Por Paulo Cezar Nunes de Oliveira* 
  
O Brasil é azul e vermelho, grita mídia. Estamos  divididos por uma  linha imaginária que separa o sul-sudeste rico, escolarizado e  bem  desenvolvido de um norte-nordeste pobre, analfabeto e atrasado. Foram  estes  pobres, que só pensam em si mesmo e no seu estomago, que elegeram  Dilma, os  ricos conscientes e preocupados com o país optaram por   Serra.
Esta é, com toda certeza, a afirmação mais mentirosa de  toda a  política, superando até mesmo a bolinha de papel. Mesmo encerrada a   campanha, a grande mídia, acostuma com a distorção, não voltou ao  jornalismo.   As cores pintadas no mapa não refletem a realidade, a não  ser na lógica  preconceituosa. Nem todo azul é azul e nem todo vermelho é  vermelho.
Não é verdade que foi só o nordeste que elegeu Dilma,  foi o sul e o  sudeste também. Juntos RS, SC, SP, PR, MG, ES, RJ deram a Dilma   29.807.768, ou seja,  50,34% dos votos. Serra obteve 29.403.649, isto   é, 49,63%. Em números, os brasileiros que preferiram Dilma nestes   estados superam os que escolheram Serra em quase meio milhão. Estes  dados não  deixam dúvidas: Dilma foi eleita por todos os brasileiros.
Desarmados os palanques, a mídia precisa voltar a pensar  o Brasil. É  inaceitável que “analistas e comentaristas” continuem alimentando,  em  nome da liberdade de expressão, discursos que incitam o ódio e o  preconceito.  É preocupante a quantidade de comentários racistas e  sectários em alguns sites e  blogs que insistem na farsa que o sul e o  sudeste trabalham para manter o norte  e o nordeste que dão prejuízo.
Qualquer pessoa com bom senso sabe que a grandeza do  Brasil não é  feita por causa da riqueza de um estado ou de uma região. O tamanho  do  nosso território se impõe e cada região tem sua importância na  composição  geográfica, política e econômica. A variedade dos recursos  naturais,  principalmente as reservas de água doce, é de valor  inestimável.  A diversidade  da nossa cultura é que faz o brilho de  nossa gente.
Precisamos estar atentos a essa onda de preconceitos.  Num passado  não muito distante, os pobres, os analfabetos e as mulheres não  podiam  votar. Agora surgem os que desqualificam o voto dos nordestinos e os   nortistas. Logo irão propor excluir os negros e índios e por fim irão  questionar  a democracia mesma.
O Brasil possui uma historia de luta por unidade. Nossas  fronteiras  foram garantidas e expandidas por quem sonhou grande. Não podemos   deixar que um ressentimento político inicie um processo de separação do  nosso  povo. O Brasil é azul-vermelho e verde-amarelo-branco, e todas as  cores que  possam nos conduzir para a justiça social, respeito e  fraternidade.
*Pe.  Paulo Cezar Nunes de Oliveira é redentorista. Graduado  em filosofia e teologia.  Mestre em Ciências da Religião pela PUC-GO.  Professor de Teologia Moral no  Instituto de Filosofia e Teologia de  Goiás. Mestrando em Teologia Moral pela Università  Lateranense –  Accademia Alfonsiana –  Roma
 
