessas formas que a planta, há milhões de anos, chegou à África.
- Comparamos geneticamente as populações para testar a hipótese de que as árvores já existiam na África desde que o continente era unido à América - diz Gribel, que coordenou o projeto pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia. - Mas o nível de diferenciação entre as espécies foi muito pequeno. Então, provavelmente houve um evento raríssimo, que é a dispersão de um continente para o outro, quando suas terras já eram separadas pelo Atlântico.
A samaúma, assim como o mogno, aguarda um programa de proteção, imprescindível para controlar o seu corte. Até agora, no entanto, é mais provável que os índios fiquem sem um dos seus símbolos mais sagrados - e as florestas de várzea percam uma espécie cuja majestade não serviu de proteção.
Castanheira, uma antiga parceira do homem
A castanheira é tudo de bom. Vem dela um dos mais conhecidos símbolos da Amazônia, a castanha-do-Brasil (antes chamada castanha-do-Pará), a única semente de florestas nativas vastamente comercializada no mundo. Os imensos castanhais muitas vezes são a principal fonte de renda de comunidades amazônicas. Majestosa, a castanheira alcança 50 metros de altura e sua copa pode cobrir outros 50 de diâmetro, lar de uma miríade de plantas e pequenos animais.
O diretor de pesquisa do Jardim Botânico do Rio, Rogério Gribel, recém-vindo do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), passou anos estudando a complexa vida da castanheira. Para ele, a árvore é um dos maiores símbolos da Amazônia.
- Estudos arqueológicos recentes mostram que os povos indígenas e os castanhais têm uma antiga parceria. A castanha acompanha o ameríndio, que há séculos aprendeu como usar as sementes sem destruir a floresta e cuja intervenção facilitou a expansão dos castanhais - observa Gribel.
O problema é a ocupação recente. Queimadas destroem castanhais com milhares de árvores. E mesmo o chamado corte seletivo significa morte certa para uma espécie que detesta solidão.
- Quando isolada pelo desmatamento, a castanheira se transforma numa morta-viva. Ela precisa da floresta para viver - afirma Gribel.
A gigante de 50 metros depende de abelhas nativas da Amazônia para se reproduzir. Só essas grandes abelhas abrem a fechada flor da castanheira. Em suas idas e vindas pelos castanhais, as abelhas polinizam as árvores. Uma outra pequena criatura da floresta, a cutia, desempenha outro papel essencial.
- As cutias são as únicas que abrem o ouriço, o duríssimo fruto da castanheira. Ela come as sementes (a castanha) e depois de saciada, enterra mais algumas pela floresta, como provisão. Como as cutias não recuperam todas as sementes que enterram, algumas acabam por germinar - explica Gribel.
Para ir de semente a gigante de 50 metros, a castanheira pode levar 500 anos. Na Amazônia há árvores de 800 anos de idade. Segundo Gribel, a castanheira se adapta bem ao manejo e pode ser explorada de forma sustentável. Para isso, porém, é preciso treinar as comunidades de coletores. Há problemas na coleta, no armazenamento e no transporte. Mas todos têm solução, para o bem da floresta e da população.
RIO - Para dezenas de tribos indígenas a samaúma é sagrada, cultuada como a mãe da Humanidade. Trata-se da mais alta árvore da Amazônia, chegando a 65 metros. Sua copa grandiosa abriga um pequeno ecossistema. Mas nada disso importa para os madeireiros. Sua derrubada é indiscriminada e a madeira, considerada de baixa qualidade, é usada em compensados. A espécie tem sido tão explorada que poderá não sobreviver.
A samaúma é uma gigante delicada. Sua reprodução depende de caprichos. Um deles é o tempo: o florescimento acontece em períodos irregulares - pode demorar até sete anos. Durante este processo, a árvore produz uma grande quantidade de flores brancas, que duram apenas uma noite.
A partir daí, a reprodução depende de morcegos. Em bando, eles deslocam-se entre as samaúmas para colher o néctar. Os animais sujam o pêlo com o pólen, que, assim, acompanha-os de uma árvore à próxima, fecundando as flores. É por meio desse transporte que as árvores cruzam umas com as outras.
- Mas o aumento da distância entre as samaúmas tem feito o morcego desistir das viagens - explica Rogério Gribel, diretor de pesquisa científica do Jardim Botânico. - As árvores ficam isoladas reprodutivamente, diminuindo a produção de frutas e sementes.
Separada das demais, a árvore fecunda a si própria para garantir novas sementes. Desse modo, porém, não há troca de material genético entre as samaúmas. Quanto menor for esta variedade, mais difícil será a adaptação da espécie às mudanças climáticas.
Nem sempre a samaúma viu-se encurralada pela devastação. A árvore, segundo seus pesquisadores, é uma colonizadora nata. Suas sementes, protegidas por um conjunto de fibras, são dispersas pela água ou por vendavais. Foi por uma dessas formas que a planta, há milhões de anos, chegou à África.
- Comparamos geneticamente as populações para testar a hipótese de que as árvores já existiam na África desde que o continente era unido à América - diz Gribel, que coordenou o projeto pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia. - Mas o nível de diferenciação entre as espécies foi muito pequeno. Então, provavelmente houve um evento raríssimo, que é a dispersão de um continente para o outro, quando suas terras já eram separadas pelo Atlântico.
A samaúma, assim como o mogno, aguarda um programa de proteção, imprescindível para controlar o seu corte. Até agora, no entanto, é mais provável que os índios fiquem sem um dos seus símbolos mais sagrados - e as florestas de várzea percam uma espécie cuja majestade não serviu de proteção.
Castanheira, uma antiga parceira do homem
A castanheira é tudo de bom. Vem dela um dos mais conhecidos símbolos da Amazônia, a castanha-do-Brasil (antes chamada castanha-do-Pará), a única semente de florestas nativas vastamente comercializada no mundo. Os imensos castanhais muitas vezes são a principal fonte de renda de comunidades amazônicas. Majestosa, a castanheira alcança 50 metros de altura e sua copa pode cobrir outros 50 de diâmetro, lar de uma miríade de plantas e pequenos animais.
O diretor de pesquisa do Jardim Botânico do Rio, Rogério Gribel, recém-vindo do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), passou anos estudando a complexa vida da castanheira. Para ele, a árvore é um dos maiores símbolos da Amazônia.
- Estudos arqueológicos recentes mostram que os povos indígenas e os castanhais têm uma antiga parceria. A castanha acompanha o ameríndio, que há séculos aprendeu como usar as sementes sem destruir a floresta e cuja intervenção facilitou a expansão dos castanhais - observa Gribel.
O problema é a ocupação recente. Queimadas destroem castanhais com milhares de árvores. E mesmo o chamado corte seletivo significa morte certa para uma espécie que detesta solidão.
- Quando isolada pelo desmatamento, a castanheira se transforma numa morta-viva. Ela precisa da floresta para viver - afirma Gribel.
A gigante de 50 metros depende de abelhas nativas da Amazônia para se reproduzir. Só essas grandes abelhas abrem a fechada flor da castanheira. Em suas idas e vindas pelos castanhais, as abelhas polinizam as árvores. Uma outra pequena criatura da floresta, a cutia, desempenha outro papel essencial.
- As cutias são as únicas que abrem o ouriço, o duríssimo fruto da castanheira. Ela come as sementes (a castanha) e depois de saciada, enterra mais algumas pela floresta, como provisão. Como as cutias não recuperam todas as sementes que enterram, algumas acabam por germinar - explica Gribel.
Para ir de semente a gigante de 50 metros, a castanheira pode levar 500 anos. Na Amazônia há árvores de 800 anos de idade. Segundo Gribel, a castanheira se adapta bem ao manejo e pode ser explorada de forma sustentável. Para isso, porém, é preciso treinar as comunidades de coletores. Há problemas na coleta, no armazenamento e no transporte. Mas todos têm solução, para o bem da floresta e da população.