domingo, 27 de novembro de 2011

STOP TALKING, START PLANTING

 

Bronca do menino de 14 anos: cale a boca e plante uma árvore

Entre os dias 28 de novembro e 9 de dezembro, acontecerá em Durban, África do Sul, a COP-17, mais uma rodada de negociações sobre mudanças climáticas. Quem participou de algumas conferências globais sobre a questão ambiental sabe que os principais frutos destes debates são palavras, palavras e mais palavras. O blá-blá-blá de sempre, muita conversa e nenhuma ação. O que salva estas reuniões tediosas entre políticos, cientistas e conservacionistas são os contatos interpessoais e as sinergias que acontecem entre indivíduos.
Há algumas semanas, participei na Itália de um encontro de jornalistas ambientais de 30 países. Sonolento após uma palestra de um professor universitário, vi um adolescente de óculos entrar na plateia. Vestido de jeans, camiseta branca e tênis, ele parecia qualquer menino europeu. Só entendi a razão da visita do alemãozinho Felix Finkbeiner quando ele estendeu uma faixa que dizia em inglês “Stop Talking, Start Planting” (Pare de Falar, Comece a Plantar). Ele pegou o microfone e – com carisma, inteligência e domínio de palco – deu uma tremenda bronca em todos os adultos que estavam sentados. Fez perguntas que quase todos se engasgaram ao responder – como a altura da massa de gelo da Groenlândia – e questionou porque os governos não reagem à ameaça das mudanças climáticas. “Se seguirmos os céticos e não atuarmos, caso eles estejam errados em 40 anos, aí será tarde demais”, afirmou Felix. “Vocês adultos não estarão mais neste planeta, mas nós, jovens, sim.”
Felix Finkbeiner participa com desenvoltura de uma plenária do forum internacional Greenaccord realizado em Cuneo, Itália.
Felix acaba de cumprir 14 anos, mas seu ativismo começou há quase cinco anos. Como tarefa de aula, ele teve de estudar sobre as mudanças climáticas para fazer uma apresentação a seus coleguinhas de classe e explicar os efeitos negativos dos gases de efeito estufa. Também falou sobre soluções: árvores podem capturar os gases e compensar o estrago promovido pelas emissões. Terminou com um desafio dramático aos amigos: “Vamos plantar um milhão de árvores em cada país do planeta!”
Seus amigos toparam a provocação. Inspirados pelo exemplo da queniana Wangari Maathai, ganhadora do Prêmio Nobel da Paz em 2004, o movimento “Plante para o Planeta” chegou a outras escolas da Baviera, da Alemanha e da Europa. Adultos descolados viram que o menino tinha garra e resolveram apoiar a iniciativa. Uma agência de publicidade alemã ajudou a criar a campanha “Pare de Falar, Comece a Plantar”, desenhando uma imagem que poderia ser reproduzida por qualquer ativista mirim ao lado de uma autoridade ou celebridade. A mão direita do menino ou da menina deve tapar a boca do adulto! A modelo brasileira Gisele Bundchen, engajada na causa ambiental, topou ficar calada (foto abaixo).

Depois da apresentação de Felix, almoço com ele e seu pai – que o trouxe da Alemanha para o evento. “Vim hoje, um sábado, porque não posso perder as aulas”, diz o garoto. “Além de estudar, ainda consigo brincar e jogar futebol.” O resto de seu tempo é reservado para liderar a campanha que hoje alcança mais de 100 países. “Queremos plantar 132 milhões de árvores na primeira fase do projeto e já estamos em 4 milhões”, afirma Felix.
Felix e seus milhares de amigos atuam em três frentes de luta. Pretendem abolir o consumo dos combustíveis fósseis, fomentar o uso igualitário dos recursos naturais por cada cidadão e plantar árvores. Uma das técnicas do movimento revolucionário é multiplicar o número de Felix pelo mundo. “Criamos uma Academia onde meninos e meninas de outros países passam por um treinamento intensivo. Eles estudam a crise climática, aprendem a falar em público e explicam como plantar árvores”, afirma o pequeno líder que sabe o que acontece sobre reflorestamento da Armênia ao Zimbabue. Felix é o presidente do Conselho Global da ong para o biênio 2011-2012. “A vice presidente é a Aligani que mora em Lucknow, na Índia. Sempre nos falamos por internet.”
O movimento Plante para o Planeta conquistou o apoio do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente. Seu diretor executivo Achim Steiner (à esquerda) foi um dos primeiros a ser fotografado com a boca tapada. Rajendra Pachauri (à direita), presidente do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, também aderiu.
Depois da conversa durante o almoço, fico tão enstusiasmado com o menino que peço ao pai de Felix que me fotografe com seu filho. Cala a boca, Haroldo!
E a pergunta inicial do Felix sobre a espessura do gelo na Groenlândia? Você sabia que a média ultrapassa os 2.100 metros de altura? E que, em alguns pontos, chega a mais de 3 mil metros? Se todo este gelo derreter (ao contrário da calota polar do Ártico, que já está dentro d’água), o nível do mar subiria mais de 7 metros! Felix, você tem razão, vamos plantar! Mesmo se a Groenlândia não derreter, nosso planeta ficará mais saudável! E continue dando broncas nos adultos.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Obscurantismo...

.
"Podemos facilmente perdoar uma criança que tem medo do escuro;
a verdadeira tragédia da vida é quando os homens têm medo da luz."
 

Sócrates

todos morreremos....

"Nós todos vamos morrer, todos nós, que circo! Só isso já deveria fazer-nos amar uns aos outros, mas isso não acontece. Estamos aterrorizados e massacrados por trivialidades, somos devorados pelo nada."
 

- Charles Bukowski

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

O Código Florestal e a vocação do desmatamento

16, novembro, 2011
 
Os senadores Romero Jucá (PMDB/RR) e Gim Argelo (PTB/DF) apresentaram uma emenda ao projeto de alteração do Código Florestal, onde defendem a tese da criação de “um espaço, com vocação agrícola inquestionável, correspondente a 1/5 da área dos estados situados na Amazônia Legal”.
 
images

O conceito de vocação tem uma profunda relação com a filosofia cristã. O capitalismo se apropriou deste conceito que passou a ter como função principal a de induzir as pessoas a se manterem e se especializarem em determinados ramos da economia. O que era vendido como um talento pessoal, em um determinado momento começou a servir para classificar territórios, relações e coisas. Esta opção política permitiu a criação de sistema de mercado, hoje completamente internacionalizado.
O mantra da “vocação agrícola” continua até os dias de hoje. Nas discussões de alteração do Código Florestal no Senado Federal ouve-se, de forma recorrente, a expressão “vocação agrícola”. Os senadores Romero Jucá (RO) e Gim Argelo (DF) apresentaram uma emenda ao projeto que prevê a criação de “um espaço, com vocação agrícola inquestionável, correspondente a 1/5 da área dos estados situados na Amazônia Legal”.

A proposta parte da premissa de que o aumento da produção agrícola depende da criação de um espaço correspondente a 1/5 da área dos estados, não considerando as áreas já desmatadas. Por isso, os legisladores utilizam a expressão “inquestionável”. Leia-se: liberados da fiscalização dos órgãos ambientais e imunes às multas. Os congressistas propõem que este ‘espaço vocacionado’, a ser criado por meio de Zoneamento Ecológico-Econômico, será delimitado por órgão competente, mas não indica se esses órgãos serão federais ou estaduais. Nem as regras e procedimentos para sua delimitação.
Para atrair o apoio da agricultura familiar para essa tese vocacional a proposição mantém a desobrigação das propriedades até quatro módulos fiscais de recomporem a reserva legal. Para as propriedades acima de quatro módulos, a compensação pelo restabelecimento e manutenção da área de reserva legal “poderá ser cumprida mediante contribuição financeira para fundo público”. Esta proposição de compensar financeiramente a obrigatoriedade de recompor a reserva legal está tanto na proposta aprovada na Câmara quanto no substitutivo apresentado pelo relator Senador Luís Henrique (PMDB/SC).

A modalidade de compensar a área desmatada por uma contribuição financeira (art.38, III) foi pouco questionada e foge às normas gerais que se propõe a proteção da vegetação, áreas de preservação permanente e as áreas de Reserva Legal. Apesar das disposições gerais preverem “instrumentos econômicos e financeiros para o alcance dos objetivos”, em geral, estão voltados mais para implementar um sistema de pagamento de serviços ambientais do que para servir como opção aos proprietários que desmataram e não possuem áreas para compensar as derrubadas de matas nativas.
O Senado Federal está revisando não só a proposta aprovada pela Câmara dos Deputados, mas também as emendas e interpretações que desviam o texto dos objetivos do Código Florestal. Espera-se que proposições como esta dos senadores Romero Jucá e Gim, baseada na ideia da “vocação do desmatamento”, não sejam contempladas pelo relator.

Edélcio Vigna, assessor do Inesc

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Receita para o Bem Estar


"De acordo com a minha própria experiência, o maior nível de tranqüilidade interior vem do desenvolvimento do amor e da compaixão. Quanto mais preocupado nós estamos com a felicidade dos outros, mais aumentaremos o nosso próprio bem-estar. Simpatia e cordialidade para com os outros permite-nos relaxar e nos ajuda a dissipar qualquer sentimento de medo ou insegurança para que possamos superar qualquer obstáculo que enfrentemos."

Dalai Lama


transcrito de email de Vagner Luis Camilotti

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

13 interessantes Treinamentos da Conciência no Budismo

 Nota do Blog: encontrei esses treinamentos para a conciencia num blog que chegou pelo stumbleupon (aqui). Normalmente não me interesso muito por propostas misticas ou de fundo religioso convencional. Mas a leitura dos tres primeiros treinamentos para a conciência abriram minha disposição para os demais, que traduzi do ingles e reproduzo abaixo. Bom proveito.


O Primeiro Treinamento da Consciência: Abertura

Consciente do sofrimento criado pelo fanatismo e intolerância, estou determinado a não ser idólatra nem ser vinculado a qualquer doutrina, teoria ou ideologia, mesmo as budistas. Ensinamentos budistas estão guiando meios para me ajudar a aprender a olhar profundamente e para desenvolver minha compreensão e compaixão. Eles não são doutrinas para lutar, matar ou morrer.


O Segundo Treinamento da Consciência: Não-apego à credos

Consciente do sofrimento criado por apego a idéias e percepções errôneas, estou determinado a evitar ser tacanho e vinculado a pontos de vista presentes. Vou aprender e praticar o desapego a credos, a fim de ser aberto a idéias dos outros e experiências. Estou ciente de que o conhecimento que possuímos atualmente está sempre mudando e não é uma verdade absoluta. A verdade é encontrada na vida e vou observar a vida dentro e ao redor de mim em cada momento, pronto para aprender durante toda a minha vida.



O Terceiro Treinamento da Consciência: A Liberdade de pensamento

Consciente do sofrimento causado quando imponho meu ponto de vista aos outros, me comprometo a não forçar os outros, mesmo os meus filhos, por qualquer meio, a adotar as minhas opiniões. Vou respeitar o direito dos outros de ser diferente e para escolher no que acreditar e como decidir.


O Quarto Treinamento da Consciência: A consciência do sofrimento

Consciente de que a
profunda observação da natureza do sofrimento pode  me ajudar a desenvolver a compaixão e a encontrar maneiras de sair do sofrimento, estou determinado a não evitar ou fechar meus olhos diante do sofrimento. Estou determinado a estar com aqueles que sofrem, para que possa compreender sua situação profundamente e ajudá-los a transformar seu sofrimento em paz, compaixão e alegria.


O Quinto Treinamento da Consciência: Viver simplesmente

Consciente de que a verdadeira felicidade está enraizada na paz, solidariedade, liberdade e compaixão, e não na riqueza ou fama, estou determinado a não tomar a fama, o lucro, a riqueza ou o prazer sensual
como objetivos da minha vida. Comprometo-me a viver de forma simples e partilhar de meus recursos  materiais, de tempo e de energia com os que me rodeiam em necessidade, incluindo os de meu sangue e a família espiritual, os meus amigos,  os meus ancestrais e meus descendentes.

O Sexto Treinamento da Consciência: Lidando com a raiva

Consciente de que a
raiva bloqueia a comunicação e cria sofrimento, estou determinado a cuidar da energia da raiva quando ela surgir e a reconhecer e transformar as sementes da raiva que se escondem profundamente na minha consciência. Quando a raiva surge, estou determinado a não fazer ou dizer qualquer coisa, mas antes encontrar a melhor maneira de aliviar a minha raiva. Eu vou aprender a olhar com os olhos da compaixão para aqueles que acho serem a causa da minha raiva.

 O Sétimo Treinamento da Consciência: Lidando feliz com o momento presente

Consciente de que a vida é disponível somente no momento presente e que é possível viver feliz no aqui e agora, eu me comprometo a treinar a mim mesmo para viver profundamente cada momento da vida diária. Vou tentar não me perder na dispersão ou ser levado por arrependimentos sobre o passado, ou preocupar-me com o futuro, ou dar largas a desejos, raiva ou inveja no presente. Vou praticar a respiração consciente para voltar ao que está acontecendo no momento presente. Estou determinado a aprender a arte de viver consciente tocando os elementos maravilhosos, renovadores e curativos que estão dentro e em torno de mim, e dar nutrição para as sementes de alegria, paz, amor e compreensão em mim mesmo, facilitando assim o trabalho de transformação e cura em minha consciência.


O Oitavao Treinamento da Consciência: Comunicação e Reconciliação

Consciente que a falta de comunicação sempre traz separação e sofrimento, eu farei todos os esforços para manter a comunicação aberta e para reconciliar e resolver todos os conflitos, ainda que pequenos. Consciente do sofrimento causado por palavras descuidadas e pela incapacidade de ouvir ao próximo,  me comprometo a cultivar a fala amável e a escuta profunda para levar alegria e felicidade para o próximo e aliviar-lo de seu sofrimento.
 

O Nono Treinamento da Consciência: Palavra da verdade

Consciente de que as palavras podem criar sofrimento ou felicidade, comprometo-me falar a verdade e de forma construtiva, usando somente palavras que inspirem esperança e confiança. Estou determinado a não dizer coisas falsas por uma questão de interesse pessoal ou para impressionar as pessoas, nem proferir palavras que possam causar divisão ou ódio. Não divulgarei notícias sobre as quais não tenha certeza, nem criticarei ou condenarei coisas sobre as quais não tenha certeza.

É importante lembrar as quatro faltas na palavra:

- mentir.
- pronunciar palavras ofensivas (discurso doloroso).
- proferir palavras que possam causar divisão entre duas ou mais pessoas falando negativamente de alguns delas, espalhar rumores, ou
semear dúvidas. Temos que ter cuidado para não aumentar a discórdia entre as pessoas, antes fazer todos os esforços para reconciliar e resolver todos os conflitos, ainda que pequenos.
- entregar-se a conversa fiada. Devemos nos abster de qualquer tipo de discurso descuidado; espalhar notícias que não sabemos ser certas; criticar ou condenar pessoas.

Nosso discurso deve incorporar a atenção plena e
ao pronunciar palavras devemos ser completamente conscientes e responsáveis​​.

          Tente fazer suas palavras mais sábias do que o silêncio que foi quebrado.
 

O Décimo Treinamento da Consciência: Reverência pela Vida

Estou empenhado em me abster de fazer mal a qualquer ser sentiente. Este compromisso implica a determinação de respeitar a vida de todos os seres, não só dos seres humanos, mas também todos os animais e plantas, independentemente da sua dimensão; e uma crescente conscientização da santidade da vida. Além disso, significa mais do que o respeito pela sacralidade da vida uma vez que significa um compromisso de não prejudicar nem ofender ninguém em nenhuma circunstância e para promover a paz e a educação para a paz.


O Décimo Primeiro Treinamento da Consciência: Respeito e generosidade

Estou empenhado em me abster de tomar o que
a mim não foi dado. Este compromisso implica o respeito à propriedade de outros seres". Ela não só implica a não roubar, mas encoraja-nos a cultivar a atitude de não exigir ou reivindicar o que quisermos, mas para aprender maneiras de trabalhar para o benefício das pessoas, animais e plantas, praticar a generosidade, a partilha de nosso tempo, energia e recursos com os necessitados, e esperar com paciência para receber os resultados de nossas boas ações.


O Décimo Segundo Treinamento da Consciência: O uso correto de nossos sentidos

Estou empenhado em me abster do uso errado dos meus sentidos. Este compromisso implica contemplar o nosso corpo como um templo que devemos cuidar e cultivar para o crescimento espiritual. O que é aconselhável aqui é se abster do uso desordenado
do corpo e das sensações do corpo, como a sexualidade, evitando cair na gula, luxúria, incesto e todos os tipos de distúrbios sensoriais produzidos pelo comportamento inadequado.

 O Décimo Terceiro Treinamento da Consciência: Consumo Consciente

Ciente do sofrimento causado pelo consumo irresponsável, eu me comprometo a abster-me de itens de consumo que anuviam ou borram a mente. Isto não só implica a se abster de álcool e drogas intoxicantes, mas para cuidar da qualidade da informação que estamos consumindo através de todos os nossos sentidos, o que estamos lendo, o que estamos vendo, aquilo que estamos fazendo com as informações. Estamos conscientes de que tudo o que consumimos vai alimentar a nossa mente e a mente coletiva da nossa família e da sociedade.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

“Indignados refletem mudança que resultou na crise de 2008”


Eduardo Felipe P. Matias
Doutor em Direito Internacional pela USP, sócio de L.O.Baptista Advogados,
autor do livro A Humanidade e suas Fronteiras: do Estado soberano à sociedade global (Twitter: @EduFelipeMatias)

Indignados de todo o mundo se unem. Protestos espalham-se por diversas cidades, impulsionados pelas redes sociais e pelas novas tecnologias que permitem compartilhar o mal estar e passar do incômodo individual para a ação coletiva. São acusados de não saberem o que querem e de não apresentarem soluções. 
Claro, indignar-se apenas não basta. É necessário identificar o que deu errado e indicar o que precisa ser mudado.
A resposta está nas origens da crise de 2008 e no exemplo dos Estados Unidos, onde a onda de inconformismo já chegou. Aspectos institucionais, como a desregulamentação, levaram ao predomínio da cultura do sistema financeiro “na sombra”, com seu apetite por negócios de maior risco – e maiores rendimentos –, e ao surgimento de bancos “grandes demais para quebrar” que sabiam que os governos não poderiam deixar de vir em seu socorro em uma emergência – como realmente ocorreu, e agora assistimos às consequências desses resgates, que aprofundaram os déficits públicos.
Mas o principal aspecto institucional que explica a crise são os incentivos perversos. Havia pouca relação entre a remuneração dos executivos e a performance das companhias. Isso fica claro quando se analisa o histórico de empresas que quebraram e que vinham pagando fortunas a seus diretores nos anos anteriores, enquanto caminhavam para o precipício. Pior ainda: mesmo no auge da crise, em meio a demissões e recessão, parte do dinheiro dado pelos governos para resgatar os bancos foi usada para pagar bônus astronômicos. Apenas reflexo da ganância? Talvez não. Sistemas de remuneração baseados no preço das ações em curto prazo – que será mais alto quanto maior for o lucro anunciado, mesmo que este possa depender de uma contabilidade “criativa” – podem induzir os executivos a atitudes contrárias aos interesses de longo prazo de suas empresas, inclusive o maior deles, sua própria perenidade.
Wall Street fornece apenas um exemplo do estrago que regulações ausentes ou ineficazes e incentivos distorcidos podem causar. Estrago que, no caso americano, foi também alimentado pelo consumismo desenfreado que, em escala global, ameaça o meio ambiente e nos empurra para a próxima grande crise que teremos que enfrentar. Muitos outros exemplos poderiam ser dados, como governos que não cumprem seu papel, sociedades desiguais, Estados corroídos pela corrupção, todos eles provocando indignação em maior ou menor grau. Todos envolvem instituições inadequadas, compondo um modelo de governança global caracterizado pela falta de efetividade e de legitimidade e pelo predomínio do interesse privado sobre o público. Instituições que, na melhor hipótese, funcionam mal e, na pior, geram comportamentos predatórios que exterminam qualquer chance de um futuro melhor. 
Se a resposta sobre o que precisa ser mudado parece simples, o caminho para promover essa mudança não é fácil. Alterar nossas instituições passa por uma infinidade de reformas, que vão da governança corporativa aos sistemas eleitorais, e por profundas modificações no comportamento de toda a sociedade, reduzindo níveis de consumo e aumentando os de solidariedade. Demandará mobilização inédita e trabalho duro. Não será um passeio no parque, mas indignar-se já é um ótimo começo.

Eduardo Felipe P. Matias
Publicado na Folha de Sao Paulo, 2/nov/2011

efpm@baptista.com.br
www.baptista.com.br

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Pensar dói?

Thomaz Wood Jr 
16 de outubro de 2011 às 18:13h

Em texto publicado no New York Times, Neal Gabler, da Universidade do Sul da Califórnia, argumenta que vivemos em uma sociedade na qual ter informações tornou-se mais importante do que pensar: uma era pós-ideias. Gabler é o autor, entre outras obras, de Vida, o Filme (Companhia das Letras), no qual afirma que, durante décadas de bombardeio pelos meios de comunicação, a distinção entre ficção e realidade foi sendo abolida. O livro tem o significativo subtítulo: Como o entretenimento conquistou a realidade.

No texto atual, Gabler troca o foco do entretenimento para a informação. Seu ponto de partida é uma constatação desconcertante: vivemos em uma sociedade vazia de grandes ideias, leia-se, conceitos e teorias influentes, capazes de mudar nossa maneira de ver o mundo. De fato, é paradoxal verificar que nossa era, com seus gigantescos aparatos de pesquisa e desenvolvimento, o acesso facilitado a informações, os recursos maciços investidos em inovação e centenas de publicações científicas, não seja capaz de gerar ideias revolucionárias, como aquelas desenvolvidas em outros tempos por Einstein, Freud e Marx.

Não somos menos inteligentes do que nossos ancestrais. A razão para a esqualidez de nossas ideias, segundo o autor, é que vivemos em um mundo no qual ideias que não podem ser rapidamente transformadas em negócios e lucros são relegadas às margens. Tal condição é acompanhada pelo declínio dos ideais iluministas – o primado da razão, da ciência e da lógica – e a ascensão da superstição, da fé e da ortodoxia. Nossos avanços tecnológicos são notáveis, porém estamos retrocedendo, trocando modos avançados de pensamento por modos primitivos.

Gabler critica o afastamento das universidades do mundo real, operando como grandes burocracias e valorizando o trabalho hiperespecializado em detrimento da ousadia. Critica também o culto da mídia por pseudoespecialistas, que defendem ideias pretensamente impactantes, porém inócuas.
No entanto, o autor aponta que a principal causa da debilidade das nossas ideias é o excesso de informações. Antes, nós coletávamos informações para construir conhecimento. Procurávamos compreender o mundo. Hoje, graças à internet, temos acesso facilitado a qualquer informação, de qualquer fonte, em qualquer parte do planeta. Colocamos a informação acima do conhecimento. Temos acesso a tantas informações que não temos tempo para processá-las.

Assim, somos induzidos a fazer delas um uso meramente instrumental: nós as usamos para nos manter à tona, para preencher nossas reuniões profissionais e nossas relações pessoais. Estamos substituindo as antigas conversas, com seu encadeamento de ideias e sua construção de sentidos, por simples trocas de informações. Saber, ou possuir informação, tornou-se mais importante do que conhecer; mais importante porque tem mais valor, porque nos mantêm à tona, conectados em nossas infinitas redes de pseudorrelações.

As novas gerações estão adotando maciçamente as mídias sociais, fazendo delas sua forma primária de comunicação. Para Glaber, tais mídias fomentam hábitos mentais que são opostos àqueles necessários para gerar ideias. Elas substituem raciocínios lógicos e argumentos por fragmentos de comunicação e opiniões descompromissadas.

O mesmo fenômeno atinge as gerações mais velhas. Nas empresas, muitos executivos passam parte considerável de seu tempo captando fragmentos de notícias sobre mercados, concorrentes e clientes. Seu comportamento é o mesmo no mundo virtual e no mundo real: eles navegam pela internet como navegam por reuniões de negócios. Vivem a colher informações e distribuí-las, sem vontade ou tempo para analisá-las. Tornam-se máquinas de captação e reprodução. À noite, em casa, repetem o comportamento nas mídias sociais. Seguem a vida dos amigos e dos amigos dos amigos; comunicam-se por uma orgia de imagens e frases curtas, signos cheios de significado e vazios de sentido.

O futuro aponta para a disponibilidade cada vez maior de informações. A consequência para a sociedade, segundo Gabler, é a desvalorização das ideias, dos pensadores e da ciência. A considerar a velocidade com que livros e outros textos estão sendo digitalizados e disponibilizados na internet, estamos no limiar de ter todas as informações existentes no mundo ao nosso dispor. O problema é que, quando chegarmos lá, não haverá mais ninguém para pensar a respeito delas.
Pode-se acusar o ensaísta de nostalgia infundada ou ludismo. Porém, ele não está só. Felizmente, há sempre um grupo de livres pensadores a se colocar contra o conformismo massacrante das modas tecnológicas e comportamentais, nesta e em outras eras.
Thomaz Wood Jr. escreve sobre gestão e o mundo da administração. thomaz.wood@fgv.br