Coletânea de artigos selecionados por sua veracidade e importância para as questões ambientais no Brasil e no Mundo.
segunda-feira, 30 de novembro de 2009
Sementes da concórdia, Xingu vivo
Sementes da concórdia
Técnica usada no plantio de soja e na semeadura das pastagens se tornou decisiva para o sucesso do projeto de reflorestamento da vegetação ciliar do Médio Xingu
Marcelo Leite
Enviado especial ao Xingu (MT)
Aracá, um icpengue de idade avançada e indefinida, chega com expressão grave no rosto pintado de urucum à casa de Rosana Gasparin na aldeia Moigu, a uma centena de metros do rio Xingu. "Devagar, devagar", diz em português, após trocar poucas palavras em sua língua com a geógrafa. "Amanhã levar câmera onde trabalho, mato. Agora, dançando."
A sintaxe pode soar hesitante, mas não falta autoridade ao guerreiro, um dos poucos por ali nascidos antes de 1964, data da expedição de contato com os "txicões", como eram chamados. É uma ordem para que os repórteres da Folha se abstenham de fazer entrevistas e fotografar naquele dia de festas, 12 de outubro, uma segunda-feira.
Gasparin, desde 1996 trabalhando para o Instituto Socioambiental (ISA), oito anos como educadora no Parque Indígena do Xingu (PIX), recomenda obedecer.
Não custa esperar, depois de quatro dias de negociação para entrar no PIX. Um bom banho de rio contribui para diluir a frustração.
Só no dia seguinte, portanto, seria possível acompanhar o trabalho das mulheres icpengues na coleta de sementes para a campanha Y Ikatu Xingu.
O nome quer dizer "água boa e limpa do Xingu" em língua camaiurá, uma das 19 etnias presentes nos cerca de 500 mil km2 da bacia hidrográfica.
As sementes recolhidas pelas mulheres serão vendidas para agricultores recuperarem matas ciliares -vegetação que protege os rios como cílios protegem os olhos- destruídas a centenas de quilômetros dali.
Quando as florestas plantadas crescerem, talvez em duas décadas, ajudarão a proteger nascentes. Estas, por sua vez, manterão o Xingu fluindo, como sempre, a poucos metros das casas de troncos e palha de inajá da aldeia Moigu.
"Ikpeng", na grafia favorecida pelos antropólogos, significa "marimbondo" em língua icpengue. Uma gente que tem fama de brava e costumes enigmáticos para não índios.
Aracá é o nome atual de Melobô, que também já foi Maion -nomes que foi cedendo para os netos que iam nascendo, como manda a norma.
Antes de serem trazidos ao PIX pelos irmãos Villas Bôas, nos anos 1960, os icpengues tomavam de outras tribos uma criança para cada pessoa que morria na sua.
A prática quase provocou a extinção desse povo, porque a reação dos uaurás -etnia que tinha contato com brancos e armas de fogo- ao último sequestro se transformara numa guerra de extermínio.
No parque, a tradição foi abandonada em favor de uma política de boa vizinhança e matrimônios interétnicos. Em Moigu ainda vive a última vítima, Kamiru, uaurá casada com o icpengue Managü.
Uma semente, um centavo
Sentada no chão de uma das 12 casas da aldeia, já na manhã de terça, Kamiru corta o invólucro sedoso que forma as asas das sementes de carvoeiro -ou "alapá", na língua icpengue.
Do tamanho de uma lentilha, as sementes possuem asas para se alastrarem com o vento, mas precisam ser cortadas para que a germinação ocorra no tempo dos homens. Kamiru reclama que os dedos doem e as tesouras quebram.
Cálculo não confirmado sugere que são necessárias 17 mil sementes para inteirar um quilo. Pelo menos dez dias de trabalho, indica Kamiru, apontando para os dedos dos pés, como quem conta. Cada quilo é vendido à Y Ikatu Xingu por R$ 200, pouco mais de um centavo por semente limpa.
Com esse dinheiro, dá para comprar muitas tesouras, lanternas (o trabalho ocorre à noite), bacias, panelas, vestidos e chinelos de dedo.
Kamiru, no entanto, tem planos mais ambiciosos para a atividade que hoje envolve todas as mulheres da aldeia pegada ao posto Pavuru. Na tradução do agente de manejo indígena Furigá: "É importante receber dinheiro, mas com o que recebe quer comprar carro, caminhonete, trator".
Sua ideia parece bem popular entre as dezenas de mulheres que acompanhamos, à tarde, durante a coleta, literalmente no caminho da roça (o veículo ajudaria a trazer a carga na volta, em geral mandioca).
A cada pé de carvoeiro ou leiteiro, bastam poucos minutos para catar todas as sementes do chão. As mais jovens trepam nas árvores e derrubam mais sementes. Os icpengues são o grupo mais produtivo da rede de coleta montada pela campanha Y Ikatu Xingu.
O trato para o semestre era que colhessem 10 kg de alapá (carvoeiro) até o fim deste mês, o que devem cumprir com folga, informa Furigá -um dos três jovens que falam bem português e se encarregam de organizar os contatos com a rede.
O trabalho de coleta e limpeza das sementes é reservado às mulheres, embora outro jovem, Waygué, tenha recebido da Y Ikatu Xingu treinamento de rapel para alcançar as sementes de carvoeiro nos galhos mais altos. A demonstração de escalada, na véspera da partida dos repórteres, se transforma em um acontecimento.
Enquanto Waygué prepara as cordas e mosquetões, mulheres, homens e crianças se aproximam do pé de alapá escolhido, na entrada da aldeia. São 18h30, mas o calor ainda é forte. Muitos já trazem no ombro a toalha e a saboneteira na mão, para o segundo ou terceiro banho do dia no Xingu.
Água Boa, Água Limpa
A mais de 300 km dali, em linha reta, fica o município de Água Boa. É um dos quatro centros de atuação da campanha Y Ikatu Xingu no leste de Mato Grosso, com um orçamento anual de R$ 600 mil.
Os outros são Canarana, Querência e São José do Xingu, todos em região de expansão acelerada da soja e da pecuária. Cerca de 60 mil km2 da mata de transição entre cerrado e floresta amazônica já foram destruídos, ou 33% da cobertura da bacia.
Desses 60 mil km2, 2.300 km2 atingiram as matas ciliares que abrigam boa parte das 22.525 nascentes mapeadas, como as dos rios Sete de Setembro e Tanguro, na vizinhança de Água Boa, afluentes do Culuene, grande tributário do Xingu.
A 67 km da sede do município fica o Projeto de Assentamento Jaraguá, junto ao córrego Água Limpa. Só metade dos 400 lotes de 45 a 60 hectares delimitados pelo Incra [Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária] estão de fato ocupados, o suficiente porém para dizimar a mata ao longo do riacho.
"Se a gente não tomar cuidado, em cinco anos vai faltar água no PA Jaraguá", preocupa-se Laércio Mariano da Cruz, um goiano que já presidiu o Sindicato de Trabalhadores Rurais de Água Boa, há dez anos no assentamento.
"Sem água, nós vamos morrer queimados", afirma, enquanto caminha entre pés de pequi-do-xingu e de castanha baru, alguns com pelo menos três metros de altura, a poucos passos do córrego.
É uma das agroflorestas mais antigas plantadas com ajuda da campanha Y Ikatu Xingu (embora Cruz já tivesse plantado várias árvores anos antes), em 2006. As 350 sementes de pequi fornecidas pela então incipiente rede criada pelo Instituto Socioambiental foram plantadas de metro em metro, tentativamente, em consórcio com culturas tradicionais como milho e mandioca.
O assentado conta que capivaras e tatupebas acabaram com o milho e a mandioca, mas que os pequis plantados com sementes deram frutos um ano antes dos plantados com mudas. Antes, porém, foi preciso cercar a área na beira do rio com o arame também doado pelo ISA, de modo a impedir a entrada do gado. O trabalho envolveu 40 famílias, que hoje coletam sementes para a campanha Y Ikatu Xingu.
Depois do almoço para três dezenas de integrantes da comitiva da Y Ikatu Xingu, assentados começam a trazer sementes para pesar e vender. Laércio Cruz comparece com 8 kg de carvoeiro, 2,7 kg de jatobá, 1,6 kg de aroeira-goiana... Só de carvoeiro, R$ 1.600 de renda extra.
Não param de chegar sacas e saquinhos, até que o biólogo Eduardo Malta, técnico da campanha, se vê obrigado a interromper o alarido anunciando que o combinado era comprar só as sementes de Cruz e na quantidade previamente acertada.
Sementes x mudas
Fica evidente para qualquer pessoa em visita à região que a coleta de sementes de espécies arbóreas nativas constitui excelente alternativa de vida, dado seu alto valor. A rede tenta organizar e disciplinar esse comércio, mas a alta demanda pode facilmente inflacionar os preços. Só no município de Canarana há 30 mil hectares (300 km2) de áreas de preservação permanente, como as matas ciliares, para recompor -embora só 86 hectares estejam de fato em recuperação em 2009.
A procura em alta decorre do sucesso que a técnica de recomposição em desenvolvimento pelo ISA e seus parceiros vem alcançando. Cerca de mil hectares já foram replantados pela campanha em projetos-piloto, que, no entanto, abrangem menos de uma centena das 15 mil propriedades rurais da bacia do Xingu.
Se a tecnologia vingar, é de se supor que a demanda por sementes explodirá. Em 560 hectares monitorados de perto pela campanha, já se verificou a presença vigorosa de 51 espécies arbóreas da região. Na base da técnica está o abandono do método tradicional de plantio com mudas. Dada a onipresença de capins tropicais agressivos de origem africana, como braquiária, as mudas acabam sufocadas.
Agrônomos e biólogos da campanha optaram então por fazer o plantio direto com sementes de várias espécies misturadas, a chamada "muvuca", combinando árvores nativas do cerrado e da mata de transição com plantas exóticas de crescimento rápido, como feijão-guandu e feijão-de-porco. A ideia é imitar o processo de sucessão florestal. As plantas que crescem primeiro, como os dois tipos de feijão, têm a função de dar a sombra que vai inibir o crescimento do capim e evitar a exposição excessiva das plântulas que brotarem das sementes de árvores.
Em alguns meses, o feijão morre e fornece adubo natural para o solo. Depois virão espécies arbustivas, ou árvores de pequeno porte, que fornecerão abrigo para aquelas de crescimento mais lento e porte maior, e assim por diante. Um dos segredos da experiência em curso no Xingu é utilizar as máquinas e técnicas normalmente empregadas pelos agricultores e pecuaristas para trabalhar a terra, como semeadoras e lançadoras de sementes. Plantam-se florestas como se planta soja e semeiam-se pastagens.
O outro segredo é lançar mão também de um "muvuca de gente", de índios a latifundiários, de assentados a ambientalistas, como diz a secretária de Agricultura e Meio Ambiente de Canarana, a agrônoma Eliane de Oliveira Felten: "Um, pondo o dedo na cara do outro, nunca ia conseguir nada".
Parque é símbolo da política indigenista
O Parque Indígena do Xingu (PIX) tornou-se um símbolo de alcance internacional, ainda que ambíguo, da política indigenista brasileira.
Criada em 1961 com 2,6 milhões de hectares (26 mil km2, quase o tamanho de Alagoas), a gigantesca terra indígena abriga hoje pelo menos 15 etnias em convívio pacífico.
No passado, porém, alguns desses povos eram inimigos, como os icpengues, trazidos de fora do território do PIX, e os uaurás.
A internação na vizinhança de adversários tradicionais foi o preço pago pela oportunidade de sobrevivência. Quando chegaram ao parque, sobravam só 46 txicões, como eram chamados os icpengues, e couberam todos numa balsa. O rio Xingu, com seus 2.700 km entre Mato Grosso e o Pará, é o recurso comum, do qual todos dependem.
Começaram a acusar alterações sutis no rio, que afetavam peixes e o regime de cheias e secas, há coisa de uma década. Vários povos circulam pelas cidades da região, como Canarana e São José do Xingu, e passaram a notar a destruição de nascentes.
A preocupação foi levada a ONGs como o Instituto Socioambiental (ISA), que criaram em 2004 a campanha Y Ikatu Xingu.
Na outra ponta do Xingu, já fora do PIX e de Mato Grosso, o rio enfrenta outra ameaça, sob a óptica dos índios: a construção de Belo Monte, segunda maior hidrelétrica do país em capacidade nominal de geração.
Ela alagará 440 km2 da Grande Volta do Xingu e deve produzir até 11 mil megawatts, quase uma Itaipu (14 mil MW). (ML)
Os bons companheiros
Vindos de várias partes do país, todos lutam por uma meta comum no Médio Xingu
Luiz Carlos Nunes Castelo, grande pecuarista (São José do Xingu)
Luiz Castelo nasceu no Espírito Santo, é empresário da construção civil em São Paulo e mora em Santa Catarina. Uma ou duas vezes por mês, voa para São José do Xingu, para tomar pé dos 13.400 hectares e 10 mil bois da fazenda Bang Bang, "um lugar de paz". Castelo é também o maior plantador de florestas da Amazônia.
Em 2004, assinou um termo de ajuste de conduta (TAC) para recuperar 342 hectares de matas ciliares em dez anos.
Já começou em 206 hectares, mas demorou para acertar o modelo.
Antes, chegou a plantar 92 mil mudas de dez espécies, que não deram certo. Hoje planta sementes com lançadeira puxada por trator. Até março passado, seu investimento em recuperação já havia ultrapassado R$°371 mil.
Não vai desistir, mas se queixa da falta de apoio: "Precisamos de tempo, tecnologia e financiamento".
Armando Menin, catarinense, assentado (Querência)
De 1975 a 1987, Armando Menin plantava soja com a família em Xanxerê (SC). Em 1988, mudou-se para Querência em busca de terra própria, na qual plantou soja e depois arroz. Perdeu tudo em 1993: "Quebrei para salvar um filho", conta, sem dar mais detalhes.
Recomeçou a vida no Projeto de Assentamento Brasil Novo, a 130 km da cidade. O lote número 130, com 75 hectares, participa do reflorestamento de matas ciliares da Y Ikatu Xingu.
Dois hectares e meio de mata ciliar em recuperação foram até "alugados" para compensar (neutralizar) emissões de carbono do Rock in Rio Lisboa.
Com outros assentados, Menin produz por ano 8.500 litros de cachaça e 1.560 kg de açúcar mascavo, além de 800 kg mensais de farinha de mandioca e 5.000 kg de polpa de abacaxi, que vendem para a merenda escolar da Prefeitura de Querência.
Ayré Ikpeng, coletora de sementes (Parque Indígena do Xingu)
Uma palavra usada com frequência para qualificar a icpengue Ayré é "guerreira". Sua liderança entre as mulheres da aldeia Moigu é visível na reunião de apresentação dos repórteres da Folha na "casa dos homens ", modesto telheiro diante da casa cerimonial habitada pelo chefe Aracá. É a que mais fala, depois de Maiuá, professor, secretário da associação indígena e organizador do encontro.
Nessa mesma "casa dos homens", realizara-se dias antes a assembleia em que se decidiu, contra a inclinação inicial dos chefes masculinos, que seria importante mostrar o trabalho das mulheres à imprensa.
As palavras de Ayré foram decisivas, nos contam. Também foi da guerreira a ideia de chamar o grupo coletor de sementes de "yarang", formigas. Como as mulheres, elas recolhem muitas coisas pequenas do chão, que depois carregam na cabeça.
Arão Pinheiro, paranaense, coletor de sementes (Canarana)
Ex-policial, Arão Pinheiro chegou a Canarana vindo de Curitiba há 17 anos, com a intenção de criar os filhos "longe do vuco-vuco da cidade grande". Hoje afirma: "Vim pelo caminho certo".
Quando criança, Pinheiro trabalhou na lavoura de café. Queria envelhecer como agricultor. Aos 52 anos, considera-se um coletor profissional de sementes.
Associou-se com os cunhados Ivo Cesário da Silva e Sílvio Santos da Silva, ex-trabalhadores rurais no Paraguai e exímios no manejo do podão, para alcançar e derrubar os galhos mais altos.
A família toda se envolve com as sementes, seja com a coleta na mata vizinha à cidade, seja na limpeza -como os sogros Rosalinda dos Santos Silva e Darci Batista de Oliveira, de tesoura em punho na varanda da casinha cor de laranja.
Os repórteres Ayrton Vignola e Marcelo Leite viajaram pela bacia do Xingu com apoio logístico parcial (transporte e hospedagem) do Instituto Socioambiental e da Fazenda Bang Bang.
FSP, 29/11/2009, Mais!, p. 1, 4-6.
terça-feira, 24 de novembro de 2009
Biocombustíveis num planeta ameaçado: o instável protagonismo Brasileiro
Revista Opinioes
Antonio Donato NobreEnquanto o mundo desenvolvido move-se a passos de tartaruga, resistindo e empurrando para o futuro distante as necessárias mudanças em seus portfólios de emissões, o Brasil tem um trunfo significativo: é o primeiro e único Pais do mundo que terá mais de 50% de sua frota de veículos queimando combustíveis renováveis já no inicio do novo período do acordo climático (a partir 2012 quando termina Kyoto). Sabemos que este protagonismo verde não surgiu de preocupações climáticas, não obstante ele nos coloca agora em posição menos desconfortável. Sorte do acaso ou motivo para ufanismo? Os motores flex são certamente uma solução criativa e barata que permitiu a consolidação do etanol como combustível viável apesar da natureza oscilante da sua produção em safras. E a indisputável eficiência na produção Brasileira de etanol de cana soma-se como argumento tentador para nos vermos seguros no pódio dos vencedores. Mas será que este ciclo vai durar e consolidar o Brasil como uma Arábia Saudita verde dos combustíveis renováveis?
Analisemos o prodígio da bioenergia Brasileira sob a luz fria da grave realidade climática. O primeiro problema é uma aritmética de volumes e áreas que não fecha. Enquanto for somente a frota Brasileira, parece que teremos terra suficiente para continuar queimando etanol e biodiesel sem ameaçar a Amazônia nem o cultivo de alimentos. Mas para catapultar os biocombustíveis no combate às emissões em escala mundial (que é a única escala que conta quando se fala de mitigar as mudanças climáticas) seria necessária a substituição do petróleo, uma possibilidade que demandaria mais terra para cultivo do que existem solos aráveis em toda a Terra. Por conta desta constatação muitas vozes se levantaram contra os biocombustíveis. Entretanto, as criticas se concentram na produção e olvidam as tecnologias na ponta do consumo. Os motores de combustão interna a pistão foram inventados há mais de 100 anos, permanecendo inalterados em sua concepção geral. Apesar dos numerosos componentes sofisticados num motor moderno, a eficiência na conversão ainda é abissal: mais de 80% da energia liberada na combustão termina obscenamente dissipada como calor na atmosfera. Compare-se essa eficiência com a de um veiculo elétrico: mais de 90% da energia acumulada nas baterias transforma-se silenciosamente em energia cinética de movimento.
Apesar da dominância no mundo dos “beberrões”, dezenas de protótipos alternativos de motores eficientes e mais simples foram demonstrados ao longo dos anos (motores cerâmicos sem arrefecimento, motores radiais com pistões rotativos, motores de 6 tempos com injeção alternada de água, turbinas, etc.). Além destes, surgiram mais recentemente sistemas híbridos que combinam a tração elétrica (com baterias) a um gerador com pequeno motor a combustão que permite grandes autonomias (um protótipo do Mini roda 1500 km com um tanque de gasolina). Isso sem falar na solução maior em termos de eficiência: células de combustível que possam extrair o hidrogênio diretamente do etanol (ou gasolina), sem qualquer combustão, e produzir eletricidade para alimentar motores elétricos. O pano de fundo é que se toda a energia química contida no biocombustível fosse eficientemente aproveitada isso equivaleria a reduzir a área requerida de cultivo para um quarto ou menos da área hoje necessária. Já sabemos que os biocombustíveis somente poderão ser considerados seriamente na arena climática quando seu cultivo não ameaçar os biomas e seus serviços ambientais, também vitais para o clima, nem a produção de alimentos. Novos motores e soluções eficientes são, portanto, partes inseparáveis da equação dos bicombustíveis no contexto das mudanças climáticas. Percebendo esta inevitabilidade climática, parece que não existe uma montadora grande no mundo que não esteja ofegante na corrida para a construção dos novos veículos híbridos ou elétricos puros que possam salvar o clima e também seus próprios negócios. O que será dos biocombustíveis neste contexto instável e de rápida transformação tecnológica? Se permanecermos apegados as tecnologias velhas pode ocorrer o mesmo que passou com o disco de vinil e a fita de videocassete depois do CD e do DVD. Como na ficção que se torna realidade, quem se importará com o etanol se tiver um carro movido a energia nuclear parado na garagem?
Outra tecnologia velha que tem seus dias contados é a produção de etanol apenas da sacarose, sem aproveitar os carboidratos abundantes presos em cadeias maiores como na celulose do bagaço e da palhada. E este tópico é motivo para outra corrida tecnológica em curso no mundo, com centenas de grupos nas melhores universidades, institutos de pesquisa e laboratórios privados buscando desenvolver patentes sobre a quebra enzimática da celulose. Um cofre (celulose) pode ser aberto de duas formas, com explosivos (digestão ácida) ou com o segredo (quebra enzimática, aquilo que todos os organismos herbívoros, xilófagos e decompositores sabem fazer com maestria e incrível eficiência). Enquanto lá fora já registram muitas patentes na segunda modalidade, no Brasil engatinha-se. Será que o líder tecnológico na produção de etanol de cana se verá em poucos anos reduzido a condição de pagador de royalties? E quando a celulose dos resíduos agrícolas locais gerarem biocombustíveis a preços competitivos, como continuar no páreo mundial considerando os custos de transporte?
A mensagem aqui, portanto, é clara: o etanol produzido a partir de açúcares da cana (uma tecnologia que em essência não mudou muito desde as capitanias hereditárias) para motores a pistão (cuja tecnologia tampouco mudou muito desde o século 19) tem um espaço precioso como auxiliar na transição energética do mundo. Mas numa época de brutal quebra de paradigmas não devemos esperar que esse etanol de hoje torne-se o salvador do clima nem da lavoura amanhã. O Brasil mostrou ser o melhor neste negócio, com as aperfeiçoadas e sofisticadas tecnologias de ontem. Estará preparado para ser também um vencedor nos próximos negócios que virão, quando o terremoto climático em curso acelerar a produção em série de descobertas e implementações tecnológicas revolucionárias?
Para evitar que o bonde da historia nos pegue de calças curtas na condição de obsolescência e inadequação para um novo mercado ultra verde que vem por aí, manda a boa providencia que nos antecipemos. Pelo lado de quem produz, o etanol de celulose é só o começo. Métodos novos de conversão química ou bioquímica da biomassa devem levar a combustíveis de maior densidade energética. Quanto mais litros por hectare e mais energia por litro tanto menor a área plantada, menor o impacto nos biomas, maior o efeito benéfico para o clima e por conseqüência mais populares se tornarão os biocombustíveis. Pelo lado da aplicação, produzir motores de combustão interna mais eficientes, mais simples e mais baratos que os atuais é o mínimo ético para começar, dada as muitas soluções tecnológicas existentes, todas completamente ao alcance das montadoras que tiverem juízo. Mas o pulo do gato será qualificar tecnologicamente os biocombustíveis para se tornarem alternativas viáveis, seguras e vantajosas às baterias nas diversas variantes de veículos elétricos ou mesmo contribuírem como fonte de energia complementar nos novos veículos híbridos. Se soubermos inovar, e enquanto não chegarem os carros da família Jetson movidos a flúons, o futuro dos biocombustíveis tem tudo para ser brilhante.
Artigo por Antonio Donato Nobre (anobre@LTID.inpe.br) na Revista Opinioes, out-dez 2009 (www.revista.opinioes.com.br), numero especial sobre o etanol, a bioeletricidade e a mitigacao das mudancas climaticas
segunda-feira, 23 de novembro de 2009
"Não tenho profissão de fé, mas uma alternativa de poder"
Raymundo Costa, de Brasília VALOR, 23/11/2009
A entrada da senadora Marina Silva (PV-AC) no páreo presidencial fez com que uma agenda "fadada a passar ao largo de 2010", segundo palavras da própria candidata verde, se transformasse em destaque no discurso de dois dos principais candidatos à eleição: José Serra (PSDB), que aprovou uma lei segundo a qual as emissões de CO2 em São Paulo, a partir de 2011, terão redução de 20%, e Dilma Rousseff (PT), praticamente designada como embaixadora à 15ª Conferência Mundial do Meio Ambiente a ser realizada em Copenhague, capital da Dinamarca.
A pressão da sociedade tirou o governo "da inércia", diz Marina, referindo-se à decisão do Palácio do Planalto de levar uma proposta de redução das emissões de
gás carbono à conferência de Copenhague, em dezembro..
Empenhado na eleição de sua sucessora, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vestiu o figurino ambiental em Dilma, desde que Marina Silva deixou claro que sairia do PT e se candidataria a presidente pelo Partido Verde. Marina tem clareza de seu papel nesse debate. Sua candidatura, afirma, não é uma mera profissão de fé na questão do desenvolvimento sustentável, como foi a educação, por exemplo, para a candidatura do senador Cristovam Buarque (PDT-DF) na eleição de 2006 - uma questão monotemática. Trata-se efetivamente, segundo afirma, de uma alternativa de poder.
Marina afirma que a agenda do desenvolvimento sustentável deixou de ser uma questão de ruralistas e ambientalistas, como tem sido simplificadamente tratada no Congresso. "Agora não, a opinião pública começa a cobrar dos partidos que têm responsabilidade política o que eles vão fazer para que possamos sair da agenda apenas da preservação em si para a agenda do uso sustentável", diz ela nesta entrevista ao Valor, concedida na tarde de terça-feira em seu gabinete no Senado, em Brasília.
Um gabinete mais silencioso que a maioria, mas que, por trás da quietude, encerra uma intensa movimentação da Marina candidata: pedidos de entrevistas, de participação em eventos em todo o país. É nesse ambiente que ela dá a forma final a um projeto que pretende apresentar ao Congresso que pode ser denominado de Consolidação das Leis Ambientais. Marina, assim omo Dilma, José Serra e a senadora ruralista Kátia Abreu (DEM-TO) também estará em Copenhague, em dezembro.
A senadora ícone dos ambientalistas, com origem no PT, não tem preconceitos partidários. Para aprovar seus projetos, não hesitou em conversar com tucanos como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Aliás, defende que PSDB e PT devem se juntar para assegurar "uma cesta básica de governabilidade" que tire os governos das mãos do fisiologismo. Marina defende também que não basta ter a democracia consolidada, o Brasil precisa agora apostar na qualidade política.
Valor: Sua candidatura é uma alternativa real de poder ou uma monotemática profissão de fé?
Marina Silva: Tem que ser alternativa real de poder e de ação. Não pode ser uma profissão de fé. Se o Brasil está levando hoje metas para Copenhague foi porque nunca encaramos o desenvolvimento sustentável como uma questão monotemática. Nós já estamos saindo com praticamente 20% do esforço assegurado. Tem o plano de combate ao desmatamento, o plano de mudanças climáticas, o fundo amazônico, tudo coisa que ou já estava em implementação ou estava praticamente pronta para ser lançada, uma semana antes de sair do governo.
Valor: Uma semana antes de a senhora sair do governo?
Marina: As pessoas têm dificuldades de reconhecer isso. Nem eu estou reivindicando. Só estou dizendo que se as pessoas continuarem encarando as admoestações que os cientistas estão fazendo e adiando decididamente o que precisa ser feito, nós vamos ficar em maus lençóis. Não vamos fazer o dever de casa para chegarmos em 2020 em condições de competir com os países desenvolvidos. Porque eles lá na frente vão dar um jeito, vão fazer o dever de casa. E quem não fizer, dos emergentes, vai pagar caro porque vai ser taxado.
Valor: Como assim?
Marina: A partir de 2020 o carbono vai ser precificado nos produtos. Para se produzir esse gravador aqui você emitiu muito CO2. Isso será taxado. E como é que nós podemos ser taxados? Nos nossos produtos agrícolas e no nosso minério. Mas o Brasil pode ser no século 21 o que os EUA foram no século passado: capaz de acompanhar os países de cultura milenar e se tornar tão desenvolvido ou mais do que eles.
Valor: Não se trata de uma mudança muito brusca para o atual modelo de desenvolvimento?
Marina: No caso do Brasil não é. Primeiro porque temos 20, 40, 50 anos para fazer isso. Mas não podemos perder nenhum dia. Segundo, o Brasil já tem 45% da sua matriz energética limpa. A Inglaterra, que está formulando, apresentando propostas, se colocando na vanguarda, tem 4%. Quer comparar 45% com 4%? Você já começa a corrida lá na frente.
Valor: Há duas propostas de redução de emissões sobre a Mesa. Uma do governo federal, de cerca de 36,1% a 38,9%, e outra de 20% do governo de São Paulo. Qual a sua avaliação sobre cada uma?
Marina: A sociedade brasileira conseguiu, através da pressão de diferentes setores, fazer com que se saísse da inércia. A questão conjuntural, política, mudou nos últimos três meses, fez com que começasse a haver uma competição positiva em torno da agenda ambiental. Uma agenda que estava fadada a passar ao largo da disputa de 2010. É muito interessante verificar o governo de São Paulo, protagonizado pelo governador (José) Serra, a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) se colocando de uma forma proativa em relação a essa agenda. Isso é uma demonstração de que foi acertada a decisão do Partido Verde (PV) em colocar a questão do desenvolvimento sustentável como eixo estratégico na disputa de 2010, a fim de gerar um novo acordo social que nos permitirá fazer a transição.
Valor: Por quê?
Marina: O Brasil não irá perder mais quatro anos nesse debate. Entrou agora no debate e eu espero que fique. Como tenho muita tranquilidade de que essas mudanças não acontecem com o esforço de um partido e de uma pessoa, é uma integralidade de ações que precisam ser articuladas, celebro essa recém valorização do tema no processo político.
Valor: E quanto ao mérito?
Marina: Do ponto de vista prático o Brasil vai precisar detalhar as propostas do governo federal. O Ministério da Ciência e Tecnologia vai precisar apresentar um novo inventário das emissões de CO2. O que nós temos ainda é de 1994. Vamos precisar institucionalizar a proposta no Congresso Nacional- a de São Paulo é institucionalizada, é uma lei.
Valor: Por que essas propostas precisam ser institucionalizadas?
Marina: Da mesma forma que o governo está querendo corretamente institucionalizar as políticas sociais (o presidente Lula fala na Consolidação das Leis Sociais), para que quem vier depois não faça tábula rasa das políticas sociais, vamos institucionalizar as políticas na área de redução de emissão e mudanças climáticas. Os projetos sobre a política de mudança climática e sobre o fundo já estão aqui no Senado. Eu pretendo apresentar uma proposta para essa institucionalização. Já estou trabalhando em relação a isso. Mas se fizermos uma emenda, o projeto terá que voltar para a Câmara e nós não vamos para Copenhague com a política aprovada. Talvez a solução seja aprovar como veio e apresentar um projeto paralelo, fazendo a institucionalização da meta brasileira para que se possa aprovar a proposta sem precisar voltar.
Valor: Dá tempo?
Marina: Dá tempo. Vai precisar de uma força tarefa aqui dentro.
Valor: A relação de forças no Congresso não tem sido favorável aos ambientalistas e o PV é um partido pequeno. Como a senhora pretende negociar e aprovar essa agenda sem se aliar a Judas, como definiu o presidente Lula a sua política de alianças?
Marina: A legislação ambiental brasileira é considerada uma das melhores do mundo. Nós conseguimos essa legislação como? A partir da Constituição de 1988. Em 20 anos o Brasil faz uma legislação que só foi possível em outros país em milhares de anos. Logo, nós demos um salto qualitativo significativo. Qual é o desafio que está posto e segue em disputa agora? É que tem um grupo que no lugar de passar no teste e criar as ferramentas corretas para cumprir a legislação quer mudar o teste. Ou seja, já que eu não consigo passar na prova então eu vou mudar a prova, facilitando a vida para continuar sem aprender a lição de casa.
Valor: Os ruralistas?
Marina: Essa disputa está colocada aqui dentro. Só que ela não pode ser mais uma disputa que vai ser contabilizada apenas na conta de ruralistas e ambientalistas. Ela agora tem que ser contabilizada, precificada politicamente, na conta de todos os partidos. Tanto é que a mudança no Código Florestal foi adiada.
Valor: Como é que foi adiada?
Marina: Porque tiveram que entrar em cena todos os partidos, porque a sociedade começou a cobrar isso do PSDB, a cobrar do governo, que antes foi fazendo política de vista grossa - 'não, os ruralistas...' - e aprovando e deixando. Agora não, a opinião pública começa a cobrar dos partidos que têm responsabilidade política o que eles vão fazer para que possamos sair da agenda apenas da preservação em si para a agenda do uso sustentável. Durante minha gestão no ministério trabalhamos muito a agenda do uso sustentável e conseguimos aprovar sim. Aprovamos Instituto Chico Mendes, a limitação administrativa provisória, a criação do serviço florestal brasileiro, a lei de gestão das florestas públicas. Não houve lei que tivéssemos mandado para cá que não tivesse sido aprovada. Isso numa negociação difícil, com todos os partidos. Obviamente que, na hora da aprovação, tive que conversar com o PSDB. Conversei com o PSDB, além do PT, que era o partido que dava sustentação (ao governo). A outra parte da base ficava bastante dividida. Nessas questões estratégicas que mencionei eu conversei com o Arthur Virgílio (PSDB-AM), com o Tasso Jereissati (PSDB-CE), e com o próprio Fernando Henrique Cardoso.
Valor: PT e PSDB têm de convergir para uma agenda estratégica?
Marina: E é isso que eu tenho dito: enquanto o PSDB e o PT não conversarem sobre aquilo que é estratégico para o Brasil e criarem uma governabilidade mínima, uma cesta básica de governabilidade para esse país, nós vamos continuar reféns do fisiologismo dentro do Congresso. Se eles forem capazes de fazer essa cesta básica de governabilidade, nós vamos qualificar a oposição no Congresso. A oposição e a situação. Porque cada governo saberá que, naquilo que for essencial e estratégico, não haverá aventura. Não haverá política do quanto pior melhor. E ele vai poder constituir uma base com mais tranquilidade, sem depender do fisiologismo exacerbado.
Valor: Uma candidatura do PV pode liderar esse processo?
Marina: Eu não tenho nenhum problema em reconhecer os avanços dos últimos 16 anos e o PV também não tem. E acho que o desafio diante do qual nós estamos vai exigir um realinhamento histórico sim. Conquistamos e estabilizamos a democracia; tivemos um sociólogo; agora, tivemos um presidente operário; e conquistas significativas e erros nas agendas de ambos os governos. O Brasil
precisa agora apostar na qualidade política. Não basta ter a democracia consolidada. É preciso que as instituições políticas sejam revisitadas e reformadas. Os partidos viraram máquinas de ganhar poder. Onde é que está o lugar do debate das ideias, das propostas, se vira tudo um cálculo pragmático de quem tem mais máquina para ganhar poder? É o momento de um grande debate político no Brasil que possibilite esse realinhamento histórico. Você pergunta se é o PV que vai fazer isso, eu respondo que talvez o PV seja o primeiro que está se dispondo a fazer esse debate.
Valor: Setores do PV reclamam a sua presença em eventos que poderiam ajudar o partido a arrecadar recursos para a campanha.
Marina: É, mas ainda não tem financiamento de campanha porque não tem campanha.
Valor: Como a senhora pretende enfrentar essa questão do financiamento de campanha?
Marina: Com transparência total e buscando criar mecanismos que em lugar da lógica de poucos contribuindo com muito a gente possa ter muitos contribuindo com pouco. E fazer um processo mais horizontalizado.
Valor: O empresariado também está mudando de visão em relação às questões ambientais?
Marina: Mudança de visão e de atitude. Tem um setor de vanguarda que se coloca no topo dessa discussão, com pensamento estratégico, acompanhando o que há na ponta do empresariado global e que vem de muito tempo nessa discussão. Os que começaram no movimento movidos pelo coração, por princípios éticos, foram fundamentais para mostrar em três dimensões que era possível ter investimentos prósperos com qualidade social e ambiental. E hoje há uma boa parte que está se movimentando pela razão. E existe um grupo que ainda não percebeu o que está acontecendo e tem uma visão atrasada. Essas pessoas não podem ser os protagonistas, os representantes do empresariado brasileiro. O Brasil tem que criar uma nova narrativa para seus produtos. Até bem pouco tempo as pessoas davam preferência ao produto que tivesse uma boa apresentação estética, custo baixo e qualidade técnica. Agora, além desses três, tem também o conteúdo ético desse produto. O Brasil pode se colocar na vanguarda, diferente da China e da Índia e de outros que não têm como fazer isso porque é muito difícil. Nós temos água, terras fêrteis, potencial de fazer uma matriz energética renovável. E existe uma quantidade enorme de pessoas no mundo inteiro que estão ávidas por esses produtos de conteúdo ético.
Valor: Como é possível mensurar esse mercado ético?
Marina: Primeiro pelo apelo das pessoas que querem se comprometer, do ponto
de vista prático, com as mudanças. As pessoas estão percebendo que elas podem eleger muito mais do que deputado, senador e presidente da República. Elas podem eleger produtos. E essa eleição vem sendo feita. Recentemente o Greenpeace fez uma denúncia associando a atividade pecuária à destruição da Amazônia. Fez um levantamento em toda a cadeia produtiva. Da Prada, grife de marca chiquérrima, à produção lá no campo. Isso fez com que as redes de supermercados e todos os que usam esses produtos passassem a exigir o cumprimento da legislação. Recentemente a Serasa apresentou uma espécie de "conformidade ambiental" para o crédito do sistema financeiro. Os bancos pediram ao Serasa. Eles (os bancos) poderiam ter uma atitude reativa. O que eles estão tendo? Uma atitude proativa.
sexta-feira, 13 de novembro de 2009
As Pontes para uma Amazônia Sustentável
Organizações da sociedade civil e empresas se reúnem em Belém
e criam um grande espaço de diálogo sobre o futuro da Amazônia.
O lançamento do Fórum Amazônia Sustentável
Na cerimônia de criação do Fórum Amazônia Sustentável estiveram presentes a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e a governadora do Pará, Ana Júlia Carepa. Ambas ouviram a palestra proferida pelo cientista Antônio Donato Nobre, que deixou claro, com dados científicos coletados em anos de pesquisa, que o ecossistema amazônico está entrando em colapso. Temos em 2007 dados de aquecimento que só deveriam acontecer em 2050, alertou. Sua apresentação mostrou que o ecossistema da região é muito mais do que simplesmente floresta e água. É um sistema de auto-regulação que bombeia a umidade sobre o Oceano Atlântico e a leva para o Sudeste e o Sul do Brasil. A tese do cientista é de que da floresta tropical emanam substâncias que fazem chover e que as queimadas estão prejudicando essa delicada relação.
Nobre observa que o equilíbrio da floresta é rompido pelas queimadas porque a Amazônia não é um ecossistema acostumado ao fogo. E mostra, em mapas, que o Sudeste brasileiro só é fértil por conta da água que a Amazônia manda para a região. São Paulo, Paraná e Mato Grosso do Sul estão na mesma latitude em que em outros continentes existem desertos, explica, mostrando num mapa o deserto de Kalahari, na África, e o grande deserto australiano. Segundo o cientista, essa região brasileira só não é desértica graças a uma combinação de umidade da Amazônia e da Cordilheira dos Andes, que empurram as nuvens para irrigar a região mais rica e produtiva do Brasil. E cita um número impressionante: se tivéssemos de gastar energia para evaporar as 20 bilhões de toneladas de água por dia, serviço ambiental que a Amazônia faz de graça, seria necessária a energia de 50 mil usinas de Itaipu. Para melhor compreender essa tese, pode-se ler a entrevista que Antônio Nobre concedeu ao jornalista Roberto Belmonte Villar, publicada originalmente na Ecoagência, do Rio Grande do Sul.
Trecho Extraido da noticia no site do instituto Ethos, http://www.internethos.org.br/DesktopDefault.aspx?TabID=3345&Lang=pt-B&Alias=Ethos&itemNotID=8493
lancamento do Forum Amazonia Sustentavel ocorreu em 13/11/2007, Belem, PA
Lá onde o vento faz a curva
Na próxima vez que assistir ao Jornal Nacional, atente para a previsão meteorológica. Caso a imagem do satélite traga aquela circulação tipo bumerangue cruzando transversalmente o continente, agradeça. Agradeça ainda mais caso você viva no sudeste do Brasil ou na Argentina.
Segundo o pesquisador Antonio Donato Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), não fosse pelas chuvas que essas nuvens trazem, em especial no verão, todo o quadrilátero demarcado por Cuiabá, São Paulo, Buenos Aires e a cordilheira dos Andes se tornaria, quase certamente, um deserto.
Para Nobre, isso só não acontece por duas razões: a presença dos Andes, cuja altura redireciona o vapor d’água vindo do Atlântico para Sudeste (formando o tal bumerangue), e a evaporação causada pelas árvores da floresta amazônica, que alimenta essa umidade, permitindo que chegue até os Andes e mais adiante, sem se dissipar pelo caminho.
>> Ameaça global
“A Amazônia é uma bomba hidrológica impressionante”, diz Nobre, que viveu 22 anos na região. “Lança diariamente 20 bilhões de toneladas de água na atmosfera, garantindo que uma área responsável por 70% do PIB sul-americano seja devidamente irrigada.”
O avanço do desmatamento, segundo Nobre, não põe em risco iminente apenas esse sistema que confere à América do Sul sua benvinda peculiaridade climática. “O desmate é responsável, sozinho, por 20% de todas as emissões humanas de gás carbônico”, afirma.
Trata-se, portanto, de uma ameaça global. Entidades internacionais recomendam que 2% do PIB mundial seja imediatamente investido em medidas contra o aquecimento. “Se isso não for feito”, diz Nobre, “em 2020 serão necessários 30% desse mesmo PIB somente para lidar com os custos das perdas ligadas a desastres ambientais.”
Mesmo assim, de acordo com Nobre, nada vem sendo feito efetivamente. “A preservação da floresta não deve se subordinar aos interesses do desenvolvimento e da economia, e sim o contrário”, afirma o pesquisador. “Sem a manutenção desse delicado mas poderoso sistema de equilíbrio global, toda a economia irá fatalmente pro espaço.”
Atuando dentro do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE),
Nela, o pesquisador explica as singularidades de nosso regime climático, analisa a importância da Amazônia em seu funcionamento, condena a mentalidade autista do agronegócio e, mais ainda, o imobilismo dos governos. E adiciona uma agravante: “Ao desmatar a Amazônia, não queimamos árvores, mas sim uma biblioteca viva de altíssima tecnologia e valor incalculável”.
>> A vida regula o clima
“Hoje a ciência começa a aceitar que o sistema biológico condiciona a atmosfera. Isso é novidade.
A meteorologia sempre considerou a biosfera um fator secundário e a atmosfera, o principal. Mas todo oxigênio que respiramos veio das plantas; não temos gases tóxicos na atmosfera graças a inúmeros organismos que os removem; e a manutenção equilibrada do ciclo da água nos continentes depende diretamente dos organismos.
Sabemos que, num processo sofisticadíssimo que ocorre em nanoescala, no nível das moléculas, a fotossíntese é o mecanismo primordial de estabilização climática da Terra. Na fotossíntese, a energia solar é captada e, através de reações químicas, remove gás carbônico da atmosfera e libera oxigênio.
Foi essa troca de gases que moldou a vida e a evolução dos ambientes no planeta ao longo de seus 4 bilhões de anos. Nesse período, a concentração de gás carbônico em nossa atmosfera passou de 95% para 0,039%.
Para onde foi todo esse CO2? O que aconteceu nesse tempo? Sem um poderoso mecanismo de regulação, teria sido impossível que a Terra hoje tivesse água líquida na superfície e que sua temperatura mantivesse uma variação confortável para a vida, uma raridade em termos cosmológicos.
A única explicação para esse fenômeno é a vida. Todos os organismos vivos têm um sistema sofisticado de equilíbrio e autorregulação. Se fora esquenta, eles esfriam, e vice-versa.
Essa capacidade só a vida tem. E as florestas exercem no sistema planetário um papel decisivo. São o maior órgão terrestre de regulação. Têm mecanismos altamente complexos e eficientes, que outros sistemas humanos, como a agricultura, não são capazes de emular.
Dito isso, olhe o mapa-múndi. Nele, sempre na mesma faixa a 30 graus de latitude, em ambos os hemisférios, estão os desertos. O Saara, o Sonoma, o Kalahari, o Atacama, os da Namíbia e da Austrália.
Por quê? Esse fato deve-se a um fenômeno chamado Circulação de Hadley. A parte equatorial do planeta recebe maior radiação solar, é mais quente, evapora muita água e provoca chuvas. Em outras palavras, o ar sobe na faixa do equador, perde umidade e chove.
Quando desce na faixa dos 30 graus, já seco, ele consome a umidade da superfície e contribui na formação dos desertos. Só há duas exceções a essa regra: o sul da China, região próxima ao Himalaia, e a fatia meridional da América do Sul.
>> O radiador verde
A América do Sul é diferente por dois fatores: os Andes e a floresta amazônica. O ar, que nas zonas equatoriais sempre corre de leste para oeste, encontra a barreira andina, um paredão de 6 mil metros de altura.
Ela impede que o ar rico em vapor d’água vindo do Atlântico siga
A floresta, o segundo fator, é ainda mais importante. Esse vento só consegue viajar por quase 5 mil quilômetros sobre a América do Sul, com umidade suficiente para formar nuvens e chuvas, porque as árvores da Amazônia recebem suas águas, sob a forma de chuvas, mas devolvem a maior parte à atmosfera através da transpiração.
A Amazônia transpira 20 bilhões de toneladas de água por dia. É muita coisa. O Amazonas, o maior rio da Terra e responsável, sozinho, por 20% de toda água doce que chega aos oceanos, lança 17 bilhões de toneladas diárias de água no Atlântico.
É esse vapor criado pela floresta que acentua e prolonga a circulação úmida na América do Sul. A floresta funciona como um evaporador otimizado, pois suas folhas formam uma área de evaporação muito maior que a da própria superfície no solo.
São
Se a Amazônia fosse uma região inteiramente agrícola, a massa de ar entraria no continente e choveria. Como não haveria vegetação densa o suficiente, pois o solo agrícola é mais ralo e exposto, essa água não voltaria para a atmosfera.
Seria absorvida pela terra ou mais provavelmente cairia nos rios, voltando ao Atlântico. Os ventos ficariam cada vez mais secos para dentro do continente, choveria cada vez menos e ocorreria a desertificação no interior.
>> De celeiro a deserto
A influência dessa transpiração da floresta, combinada à presença dos Andes, se manifesta no quadrilátero entre Cuiabá, São Paulo, Buenos Aires e os Andes.
Sem a Amazônia, é muito provável que essa região, responsável por 70% do PIB da América do Sul, se transforme num deserto. Mas isso não ocorreria de imediato.
O primeiro efeito do desmatamento é um desequilíbrio que provoca o excesso alternado de chuvas e de secas. Isso já está acontecendo. Santa Catarina é um bom exemplo. No vale do Itajaí, chuvas mataram pessoas afogadas ou soterradas. Ao mesmo tempo, o oeste do estado experimentava uma seca brutal.
O noroeste do Rio Grande do Sul e o pampa úmido argentino, duas regiões agrícolas riquíssimas, já enfrentam quebras em sua produção. A falta de equilíbrio no sistema regulador é uma das causas da atual crise agrícola argentina. O país enfrentou uma seca incomum, que levou também à falta de água em suas usinas hidrelétricas e, como consequência, à escassez de energia.
Se para a América do Sul a Amazônia é um coração que faz circular a umidade, para o mundo ela é um coração e também um fígado, pois processa e limpa o ar da atmosfera numa escala planetária.
Estudos mostram que a floresta absorve uma parte considerável dos abusos nas emissões de gases que estão na origem do aquecimento global. A Amazônia é uma espécie de seguro da humanidade contra esses abusos, mas não é usada como tal.
>> O agroautismo
Nossa agricultura não parece ser capaz de interagir socialmente. É como um autista savant, aquele que consegue desenvolver extraordinariamente uma única capacidade – mas tem todas as demais comprometidas.
São os campos de soja vigorosos e deslumbrantes, alcançados à custa de todo o equilíbrio biológico circundante. Nosso sistema estimula esse autismo; dá vitamina a ele. Explorar economicamente é o que interessa. O resto é obstáculo.
O Blairo Maggi (governador de Mato Grosso e um dos maiores produtores de soja do mundo) certa vez disse: “As pessoas precisam decidir se querem comida ou árvores”. Esse dilema é falso, pois, sem árvores, você não tem água, e, sem água, não tem comida. Cabeças assim acham que a floresta só ocupa espaço. Isso me parece pura ignorância.
Um tumor cancerígeno faz o melhor que pode em seu desespero para crescer, não sabe que é mau – e certa mentalidade do agronegócio no Brasil é um tumor que precisa ser removido.
Economia e ecologia não são coisas diferentes. É preciso esclarecer que, se a floresta for desmatada, todo um gigantesco e delicadíssimo sistema de equilíbrio desmoronará e, com ele, a atividade econômica.
Os brasileiros têm de saber que, se a água acabar na floresta, logo acabará também em outros lugares, como São Paulo ou Buenos Aires. Esse alerta é papel da ciência, do qual não podemos abdicar.
>> A biomimética
A ecologia é a economia da natureza. Seus princípios e possibilidades tecnológicas podem impulsionar incrivelmente a economia humana. A Amazônia abriga um dos maiores mananciais de alta tecnologia jamais concebidos.
No Primeiro Mundo há uma nova fronteira da engenharia chamada biomimética. Ela procura se inspirar nos processos naturais, a fim de copiá-los e implementá-los em soluções industriais. A natureza tem soluções tecnológicas sofisticadíssimas.
Um estudo da asa da borboleta morfo, aquela grandona, azul-metálico iridescente, descobriu que ela manipula a luz com um cristal orgânico, que é também um amplificador ótico. O mesmo princípio desse cristal pode ser copiado e implementado em fibras óticas para melhorar a transmissão de dados.
A indústria automobilística pesquisa o revestimento das folhas de árvores para criar novas tintas que tornem os carros autolimpantes. Se numa simples asa de borboleta há um sistema tecnológico que vale bilhões de dólares, imagine então na floresta amazônica inteira.
A Nasa, a GE, a Boeing e muitas outras empresas já estão contratando a consultoria de biólogos para se apropriar desses conhecimentos. Quando desmatamos a Amazônia, não queimamos árvores, mas sim liquidamos para sempre uma biblioteca viva de altíssima tecnologia.
>> De proa para o iceberg
Quando os governos se veem diante de um grave perigo, atuam com extrema rapidez.
Quando os japoneses atacaram Pearl Harbour, os Estados Unidos entraram na guerra imediatamente. Quando a organização criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) espalhou a violência
Quando a atual crise mundial eclodiu, no final do ano passado, uma semana depois uma série de medidas já estava sendo tomada para enfrentá-la. O estresse causado ao sistema climático terrestre é muito mais devastador, e no entanto não gera respostas práticas.
Se cerca de US$ 15 bilhões fossem investidos anualmente nos agricultores, para que conservassem os biomas, em vez de destruí-los, todas as florestas tropicais do mundo poderiam ser salvas. Em vez de desmatar, esses agricultores estariam prestando serviços ambientais, e recebendo por eles.
Zerar o desmatamento da Amazônia, hoje, significaria reduzir em 20% todas as emissões humanas de gás carbônico. Isso teria um valor imenso no mercado de cotas de carbono que vem sendo discutido internacionalmente. Mas nada acontece, e o tempo continua correndo.
O chamado Relatório Stern (coordenado pelo economista inglês Nicholas Stern, ex-vice-presidente do Banco Mundial) recomenda que 2% do PIB mundial seja investido em medidas contra o aquecimento. Se isso não for feito agora, diz o estudo, e a destruição seguir nesse ritmo, em 2020 serão necessários 30% desse mesmo PIB para que continuemos existindo como sistema econômico global.
Como nenhuma medida é tomada, estamos numa situação pior que a dos passageiros do Titanic. Estamos navegando a toda a velocidade na escuridão; só que num barquinho bem mais frágil, com a proa apontada diretamente para o iceberg.
foto capa: Divulgação INPA
ilustração: Tato Araujo
SAFs e Mudanças Climáticas - com Antonio Donato Nobre
Brasilia 2009
Apresenta o tema, que é relacionado a água. Não há vida no planeta sem água. A proposta para o diálogo é trazer a visão da ciência em relação às mudanças climáticas, de que não se sabe ainda nem um terço. A questão é muito mais grave que parece, embora ele não seja alarmista. Cientista tende a ser não gregário e cético, mas a comunidade científica se une em consenso nesse caso. Toda ciência fala em um só tom, mais grave que há dois anos atrás. Mostra imagens pelo datashow, apresentando cenário que prevê aquecimento ao longo do tempo. A previsão para 2050 já aconteceu em 2007. O contexto planetário é água. A terra é um planeta instável, porém estabilizada. A oscilação de temperatura é casada com oscilação da atmosfera. Em Vênus e Marte, essas condições são estáveis, mas, na Terra, oscilam.
O sistema terrestre depende da biosfera para controlar CO2. Esses efeitos não são lineares. Surgem em pulsos. Nosso processo decisório ainda é reativo: correr depois que acontecem os fatos, e estado atual do sistema climático é grave.
Mostra imagem vista de cima que não tem nitidez. Quando aproximada, observa-se um número enorme de celulares descartados. Temos necessidade de controlar a natureza. Fazer daquilo algo que se conhece. Esse controle tem implicações significativas. Os produtos tecnológicos são muito respeitados, mas a natureza... Mostra estrutura biológica da vespa, para mostrar a complexidade das estruturas mostradas pela nanomáquina. Mostra imagem de uma célula. Escapa ao que envolve as estruturas, ao que está por trás dela, por meio de uma animação que mostra uma coreografia dos processos de uma célula.
A animação dos vasos sanguíneos mostra o interior das células e seu esqueleto tridimensional. Nas células, os micro tubos são as vias que transportam as proteínas. Os ribossomos lêem o DNA e mostram uma reação a um estímulo de fora. A célula pára o que está fazendo para reagir. É preciso ter consciência sobre o funcionamento da vida. Para enfrentar o maniqueísmo das forças tecnológicas, deve-se reavivar a percepção de como é esse funcionamento. Apresenta imagem da América do Sul pulsando. Cada árvore na Amazônia evapora 300l de água por dia , é um enorme transporte de vapor de água. O transporte de umidade da Amazônia é promovido pelas árvores. O sistema de chuvas da Amazônia evoluiu. O círculo virtuoso se mantém. Lá existe o ar mais puro do planeta. A atmosfera limpa o ar e o bombeia.
A visão parcial e maniqueísta seqüestra o futuro. A seleção natural resulta no reinado da competição. O individualismo mina a possibilidade de soluções colaborativas. Quando se desmata para pastos e agricultura, está se destruindo. Não existe tecnologia para salvar o desastre climático. Acusar não resolve, mas cooperação exige alinhamento de propostas. A tecnologia humana deve-se inspirar na tecnologia da natureza. Beleza, elegância e arte tem que compor a ciência, num novo principio de direitos humanos. Cursos de agronomia deveriam ser abolidos e se inspirar no sistema natural e da ética da natureza,que é exemplo de associações colaborativas. A noção de microcosmo da vida precisa permear o cotidiano. As pessoas não têm receitas de sustentabilidade. É preciso uma enciclopédia da natureza sem ser enciclopédica, para rejardinar a biosfera.