Procuradoria Geral da República encaminhou ao STF três ADIs que consideram inconstitucionais diversos dispositivos da nova lei
A Procuradoria Geral da República (PGR) encaminhou
ao Supremo Tribunal Federal (STF), nesta segunda-feira, 21 de janeiro,
três ações diretas de inconstitucionalidade (ADIs) que questionam
dispositivos da Lei 12.651/2012, o novo Código Florestal. As ações
consideram inconstitucional a forma como o novo código trata as áreas de
preservação permanentes, a redução da reserva legal, além da anistia
para a degradação ambiental (veja quadro abaixo).
Nas ADIs, a PGR
solicita, como medida cautelar, a suspensão dos dispositivos
questionados até o julgamento final das ações, a aplicação do rito
abreviado no julgamento diante da relevância da matéria, além da
realização de diligências instrutórias.
Para a procuradora-geral
da República em exercício, Sandra Cureau, responsável pela elaboração
das ações, há clara inconstitucionalidade e retrocesso nos dispositivos
questionados ao reduzir e extinguir áreas antes consideradas protegidas
por legislações anteriores. “A criação de espaços territoriais
especialmente protegidos decorre do dever de preservar e restaurar os
processos ecológicos essenciais, de forma que essa deve ser uma das
finalidades da instituição desses espaços”, descreve Sandra Cureau, em
uma das ações.
O novo Código Florestal fragiliza, por exemplo,
as áreas de preservação permanente
(ADI 4901), criadas para preservar a diversidade e integridade do meio
ambiente brasileiro. Segundo estudos técnicos, de uma forma geral, as
normas questionadas estabelecem um padrão de proteção inferior ao
existente anteriormente.
Além disso, a PGR também
questiona a anistia
(ADI 4902)daqueles que degradaram áreas preservadas até 22 de julho de
2008. O novo código exclui o dever de pagar multas e impede a aplicação
de eventuais sanções penais. “Se a própria Constituição estatui de forma
explícita a responsabilização penal e administrativa, além da obrigação
de reparar danos, não se pode admitir que o legislador
infraconstitucional exclua tal princípio, sob pena de grave ofensa à Lei
Maior”, esclareceu Sandra Cureau.
Há ainda o
questionamento da redução da área de reserva legal
(ADI4903), também possibilitada pela nova lei. O novo Código Florestal
autoriza, por exemplo, a computar as áreas de preservação permanente
como reserva legal. No entanto, essas áreas têm funções ecossistêmicas
diferentes, mas, juntas, ajudam a conferir sustentabilidade às
propriedades rurais.
Área de Proteção Permanente (APP) x Reserva Legal:
-
Área de Proteção Permanente: protegem áreas mais frágeis ou
estratégicas, como aquelas com maior risco de erosão de solo ou que
servem para recarga de aquífero. Não podem ter manejo.
- Reserva
Legal: são áreas complementares que devem coexistir nas paisagens para
assegurar sua sustentabilidade biológica e ecológica em longo prazo.
Podem ser manejadas pelos proprietários para extrair madeiras,
essências, flores, frutos e mel, desde que as atividades não comprometam
a sobrevivência das espécies nativas.
Dispositivos inconstitucionais:
- Artigo 3º, XIX
não garante o nível máximo de proteção ambiental para faixas marginais de leitos de rio;
- Artigo 3º, parágrafo único
equipara
tratamento dado à agricultura familiar e pequenas propriedades àquele
dirigido às propriedades com até quatro módulos fiscais;
- Artigo 3º, VIII e IX; artigo 4º parágrafos 6º e 8º:
permite intervenção ou retirada de vegetação nativa em área de preservação permanente;
não
prevê que intervenção em área de preservação permanente por interesse
social ou utilidade pública seja condicionada à inexistência de
alternativa técnica;
permite intervenção em área de preservação permanente para instalação de aterros sanitários;
permite
uso de áreas de preservação permanente às margens de rios e no entorno
de lagos e lagoas naturais para implantação de atividades de
aquicultura;
- Artigo 8º, parágrafo 2º
permite intervenção em mangues e restingas para implementação de projetos habitacionais;
- Artigo 4º, parágrafo 5º
permite o uso agrícola de várzeas;
- Artigo 4º, IV
exclusão da proteção das nascentes e dos olhos d´água intermitentes;
- Artigo 4º, parágrafo 1º e 4º
extingue as áreas de preservação permanente no entorno de reservatórios artificiais que não decorram de barramento;
extingue as áres de preservação permanente no entorno de reservatórios naturais ou artificiais com superfície de até 1 hectare;
- Artigo 4º, III
equipara
áreas de preservação permanente a reservatórios artificiais localizados
em áreas urganas ou rurais e não estipula metragem mínima a ser
observada;
- Artigo 5º
reduz largura mínima das áreas de preservação permanente no entorno de reservatórios d'água artificiais;
- Artigo 7º, parágrafo 3º
permissão de novos desmatamentos sem que haja recuperação dos já realizados irregularmente;
- Artigo 11
permite manejo florestal sustentável e exercício de atividades agrossilvipastoris em áreas com inclinação entre 25º e 45º;
- Artigo 12, parágrafos 4º, 5º, 6º, 7º e 8º
redução da reserva legal em virtude da existência de terras indígenas e unidades de conservação no território municipal;
dispensa
de constituição de reserva legal por empreendimentos de abastecimento
público de água e tratamento de esgoto, bem como por detentores de
concessão, permissão ou autorização para explorar energia elétrica e nas
áreas adquiridas ou desapropriadas para implantação e ampliação da
capacidade de ferrovias e rodovias
- Artigo 13, parágrafo 1º
permissão de instituição de servidão ambiental;
- Artigo 15
autorização para cômputo de áreas de preservação permanente no percentual de reserva legal;
- Artigo 17, parágrafo 7º
permite
a continuidade de exploração econômica de atividade instalada
ilicitamente e exime, injustificadamente, o degradador do dever de
reparação do dano ambiental;
- Artigo 28
necessidade de conferir interpretação conforme Constituição;
- Artigo 48, parágrafo 2º e artigo 66, parágrafos 5º e 6º, II, III e IV
compensação
da reserva legal sem que haja identidade ecológica entre as áreas, e da
compensação por arrendamento ou pela doação de área localizada no
interior de unidade de conservação a órgão do poder público;
- Artigo 59, parágrafos 4º e 5º
estabelecimento de imunidade à fiscalização e anistia de multas;
- Artigos 61-A, 61-B, 61-C e 63
permitem
a consolidação de danos ambientais decorrentes de infrações à
legislação de proteção às áreas de preservação permanentes, praticados
até 22 de julho de 2008;
- Artigo 66, parágrafo 3º
permissão do plantio de espécies exóticas para recomposição da reserva legal;
- Artigo 67
concede
uma completa desoneração do dever de restaurar as áreas de reserva
legal, premiando injustificadamente aqueles que realizaram desmatamentos
ilegais;
- Artigo 68
prevê a consolidação das áreas que foram desmatadas antes das modificações dos percentuais de reserva legal;
- Artigo 78
prevê
que, mesmo após a injustificada moratória de cinco anos, bastará estar
inscrito no Cadastro Ambiental Rural para ter livre acesso ao crédito
agrícola;
Secretaria de Comunicação Social
Procuradoria Geral da República
(61) 3105-6404/6408